domingo, 31 de janeiro de 2016

Conviver com os hábitos e costumes nas Arábias

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Padre Olmes Milani,
Missionário Scalabriniano


Peregrinando por diversos países, nos cinco continentes, aprendi que a virtude que mais ajuda para ser aceito numa cultura, é o respeito. Existe muita diferença entre cometer erros por falta de conhecimento quanto à cultura receptora e o julgamento negativo sobre as diferenças.

Nas Arábias, como em qualquer outro lugar, existem algumas coisas que devem ser levadas em conta. Sendo a maioria absoluta da população islâmica, os alto-falantes nos minaretes das mesquitas emitem, cinco vezes por dia, o convite para a oração. Os muçulmanos podem prostrar-se em qualquer lugar, à beira da estrada ou no escritório para rezar, voltados para a Meca.

Transeuntes devem evitar de passar na frente de alguém que está rezando.

O consumo de álcool por estrangeiros é permitido, em lugares próprios, mas noitadas em bares e discotecas e diversões mais pesadas são apenas toleradas.

A compra de bebidas alcoólicas pode ser feita em lugares destinados para isso. Existem companhias que fornecem as bebidas para hotéis, e locais com alvará.  Contudo, às vésperas de festas religiosas, não é permitido o comércio de licores.

A carne de porco é proibida. Os estrangeiros podem adquiri-la numa venda separada dos supermercados.

Manifestações de afeto entre homem e mulher, em público, devem ser evitadas.

É considerado insulto mostrar a sola dos pés na direção de alguém. É ofensivo apontar com o dedo alguma pessoa.

Não se iluda em achar que a imagem comum de homens de mãos dadas é uma evidência gay. Entre indianos, paquistaneses e árabes, isso é apenas um sinal de amizade.

Cumprimento dando a mão para uma mulher deve ser evitado.  Coloca-se a mão sobre o lado esquerdo do peito e diz-se a saudação.

 Deve-se ter sempre presente que, quando alguém compara culturas ou as julga, dificilmente vai ter espaço na sociedade receptora.

 O erro é perdoado e não impede à pessoa de ser bem-vinda. Maneiras cordiais e senso de humor servem para superar os impasses.

Assim aprendemos o bom convívio com as pessoas diferentes.’


Fonte :


sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Profetas da misericórdia

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Dom Alberto Taveira Corrêa,
Arcebispo Metropolitano de Belém, PA


Jesus viveu na cidade de Nazaré, dentro de todas as relações sociais de uma vilazinha habitada por pessoas briguentas e implicantes com as outras, com relações mais provincianas do que aquelas ainda encontradas em nossos dias, malgrado o crescimento, a técnica, comunicações e outros acréscimos mais oferecidos pela cultura corrente. Ali, quando alguém, criado nas vielas e no meio da criançada e depois juventude, aprendiz de carpinteiro, certamente amigo de tanta gente, volta e se faz realizador das profecias, o fato suscitou reações fortes que chegaram aos limites do ódio, com o qual muitos pretenderam eliminá-lo. Jesus teve que passar pelo meio da multidão, escapando para não ser lançado no precipício (Cf. Lc 4, 21-30). Entretanto, sua presença deixou estupefatos os habitantes de Nazaré : ‘Seus discípulos o acompanhavam. No sábado, começou a ensinar na sinagoga, e muitos se admiravam. ‘De onde lhe vem isso?’, diziam. ‘Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E esses milagres realizados por suas mãos? Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão? E suas irmãs não estão aqui conosco?’ E mostravam-se chocados com ele. Jesus, então, dizia-lhes : ‘Um profeta só não é valorizado na sua própria terra, entre os parentes e na própria casa’. E não conseguiu fazer ali nenhum milagre, a não ser impor as mãos a uns poucos doentes. Ele se admirava da incredulidade deles. E percorria os povoados da região, ensinando (Mc 6, 1-6).

Por onde passava, o povo experimentava a alegria : ‘Cheios de grande admiração, diziam : Tudo ele tem feito bem. Faz os surdos ouvirem e os mudos falarem’ (Mc 7, 37). O Senhor Jesus só fez o bem e manifestou a infinita misericórdia do Pai, não deixando passar perto de si os cegos, os coxos e estropiados, mudos, paralíticos, marginalizados e pecadores de todo tipo. Justamente por isso foi julgado, condenado e morto, para depois ressuscitar glorioso ao terceiro dia. Perto dele se encontravam os discípulos, começando pelos apóstolos, para alargar cada vez mais o círculo, chamando homens e mulheres do meio das multidões que se multiplicam pelos séculos afora. A porta é sempre a do perdão e da misericórdia. As testemunhas mais significativas são justamente aquelas que foram banhadas pelo óleo do perdão e acolhidas com o abraço do pastor, que vai ao encontro da ovelha perdida e a traz sobre os ombros. Há poucos dias, o Papa Francisco abençoou os carneirinhos dos quais é tirada a lã para confeccionar os pálios dos Arcebispos nomeados a cada ano, chamados justamente a serem sinais do amor misericordioso, que busca quem está perdido.

Mas esta é a vocação de todos os cristãos, feita também matéria do exame a ser aplicado no fim dos tempos, a prova da misericórdia. Se a Igreja e os cristãos são julgados, quem sabe condenados, perseguidos e incompreendidos, que seja pela prática da bondade e da misericórdia. Nas ‘nazarés’ de todos os tempos, permita o Senhor que todos os discípulos de Jesus passem fazendo apenas o bem, e que suas mãos não se manchem com a iniquidade e eles não sejam motivo de escândalo para os pequeninos.

Como a fragilidade humana acompanha nossa história pessoal e de Igreja, a proclamação contínua da misericórdia, mormente em tempos transformados em ‘Jubileu’, somos convidados a acorrer ao trono do perdão ilimitado do Senhor. Ponto de partida é o reconhecimento sincero e honesto das fraquezas e pecados cometidos, para que assim o Espírito Santo encontre corações abertos à unção do perdão. Quem se julga mais perfeito do que os outros, espécime superior diante do comum dos mortais, fecha a porta para a experiência magnífica do perdão misericordioso de Deus e para o consequente crescimento na virtude. Daí a insistência da Igreja, no Ano da Misericórdia, convidando à peregrinação, oração, sacramento da Penitência, tudo isso simbolizado na passagem pelas muitas portas santas da Misericórdia abertas por toda parte.

Entretanto, a Igreja convida a espalhar a misericórdia, através das chamadas ‘Obras de Misericórdia’, para que todos experimentem a alegria de ser misericordiosos como o Pai. A Arquidiocese de Belém, inspirada pela proposta feita pelo Papa Francisco aos jovens que se preparam à Jornada Mundial da Juventude, convida todos os irmãos e irmãs que se sentem tocados pela graça do Jubileu, a colocarem em prática, pouco a pouco, estes gestos corporais e espirituais, durante o ano corrente. Para o mês de fevereiro, desejamos juntos praticar duas obras de misericórdia espirituais : Dar bom conselhos e ensinar os que precisam.

