quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O surpreendente poder espiritual dos sinos das igrejas

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Philip Kosloski


‘Em muitas cidades mundo afora, pequenas ou grandes, antigas ou novas, os sinos ressoam de hora em hora nos campanários das igrejas ou das catedrais. Às vezes é difícil ouvi-los na agitação do trânsito das metrópoles, mas, nas localidades do interior, os sinos ainda podem ser ouvidos até mesmo a quilômetros.


Eles existem desde o século V e foram de vasto uso na Idade Média. Eram particularmente usados nas comunidades monásticas para chamar os monges, que, durante o dia, se espalhavam por diversos locais dos mosteiros no cuidado de suas atividades, a fim de reuni-los para as orações na capela. Mais tarde, foi ficando comum ouvi-los também nas igrejas paroquiais, convidando o povo de Deus para a celebração da Eucaristia e para outros atos de piedade, como a oração do Ângelus três vezes ao dia.


Mas, além dessas funções ‘práticas’, os sinos das igrejas também têm um grande poder espiritual. Quando um novo sino é instalado em uma igreja, ele é tradicionalmente abençoado pelo bispo ou pelo pároco. Antigamente, a cerimônia da bênção do sino espelhava a do batismo, e a atual cerimônia ainda exige o uso da água benta. Os sinos até recebem um nome, homenageando geralmente um santo padroeiro ou a Santíssima Virgem Maria.


O Ritual Romano apresenta uma benção solene aos sinos das igrejas e explica o simbolismo e o poder espiritual que eles passam a ter quando abençoados.

Uma parte do rito da bênção diz :

Ó Deus, que pelo bem-aventurado Moisés, Vosso servo, pelo qual promulgastes a lei, mandastes fazer trombetas de prata para que, tocando-as os Sacerdotes no tempo do sacrifício, o povo, avisado pelo seu som melodioso, se preparasse para Vos adorar e se reunisse para Vos oferecer os sacrifícios; para que, excitado para a guerra pelo som delas, prostrasse as forças dos inimigos; nós Vos pedimos que façais com que este vaso, preparado para a Vossa santa Igreja, seja santificado pelo Espírito Santo, para que os fiéis pelo seu toque sejam convidados para o prêmio.

E, quando aos ouvidos dos povos ressoar a sua melodia, aumente neles a devoção da fé; sejam repelidas para longe todas as ciladas do inimigo, o fragor do granizo, os perigos dos turbilhões, a impetuosidade das tempestades; abrandem-se os trovões destruidores; que o sopro dos ventos se torne saudável e moderado; e que a Vossa mão poderosa destrua as forças aéreas para que, ouvindo este sino, se encham de pavor e fujam diante do estandarte nele traçado da Santa Cruz do Vosso Filho, ao qual se dobra todo o joelho no céu, na terra e no inferno e toda a língua proclama que o mesmo nosso Senhor Jesus Cristo, tendo destruído a morte no madeiro da Cruz, reina glória de Deus Pai, com o mesmo Pai e o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.

Antes ainda, outra prece do rito, dirigida a Cristo, pede :

Derramai, Senhor, sobre esta água a bênção celeste e fazei descer sobre ela a virtude do Espírito Santo, para que, tendo sido rociado com ela este vaso, destinado a convocar os filhos da Santa Igreja, dos lugares onde ressoar este sino, se afaste para longe a virtude das ciladas dos inimigos, a sombra dos fantasmas, a violência dos turbilhões, os golpes dos raios, os estragos das trovoadas, os desastres das tempestades e todos os espíritos das procelas; e, ao ouvirem a sua voz os filhos dos cristãos, aumente intensamente a devoção para que, correndo para o grêmio da sua piedosa mãe, a Santa Igreja, vos cantem na assembleia dos Santos um cântico novo, que reproduza o som vibrante da trombeta, a melodia do saltério, a suavidade do órgão, a exultação do tambor, a alegria do címbalo, para que, no templo santo da Vossa glória possam com suas homenagens e preces convidar a multidão do exército dos Anjos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, que Convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo de Deus, por todos os séculos dos séculos.

Prestou atenção? ‘…Para que possam convidar a multidão do exército dos Anjos’! Então, da próxima vez que você ouvir um sino de igreja ressoando, una-se à multidão dos anjos, lembre-se do poder espiritual desse símbolo abençoado e eleve uma breve oração a Deus, agradecendo-lhe pelas Suas muitas bênçãos em sua vida.’


