segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Dia de Todos os Santos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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‘A festa do dia de Todos-os-Santos é celebrada em honra de todos os santos e mártires, conhecidos ou não. A Igreja Católica celebra a Festum omnium sanctorum a 1 de novembro, seguido do dia dos fiéis defuntos a 2 de novembro.

Segundo o ensinamento da Igreja, a intenção catequética desta celebração que tem lugar em todo o mundo, ressalta o chamamento de Cristo a cada pessoa para o seguir e ser santo, à imagem de Deus, a imagem em que foi originalmente criada e para a qual deve continuar a caminhar em amor. Isto não só faz ver que existem santos vivos (não apenas os do passado) e que cada pessoa o pode ser, mas sobretudo faz entender que são inúmeros os potenciais santos que não são conhecidos, mas que da mesma forma que os canonizados igualmente vêem Deus face a face, têm plena felicidade e intercedem por nós. O Papa João Paulo II foi um grande impulsionador da ‘vocação universal à santidade’, tema renovado com grande ênfase no Segundo Concílio do Vaticano.

Nesta celebração, o povo católico é conduzido à contemplação do que, por exemplo, dizia o Cardeal Beato John Henry Newman : ‘não somos simplesmente pessoas imperfeitas em necessidade de melhoramentos, mas sim rebeldes pecadores que devem render-se, aceitando a vida com Deus, e realizar isso é a santidade aos olhos de Deus’.

A comunhão com os santos : «Não é só por causa do seu exemplo que veneramos a memória dos bem-aventurados, mas ainda mais para que a união de toda a Igreja no Espírito aumente com o exercício da caridade fraterna. Pois, assim como a comunhão cristã entre os cristãos ainda peregrinos nos aproxima mais de Cristo, assim também a comunhão com os santos nos une a Cristo, de quem procedem, como de fonte e Cabeça, toda a graça e a própria vida do Povo de Deus».

“«A Cristo, nós O adoramos, porque Ele é o Filho de Deus;
quanto aos mártires, nós os amamos como a discípulos e imitadores do Senhor; e isso é justo, por causa da sua devoção incomparável para com o seu Rei e Mestre.
Assim nós possamos também ser seus companheiros e condiscípulos!»”
              Martyrum sancti Polycarpi 17, 3: SC 10bis, 232 (FUNK 1, 336).


Quando a Igreja, no ciclo anual, faz memória dos mártires e dos outros santos, «proclama o mistério pascal» realizado naqueles homens e mulheres que «sofreram com Cristo e com Ele foram glorificados, propõe aos fiéis os seus exemplos, que a todos atraem ao Pai por Cristo, e implora, pelos seus méritos, os benefícios de Deus».

«Os cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade». Todos são chamados à santidade: «Sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito» (Mt 5, 48) :

«Para alcançar esta perfeição, empreguem os fiéis as forças recebidas segundo a medida em que Cristo as dá, a fim de que [...] obedecendo em tudo à vontade do Pai, se consagrem com toda a alma à glória do Senhor e ao serviço do próximo. Assim crescerá em frutos abundantes a santidade do povo de Deus, como patentemente se manifesta na história da Igreja, com a vida de tantos santos»’.
  

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sábado, 29 de outubro de 2016

Prêmio Sakharov atribuído a duas iraquianas raptadas pelo Estado Islâmico

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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‘O Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento foi atribuído a Nadia Murad Basee Taha e Lamiya Aji Bashar, duas jovens yazidis que foram raptadas pelo autoproclamado Estado Islâmico e sobreviveram para contar a sua história.

A comunidade yazidi é uma minoria religiosa que tem sido objeto de uma campanha de genocídio por militantes do Estado Islâmico no Iraque.

Nadia Murad e Lamiya Aji são ambas vítimas e sobreviventes da violência do grupo Estado Islâmico contra esta comunidade.

Violentadas sexualmente e escravizadas pelo grupo islamita durante meses, como milhares de outras mulheres yazidis, Nadia e Lamiya são atualmente as porta-vozes da luta pelo reconhecimento dos crimes de guerra levados a cabo pelo EI, nomeadamente o genocídio da comunidade Yazidi.

Foi graças aos relatos das duas mulheres que a comunidade internacional se apercebeu da campanha de violência sexual levada a cabo pelo grupo islamita.

O Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento foi instituído em 1988 e é atribuído a pessoas que tenham dado uma contribuição excecional para a luta em prol dos direitos humanos em todo o mundo, chamando a atenção para as violações dos direitos humanos.


Informações gerais sobre as laureadas

Em 3 de agosto de 2014, o EI assassinou todos os homens da aldeia de Kocho, cidade natal de Lamiya Aji Bashar e Nadia Murad em Sinjar, no Iraque. Na sequência do massacre, as mulheres e as crianças foram escravizadas : todas as jovens, incluindo Lamiya Aji Bashar, Nadia Murad e as suas irmãs foram raptadas, compradas e vendidas várias vezes, e exploradas para fins de escravatura sexual. Durante o massacre de Kocho, Nadia Murad perdeu seis dos seus irmãos e a mãe, que foi morta juntamente com oitenta mulheres mais idosas consideradas como não tendo qualquer valor sexual. Lamiya Aji Bashar também foi explorada como escrava sexual, juntamente com as suas seis irmãs. Foi vendida cinco vezes entre os militantes e forçada a fabricar bombas e coletes suicidas em Mossul depois de os militantes do EI executarem os seus irmãos e o pai.

Em novembro de 2014, Nadia Murad conseguiu fugir com a ajuda de uma família vizinha, que a retirou clandestinamente da zona controlada pelo EI, permitindo-lhe seguir para um campo de refugiados no norte do Iraque e depois para a Alemanha. Um ano mais tarde, em dezembro de 2015, Nadia Murad dirigiu-se ao Conselho de Segurança das Nações Unidas na sua primeira sessão sobre tráfico de seres humanos com um discurso de grande impacto sobre a sua experiência. Em setembro de 2016, tornou-se a primeira embaixadora da Boa Vontade do UNODC para a Dignidade dos Sobreviventes do Tráfico de Seres Humanos, participando em iniciativas de sensibilização globais e locais sobre a difícil situação das inúmeras vítimas do tráfico de seres humanos. Em outubro de 2016, o Conselho da Europa homenageou-a com o Prêmio dos Direitos Humanos Václav Havel.

Lamiya Aji Bashar tentou fugir várias vezes até escapar finalmente em abril, com a ajuda da sua família, que contratou passadores locais. Ao fugir da fronteira curda para território controlado pelo Governo do Iraque, com militantes do EI no seu encalço, uma mina terrestre explodiu, matando duas pessoas das suas relações e deixando-a ferida e quase cega. Felizmente, conseguiu escapar e acabou por ser enviada para tratamento médico na Alemanha, onde se juntou aos seus irmãos sobreviventes. Desde a sua recuperação, Lamiya Aji Bashar tem trabalhado ativamente na sensibilização para a difícil situação da comunidade yazidi e continua a ajudar mulheres e crianças que foram vítimas da escravatura e das atrocidades do EI’.
  

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quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Os anjos existem?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Dom Gil Antônio Moreira,
Arcebispo de Juiz de Fora, MG


‘Praticamente em todas as religiões se crê que, além das criaturas humanas, há também espíritos incorpóreos criados por Deus, dotados de inteligência e vontade. Na fé judaica e cristã, eles existem para prestar culto perpétuo a Deus e auxiliar os humanos em seu dia a dia.

A Bíblia Sagrada, seja na versão judaica, seja na versão católica seja nas versões protestantes, apresenta abundantes menções aos anjos e faz distinção hierárquica, constituindo-os em nove coros, entre serafins, querubins, tronos, dominações, potestades, virtudes, principados, arcanjos e anjos.

Já no livro do Gênesis, encontram-se várias referências aos anjos, entre as quais se destaca a visita de três seres celestiais a Abraão, que prenunciaram o nascimento de seu filho com Sara, sua esposa estéril e idosa (cf Gên 18). No livro de Tobias encontra-se a história do Arcanjo Rafael (medicina de Deus), sendo ele o socorro do velho Tobit que ficara cego ao praticar a caridade de enterrar dignamente os mortos. O Arcanjo lhe traz fel de peixe e o cura. Isaías se refere a Serafins. Daniel revela visões de anjos e apresenta o Arcanjo Miguel (Quem como Deus?) como chefe defensor no combate contra os persas infiéis (cf Dan 10, 1 – 20). Miguel é conhecido como Príncipe das Milícias Celestes.