Aconselhar é orientar e ajudar a quem precisa. O Salmista nos convida a rezar : ‘Bendigo o Senhor que me aconselhou; mesmo de noite meu coração me instrui’ (Sl 16, 7). Jesus nos orientou e aconselhou a não sermos cegos guiando cegos (Cf. Mt 15, 14), e também a primeiro tirarmos a trave do nosso olho, para depois tirar o cisco do olho do irmão (Lc 6, 39). Dar bons conselhos e não qualquer conselho. Para isso, é preciso mergulhar na graça do Espírito Santo e perceber os sinais de Deus que nos auxiliam na compreensão dos fatos. Aconselhar não é pretender adivinhar o futuro, muito menos projetar nossas angústias; é ajudar, à luz da oração e do conhecimento da vontade de Deus, a quem nos pede um discernimento nas opções e decisões a serem tomadas.

Ensinar os que precisam não é apenas transmitir conhecimentos, ensinar os valores do Evangelho, formar na doutrina e nos bons costumes éticos e morais. A história da salvação é sem dúvida uma instrução contínua e interrupta da parte de Deus para com a humanidade. Nossa tarefa é instruir as pessoas, começando pelo nosso exemplo, chegando à Palavra e os ensinamentos sistemáticos. À comunidade dos Colossenses Paulo diz : ‘A palavra de Cristo permaneça em vós com toda sua riqueza, de sorte que com toda sabedoria possais instruir e exortar-vos mutuamente.’ (Cl 3, 16). Toda instrução que brota da caridade, oração e paciência gera frutos em abundância.’


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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

História de Santa Marta no Vaticano - A casa do Papa

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

O nome daquela que atualmente é a «casa do Papa» remonta à igreja e casa adjacente, antes hospital, entre 1538 e 1726, depois convento dos Trinitários, entre 1726 e 1874. Santa Marta que «ilumina São Pedro» (segundo um antigo ditado dos romanos) surgiu sob o pontificado de Paulo III, quando alguns domésticos dos Palácios Apostólicos pediram e obtiveram do papa a ereção de uma Fraternidade e de um pequeno hospital para os pobres enfermos palatinos residentes nos arredores da Basílica vaticana. Escreve Pedro Aliaga Asensio, acrescentando que o Papa Farnese consentiu e com o breve Ad Apostolicae dignitatis apicem (1538) erigiu o hospital com anexos capela e cemitério, intitulados a Santa Marta, retro tribunam novam Basilicae Principis Apostolorum de Urbe. A igreja foi edificada durante o século XVI, e o Papa Clemente VIII ampliou-a no início do século XVII. Entre as obras de arte sacra ali conservadas, é preciso recordar o veneradíssimo Crucifixo de terracota, obra de Alessandro Algardi, e o quadro que representa Santa Marta, realizado por Giovanni Baglione, trazido à Pinacoteca Vaticana em 1841 e substituído por outro, obra de Filippo Agricola.

Nos meados do século XVIII, o pequeno hospital encontrava-se no abandono quase total. O espanhol irmão Miguel de São José, procurador-geral dos Padres Trinitários descalços – mais tarde bispo de Guadix na Andalusia – pediu e obteve de Bento XIII a igreja e a casa de Santa Marta no Vaticano. Com um breve datado 11 de Dezembro de 1726, o edifício foi confiado aos Padres Trinitários Descalços da Congregação da Espanha «a fim de ser usado como ospitio commune para os religiosos hóspedes da mesma Ordem e de qualquer nação que viessem à Cidade de Roma», com a recomendação que os enfermos do Sagrado Palácio Apostólico fossem ao «hospital de Bonfratelli». No dia seguinte, os Padres Trinitários espanhóis do convento de São Carlino em «Quattro Fontane» tomaram posse da nova Fundação. Em 1728, o Capítulo Geral decidiu que Santa Marta passasse a fazer parte da Província italiana, intitulada a São João da Matha.’


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quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

O Decreto Apostolicam actuositatem sobre o Apostolado dos Leigos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


Em nosso espaço Memória Histórica - 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos continuar a tratar sobre os documentos conciliares, apresentando na edição de hoje, o Decreto Apostolicam actuositatem sobre o Apostolado dos Leigos.

O Decreto Apostolicam actuositatem foi promulgado pelo Papa Paulo VI em 18 de novembro de 1965. Dividido em seis capítulos, o documento inicia falando sobre a importância e a atualidade do apostolado dos leigos na vida da Igreja e conclui com uma exortação à generosidade : ‘Por isso, o sagrado Concílio pede instantemente no Senhor a todos os leigos, que respondam com decisão de vontade, ânimo generoso e disponibilidade de coração à voz de Cristo, que nesta hora os convida com maior insistência, e ao impulso do Espírito Santo. Os mais novos tomem como dirigido a si de modo particular este chamado, e recebam-no com alegria e magnanimidade. Com efeito, é o próprio Senhor que, por meio do sagrado Concílio, mais uma vez convida todos os leigos a que se unam a Ele cada vez mais intimamente, e sentindo como próprio o que é dele, se associem à sua missão salvadora’.

Quem nos apresenta o Decreto Apostolicam actuositatem, é o Presidente da Comissão Episcopal para o Laicato da CNBB e Bispo de Caçador (SC), Dom Severino Clasen :

É um documento que nasce a partir dos outros documentos da Igreja. São diversos que ao longo da história da Igreja vão sendo produzidos para a participação dos cristãos na Igreja e na sociedade. Por exemplo, antes do Concílio Vaticano II, temos alguns documentos tipo Aeterni patris de 1879, depois 1891 temos a Rerum Novarum. São grandes documentos que falam da participação dos leigos na sociedade e o mundo como caminha nas suas grandes transformações. Assim também, no Concilio Ecumênico Vaticano II, com a produção dos diversos documentos que temos aí, vamos citar sobretudo a Lumen Gentium e a Gaudium et spes, que fala da Igreja e sua missão no mundo, e também a Igreja e a transformação da sociedade, a doutrina e tudo mais. Dentro destes documentos, surge este documento do apostolado dos cristãos leigos e leigas, a missão deles na Igreja e na sociedade. Claro, que este decreto teve grandes discussões. Nós podemos imaginar, quando mais de 2.500 bispos reunidos neste Concílio, alguma coisa tem que se produzir de alto nível. E o pensamento do Concílio Ecumênico Vaticano II, produziu aquela ideia ‘Igreja, povo de Deus’. Uma nova maneira de interpretar, de entender a Igreja. A valorização dos cristãos leigos e leigas. E como já havia na época, antes da guerra e depois no pós-II Guerra Mundial, muitos documentos que começam a surgir a ação dos leigos. Temos aí a Ação Católica. Nós aqui no Brasil, depois nós temos a Ação Católica, temos diversos grupos, a Ação da Juventude. Eram expressões de grupos de leigos, tentando mostrar a sua participação e comprometimento com o anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Então nesta miscelânea de iniciativas, tentativas que já se encontrava e a Igreja gemendo, diria assim, como dores de parto, na necessidade de uma mudança, de uma transformação e tudo mais. E por isto o Concílio Ecumênico Vaticano II percebeu que não tem como produzir um Concílio sem falar de Leigos. E para dar um destaque especial, aí surge este documento. Foi preparado e até quando foi aprovado em 1965, mais precisamente foi no dia 18 de novembro, quando inclusive a Comissão do Laicato no Brasil celebrou, fez uma dedicação sobre isto, para que de fato a gente colocasse esta ideia da participação dos cristãos leigos e leigas’.’