Fonte :


quarta-feira, 30 de agosto de 2017

5 descobertas e invenções revolucionárias feitas por mulheres

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



‘As mulheres são responsáveis ​​por descobrir ou inventar muitas coisas que promovem nosso conhecimento do mundo e nossa capacidade de viver nele. As mulheres nem sempre conseguem todo ou qualquer! crédito que merecem. Aqui estão 5 contribuições revolucionárias de mulheres para se comemorar.


1.      A Estrutura do DNA

James Watson e Francis Crick revolucionaram o mundo científico quando publicaram um artigo sobre a estrutura de dupla hélice do DNA, mas esqueceram de mencionar a ajuda de sua colega feminina, Rosalind Franklin.


Ela foi a única que conseguiu imagens de DNA por difração de raios-X. E outra cientista, Maurice Wilkins (com quem Franklin aparentemente teve contratempos no passado) levou suas imagens inovadoras para Watson e Crick para que pudessem fazer suas pesquisas. Os três compartilharam o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1962 e, embora Watson tenha dito que Franklin deveria ter ganhado o Prêmio Nobel de Química junto com Wilkins, isso simplesmente não aconteceu. Ela então se dedicou a realizar pesquisas notáveis ​​sobre a estrutura molecular dos vírus.


2.     A máquina do saco de papel

Ok, talvez não seja a invenção mais tecnológica ou sofisticada, mas pense em quantos pães foram armazenados neste tipo de saco. Além disso, Margaret Knight, que inventou a máquina, teve que lutar para obter crédito por isso.

 

Knight fez uma máquina protótipo de madeira, mas para obter a patente, teria de fazer em metal. Então, levou seus planos de design para uma fábrica, onde um homem chamado Charles Annan roubou seu projeto e os patenteou como seus, alegando que era impossível para uma mulher ter criado uma máquina desse tipo.

Knight não hesitou em levá-lo a julgamento e, embora tenha demorado três anos, ganhou o caso, fundou sua própria empresa e obteve todos os royalties.


3.     Programação de computador

A mãe de Ada Lovelace encorajou sua filha a estudar matemática para seu desenvolvimento profissional sem saber que ela iria se tornar uma pioneira da computação. Aos 20 anos, Lovelace começou a trabalhar com o inventor Charles Babbage e eles tiveram a ideia de criar um sistema de processamento analítico.

 

Em suas anotações, podemos encontrar o que agora é considerado o primeiro algoritmo para processamento de máquinas : uma série de instruções passo a passo para resolver problemas. Embora vários digam que ela foi a única que abriu o caminho para os computadores como os conhecemos hoje, a maioria das pessoas diz que Charles Babbage foi o verdadeiro autor.


4.    Monopoly

Elizabeth Magie (ou ‘Lizzie’ J. Philips, depois de seu casamento) decidiu criar um jogo de tabuleiro chamado ‘The Landlord’s Game’ para ensinar o que acontece quando algumas pessoas acumulam todas as terras. Ela o patenteou em 1904 e logo se tornou popular.

 

Anos mais tarde, várias réplicas foram feitas com algumas variações sobre o tema, mas o empresário Charles Darrow foi o único que realmente aproveitou a mudança do quadro sem dar crédito à ideia original de Magie. Ele patenteou novamente sob o título de ‘Monopoly’ e se tornou um milionário em royalties depois de vender os direitos a uma grande empresa americana de brinquedos.

Em seguida, outra empresa criou o jogo Anti-Monopoly e, claro, foi processada. No entanto, esse processo revelou que o jogo Monopoly não era realmente uma criação original, e Elizabeth obteve seu reconhecimento.


5.     Serra circular

Sara ‘Tabitha’ Babbitt era um tecelã que fazia parte da comunidade de Harvard Shaker, onde o bem comunal era valorizado sobre a realização individual, especialmente para as mulheres.

Por volta de 1810, Babbitt observou dois homens cortando madeira com uma serra tradicional e percebeu que era um desperdício de tempo e energia porque a serra cortava somente quando avançava.

 

Três anos depois, ela criou um modelo de serra circular, e toda a sua comunidade agradeceu por facilitar seu trabalho. Mas ela não patenteou sua invenção por causa das crenças da comunidade.

Infelizmente, alguns anos depois, três homens souberam da invenção dela e a patentearam.’