No Novo testamento, as referências aos anjos são também numerosas, tendo o Arcanjo Gabriel (Força de Deus) anunciado a Maria o nascimento de Jesus, o Divino Salvador, cumprindo assim a principal e mais elevada missão entre todos os anjos e santos. Nas pregações de Jesus, encontramos várias alusões aos anjos, destacando-se a presença do anjo consolador nas agonias do Horto das Oliveiras, na noite que antecedeu a sua condenação e morte na cruz. Também anjos se apresentaram ao lado do túmulo, no domingo da ressurreição, anunciando que Cristo vencera a morte e se encontrava vivo.

Nas cartas de São Paulo e de São Judas, encontramos menções que revelam a plena fé dos primeiros cristãos na existência e nas ações dos anjos. No Apocalipse, a figura do Arcanjo Miguel toma grande importância, sendo apresentado como o defensor da ‘mulher que estava para dar à luz seu Filho’, vencendo a força infernal de um poderoso dragão que ‘com sua calda arrastava a terça parte das estrelas do céu’ (cf Ap 12, 1- 18). Os cristãos sempre viram na figura desta mulher a Santíssima Mãe de Jesus e ao mesmo tempo a imagem da Igreja sempre ameaçada pelo poder do mau.

Nos escritos teológicos dos Santos Padres, também é frequente o estudo e a defesa da fé na existência dos anjos, como em São Clemente (séc. I), Santo Ambrosio (séc. IV), Pseudo-Dionísio, o Areopagita (séc. V), São João Damasceno (séc. VIII). São tomados de grande importância os estudos de São Tomás de Aquino (Séc. XIII) e tantos outros. Na idade Moderna, o Concilio de Trento (séc XVI) e na Contemporânea, o Concílio Vaticano II (séc XX) e o Catecismo da Igreja Católica (CIC), seguem confirmando a doutrina sobre os anjos.

Na liturgia Católica, ao menos duas festas se destacam em louvor aos Anjos, sendo uma dia 29 de setembro, quando celebra a festa dos Arcanjos São Miguel, São Rafael e São Gabriel e ainda a memória dos Santos Anjos da Guarda, no dia 2 de outubro. Também os Anglicanos, os Luteranos, outras correntes protestantes, bem como os Ortodoxos têm, em seus calendários, liturgias próprias dos Anjos.

Os anjos nos protegem, nos animam e nos impulsionam no caminho da santidade e da dignidade, da prática do amor e dos serviços ao próximo, nos colando sempre perante Deus que não se cansa de manifestar sua misericórdia e de nos amparar com seu amor.  Creio firmemente nesta doutrina e quando vejo pessoas dedicadas e humildes ao lado de doentes ou servindo desinteressadamente aos pobres, me lembro deles e penso em meu coração : os anjos existem; eu os vejo também na terra.
  

Fonte :


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Cristãos do Iraque são vítimas da violência

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Cristãos que fugiram comemoram em Erbil a retomada
da cidade de Qaraqosh do Estado Islâmico

‘Os cristãos estão enraizados no Oriente Médio, em particular no Iraque, desde o começo do cristianismo, mas muitos precisaram fugir, como há dois anos, quando os extremistas do Estado Islâmico se apoderaram de Qaraqosh e de outras cidades do norte do país.

Na noite de terça-feira em Erbil, a capital da região autônoma do Curdistão, um grupo de cristãos que precisaram escapar da ofensiva do EI em agosto de 2014 dançaram e cantaram para celebrar a entrada das forças governamentais em Qaraqosh, no âmbito de uma ampla ofensiva para recuperar Mossul do grupo ultrarradical sunita.

A população de cristãos, uma minoria em um país majoritariamente muçulmano, diminuiu drasticamente nos últimos anos.

Depois da invasão liderada pelos Estados Unidos em 2003, o Iraque se converteu em um campo de batalha entre insurgentes e tropas estrangeiras, antes de afundar em uma guerra sectária. A comunidade cristã, associada aos cruzados ‘ocidentais’, foi atacada em diversas ocasiões, o que desencadeou a fuga de muitos de seus membros.

Quando o EI conquistou Mossul, em junho de 2014, os cristãos da segunda cidade do país receberam um ultimato : se converter ao Islã, pagar um imposto ou abandonar a cidade, sob pena de ser executados.

Algumas semanas depois, com a tomada de Qaraqosh, os cerca de 120.000 cristãos que viviam na província de Nínive - onde se encontra Mossul - precisaram fugir.