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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Um copo de água ao cáfir

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Padre Feliz da Costa Martins,
Missionário Comboniano


No Sudão, os seguidores de Jesus são apenas cinco por cento da população. Nessas circunstâncias, um cristão facilmente pode vir a ser apelidado de cáfir (infiel).


Saí da paróquia de Nyala numa carrinha, o transporte público usado na cidade. Baixei a um quilômetro do campo de deslocados de Dreij onde cerca de 80 mil pessoas tentam sobreviver. Hoje deixei o cantil da água em casa, pois sei que a Organização das Nações Unidas tem feito um trabalho excelente, de modo que não se deva morrer à sede nos campos de deslocados. A missão mista da ONU e União Africana no Darfur (UNAMID, em sigla inglesa), tem cerca de 15 mil elementos espalhados por todo o Darfur, uma área cinco vezes maior do que Portugal.

Ao passar pela primeira loja que encontro, peço uma garrafa de água. «Só vendemos água a copo», responde, timidamente, o miúdo do outro lado do balcão.

«Cáfir [infiel]», ouço alguém murmurar. Embora não o visse, não estaria muito longe de mim. Um insulto, sem dúvida, mas fingi o contrário. Mantive-me calmo e levei a coisa a brincar, perguntando : «Cáfir… quem?»

Sem tardar, apareceu um homem que se levantava do angarebe, a cama típica sudanesa feita de cordas de sisal. Depois da saudação normal do assalam aleicum – paz convosco – manifestei, educadamente, que tinha uma correção a fazer. E ele ouviu, não sem surpresa, o que eu, calma e firmemente, pronunciei : «Eu não sou cáfir, eu creio em Alá, Deus, que nos quer bem a todos por igual. Rezo e peço também para que Alá o bendiga a si e a todos os desta casa.»

Apesar da situação em que me tinha metido, sentia-me feliz e sereno. No entanto, não deixei de respirar fundo, preparando-me para uma reação, grosseira e ofensiva que, porventura, viesse do outro lado.


Bom coração

O homem de trás do balcão fitou os meus olhos, enquanto a sua face barbuda adotou um tom grave e sisudo; não vi maldade no seu coração. Da sua boca ouvi palavras que registei com atenção e respeito : «Lembre-se, khauaja [estrangeiro], que se em vez da minha pessoa tivesse topado com outro muçulmano, você já teria, certamente, levado com a porta na cara. No entanto, da minha parte, pode estar tranquilo; mas deixe que lhe diga e confirme o que é essencial e sacrossanto para nós que seguimos a religião islâmica», disse, num tom sério.

«Sou todo ouvidos», respondi. Ele pronunciou com solenidade : «Alá, Deus, enviou Maomé (a bênção de Deus esteja com ele) a esta terra. Foi por meio deste distinto mensageiro árabe que o mundo conheceu ou virá, um dia, a conhecer a majestosa religião islâmica. Desde então ficou claro que todas as outras religiões, as que vieram antes e as que, porventura, viessem depois, estão fora do verdadeiro culto ao Altíssimo e Todo-Poderoso.»

Eis um ser humano profundamente convicto da sua religião cujas palavras contrastam com a minha fé cristã, pensei comigo mesmo. Apesar de tudo, não sinto neste meu irmão muçulmano a mancha do proselitismo ou extremismo, como acontecera noutras conversas com alguns dos seus correligionários. A minha inspiração é não só manifestar-lhe o meu respeito, como também dar graças a Deus pela paz e serenidade que experimento neste momento e neste lugar. Sem dúvida que estou diante de um homem de bom coração.

«Ah, já me estava a esquecer», disse, ao mesmo tempo que alcançava um grande copo de alumínio na extremidade do balcão : «Não temos água de garrafa; tenho um zir, uma bilha, que conserva a água fresca. Mas também tenho gelo, porque estes dias de Verão são extremamente quentes», completou, enquanto o vi desaparecer para depois de alguns segundos voltar com o copo de litro quase cheio de água em que deixou cair dois pedaços de gelo que, em seguida, me ofereceu.

«Chucran [obrigado]», agradeci, enquanto recebia o copo.

E retomou a conversa : «Na khalua [a escola alcorânica das crianças], aprendemos coisas que, mais tarde, pela vida fora, quando encontramos alguém que não é muçulmano, usamos e repetimos demasiado facilmente e mesmo sem refletir. Como aquela palavra que, há pouco, você ouviu da minha boca – cáfir», disse, como que a pedir desculpa. Ao que eu respondi que não se preocupasse, pois não tomei isso como ofensa.


Recordar é viver

«Já agora, desculpe! Ainda não lhe tinha dito o meu nome; chamo-me Abdallah. A minha terra é Bulbul, a uns sessenta quilômetros daqui. Lá não havia fome; bastava semear e trabalhar a terra durante o kharif [a estação das chuvas] e tínhamos comida para toda a família. Até que um dia, faz agora sete anos, chegaram os janjauides [militantes da milícia que opera no Darfur]. Destruíram, mataram, queimaram. Dois dos meus filhos desapareceram nesse maldito e diabólico ataque.»

Abdallah fez uma breve pausa, procurando dominar a emoção, e reatou : «Imaginava-os fugitivos e, mais tarde, errantes, à procura de pão e segurança, na esperança da feliz ocasião de nos encontrarmos de novo. Depois de alguns meses, porém, tivemos de nos render à realidade de que este mundo já não é seu. E a dor é ainda maior quando nem sequer podemos dar sepultura aos nossos mortos. Nós, os sobreviventes de Bulbul, fomos avançando, aos poucos, por etapas, acampando aqui e ali, até chegarmos aos grandes campos de deslocados nos arredores da cidade de Nyala. Eu, originalmente, tinha-me estabelecido com a minha família em Salam, mas, um ano depois, mudei-me para este lugar, onde sabia que a maioria das pessoas do meu clã se encontrava. Aqui é mais fácil juntarmo-nos para recordar e reviver o que aconteceu.»

«Recordar coisas tristes?», ousei interromper. «Sim», repostou. «Recordar os nossos mortos, trazer à mente as destruições, os incêndios e o despojamento total dos nossos bens. Pensa que deveríamos esquecer? E as mulheres e adolescentes que os janjauides violentaram para logo a seguir dispararem sobre elas, abandonando-as num lago de sangue? Esquecer? Quem esquece significa que já não tem vida em si; é como se estivesse morto. Pelo contrário, recordar faz-nos viver e lutar pela vida», rematou com arrojo e decisão.