Fonte :


domingo, 27 de agosto de 2017

Crônica : A lição da tamareira, pagar o mal com o bem

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo do Padre Olmes Milani,
Missionário Scalabriniano


‘Amigas e amigos, pagar o mal com o bem é sempre um desafio.  Se o desafio não for superado, o mal vai-se multiplicando e ocupando o lugar que está reservado para o bem.  Sobre o assunto já fomos advertidos pelo missionário Paulo : ‘Não paguem a ninguém o mal com o mal; a preocupação de vocês seja fazer o bem a todos os homens.’ (Rom.12.17).

Por causa de meu trabalho que exige viajar de Dubai no Golfo Pérsico para Fujiarah, no Mar de Omã, preciso atravessar uma região de deserto e uma cadeia de montanhas em cujos vales existem alguns oásis com tamareiras. Muitas delas são centenárias e, apesar da idade, continuam produzindo frutas que ficam presas em cachos lá no alto.

Antes da introdução de tecnologias modernas, só havia duas maneiras de conseguir tâmaras. Uma forma era subindo no tronco da árvore. Contudo, essa apresentava dificuldades porque o tronco é liso, sem galhos para apoiar os pés e as mãos. Uma vez lá no alto, ainda era necessário separar as frutas maduras das verdes. Realizada a colheita, o problema era como descer carregando as tâmaras.

O modo mais usado e mais fácil era jogar pedras, tentando atingir o cacho, esperando que com o impacto, as frutinhas se desprendessem dele para, depois, serem recolhidas do chão.

O uso de pedras jogadas contra a árvore é que me chamou a atenção. A lição está na árvore. Sendo atingida pelas pedras ela devolve o que tem de melhor, a doce e cobiçada tâmara.

Ser como a tamareira, retribuir o mal com o bem, é um desafio.

De fato, o mundo é rico em pessoas apedrejadas que pagam o mal com o bem e são felizes. Embora excluídas, classificadas como bregas e carolas, continuam semeando o amor, a melhor das sementes.

 É assim que vivenciam as palavras do Mestre : ‘Amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem. Deste modo, sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos.’ (Mt 5.44-45).’


Fonte :


sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Liturgia : a poesia de Deus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Daniel Reis, 
graduando em Teologia e em Direito (PUC Minas); 
cursa Especialização em Liturgia (Universidade Salesiana de São Paulo)


‘A arte, amplamente considerada, tem o condão de revelar o que a razão não consegue. Há uma frase atribuída a Leonardo da Vinci que ilustra bem esta ideia : ‘A arte diz o indizível, exprime o inexprimível e traduz o intraduzível’. A poesia, compreendida como produção artística ou ato criador de arte - seja pelo poema, pela música ou pela imagem - em sua forma final pode parecer mais real que a realidade que se apresenta aos olhos, pois consegue exprimir e desvelar um significado que, em semiótica, sempre está oculto de alguma forma. Para corroborar esta ideia, vale lembrar a belíssima afirmação poética de Antoine de Saint-Exupéry, em sua célebre obra ‘O Pequeno Príncipe’ : ‘Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos’. Desta forma, um coração poético nos auxilia numa compreensão simbólica da fé. Nos ajuda a percorrer, pelos sinais, os significados que querem se revelar. Nos liberta das visões fundamentalista e literalista, que costumam avidamente ‘saltar aos olhos’. E uma vez livres, podemos perceber a textura e a tonalidade do nosso modo de entender e de nos comunicar com Deus.

A Liturgia, sendo a mais primorosa obra de arte que Deus dedicou à humanidade, não é outra coisa senão uma poesia que declama, de forma ritual e simbólico-sacramental, o amor salvífico do Criador às suas criaturas. Nossa comunicação com Deus se dá, por excelência, pela linguagem litúrgica, cujo conteúdo exprime, invoca e evoca o Mistério que não pode ser contido nas palavras da linguagem humana. Esta linguagem litúrgica traz em si uma forma poética, que é expressiva, rítmica, possui cadência, como no exemplo do hino laudatório do Sanctus, onde a repetição ‘Santo, santo, santo’ faz entender que a realidade do Deus a quem falamos escapa a qualquer descrição verbal adequada, não só pela pobreza da língua hebraica, onde a tripla repetição corresponde, para nós, ao superlativo, mas pela própria pobreza e insuficiência de toda a linguagem humana para falar de Deus e a Deus. Nesta toada, o liturgista Cesare Giraudo, comentando sobre o Sanctus, diz ser ‘a forma suprema com que a criatura, no momento em que toma consciência da sua própria condição, fala a Deus; e não pode falar outra coisa senão declarando-o Santo’, dada a limitação comunicacional humana. Também T.S. Eliot, em sua obra ‘Quatro Martelos’, afirma que ‘nossas palavras forçam, rompem, escorregam, resvalam, correm e transportam a carga do significado em nossa fala das coisas de Deus’.