A seguir, alguns dados sobre os cristãos do Iraque :

- Antigamente estimada em mais de um milhão de pessoas, 600.000 das quais em Bagdá, esta comunidade formada por caldeus, assírios, armênios e siríacos diminuiu muito. Calcula-se que atualmente existam menos de 350.000 cristãos no país.

- Antes da invasão americana de 2003, 60.000 cristãos viviam em Mossul, onde em 2014 restavam apenas vários milhares.

- Dos 120.000 cristãos que fugiram em 2014, 20.000 abandonaram o Iraque e os demais se refugiaram em outras regiões do país, entre eles 50.000 em Erbil, a capital do Curdistão.

- Os cristãos do Iraque são uma das comunidades cristãs do Oriente Médio mais antigas.

- Os caldeus representam a grande maioria e formam uma comunidade católica de rito oriental. A igreja caldeia, cuja liturgia é feita em aramaico - a língua falada por Jesus - é considerada uma das igrejas cristãs mais antigas.

- Os outros católicos são os siríacos católicos, os armênios católicos e os católicos latinos.

- Entre os não católicos, os mais numerosos são os assírios (nestorianos). Os outros são siríacos ortodoxos e armênios ortodoxos.

- Como outras minorias no Iraque, os cristãos foram com frequência alvos de ataques de grupos sunitas radicais, em particular de sequestros e atentados contra suas igrejas.’


Fonte :


segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Mossul, o mais difícil vem depois

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

A segunda maior cidade do Iraque deixará de fazer parte do Califado Islâmico.
*Artigo de José Couto Nogueira,
Jornalista


‘A batalha pela cidade iraquiana de Mossul, controlada pelo Califado Islâmico (Daesh) decorre há vários dias, com as forças do ISIS a defender a cidade contra uma coligação de trinta forças diferentes e por em certos casos antagônicas. O desfecho parece inevitável; vai demorar semanas, mas a segunda maior cidade do Iraque deixará de fazer parte do Califado Islâmico.

Está sendo dura, a batalha, mas o mais difícil virá a seguir; o braço de ferro pelo domínio da cidade.

Mossul é segunda maior cidade do Iraque fica ao Norte de Bagdade, perto da fronteira com a região curda. Sunita, foi a primeira cidade importante ocupada pelo ISIS, em Junho de 2014, e foi lá que se auto proclamou o Califado Islâmico.

Como o ISIS é sunita, na altura a população da cidade aderiu ao movimento, pois receava a descriminação do Governo shiita de Bagdade. Nestes dois anos, a violência do ISIS fez com que uma parte fugisse, mas não se sabe como os habitantes que ainda permanecem reagirá à chegada das tropas iraquianas, apoiadas por milícias shiitas. Além disso, os curdos também reivindicam Mossul, argumentando que foram eles que travaram a expansão do Daesh quando o exército iraquiano bateu em retirada. Portanto já temos aqui três forças a reivindicar a cidade : sunitas, shiitas e curdos.

Estas forças são apoiadas, mais ou menos abertamente, pelos países da região.

Os turcos, que até 1918 dominavam toda a península da Arábia, insistem em ter um papel na refrega, contra a vontade dos iraquianos, que consideram sua presença uma invasão. Mas Haider al-Abadi, o primeiro ministro iraquiano, neste contesto não tem forças para os empurrar de volta para a Turquia.

O Irão, shiita, tem atacado o Daesh, mas não gosta dos iraquianos, com quem teve uma guerra brutal ente 1980 e 1988. A Arábia Saudita – que muitos analistas consideram tratar-se do verdadeiro Califado Islâmico, pelo seu radicalismo religioso – diz-se que tem apoiado o Daesh, embora não abertamente, uma vez que é aliada dos Estados Unidos, que são contra o ISIS

A Síria é evidentemente contra o ISIS, que ocupa uma parte do país – a capital do Califado, Raqqa, é em território sírio - mas neste momento não está em situação de atacar o ISIS, a braços com a guerra civil entre-portas que envolve várias facções.

A estes países da região há que acrescentar os americanos e os russos, ambos contra o Califado, mas com prioridades diferentes no teatro de guerra.

Os Estados Unidos basicamente são contra o ISIS e também contra o Governo sírio de Bashar al-Assad, e a favor dos insurgentes sírios (os chamados ‘movimentos islâmicos moderados’), dos curdos e dos iraquianos. Continuam a querer a saída de Al-Assad, mas a agressividade do ISIS e a dificuldade em distinguir os diversos grupos ‘islâmicos moderados’ levou a escolher como inimigo principal o Daesh.