Abdallah era como um jornal aberto donde ia tirando histórias não só da sua aldeia natal, mas também de muitas outras terras darfurianas que sofreram destinos semelhantes, tal como ele tinha ouvido de testemunhas seus vizinhos.


Em direção à mesquita

O altifalante da mesquita próxima de nós trovejou. A proclamação do adan, o chamamento para a oração, majestosamente cantado pelo muezim atravessa os céus e penetra em todo o espaço em redor : «Allahu acbar, Deus é o maior.»

É sexta-feira. Desvio o olhar na direção da rua onde já se avistam alguns homens de jelaba branca que caminham na direção do templo. Dos aposentos internos da loja aparece uma mulher com o ibrique, o regador de plástico pequeno, na mão, que pousa no fundo da prateleira principal, começando, de seguida, a desocupar o balcão. Vem acompanhada de um menino a quem ajuda a vestir as cirual, as calças brancas que se usam por debaixo da jelaba. Demora-se a ensinar-lhe a fazer a laçada da tica, o cordão, em volta da cintura. O pequeno estabelecimento está a fechar. É dia santo semanal. Folgam as instituições e repartições governativas, se bem que o mercado em geral conserva-se aberto, livremente, segundo as conveniências e próprios interesses dos respectivos donos. Digno de menção, porém, é que ao começar a oração comunitária do dia santo muçulmano, antes das duas horas da tarde, não se vêem portas de estabelecimento comercial abertas.

Observo Abdallah, que, tendo arregaçado as típicas longas mangas da jelaba até ao ombro, está agora a acabar de fazer a sua ablução, isto é, o ritual da lavagem antes da oração. Uma mão segura o ibrique de cujo pequeno cano vai caindo a água na concha dos dedos curvados da outra mão que eleva cuidadosamente até um pouco mais acima do cotovelo. Sem interromper o ritual da ablução, o fiel muçulmano vai-me dizendo : «Khauaja [amigo], não estou a mandá-lo embora, mas o muezim já chamou para a oração.»

Eu nem o deixei terminar de falar, atalhando imediatamente : «La samaha Allah! [Deus me livre de tal]. Não seja por minha causa que vá chegar tarde ao apontamento da oração na mesquita.» E, com as moedas na mão, fui dizendo, apressadamente : «Mas não queria ir embora sem liquidar a minha conta.» Vi-o reagir delicada mas seriamente. «Não me queira ofender com essas suas palavras», disse, enquanto sacudia as últimas gotas de água das mãos. «E, quando passar de novo por aqui, espero poder oferecer-lhe não só água para beber mas também o almoço e mais tempo para estarmos juntos, in cha’Allah, se Deus quiser», concluiu.

«Chucran [obrigado]», respondi-lhe encarecidamente. Ele veio à frente do balcão para um forte e sentido aperto de mão. «Ah, antes de partir, aceite as minhas desculpas por tratá-lo por khauaja, estrangeiro, sem lhe ter perguntado sequer o seu próprio nome.» «Não há mal nisso; fica para a aproxima vez», respondi.

Atravessei a soleira e ouvi a porta ranger; pouco depois, distingui, claramente, o clique ao fechar do loquete. Dei os primeiros passos na areia mole da rua, voltei-me ainda para trás e disse : «Maa assalama [adeus]

Se, porventura, Abdallah não ouviu esta minha saudação de despedida, muitos outros, porém, a ouviram, admirando-se de ver um estrangeiro branco naquele lugar. Era uma multidão de jelabas que ondulavam no grande areeiro que se perdia lá ao longe, até entrar no grande bloco espesso e denso das tendas do acampamento onde homens, mulheres e crianças foram destinados mas não pelo acaso ou má sorte. Pelo contrário, o que os trouxe aqui foi o interesse dos homens que se transformou em ódio, violência e guerra.’


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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Os Bispos e as Famílias

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Cardeal Dom Orani João Tempesta, O. Cist.,
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ


Acontece, de 25 a 29 de janeiro, no Centro de Estudos e Formação do Sumaré, aqui no Rio de Janeiro, o 25º. Encontro dos Bispos, uma feliz iniciativa criada pelo nosso saudoso Cardeal Eugênio Sales. O tema central do Curso deste ano será sobre a Família, em consonância com as duas últimas assembleias sinodais, extraordinária e ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre a realidade familiar. Teremos conferencistas e professores internacionais e nacionais especialistas no tema.

Acerca da realidade familiar, nos ensinou o Papa Francisco um desejo que deve estar no coração dos bispos, padres e de todo o povo fiel : ‘Garanto-vos, queridas famílias, se fordes capazes de caminhar sempre cada vez mais decididamente na via das bem-aventuranças, aprendendo e ensinando a perdoar-vos reciprocamente, em toda a grande família da Igreja crescerá a capacidade de dar testemunho da força renovadora do perdão de Deus. Diversamente, fazemos pregações lindíssimas, e talvez até esmaguemos algum diabo, mas no final o Senhor não nos reconhecerá como seus discípulos, porque não tivemos a capacidade de perdoar e de nos fazer perdoar pelos outros’! (Audiência Geral de 04 de novembro de 2015).

Mas é oportuna uma reflexão sobre o Bispo Diocesano, como sucessor dos apóstolos, como aquele que é o pai da família diocesana, que é o primeiro a perdoar, ensinar o perdão e nos inscrever na escola da misericórdia e da compaixão. Iniciamos com a fala profética do Papa Francisco na ordenação episcopal de Monsenhor Angelo De Donatis, quando ele traçou o perfil do Bispo : ‘Quanto a ti, irmão caríssimo, eleito pelo Senhor, reflete que foste escolhido entre os homens e para os homens foste constituído nas coisas que dizem respeito a Deus. Com efeito, Episcopado é o nome de um serviço, não de uma honra, pois ao bispo compete mais servir do que dominar, segundo o mandamento do Mestre : ‘Quem é o maior entre vós, faça-se o mais pequenino, e quem governa, como aquele que serve’’ (Basílica São João de Latrão, 9 de novembro de 2015).

Continua o Santo Padre quando fala que o Bispo é um chefe de família : ‘Colocado pelo Pai como chefe da sua família, segue sempre o exemplo do Bom Pastor, que conhece as suas ovelhas, por elas é conhecido e para elas não hesitou dar a sua vida’ (Idem).

O Papa ressalta que cabe ao Bispo ter amor de pai e de irmão para com todos : ‘antes de tudo os presbíteros e os diáconos, os seminaristas; mas também os pobres, os indefesos e quantos precisam de acolhimento e de ajuda’ (Ibidem).

A vida e o ministério do Bispo, como ordinário próprio de sua Igreja Particular, é daquele que dispensa os vínculos da caridade, acolhendo, corrigindo quando necessário, lembrando que no direito está a caridade, como lei suprema, sempre fazendo de tudo para encaminhar a todos para os caminhos de Deus. O amor supera tudo. Com amor toda solução é imediata.