Como a poesia, a liturgia também está impregnada de metáforas. A palavra ‘metáfora’ vem de um verbo grego que significa ‘transferir para outro lugar’ ou ‘transportar o significado de uma palavra ou imagem de um referente para outro’, de tal forma que, com base em uma semelhança ou aparência percebida, ‘a’ seja visto como ‘b’. É o exemplo deste verso poético de Camões : ‘Amor é fogo que arde sem se ver.’ Esta linguagem metafórica, figurada - que se vale de figuras (imagens) para dizer como as coisas são - é plenamente verdadeira. Assim, como no verso de Camões, podemos dizer autenticamente que, por exemplo, a Palavra de Deus proclamada na Liturgia ‘é fogo que arde’ em nós, como experimentaram os discípulos de Emaús : ‘É por isso que os nossos corações ardiam enquanto Ele nos explicava as Escrituras pelo caminho’ (Lc 24,32). Portanto, também a Liturgia, unida à poesia, nos revela uma coisa por meio de outra, metafórica e poeticamente. O Mistério Pascal de Cristo nos é revelado nos sinais sensíveis componentes de toda e qualquer celebração litúrgica : vemos pão e vinho, mas sabemos que, através da linguagem litúrgico-poética, são-nos comunicados o Corpo e o Sangue do Senhor. No Batismo, salta aos olhos em primeiro plano um banho de água na criança; mas pela fé celebrada naquele gesto litúrgico-poético, sabemos que ela está sendo mergulhada na morte com o Cristo e, ao sair da água, ressuscitando juntamente com Ele (cf. Rm 6,4). Assim, a linguagem poética da liturgia é como um telescópio que nos ajuda a captar uma verdade mais profunda e menos óbvia, escondida : a verdade da graça salvífica! Fernando Pessoa afirma que ‘O fim da arte inferior é agradar, o fim da arte média é elevar, e o fim da arte superior é libertar’. Sendo a Liturgia a mais ‘superior’ de todas artes, pois tem o próprio Deus como artista, ela nos liberta, colocando ao nosso alcance a libertação oferecida por Jesus Cristo. Porém, mesmo não sendo ‘inferior’ ou ‘média’, nos termos de Pessoa, ela também nos ‘agrada’ e nos ‘eleva’ à dignidade de Filhos e Filhas de Deus, por Ele muito amados.

Se a vocação da poesia é revelar o que a razão não consegue, assim será também a vocação da Liturgia, com um certo acréscimo, pois consiste em assimilar e encaminhar as pessoas para a graça divina, tantas vezes imperceptível aos olhos da razão, mas plenamente cognoscível à luz da arte poética que deve estar intimamente ligada à Liturgia, como afirma o Concílio Vaticano II :

Entre as mais nobres atividades do espírito humano estão, de pleno direito, as belas artes, e muito especialmente a arte religiosa e o seu mais alto cimo, que é a arte sacra. Elas tendem, por natureza, a exprimir de algum modo, nas obras saídas das mãos do homem, a infinita beleza de Deus, e estarão mais orientadas para o louvor e glória de Deus se não tiverem outro fim senão o de conduzir piamente e o mais eficazmente possível, através das suas obras, o espírito do homem até Deus’ (Sacrossanctum Concilium, nº 122)

Sintonizamos os nossos ouvidos à voz da poesia para saber o que ela pode nos dizer, inflamando a nossa imaginação muitas vezes insensível, ajudando-nos a ver coisas ainda desconhecidas e nos mostrando de novo os encantos do nosso mundo extenuado, fazendo-nos vivenciar a glória da salvação, bem como a maravilha de nos encorajar para tornar reais as possibilidades de mudança e transformação que este mundo reclama. A poesia é uma forjadora que martela a matéria incandescente do amor em sua forja artística, apara as arestas do significado de ser cristão e remodela as nossas percepções do mundo. Já dizia a poetisa inglesa Elizabeth Jennings : ‘A poesia deve mudar e fazer o mundo parecer novo em cada plano’.  No plano da fé, também a Liturgia deverá fazer o ‘mundo parecer novo’, mais parecido com o Reino de Deus! E a arte poética que ela carrega contribui essencialmente para isso : para um mundo mais belo evangelicamente, onde cada um de nós possa um dia afirmar, a exemplo do Santo Padre Paulino de Nola (séc. IV), que ‘Para mim a única arte é a fé, e Cristo a minha poesia’!’