Os russos, ao contrário, são aliados de Bashar al-Assad e, embora digam que querem destruir o Daesh, de fato tem atuado mais contra os insurgentes sírios ‘moderados’ que ameaçam o regime do sanguinário ditador.

Difícil de entender todas estas amizades e inimizades? Sem dúvida. Os próprios beligerantes por vezes parece que não entendem e mudam de adversário preferencial conforme a evolução do conflito.

Voltando a Mossul. Houve uma ofensiva iraquiana na primavera, que não conseguiu desenvolver-se. Os Peshmerga, famosos guerrilheiros curdos, têm vindo a aproximar-se de Mossul lentamente, conquistando cidades dentro da sua região. Desta vez a ofensiva, que demorou meses a coordenar e tem, supostamente, 80 mil homens, é constituída por forças do governo de Bagdade, milícias xiitas (Unidades de Mobilização Popular), milícias de tribos sunitas, milícias iranianas, milícias do Hezbollah, Peshmerga curdos, forças fiéis ao antigo governador de Mossul, e turcos. Pelo ar e como conselheiros no terreno estão os americanos, ingleses e iranianos. Há ainda que considerar os guerrilheiros do PKK (curdos da Turquia) e das Unidades de Proteção Popular (sírias), bem como milícias Yazidis.

Uma questão que com certeza não interessa muito a nenhuma destas forças, mas que está a assustar as organizações humanitárias internacionais, é os perigos que corre a população civil de Mussul, calculada entre um milhão e um milhão e meio de pessoas.

Afirmou o coordenador da ONU para os Direitos Humanos : ‘não acusem os civis de Mossul de pertencerem ao ISIS, e que não haja execuções sumárias, nem de civis nem de membros do Califado Islâmico’. Os que ainda permanecem na cidade, em parte porque querem, em parte porque o ISIS não os deixa sair, apanhados no fogo cruzado, são potenciais vítimas de franco-atiradores ou podem ser utilizados como escudos-humanos. A ONG Save the Children calcula que há 500 mil crianças entre eles.

Há muito mais em jogo nesta batalha do que a tomada da cidade. Joga-se o futuro do Iraque como um país unido, com as fronteiras tradicionais. Está em causa o Governo de Bagdad, que poderá não resistir a uma derrota ou a uma vitória pouco nítida. A autonomia dos curdos e yazidis também depende do terreno que conseguirem conquistar, para negociações posteriores sobre o seu estatuto. É a primeira vez que os Peshmerga curdos e os soldados iraquianos, inimigos desde sempre, estão do mesmo lado numa batalha.

Moqtada al Sadr, o clérigo xiita que liderou o exército de Mahdi no combate à ocupação norte-americana, (ainda não tínhamos falado neste...) disse que a batalha de Mossul é uma guerra entre o governo de Bagdad e os terroristas, e que o Iraque deve recusar o apoio turco em nome da soberania iraquiana; o Presidente turco, Erdogan, atirou que ‘está fora de questão a Turquia ficar fora da ‘operação Mossul’’ acrescentando que o pais estará na operação militar e na mesa de negociações; o parlamento iraquiano já votou uma moção em que considera a presença turca como ‘ocupação’ e violação de soberania.

O antigo governador de Mossul, acusado de ser o responsável pela queda de Mossul às mãos do ISIS também tem a sua milícia pessoal, que é apoiada pela Turquia e também quer ter uma palavra a dizer à mesa dos vitoriosos.

Calcula-se entre 30 mil e 80 mil atacantes a Mossul, mas é impossível saber o número certo, dada a diversidade das forças e a desconfiança mútua. Quanto ao ISIL, avalia-se que terá entre quatro a oito mil combatentes. Não se sabe como será possível distinguir entre combatentes e civis, ou entre os combatentes dos diversos grupos. Certamente que alguns aproveitarão para abater outros atacantes no meio da confusão, e entre os defensores há oportunidades para ajustes de contas.

Finalmente, os europeus, que não têm nenhum papel numa região que é estrategicamente essencial para a Europa, também se pronunciaram sobre a tomada de Mossul, pela voz do Comissário da Segurança, Julian King :

O retomar [do controle] do reduto do Califado no norte do Iraque, Mossul, pode levar a um regresso à Europa de combatentes violentos do ISIS’.