De um presbítero se fale somente o que é bom, justo, santo e verdadeiro. Se há falhas, se há pecados, cala-te e reza pela sua conversão. Não podemos viver na murmuração de correções públicas ou de condenações ou anátemas imediatos, com decretos extremos que mais mal fazem para a Igreja do que bem. Devemos nunca cansar de acolher, de perdoar, de distribuir a graça de Deus e dar a verdadeira oportunidade para uma conversão profunda, para um recomeçar, para um reinício de uma vida totalmente voltada para Deus, como o Pai misericordioso da parábola do Filho Pródigo : ‘Mas o pai disse aos empregados : ‘Depressa, trazei a melhor túnica para vestir o meu filho. E colocai-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Pegai o novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’ (cf. Lc 15, 22-24). ‘Atire a primeira pedra quem não tiver pecado’.(cf. Jo 8,1-11) Com misericórdia se inicia uma correção fraterna e com ela também a finaliza.

Realmente, em uma Diocese, grande ou pequena, o Bispo, enquanto sucessor dos Apóstolos, necessita de auxiliares na pessoa dos presbíteros, seus colaboradores em seu ministério de conduzir, qual o Bom Pastor, o Povo de Deus a ele confiado. Nisso os sacerdotes muito o auxiliam. Aliás, nos primórdios da constituição hierárquica da Igreja, só havia uma Missa solene aos domingos com todo o clero junto com o Bispo. Depois é que a necessidade pastoral fez ver que seria melhor o sistema de paróquias com um padre – pároco ou administrador paroquial – à frente como coordenador a serviço daquela comunidade.

É certo que nessa árdua missão os sacerdote sofrem, como os demais seres humanos em quaisquer campos de ação que se encontem, as agruras da vida e que muitas vezes têm sido apontadas em estudos relevantes : solidão, questões doutrinárias ou pastorais, doenças, questões familiares (o padre vem de uma família, (e alguns de famílias fragmentadas que experimentam a dureza da separação de seus pais), canseiras devido ao trabalho, tentações de todos os tipos, muitas incompreensões e perseguições. Ora, embora os irmãos presbíteros sejam nessas horas um apoio forte àquele que sofre, é ao Bispo, como verdadeiro pai, que cabe atender com solicitude os mais fracos, frágeis ou titubeantes mesmo na vida sacerdotal. Há quem se esqueça de que o padre é um homem e como todo homem tem seus problemas e dificuldades a carecerem de remédio. O padre ainda não é santo dos altares, pois carece de ser burilado na sua caminhada sacerdotal que não tem fim nesta terra dos homens.

Como o bispo o atenderá? – Primeiramente com a solicitude paternal da acolhida. Nessa acolhida o ouvirá a fim de poder ajudar da melhor forma possível, sem transigir em nada daquilo que a Igreja espera do padre, mas também sem colocar a lei – ou pior, o legalismo – acima da caridade e da misericórdia. Nesse contexto, prestará ao sacerdote, ainda que errante, seu apoio para que não volte a errar. Essa é a sábia norma da Igreja, que sempre recomendou detestar o erro, mas amar o errante (Santo Agostinho).

De um fiel diocesano, particularmente das famílias de nossas Igrejas particulares, cabe ao Bispo, também como autêntico pai da Família Diocesana, dar o testemunho de famílias que vivem da Eucaristia. Isso porque é o Senhor que parte o seu Corpo e derrama o seu preciosíssimo Sangue por todos, como nos ensina o Papa Francisco : ‘A família cristã mostrará precisamente assim a amplidão do seu verdadeiro horizonte, que é o horizonte da Igreja-Mãe de todos os homens, de todos os abandonados e excluídos, em todos os povos’ (Audiência Geral de 11 de novembro de 2015).

Os bispos que vêm ao Rio de Janeiro, aqui vêm para estudo, oração e vivência de união fraterna. Vamos viver como irmãos. Por isso, refletir nestes dias sobre a Família e toda a sua problemática é manifestar claramente nosso compromisso com a edificação de uma família constituída pelo amor esponsal do marido com a mulher, abertos para a constituição de uma bonita família, sem medo de ter filhos, destemidamente educados na fé católica, o maior tesouro que podemos deixar como herança para as gerações futuras. Cuidemos, sobretudo, da família da qual pertencemos. A grande família, que é a Igreja, precisa viver e testemunhar em gestos concretos a misericórdia e a compaixão.’


Fonte :


domingo, 24 de janeiro de 2016

Vingança criativa

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Padre José Rebelo,
Missionário Comboniano


Ao sermos tolerantes e fraternos estaremos a fazer gorar a estratégia dos terroristas do Estado Islâmico e a exercer uma ‘vingança’ criativa, verdadeiramente cristã.


O terrorismo bateu-nos à porta. Os bárbaros atentados em Paris no dia 13 de Novembro semearam horror e luto, medo e insegurança. O terrorismo já nos afeta desde os tremendos ataques da Al-Qaeda nos Estados Unidos em 11 de Setembro de 2001. Mas terá consequências ainda mais trágicas daqui por diante, até porque muitos dos jihadistas são europeus. Vamos todos pagar o preço da guerra e a restrição das liberdades. Além disso, tenderá a gerar rejeição, racismo e extremismo. A polarização política tenderá a aumentar com o crescimento dos partidos xenófobos : os refugiados, os imigrantes e todos os estrangeiros ‘de cor’ irão sofrer ainda mais na pele a discriminação – e a diversidade social, cultural e religiosa só pode sofrer com esta reação irracional.

As relações com o mundo árabe têm sido atribuladas. Começaram durante a Primeira Guerra Mundial, em 1916, com a divisão do Império Otomano, que desenhou artificialmente as fronteiras de países como a Síria e o Iraque, e continuou mais recentemente com o armamento dos ‘nossos aliados’ de turno (como Ossama Bin Laden, para combater os Russos no Afeganistão, ou os inimigos de Bashar al-Assad na Síria), as intervenções desastradas no Iraque e na Síria e a continuação da venda de armas a países como a Arábia Saudita, o grande exportador de salafismo (uma facção radical do sunismo) e o padrinho do Estado Islâmico (EI). O Ocidente não pode, por isso, ignorar a sua parte de responsabilidade na eclosão do fenómeno do terrorismo de cariz islâmico.

Os ataques em Paris foram considerados «atos de guerra» pelo Presidente François Hollande, que prometeu responder «sem piedade» e começou a atacar o EI na Síria. Obama, depois de ter subestimado o califado, prometeu destruí-lo, retirando-lhe o território e cortando-lhes as fontes de financiamento. Mais uma vez a resposta soa a vingança, e é por isso inadequada e mesmo errada. O uso da força pode até enfraquecer o EI, mas não curará o ódio e o profundo ressentimento que está por detrás do seu aparecimento. Ainda não aprendemos que a violência só gera mais violência.