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quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Paladino do amor eterno

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo do Padre Geovane Saraiva,
Pároco de Santo Afonso de Fortaleza, CE,
e vice-presidente da Previdência Sacerdotal


‘O século XII exultou de vitalidade cultural, originalidade intelectual e profundas marcas espirituais em São Bernardo de Claraval, homem extremamente assinalado e seduzido pela bondade infinita de Deus, na história da nossa civilização cristã católica. Em diversas ocasiões, obedecendo à voz de Deus, deixou a vida contemplativa para ir ao encontro de questões que agitavam o mundo no qual estava inserido. Sua presença foi determinante, além de concreta e segura em acontecimentos dolorosos que envolviam a humanidade, levando em conta que ele era homem de vida contemplativa, religioso e monge. Que o mesmo espírito de São Bernardo entre em nosso agitado mundo, que tem seu auge na ‘violência desumana do terrorismo’.

Que ele, como exímio pregador, místico, escritor, fundador de mosteiros, abade, conselheiro de papas, reis e bispos, possa ensinar a este nosso mundo tão conturbado, sensibilizando, também como político polêmico e ao mesmo tempo pacificador, a todos que têm responsabilidades com o destino do referido mundo. São Bernardo foi paladino do amor eterno, revelado e manifestado no Filho de Deus, desde Belém até o Gólgota. Também sempre foi lembrado como poeta do amor incomparável de Nossa Senhora : ‘Lembrai-vos, ó piedosíssima Virgem Maria (...)’. Pelo seu exemplo, que Maria nos ensine a seguir os passos de Jesus, pelo anúncio da compaixão de Deus, tendo na mente e no coração seu ardoroso sonho, que é o de um mundo verdadeiramente de irmãos, com absoluta confiança na grandeza do Bom Senhor, proclamada por sua Mãe Maria.

Como Bernardo de Claraval ajuda a compreender a figura de Maria, mulher que soube colocar e meditar no coração os atos e as palavras de seu Filho Jesus, tendo presente o canto de ação de graças por todos os dons, colocando-se a serviço da compaixão de Deus, ao manifestar sua misericórdia de geração em geração! Quão grandiosidade de Maria, como seguidora fiel, ao lado de seu Filho condenado, ultrajado e morto na cruz, ajudando-nos a absorver seu amor misericordioso para com todos.

Voltando ao paladino do amor eterno, pelo grande Poeta Dante, da Divina Comédia, elegendo-o como seu guia no Paraíso, colocou nos seus lábios a saudação à Virgem Maria : ‘Tu, ó Virgem, és tão valiosa na intercessão, de tal modo que quem quiser alcançar uma graça, sem recorrer a Ti, é semelhante a uma ave, que tenta voar sem asas’. A fé de Maria no Deus dos pequenos concorre para reavivar em nós o dom da fé e também a nossa missão, indicando-nos que no coração da mãe prevalece a ternura de Deus. Amém!’


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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Por que há pessoas que não querem mais ir à Missa?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



‘Há quem diga que as pessoas deixaram de ir à igreja devido à falta de flexibilidade que a instituição possui em relação a alguns temas, como sua postura sobre as uniões de homossexuais e outros princípios no que se refere à sexualidade. No entanto, os motivos da falta de fiéis nos templos podem ser outros.

No livro Por qué ya nadie quiere ir a Misa (‘Por que ninguém quer ir mais à Missa’), Thom y Joani Schultz, casados e consultores de religião, mostram que, atualmente, muitas pessoas, sobretudo jovens de países com antiga tradição cristã, decidiram se afastar da religião. A afirmação se baseia em uma exaustiva pesquisa que os escritores fizeram em ambientes católicos e protestantes. Além disso, o estudo revela quatro razões pelas quais as pessoas deixaram de frequentar os lugares de culto:


1.      As pessoas se sentem julgadas na igreja

Essa é a primeira das quatro causas explicadas pelo casal Schultz que fazem muitas pessoas se afastarem das igrejas ou outros lugares de culto.

Não é que existam muitas pessoas que fazem julgamentos nesses lugares. Há, sim, uma ideia preconcebida por parte de quem se sente julgado. Para elas, pode haver uma solução eficaz : a Igreja deve continuar acolhendo e aceitando todos os fiéis como eles chegam, no estado em que eles se apresentam, independentemente se, aos olhos de Deus, suas atitudes não são boas. Ou seja : é necessária uma ‘hospitalidade radical’, que abra oportunidade de tratar do tema ‘pecado’ posteriormente.