Com todos estes interesses em jogo, o mais provável é que depois da tomada de Mossul se realizem as tais conversações à volta de uma mesa em que, logo para começar, se discutirá quem terá direito a sentar-se. E enquanto se briga à mesa, com certeza se brigará nas ruas, casa a casa, para ocupar espaço vital, proteger pessoas desta ou daquela facção e liquidar famílias da outra e aqueloutra, por ódio e por contas antigas, nunca saldadas.

Não é exagero dizer que Mossul e Alepo, a outra cidade mártir, devem ser os piores lugares do planeta nos próximos meses.’
  

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sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Cresce a Igreja das estepes

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Bernardino Frutuoso,
Jornalista

‘A Igreja Católica da Mongólia, minoria entre minorias, está a celebrar 24 anos de presença nesta nação da Ásia Central. Os primeiros missionários foram enviados ao país depois da queda do comunismo, em 1990. Chegaram no dia 10 de Julho de 1992, alguns meses depois de o Governo da Mongólia e a Santa Sé terem estabelecido relações diplomáticas. Pouco depois, começou o primeiro catecumenato. Ao primeiro grupo de missionários, da congregação do Imaculado Coração de Maria, juntaram-se outros grupos : os missionários e as missionárias da Consolata e os Salesianos.

A primeira evangelização da Mongólia aconteceu no século VII, contudo, após a ascensão do regime comunista no século XX, que fez o possível para acabar com toda a forma de religiosidade, o Cristianismo praticamente desapareceu. Em 1991, com a queda do regime e em 1992, com a aprovação da nova Constituição que garante a liberdade religiosa, teve início o ressurgimento da prática religiosa no país.


Igreja viva e missionária

A comunidade eclesial mongol, a mais jovem do mundo, tem agora o seu primeiro sacerdote nativo. O jovem Joseph Enkhee-Baatar foi ordenado no passado dia 28 de Agosto, na Catedral de São Pedro e Paulo, em Ulan-Bator, capital daquele país asiático.

A missa da ordenação, presidida por Dom Wenceslao Padilla, prefeito apostólico de Ulan-Bator, chegado à Mongólia com os primeiros missionários, contou com a presença de D. Lazzaro YouHeung-sik, bispo de Daejeon (Coreia do Sul), diocese onde o jovem sacerdote fez os estudos de Teologia, e Dom Osvaldo Padilla, núncio apostólico na Coreia e Mongólia, e com a participação de cerca de 1500 fiéis, entre os quais 40 padres concelebrantes.

Para o padre Prosper Mbumba, missionário congolês na Mongólia, esta ordenação vai criar uma nova dinâmica no seio da comunidade católica mongol, favorecendo assim um sentimento de pertença : «A comunidade católica na Mongólia, renascida em 1992, agora tem mais de mil batizados, e com o seu primeiro sacerdote autóctone terá novo entusiasmo e desenvolverá um maior sentimento de pertença. A Igreja, de fato, foi vista por muito tempo como estrangeira, como uma fé levada pelos missionários. Agora, essa ideia poderá mudar

A comunidade católica da Mongólia «está feliz e orgulhosa do seu primeiro padre. Joseph Enkh-Baatar enfrenta uma grande tarefa : a de ser uma ponte entre a cultura católica e a cultura mongol. Vamos acompanhá-lo o melhor possível. Tenho a certeza de que será capaz de enfrentar com a sensibilidade certa os desafios que se deparam a esta jovem Igreja», referiu o padre Giorgio Marengo, missionário da Consolata, que desde 2003 vive na Mongólia e, desde 2006 em Arvaikheer, uma região situada a 400 quilômetros da capital.

O padre Bernardo Cervellera, diretor da agência AsiaNews, realçou que «trabalhar na Mongólia significa confrontar-se, por um lado, com uma cultura de religiosidade xamânica – vêem, portanto, os sacerdotes como um ponto de encontro entre o Céu e a Terra, entre Deus e o homem –, e há uma tradição budista, tibetana, muito forte».

«Por conseguinte, o fato de haver um sacerdote mongol, que é parte desta cultura e que, ao mesmo tempo, recebeu o anúncio de Jesus Cristo, pode verdadeiramente fazer um trabalho de inculturação, seja do ponto de vista da cultura seja do da teologia, que, naturalmente, é um pouco mais difícil e lento para um missionário estrangeiro», acrescentou o religioso.