Nicolas Hénin, um jornalista francês que esteve 10 meses prisioneiro dos combatentes do Estado Islâmico (que define como «crianças de rua, embriagadas pela ideologia e o poder»), é autor do livro Jihad Academy, the Rise of Islamic State. Explica : «Central à sua visão do mundo é a crença de que as comunidades não conseguem conviver com os muçulmanos, e todos os dias as suas antenas estarão sintonizadas para encontrar elementos que comprovem essa convicção. As fotos de alemães a acolher imigrantes terão sido particularmente preocupantes para eles. Coesão, tolerância – é precisamente o que eles não querem ver.» Por isso, ao atacar com bombas, os países ocidentais estão a cair na sua ratoeira : criar ainda mais ressentimento na «rua árabe» – que existe mesmo na Europa (só a França tem mais de seis milhões de muçulmanos) – além de tender a radicalizar os 500 mil civis que vivem e não podem sair de Raqqa, a capital do ‘Califado’ que foi intensamente bombardeada pelos franceses.

A resposta ocidental, para ser efetiva, tem de ser comandada pela razão e não pelo sentimento de vingança. Além disso, a ira que sentimos pelo que sofremos com os ataques só pode sarar – como ensinam aqueles que passaram por situações dolorosas e traumáticas e a mais elementar psicologia – se for canalizada positivamente, criativamente. Ao sermos tolerantes e fraternos – por exemplo, no acolhimento que reservamos aos imigrantes – estaremos a fazer gorar a estratégia dos terroristas do Estado Islâmico e a exercer uma ‘vingança’ criativa, verdadeiramente cristã.’


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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Ao longo do caminho da comunhão

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

Propomos o artigo ‘Ao longo do caminho da comunhão’, publicado no L'Osservatore Romano, que trata do diálogo entre os católicos com a Federação Luterana Mundial e os luteranos europeus. Seu autor, Matthias Türk, é Assistente para a Seção Ocidental do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

‘Há pouco mais de 50 anos, em 4 de dezembro de 1965, quatro dias antes do final do Vaticano II, o Beato Papa Paulo VI celebra a Liturgia da palavra com os Observadores não católicos que haviam participado do Concílio, na Basílica São Paulo fora-dos-muros. Tratava-se do primeiro Ofício Divino celebrado como momento de oração comum na presença de um Pontífice. Em seu discurso, o Papa Paulo VI dirige-se aos observadores como ‘irmãos e amigos em Cristo’. A eles e aos presentes, expressou a sua gratidão, afirmando : ‘A vossa partida gera em nós uma solicitude que não conhecíamos antes do Concílio e que agora nos entristece; gostaríamos de vê-los sempre entre nós!’.

Na linha deste primeiro serviço ecumênico de um Papa, que se inscrevia dentro da grande reviravolta ecumênica da Igreja Católica iniciada com o Concílio Vaticano II, a atitude de fundo manifestada naquele momento foi reconfirmado ao longo do tempo por numerosos encontros ecumênicos : não afrouxamos mais o aperto de mão que, então, nós damos. Vale a pena recordar, sempre, que aquilo que une os cristãos é maior do que aquilo que os divide.

Um novo sinal da crescente comunhão entre católicos e luteranos foi a oração comum e o encontro entre católicos e luteranos no contexto da visita pastoral do Papa Francisco à comunidade evangélica-luterana de Roma, na tarde do domingo 15 de novembro de 2015. Francisco é o terceiro Pontífice a realizar uma visita à paróquia luterana de Roma. Em março de 2010, o Papa Bento XVI havia ali celebrado Vésperas ecumênicas e, em 1983, por ocasião do 500º aniversário de nascimento de Martinho Lutero, São João Paulo II havia visitado a Igreja de Cristo para um momento de oração comum. O Secretário Geral da Federação Luterana Mundial, Rev. Martin Junge, em um comentário divulgado em vista da comemoração da Reforma em 2017, falou da visita do Papa Francisco como um encorajamento dirigido aos fiéis católicos e luteranos para que prossigam o caminho ‘do conflito à comunhão’, como diz o título do documento da Comissão luterano-católica para a unidade, preparado para a comemoração comum da Reforma : ‘Foi bonito observar que o Papa  exortava tanto os fiéis católicos quanto os fieis luteranos, a considerar o serviço aos pobres como a missão mais importante. Na oração comum, Cristo, aquele se serve, se manifestará como o centro desta unidade. Esta é a promessa’.

Também o Pároco da Igreja de Cristo, Jens-Martin Kruse, apreciou tal visita como fonte de encorajamento e renovado impulso para seguir no caminho em direção à unidade da Igreja. Em tal ocasião, o Papa Francisco sublinhou : ‘Esta é também a vocação e a missão ecumênica de católicos e luteranos e de todos os cristão s: um compromisso comum no serviço da caridade, sobretudo pelos menores e mais pobres, torna crível a nossa pertença a Cristo. De outra forma, ela permanece marcada pelas divisões e pelos conflitos entre as Igrejas e entre os fiéis’.

Numerosos delegados ecumênicos tomaram parte também às consultas da 14a Assembleia Geral Ordinária dos Bispos, realizada no Vaticano em outubro passado sobre o tema ‘Vocação e missão da família na Igreja’. Cinquenta anos de diálogo entre luteranos e católicos e de testemunho comum deveriam sensibilizar ambas as tradições em fazer com que suas discussões teológicas levem em consideração as exigências das famílias. Em seu discurso como delegado ecumênico, o Bispo de Ndanganeni Petrus Phaswana, da Igreja Evangélica Luterana da África do Sul e membro do Conselho diretivo da Federação Luterana Mundial, afirmou que as Igrejas deveriam apoiar as famílias na superação de suas dificuldades cotidianas. E as famílias deveriam viver sua fé junto às pessoas próximas, dando um testemunho comum por meio de uma partilha da vida espiritual e prática.

Em 2015, avançaram os preparativos para os 500° aniversário da Reforma. Neste contexto, Martin Junge convidou as Igrejas a aprofundar a questão do significado de ser libertados pela graça de Deus. Na carta enviada às comunidades evangélico-luteranas, que evidencia também a abertura ecumênica da comemoração da Reforma, Junge recorda que ‘na realidade, já estamos no meio do Ano da Reforma’, fazendo alusão a uma série de eventos regionais e internacionais já realizados. Ele exorta as Igrejas a participar, em todo o mundo, às diversas iniciativas que culminarão em 2017 : ‘Reflitam junto à outras Igrejas e parceiros sobre o que significa ser libertados pela graça de Deus e, respondendo juntos ao apelo de Jesus Cristo, levantem no mundo sinais de seu serviço e de seu amor’. ‘Libertados pela graça de Deus’ é o tema escolhido pela Federação Luterana Mundial quer para o Ano da Reforma como para sua 12ª Assembleia Plenária prevista para Namíbia, também em 2017.