2.     A impossibilidade do diálogo

Thom y Joani Schultz explicam que, no ocidente, as pessoas querem falar e ser ouvidas : os colégios incentivam os debates e, desde cedo, qualquer criança intervém para dizer ao professor a primeira coisa que lhe vem à cabeça; os sites de jornais estão cheios de comentários de pessoas que, muito provavelmente, nem sequer analisaram o tema, mas que têm muita vontade de comentar.

No entanto, quando as pessoas vão à Missa ou a um culto, não encontram um momento para se expressar. Há quem diga que a situação é menos complicada para os católicos, já que, pelo menos, recitamos algumas respostas e rezamos em voz alta. Em muitos cultos protestantes, as pessoas devem se limitar a ouvir o pastor ou a cantar hinos. Quando os cantos são mudados, as pessoas deixam de ter algo para fazer, pois não conhecem as músicas novas.

O casal Schultz detectou que os fiéis querem falar de seus sentimentos religiosos, formular perguntas, sentirem-se ouvidos, o que, claro, não conseguem fazer na Missa. Por isso, a Igreja deveria oferecer espaços para que ele possam dividir suas opiniões. Já que um pároco não pode ouvir atentamente seus dois, três ou 30 mil paroquianos, é preciso incentivar a criação de espaços onde possa acontecer o diálogo, como as células de Evangelização Paroquial, os grupos Carismáticos, os grupos do Caminho Neocatecumenal e outros.


3.     O pensamento de que ‘os cristãos são hipócritas’

O livro diz que não é fácil para as pessoas pensarem que há hipócritas. Com certeza, hipócritas são os outros, ‘não eu’. A verdade é que os cristãos nunca serão suficientemente virtuosos para os elevadíssimos patamares dos que estão afastados da Igreja. Não importa o bem que os cristãos façam em suas paróquias, quem está afastado sempre encontrará um cristão que não seja suficientemente bom para ele. E, se não encontra um membro pecaminoso da Igreja ao seu lado, encontra-o nos meios de comunicação : um padre vigarista, um religioso que cometeu um crime. Pode encontrá-lo até mesmo no passado : ‘Não vou à Missa porque a Santa Inquisição…’

Para os autores, a melhor estratégia para a Igreja é enfatizar o fato de que ela não é uma casa para perfeitos, mas um hospital para enfermos. Além de disso, é preciso fomentar a humildade e fazê-la visível; se a humildade é atrativa, a imagem de humildade é necessária. Esse é o motivo que torna o Papa Francisco atrativo para muitos fiéis afastados.


4.    A sensação de que Deus está ‘distante’ ou ‘morto’

A última razão que o casal Schultz nos mostra é o fato de as pessoas não sentirem que há um Deus vivo. Elas argumentam que não o viram, nem conversaram com Ele. Por isso, a resposta aqui é o Kerigma, o anúncio forte de que ‘Cristo ressuscitou, nos salva da morte, do pecado e muda nossa vida’. Também deve ser enfatizada a mensagem de que ‘Deus te ama e te perdoa, de forma pessoal’.

Os autores ainda destacam que, mais do que falar sobre uma moral elevado que as pessoas deveriam praticar, o que é preciso é convidá-las a fazer a prova, a confiar no Senhor, a abrir seus corações a Ele e deixar-se transformar por Ele, já que um encontro pessoal com Deus é a chave. Por isso, a Nova Evangelização pede, como dizia João Paulo II, novos métodos, nova linguagem, novo ardor.’


Com informações de Religión en Libertad, publicado em Desde la fe, traduzido e adaptado ao português.


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domingo, 20 de agosto de 2017

O mundo em contorções

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

As Cruzadas em terras do Oriente Médio, há muito foram sepultadas, contudo ergueram-se das trevas os exércitos do Estado Islâmico.
*Artigo de Evaldo D´Assumpção,
médico e escritor


‘Mais uma vez me faço a antiquíssima pergunta : ‘o que veio primeiro : o ovo ou a galinha?’ Explicando : o mundo está em dolorosas e assustadoras contorções, ou são apenas os noticiários que se multiplicam numa escala geométrica, desnudando assustadoramente essa condição que sempre existiu, mas estava semioculta pela insuficiência dos meios de divulgação? Ou, quem sabe, o que existia era bem menos e menor do que assistimos agora, e por isso não nos causava preocupações como hoje?