E explicou que a Igreja na Mongólia cresceu «muito lenta e pacientemente, com relações de amizade», além de oferecer às crianças a possibilidade de terem espaços onde podem brincar e estudar. «Deu uma ajuda também às mulheres, porque há uma grande miséria; portanto procurou dar trabalho às mulheres e aos homens. A Igreja pode trabalhar na Mongólia porque, por lei, as entidades estrangeiras devem assumir um certo número de trabalhadores locais», aclarou, salientando que os organismos católicos têm contribuído para o desenvolvimento económico do país.

Além da importância eclesial, missionária e apostólica esta ordenação tem uma grande importância do ponto de vista prático. Sob a lei da República da Mongólia, apenas os cidadãos têm o direito de comprar terras para construir locais de culto e só eles podem guiar as organizações religiosas. Ainda se são muito tolerantes com os católicos, os funcionários da Mongólia têm aplicado estas regras, sobretudo com as outras denominações cristãs.


Igreja a crescer

Com 1,564 milhões de km2, o que a torna o 19.º país com mais superfície, a Mongólia tem cerca de três milhões de habitantes, estimando-se que pouco mais de metade sejam budistas. A percentagem total de cristãos no país é de cerca de 2 %.

Depois de 24 anos de liberdade religiosa, a Igreja da Mongólia cresceu até se tornar uma comunidade viva e organizada. Conta com 1200 católicos em todo o país, que representam 0,04 % da população, servidos por 81 missionários, homens e mulheres, de 22 nacionalidades. Existem seis paróquias e várias ‘subparóquias’ (das 21 províncias da Mongólia, 17 não têm nenhuma presença católica).

A Igreja procura testemunhar o reino de Deus por meio do compromisso na transformação social, visível nos projetos de desenvolvimento em favor dos mais pobres, de modo especial nas áreas da educação e da assistência sanitária.’
  

Mongólia

Área : 1 564 116 km2
Capital : Ulan-Bator
Língua oficial : Mongol
Governo : República parlamentarista
Presidente : Tsakhiagiin Elbegdorj
Porpulação : 3 081 677 (estimativa 2016)
Religião : Budismo 53%; Islamismo 3%; Xamanismo 2,9%; Cristianismo 2%


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Santa Úrsula

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

Úrsula nasceu no ano 362, filha dos reis da Cornúbia, na Inglaterra. A fama de sua beleza se espalhou e ela passou a ser desejada por vários pretendentes (embora Úrsula tenha feito um voto secreto de consagração total a Deus). Seu pai acabou aceitando a proposta de casamento feita pelo duque Conanus, um general de exército pagão, seu aliado.

Úrsula fora educada nos princípios cristãos. Por isso ficou muito triste ao saber que seu pretendente era pagão. Quis recusar a proposta mas, conforme costume da época, deveria acatar a decisão de seu pai. Pediu, então, um período de três anos para se preparar. Ela esperava converter o general Conanus durante esse tempo, ou então, encontrar um meio de evitar o casamento. Mas não conseguiu nem uma coisa, nem outra.

Conforme o combinado, ela partiu para as núpcias, viajando de navio, acompanhada de onze jovens, virgens como ela, que iriam se casar com onze soldados do duque Conanus. Há lendas e tradições que falam em onze mil virgens, ao invés de onze apenas. Mas outros escritos da época e pesquisas arqueológicas revelaram que foram mesmo onze meninas.

Foram navegando pelo rio Reno e chegaram a Colônia, na Alemanha. A cidade havia sido tomada pelo exército de Átila, rei dos hunos. Eles mataram toda a comitiva, sobrando apenas Úrsula, cuja beleza deixou encantado ao próprio Átila. Ele tentou seduzi-la e lhe propôs casamento. Ela recusou, dizendo que já era esposa do mais poderoso de todos os reis da Terra, Jesus Cristo. Átila, enfurecido, degolou pessoalmente a jovem, no dia 21 de outubro de 383. Em Colônia, uma igreja guarda o túmulo de Santa Úrsula e suas companheiras.

Durante a Idade Média, a italiana Ângela de Mérici, fundou a Companhia de Santa Úrsula, com o objetivo de dar formação cristã a meninas. Seu projeto foi que essas futuras mamães seriam multiplicadoras do Evangelho, catequizando seus próprios filhos. Foi um avanço, tendo em vista que nesta época a preocupação com a educação era voltada apenas para os homens. Segundo a fundadora, o nome da ordem surgiu de uma visão que ela teve.