Durante uma conferência realizada nos Estados Unidos sobre o tema ‘Do conflito à comunhão : um testemunho profético em um mundo fragmentado’, Junge observou que as reflexões comuns da Comissão luterano-católica para a unidade sobre a história e sobre a teologia da Reforma do século XVI, contribuiu consideravelmente para transformar as relações entre luteranos e católicos em um testemunho comum no mundo. ‘Seria muito otimista pensar, que o compromisso assumido pelos fiéis católicos e luteranos de deixar para trás todos os conflitos e de criar um nível mais profundo de comunhão, possa representar uma poderosa visão, esperança e promessa para pessoas que, de outra forma, experimentam somente destruição e violência?’, perguntou-se Jungue, que depois sublinhou, positivamente, que o Ano da Reforma 2017 não será uma celebração triunfalista: ‘Uma comemoração da Reforma sem a profunda lamentação do Corpo de Cristo dividido em diversas comunidades e famílias, e sem a admissão de uma cega orientação de interesses políticos, seria um erro histórico’.

No mês de janeiro deste ano, a Federação Luterana Mundial e o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, com uma carta comum, convidaram as Igrejas membro luteranas e as Conferências Episcopais católicas a usar, adaptando às várias exigências regionais e locais, um texto elaborado conjuntamente como ‘Projeto para celebrações litúrgicas comuns no Ano da Reforma’. Esta proposta de liturgia é pensada para a atual fase do caminho, do conflito à comunhão, de luteranos e católicos. Ele oferece a possibilidade quer de olhar para o passado com gratidão, como para reconhecer as próprias culpas; ao mesmo tempo, convida a voltar o olhar para o futuro, para que católicos e luteranos se comprometam em dar juntos testemunho de sua fé e a prosseguir em seu caminho comum.

A comemoração ecumênica do 500° aniversário da Reforma reflete, portanto, na sua estrutura litúrgica, os temas do agradecimento, do arrependimento, do testemunho comum e do esforço comum, assim como foram elaborados no documento ‘Do conflito à comunhão’. Nos seus traços característicos, estas celebrações ecumênicas refletem também a realidade da vida cristã: chamados pela Palavra de Deus, os homens são enviados e dar um testemunho comum e a prestar um serviço comum.

A Federação Luterana Mundial e a Igreja Católica pretendem convidar seus parceiros ecumênicos de todo o mundo para um grande evento ecumênico que terá lugar em 31 de outubro de 2016 em Lund, na Suécia, cidade natal da Federação Luterana Mundial, colocando assim em evidência, no início da comemoração da Reforma, os resultados obtidos pelo diálogo luterano-católico. Em 2017, também o diálogo internacional entre a Federação Luterana Mundial e a Igreja Católica terá um motivo a ser festejado : poderá olhar, de fato, para os seus cinquenta anos de existência. A mensagem que luteranos e católicos desejam lançar para o Ano da Reforma é o seu empenho comum em deixar os conflitos para trás e escrever, como próximo capítulo da sua história, o de uma profunda comunhão. Em tal modo, a comemoração da Reforma pode tornar-se um novo passo audaz e profético, confirmando a vontade comum em superar definitivamente os conflitos do passado, para que as nossas mãos, as nossas mentes e os nossos corações se abram e acolham, como dom de Deus, a comunhão entre nossas tradições de fé.

Em 2015, o diálogo ecumênico a nível teológico pode dar significativos passos em frente. Depois de numerosos documentos comuns, sinal de uma convergência crescida ao longo dos últimos decênios, o diálogo teológico luterano-católico concentrou-se recentemente no tema da comunhão eclesial. Depois do acordo de fundo sobre questões pertinentes à doutrina da justificação, perguntou-se qual mais profunda comunhão entre católicos e luteranos seja necessária e profunda. No momento, baseada nos resultados já obtidos, a Comissão luterano-católica para a unidade está refletindo em como dar maior ênfase na questão da comunhão eclesial, pois nela se fundamenta a comunhão no mistério eclesial e na vida sacramental, como também a comunhão eucarística. Neste contexto, o diálogo luterano-católico a nível internacional está se ocupando do tema daquilo que, partindo do fundamento comum do batismo, já une luteranos e católicos.

A mesma temática está na ordem do dia das consultas entre o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e a Comunidade das Igrejas Protestantes da Europa. Também neste caso, se está trabalhando em um relatório comum. Todos estes estudos ainda requerem tempo. Todavia, eles já mostram a considerável contribuição que o diálogo luterano-católico está levando à questão da unidade da Igreja.

Também o diálogo nacional luterano-católico na Finlândia está se dedicando a este tema, tratando a questão da comunhão eclesial no contexto mais específico da comunhão sacramental da Igreja e da compreensão sacramental do ministério do bispo, do sacerdote e do diácono. A natureza decididamente positiva das relações entre a Igreja Católica e a Comunidade Evangélica-luterana da Finlândia, encontra expressão também na peregrinação ecumênica realizada anualmente a Roma por uma delegação finlandesa por ocasião da Festa de Santo Henrique, Padroeiro da Finlândia, tradição esta, que em 2015, viu seu 30° ano de existência.

Nos Estados Unidos, a Conferência Episcopal Católica e a Comunidade Eclesial evangélico-luterana da América publicaram, em 30 de outubro de 2015, uma declaração comum intitulada ‘Declaration on the Way : Church, Ministry and Eucharist’ em vista do 50° aniversário do diálogo nacional e internacional das duas Igrejas. O documento pretende dar um impulso ao prosseguimento do caminho comum para a plena e visível unidade. Ele contém os consensos aos quais luteranos e católicos chegaram até o momento, apresentando 32 ‘declarações de acordo’ sobre questões que não são mais fontes de divisões. O texto oferece possíveis percursos para o trabalho futuro. Ao mesmo tempo, os parceiros estadunidenses convidaram o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e a Federação Luterana Mundial para iniciarem um processo de reflexão sobre as divergências que permanecem.  A ‘Declaration on the Way : Church, Ministry and Eucharist’ deseja ser uma resposta à proposta feita pelo Cardeal Kurt Koch, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, de produzir, após a declaração comum sobre a doutrina da justificação de 1990, uma declaração comum sobre Igreja, ministério e Eucaristia, dado que tais conteúdos não podem ser tratados separadamente no diálogo teológico-ecumênico. De tal modo, será possível discutir as falsas expectativas que auspiciam uma comunhão eucarística sem antes um necessário consenso sobre Igreja e sobre ministério.

O grupo de trabalho internacional luterano-católico ‘Grupo de Farfa Sabina’, entregou ao Papa Francisco no ano passado uma cópia em língua inglesa de seu relatório Communion of Churches and Petrine Ministry, Lutheran-Catholic Convergences. As amplas convergências se referem, em particular, à teologia de comunhão e à eclesiologia como fundamentos para uma interpretação comum do ministério petrino na Igreja.

Sobre o tema da Reforma de um ponto de vista ecumênico manifestou-se também o grupo de trabalho ecumênico de teólogos católicos e protestantes da Alemanha. A este propósito, já em 2014 havia sido publicado o livro intitulado Reforma 1517-2017, no qual eram apresentados de maneira conjunta os desenrolar histórico da Reforma.