Vejamos : a política internacional estava aparentemente calma, os Estados Unidos e Cuba pareciam começar a se entender e a andar de mãos dadas, e de repente os americanos do norte cometeram o desatino de colocar na presidência um excêntrico multimilionário que nunca exerceu um cargo público. E, dizem as más línguas, com a ajuda do serviço secreto soviético. Com isso a relação com Cuba foi para o espaço, mesmo sendo este país um forte aliado dos russos. Dá para entender? Para complicar, a Coreia do Norte, liderada por um estranho e irritadiço filhote de papai, ameaça soltar atômicos fogos de artifício sobre as cabeças de japoneses, coreanos do sul, com sobra suficiente para os americanos do norte. Como Cuba e Coreia do Norte são aliados dos chineses e russos, o mundo fica sob a ameaça de destruição total. E mais : por quatro vezes e meia seguidas! Afinal essa é a possibilidade que eles alardeiam, com base no tamanho do arsenal nuclear que possuem. Pergunto : não bastaria destruí-lo todinho, uma vez só? Como, e para prenunciar a impossível reprise do apocalipse nuclear por tantas vezes?

As Cruzadas em terras do Oriente Médio, há muito foram sepultadas, contudo ergueram-se das trevas os exércitos do Estado Islâmico e as maiores barbáries explodiram nas TVs, nos jornais, nas redes sociais. Seus tentáculos se espalham pelo mundo, destroçando prédios, mutilando pessoas, usando corpos fragmentados de adultos e crianças para, em nome de um deus só existente em mentes doentias, tentar impor suas ideias – se é que as têm.

Deixando o noticiário internacional, volto meu olhar estarrecido para a outrora gentil pátria brasileira. Assisto então, com engulhos, o desfile de insanidades pela mídia noticiosa nacional, com escandalosa repercussão internacional. São revoltas nas penitenciárias, com detentos massacrando, decapitando, adubando com sangue o terreno que irá parir novas e maiores violências; as cracolândias nas médias e grandes cidades, onde verdadeiros zumbis desfilam dia e noite sua desgraça e sua rejeição social; a estupidez dos assaltos a mão armada contra pessoas indefesas, que são agredidas e até assassinadas por terem ousado carregar ‘apenas’ um celular obsoleto ou ter seus bolsos vazios, mesmo sendo isso a consequência do desemprego que castiga milhões de brasileiros. Estupros, patri e matricídios, toda essa indigesta e sanguinolenta salada enriquece matérias jornalísticas e bandeiras eleitorais nunca cumpridas.

Disputando o espaço midiático, talvez para contrabalançar as notícias catastróficas, desfilam pelas colunas sociais mulheres ricamente adornadas, homens sorridentes falando dos novos carros de super luxo, de seus helicópteros e jatinhos executivos, que lhes permitem ficar muito acima e bem mais distantes do comum dos mortais. E o que dizer dos rapazes e moças nessas mesmas colunas – certamente custeados pelos orgulhosos papais – exibindo as caríssimas roupas de grife, muitas delas verdadeiramente ridículas?

Lembrei-me do saudoso Millor Fernandes, que sob o pseudônimo de Vão Gogo pontificou, em formatação atualizada : ‘Quando a gente começa a pensar que os humanos ficaram inteligentes, vem um modista e estraga tudo…’ Quase todos absolutamente alienados do lado obscuro de nosso país, onde falta habitação, comida e roupas descentes, e sobretudo empregos com salários suficientes para proporcionar sobrevivência digna. Parece até que são dois mundos distintos, cada um num sistema planetário totalmente isolado do outro. Para defende-los, alguns se dizem ‘otimistas’ e seguem rigorosamente a cartilha do famoso Joãozinho Trinta, falecido em 2011, e que defendia a riqueza dos carros alegóricos do carnaval carioca e paulista, filosofando : ‘Quem gosta de pobreza é intelectual’.

Discordo, pois quem tem cérebro pensante não gosta de pobreza, apenas a denuncia por não se deixar alienar pelas cores douradas dos três dias de carnaval. Afinal, sua consciência crítica lhe recorda sempre que tudo vai se acabar na quarta-feira de cinzas, exceto o desemprego, a fome e a miséria...