Atualmente as Irmãs Ursulinas, como são chamadas as filhas de Santa Ângela, estão presentes nos cinco continentes, mantendo acesas as memórias de Santa Ângela e Santa Úrsula.’


Fonte :


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Joio e Trigo : algo sobre tolerância e humildade

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

A humildade e a tolerância ajudam a não fazer julgamentos precipitados do que seria
*Artigo de Fabrício Veliq,
protestante, é mestre e doutorando em
teologia pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE),
doutorando em teologia na Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica,
formado em matemática e graduando em filosofia pela UFMG


Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros : Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro. Mateus 13:30.

A meu ver, esse texto é um convite à humildade e à tolerância. No mundo atual em que estamos inseridos, em que diversos discursos de ódio tem crescido tanto em nosso país como em diversos lugares do mundo com a volta de nacionalismos e grupos de extrema direita, acredito que pensarmos a questão da tolerância e da humildade é tarefa importantíssima.

Não dificilmente ouvimos nos diversos meios cristãos em que estamos inseridos frases do tipo ‘essa coisa não é de Deus’, ou ‘Deus não pode agir desse modo, onde já se viu?’. Essas frases, muitas vezes, refletem a ideia de que aquele que a diz é extremo conhecedor daquilo que é de Deus e aquilo que não é. Nesse sentido, essa parábola do joio e do trigo tem muito a nos ensinar na atualidade.

Um dos pontos mais interessantes é que quem faz a colheita não são os servos do dono da plantação. Por mais que a intenção dos servos aparentasse ser muito boa e solícita, a resposta do senhor da plantação é muito clara. Um enfático ‘não’ é dada à proposta. Porém, não é um ‘não’ sem justificativa, mesmo que, como senhor da plantação poderia ter dado esse ‘não’ e pronto. Porém, diante dessa resposta, propõe também um motivo. Esse era simples : ‘para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele’ (v. 39).

Isso nos mostra que, por mais que a intenção dos servos fosse boa, o senhor da plantação tinha consciência de que os mesmos não eram capazes e não tinham conhecimento suficiente para fazer a separação entre o joio e o trigo, o que acarretaria em perda do trigo e a confusão de um com o outro. Ao contrário, o senhor diz para deixar crescer o joio e o trigo juntos e, na ceifa, os ceifeiros fariam a separação entre o joio e o tribo.

Assim, antes de falar se algo é ou não de Deus, devemos lembrar dessa parábola. Não somos nós quem fazemos a separação entre joio e trigo; o senhor da plantação não autorizou os servos que plantam a fazerem isso. Antes, dá-lhes uma palavra de tolerância : ‘deixai crescerem juntos’.

Isso poderia incomodar os servos, contudo era necessário a eles reconhecerem que não tinham capacidade para a separação e que, caso o tentassem fazer, o estrago seria maior que a ajuda.

Não é difícil termos a impressão de que sabemos separar as coisas que ‘são de Deus’ daquelas que não são. Quem costuma fazer isso, geralmente, não atenta que há situações que são bem complexas para sermos totalmente taxativos sobre elas. A humildade e a tolerância sempre fazem bem nesses casos.

A ordem do senhor da plantação nos instiga a desenvolvermos essas duas virtudes que ficam cada dia mais raras entre nós e que pode ser de grande valia para vivermos em dias atuais.

Isso não quer dizer tolerar os intolerantes, nem tão pouco sermos apáticos e inertes frente às situações que vão contra o exemplo de Cristo, mas, antes, mostra que, nas situações ‘cinzas’ da vida, a parcimônia é virtude a ser desenvolvida por nós, os plantadores, bem como nos instiga a tomarmos consciência de que somente Deus sabe aqueles que lhe pertencem e que, muitas vezes, nossos olhos e nossas visões de mundo podem nos enganar, fazendo com que, na ânsia de ajudar o senhor da plantação, estraguemos e queimemos diversas partes do trigo que está em nosso meio.’


Fonte :

Páscoa de Cláudio Pastro

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Cláudio Pastro (Ir. Martinho, OBL-OSB) faleceu nesta madrugada.

Ele será enterrado no 
Missa de corpo presente às 16h.

Silêncio no coração dos oblatos!