Até agora, no esforço feito na promoção da unidade dos cristãos, havia prevalecido uma linha que buscava, antes de tudo, esclarecer os pontos controversos, para poder, enfim, compartilhar aquilo que nos é comum. Diferente é a linha que se está seguindo agora, sempre caminho nos ambientes ecumênicos e que é seguida pelo próprio Papa Francisco. Esta consiste em evidenciar, em primeiro lugar, aquilo que nos une para depois tratar, em um clima de respeito fraterno, os temas controvertidos. O resultado surpreendente desta mudança de perspectiva é que precisamente as diferenças existentes na doutrina se revelam frequentemente como um necessário corretivo e como um enriquecimento das respectivas posições e não exclusivamente como erros ou heresias. Compreender os legítimos objetivos da Reforma do século XVI de maneira positiva, como importante enriquecimento da teologia e como renovação da vida da Igreja no sentido de uma ecclesia semper reformanda, constitui um dos aspectos centrais do texto ‘Do conflito à comunhão. Comemoração luterano-católica comum da Reforma no ano de 2017’. Um precedente resultado que exemplifica esta linha foi já citado na declaração comum sobre a doutrina da justificação, assinada em 1999 pela Igreja Católica e pela Federação Luterana Mundial. Neste espírito, católicos e luteranos podem seguir juntos rumo ao Ano da Reforma de 2017, em uma sempre mais profunda comunhão ecumênica.’’


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quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Padroeiros

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Cardeal Dom Orani João Tempesta, O. Cist.,
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ


Podemos nos perguntar : por que uma arquidiocese, diocese, paróquia e cidade possuem seu padroeiro? A palavra padroeiro evoluiu de patronariu, patronus, ‘patrono’, aquele que protege, que defende, e sua forma feminina é mesmo ‘padroeira’ e não palavra que tenha em seu radical o correspondente feminino mater, mãe. Patrono, orago ou padroeiro é um santo ou anjo a quem é dedicada uma localidade, povoado ou templo, arquidiocese ou diocese, capela, Igreja etc.

Existem diversas passagens bíblicas que mostram a existência de anjos protetores que velam pelo destino de um povo, lugar ou igreja, e aqui quero citar três pelo menos : ‘ainda disse ele : Sabes por que eu vim a ti? Agora tornarei a pelejar contra o príncipe dos persas (um anjo); e, saindo eu, eis que virá o príncipe da Grécia (um anjo)’ (Dn 10, 13.20). ‘Naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta a favor dos filhos do teu povo; e haverá um tempo de tribulação, qual nunca houve desde que existiu nação até aquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que for achado escrito o teu povo, todo aquele que for achado no livro’ (Dn 12, 1).

Com o Cristianismo, temos o conceito de que os anjos e santos continuam intercedendo pelos vivos, isto já era algo comum entre os primeiros cristãos, segundo os registros dos séculos II e III. Os santos escutam nossas orações, pois veem a Deus face a face, são semelhantes a Ele (1 Jo 3, 2), o Espírito tudo os pode revelar (1 Cor 2, 9-10), já que irão julgar o mundo (1 Cor 6, 2). A intercessão deles por nós é o maior serviço que prestam a Deus, pois os santos hão de julgar o mundo (Mt 19,28), (1 Cor 6,2).

Os santos, por serem invocados por muitos cristãos de um determinado local, passaram a ser tidos como protetores desses lugares, tornando-se assim padroeiros ou oragos. É daí que vem a tradição de colocar um santo como padroeiro de uma cidade, arquidiocese, diocese, prelazia, paróquia e quase-paróquia, bem como nas comunidades eclesiais. É claro que nos primeiros séculos não tínhamos já as divisões territoriais eclesiásticas tal qual temos hoje.

A data que marca a escolha do padroeiro para as catedrais, igrejas ou localidades é o século VII. A partir desse século quase todas as igrejas começam a organizar-se no sentido de elegerem os seus padroeiros, sendo escolhidos, em primeiro lugar, naturalmente, as figuras do Divino Salvador e da Virgem Maria, seguidos dos Santos Mártires.

Em documentos da Idade Média, é usual o nome de uma localidade ser antecedido do nome do padroeiro, datando dessa época o processo da constituição das paróquias formadas em núcleos sociais, a assinalar a vida comunitária e religiosa das populações. Símbolo da fé do povo e sinônimo de proteção à comunidade paroquial – a delimitar, por vezes, o próprio território que lhe cabe, como guardião das terras e dos seus respectivos habitantes, o santo padroeiro significa o amparo e o confidente, o protetor, aquele que, por sua intercessão junto de Deus, tem a faculdade e a missão de defender e obter para quem a ele recorre, o louva e nele confia, as graças pedidas em oração e voto de promessa – particularmente nas alturas mais precisas e difíceis da vida de cada um.

Devido a isso temos um santo como padroeiro de uma cidade, arquidiocese, diocese, prelazia, paróquia e quase-paróquia. Em caso de cidade podemos citar :

O Rio de Janeiro, que tem como o seu santo padroeiro São Sebastião : soldado do Império Romano no final do séc. III e início do séc. IV. Sebastião sofreu o martírio em Roma, em virtude da sua fidelidade a Cristo e à Igreja. Em 1565, foi escolhido como padroeiro de nossa cidade, para cujos fiéis é modelo de fé, coragem, constância e disponibilidade. São Sebastião foi um grande missionário do seu tempo, levando o nome de Jesus a todos, fortalecendo os que estavam cansados e abatidos pela perseguição religiosa daquela época.

No caso de arquidiocese podemos citar a vizinha Arquidiocese de Niterói, que tem como padroeiro São João Batista : no dia 24 de junho, a Igreja celebra a solenidade litúrgica do nascimento de João Batista, ‘o maior dos profetas’, que foi enviado ‘para preparar os caminhos do Senhor’. Ele e a Virgem Maria são os únicos em que a liturgia lembra o nascimento. Os demais santos são comemorados no dia da morte, mas João é comemorado duas vezes : no nascimento e no seu martírio, celebrado em 29 de agosto.

Em caso de paróquia, podemos citar : a paróquia de São Jorge e as várias igrejas dedicadas a São Jorge espalhadas pelo mundo, particularmente dentro de nossa Arquidiocese : um soldado cristão do Império Romano no século IV. Quando o imperador Diocleciano declarou perseguição aos adeptos do cristianismo, Jorge protestou e acabou sendo torturado pela insolência. Ele morreu decapitado em 23 de abril de 303, mas sua história foi contada em diversas cidades do Império Romano pelos soldados que estavam em missão. Foi assim que ele ganhou sua fama e virou são Jorge, o santo guerreiro. Essa é, em teoria, a história verdadeira, conforme é contada pela Igreja Católica. Mas a história do santo também está envolvida em algumas lendas piedosas.

Contudo, quando falamos de padroeiro, estamos remetendo aqueles que são protetores e intercessores do povo, de uma comunidade ou de toda uma cidade. No nosso caso, queremos pedir ao nosso padroeiro São Sebastião que interceda por sua cidade e seus habitantes, e sua vida seja de exemplo para todos nós. Que, seguindo a Cristo como seguiu São Sebastião, possamos ter dentro de nossas fronteiras amor, compaixão, misericórdia e paz a cada lar. A Paz esteja com todos!’


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