E para encerrar esse triste desfile, surgem em destaque os ilustres políticos, certos juristas e alguns empresários, antes unidos numa relação espúria, mas agora trocando acusações e delações premiadas. Os três grupos, com as calças nas mãos e saudosos de suas mansões, serviçais e limusines, jatinhos e helicópteros, tudo sendo trocado, por golpes do azar – ou será da justiça? – por cubículos gradeados, latrinas devassadas e banhos coletivos de água fria. Isso sem falar das cabeças raspadas – ou quase – recordando-os dos seus cabelereiros (ou melhor será dizer ‘coiffeurs’, para respeitar seus pedigrees?), quase sempre regiamente remunerados com as verbas públicas de representação oficial, ou através dos famigerados cartões corporativos, cujos gastos são secretos porque afirmam ser questão de segurança nacional. E ignorando os federais, os promotores e juízes que ainda teimam em ser honestos, muitos continuam insistindo em criar leis para enriquece-los ainda mais, defendendo a farra dos aumentos de seus já polpudos salários, tripudiando os desempregados e os funcionários com salários congelados e pagamento atrasado, muitos sobrevivendo da caridade alheia.

O mundo está em contorções, como a história diz que esteve no ocaso do império romano, nas corrompidas Sodoma, Gomorra, Pompéia, e tantos outros exemplos lapidares.’


Fonte :

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

O imperador da China que escrevia poemas católicos!

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
       *Artigo de Jean Elizabeth Seah 


Poema da Cruz / A morte de Cristo

功成十架血成溪,百丈恩流分自西。
身列四衙半夜路,徒方三背两番鸣。
五千鞭挞寸肤裂,六尺悬垂二盗齐。
惨动八垓惊九品,七言一毕万灵啼。

Uma vez se completou o trabalho na Cruz,

o sangue formou um riacho de sangue

e, do oeste, circulou mil metros.

Pisou o caminho da meia-noite para submeter-se a quatro juízos.

Antes que o galo cantasse duas vezes, três vezes foi traído.

Quinhentos açoites rasgaram-lhe cada centímetro da pele.

Dois ladrões o acompanharam na cruz de seis pés de altura.

A tristeza era de magnitude nunca antes conhecida.

Sete palavras, uma tarefa cumprida, dez mil almas que choram.


Este poema católico, no original em chinês, contém todos os números de 1 a 10, bem como o 100, o 500, o 1.000 e o 10.000 (na tradução, alguns números não aparecem, pois as expressões originais não teriam sentido se fossem vertidas literalmente). A propósito : é interessante observar que o ideograma chinês que representa o 10 tem a forma de uma cruz : .

Seu autor é o erudito imperador Kangxi (康熙帝), que viveu de 1654 a 1722. Ele, que ascendeu ao trono aos 7 anos de idade, esteve à frente do reinado mais longo da China e um dos mais longos do mundo : 61 anos.

Os primeiros imperadores da dinastia Qing eram receptivos ao cristianismo. O pai de Kangxi, o imperador Shunzhi, visitava com alguma frequência a igreja católica mais antiga da China, a Catedral da Imaculada Conceição, ou a Igreja do Sul, para receber conselho do missionário jesuíta Johann Adam Schall von Bel.

Essa catedral recebeu por cortesia de Shunzhi uma lápide com a inscrição ‘Construída pela Ordem Imperial’. Durante o reinado de Kangxi, o templo foi ampliado. Os jesuítas, além da pastoral, também exerceram funções como astrônomos e meteorologistas imperiais nas cortes das dinastias Ming e Qing, o que favoreceu a introdução da ciência e da matemática ocidental no Império do Meio. Nesse período foram erguidos hospitais, museus, universidades e laboratórios públicos em cidades-chave como Xangai.

Kangxi ofereceu aos jesuítas uma casa dentro da Cidade Proibida, complexo destinado exclusivamente à família imperial e ao seu séquito, assim como um terreno para levantar uma igreja. Uma vez finalizadas as obras da igreja, o imperador redigiu em seu ingresso uma inscrição de próprio punho :

Ao verdadeiro Líder de todas as coisas. Ele é infinitamente bom e justo. Ele ilumina, apoia e rege todas as coisas com autoridade suprema e justiça soberana. Não tem princípio nem fim. É Ele quem governa e é Ele o verdadeiro mestre.

No final do reinado de Kangxi, havia aproximadamente 300.000 católicos e 300 igrejas na China, inclusive após a querela dos ritos que obrigou o imperador a restringir o catolicismo por sentir a sua autoridade ameaçada. Essa proibição não foi absoluta : missionários com visto puderam permanecer. Eis outro poema de Kangxi :

Sobre a Verdade

Tudo o que a vista alcança é criação d’Ele.

Ele, que no tem princípio nem fim, é três pessoas em uma.

As portas do céu se fecharam pelo pecado do primeiro homem e voltam a se abrir por meio do Filho.

Uma vez libertos de todas as falsas religiões, devemos converter-nos em discípulos por todos admirados.


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