*Artigo
de Padre José Rebelo,
Missionário Comboniano
Ao sermos tolerantes e fraternos estaremos a fazer
gorar a estratégia dos terroristas do Estado Islâmico e a exercer uma ‘vingança’
criativa, verdadeiramente cristã.
‘O
terrorismo bateu-nos à porta. Os bárbaros atentados em Paris no dia 13 de
Novembro semearam horror e luto, medo e insegurança. O terrorismo já nos afeta
desde os tremendos ataques da Al-Qaeda nos Estados Unidos em 11 de Setembro de
2001. Mas terá consequências ainda mais trágicas daqui por diante, até porque
muitos dos jihadistas são europeus. Vamos todos pagar o preço da guerra e a
restrição das liberdades. Além disso, tenderá a gerar rejeição, racismo e
extremismo. A polarização política tenderá a aumentar com o crescimento dos
partidos xenófobos : os refugiados, os imigrantes e todos os estrangeiros ‘de cor’ irão sofrer ainda mais na pele a
discriminação – e a diversidade social, cultural e religiosa só pode sofrer com
esta reação irracional.
As relações com o
mundo árabe têm sido atribuladas. Começaram durante a Primeira Guerra Mundial,
em 1916, com a divisão do Império Otomano, que desenhou artificialmente as
fronteiras de países como a Síria e o Iraque, e continuou mais recentemente com
o armamento dos ‘nossos aliados’ de
turno (como Ossama Bin Laden, para combater os Russos no Afeganistão, ou os
inimigos de Bashar al-Assad na Síria), as intervenções desastradas no Iraque e
na Síria e a continuação da venda de armas a países como a Arábia Saudita, o
grande exportador de salafismo (uma facção radical do sunismo) e o padrinho do
Estado Islâmico (EI). O Ocidente não pode, por isso, ignorar a sua parte de
responsabilidade na eclosão do fenómeno do terrorismo de cariz islâmico.
Os ataques em
Paris foram considerados «atos de guerra»
pelo Presidente François Hollande, que prometeu responder «sem piedade» e começou a atacar o EI na Síria. Obama, depois de ter
subestimado o califado, prometeu destruí-lo, retirando-lhe o território e
cortando-lhes as fontes de financiamento. Mais uma vez a resposta soa a vingança,
e é por isso inadequada e mesmo errada. O uso da força pode até enfraquecer o
EI, mas não curará o ódio e o profundo ressentimento que está por detrás do seu
aparecimento. Ainda não aprendemos que a violência só gera mais violência.
Nicolas Hénin, um
jornalista francês que esteve 10 meses prisioneiro dos combatentes do Estado
Islâmico (que define como «crianças de
rua, embriagadas pela ideologia e o poder»), é autor do livro Jihad
Academy, the Rise of Islamic State. Explica : «Central à sua visão do mundo é a crença de que as comunidades não
conseguem conviver com os muçulmanos, e todos os dias as suas antenas estarão
sintonizadas para encontrar elementos que comprovem essa convicção. As fotos de
alemães a acolher imigrantes terão sido particularmente preocupantes para eles.
Coesão, tolerância – é precisamente o que eles não querem ver.» Por isso,
ao atacar com bombas, os países ocidentais estão a cair na sua ratoeira : criar
ainda mais ressentimento na «rua árabe»
– que existe mesmo na Europa (só a França tem mais de seis milhões de
muçulmanos) – além de tender a radicalizar os 500 mil civis que vivem e não
podem sair de Raqqa, a capital do ‘Califado’
que foi intensamente bombardeada pelos franceses.
A resposta
ocidental, para ser efetiva, tem de ser comandada pela razão e não pelo
sentimento de vingança. Além disso, a ira que sentimos pelo que sofremos com os
ataques só pode sarar – como ensinam aqueles que passaram por situações
dolorosas e traumáticas e a mais elementar psicologia – se for canalizada
positivamente, criativamente. Ao sermos tolerantes e fraternos – por exemplo,
no acolhimento que reservamos aos imigrantes – estaremos a fazer gorar a
estratégia dos terroristas do Estado Islâmico e a exercer uma ‘vingança’ criativa, verdadeiramente cristã.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuVkplFuElrQoipxpi
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