*Artigo de Cardeal Dom Orani João Tempesta, O.
Cist.,
Arcebispo Metropolitano de
São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
‘Podemos
nos perguntar : por que uma arquidiocese, diocese, paróquia e cidade possuem
seu padroeiro? A palavra padroeiro evoluiu de patronariu, patronus, ‘patrono’,
aquele que protege, que defende, e sua forma feminina é mesmo ‘padroeira’ e não
palavra que tenha em seu radical o correspondente feminino mater, mãe. Patrono, orago ou padroeiro é um santo ou anjo a quem é
dedicada uma localidade, povoado ou templo, arquidiocese ou diocese, capela,
Igreja etc.
Existem diversas
passagens bíblicas que mostram a existência de anjos protetores que velam pelo
destino de um povo, lugar ou igreja, e aqui quero citar três pelo menos : ‘ainda disse ele : Sabes por que eu vim a ti?
Agora tornarei a pelejar contra o príncipe dos persas (um anjo); e, saindo eu,
eis que virá o príncipe da Grécia (um anjo)’ (Dn 10, 13.20). ‘Naquele tempo se levantará Miguel, o grande
príncipe, que se levanta a favor dos filhos do teu povo; e haverá um tempo de
tribulação, qual nunca houve desde que existiu nação até aquele tempo; mas
naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que for achado escrito o teu
povo, todo aquele que for achado no livro’ (Dn 12, 1).
Com o
Cristianismo, temos o conceito de que os anjos e santos continuam intercedendo
pelos vivos, isto já era algo comum entre os primeiros cristãos, segundo os
registros dos séculos II e III. Os santos escutam nossas orações, pois veem a
Deus face a face, são semelhantes a Ele (1 Jo 3, 2), o Espírito tudo os pode
revelar (1 Cor 2, 9-10), já que irão julgar o mundo (1 Cor 6, 2). A intercessão
deles por nós é o maior serviço que prestam a Deus, pois os santos hão de
julgar o mundo (Mt 19,28), (1 Cor 6,2).
Os santos, por
serem invocados por muitos cristãos de um determinado local, passaram a ser
tidos como protetores desses lugares, tornando-se assim padroeiros ou oragos. É
daí que vem a tradição de colocar um santo como padroeiro de uma cidade,
arquidiocese, diocese, prelazia, paróquia e quase-paróquia, bem como nas
comunidades eclesiais. É claro que nos primeiros séculos não tínhamos já as
divisões territoriais eclesiásticas tal qual temos hoje.
A data que marca a
escolha do padroeiro para as catedrais, igrejas ou localidades é o século VII.
A partir desse século quase todas as igrejas começam a organizar-se no sentido
de elegerem os seus padroeiros, sendo escolhidos, em primeiro lugar,
naturalmente, as figuras do Divino Salvador e da Virgem Maria, seguidos dos
Santos Mártires.
Em documentos da
Idade Média, é usual o nome de uma localidade ser antecedido do nome do
padroeiro, datando dessa época o processo da constituição das paróquias
formadas em núcleos sociais, a assinalar a vida comunitária e religiosa das
populações. Símbolo da fé do povo e sinônimo de proteção à comunidade paroquial
– a delimitar, por vezes, o próprio território que lhe cabe, como guardião das
terras e dos seus respectivos habitantes, o santo padroeiro significa o amparo
e o confidente, o protetor, aquele que, por sua intercessão junto de Deus, tem
a faculdade e a missão de defender e obter para quem a ele recorre, o louva e
nele confia, as graças pedidas em oração e voto de promessa – particularmente
nas alturas mais precisas e difíceis da vida de cada um.
Devido a isso
temos um santo como padroeiro de uma cidade, arquidiocese, diocese, prelazia,
paróquia e quase-paróquia. Em caso de cidade podemos citar :
O Rio de Janeiro,
que tem como o seu santo padroeiro São Sebastião : soldado do Império Romano no
final do séc. III e início do séc. IV. Sebastião sofreu o martírio em Roma, em
virtude da sua fidelidade a Cristo e à Igreja. Em 1565, foi escolhido como
padroeiro de nossa cidade, para cujos fiéis é modelo de fé, coragem, constância
e disponibilidade. São Sebastião foi um grande missionário do seu tempo,
levando o nome de Jesus a todos, fortalecendo os que estavam cansados e
abatidos pela perseguição religiosa daquela época.
No caso de
arquidiocese podemos citar a vizinha Arquidiocese de Niterói, que tem como
padroeiro São João Batista : no dia 24 de junho, a Igreja celebra a solenidade
litúrgica do nascimento de João Batista, ‘o maior dos profetas’, que foi
enviado ‘para preparar os caminhos do
Senhor’. Ele e a Virgem Maria são os
únicos em que a liturgia lembra o nascimento. Os demais santos são comemorados
no dia da morte, mas João é comemorado duas vezes : no nascimento e no seu
martírio, celebrado em 29 de agosto.
Em caso de
paróquia, podemos citar : a paróquia de São Jorge e as várias igrejas dedicadas
a São Jorge espalhadas pelo mundo, particularmente dentro de nossa Arquidiocese
: um soldado cristão do Império Romano no século IV. Quando o imperador
Diocleciano declarou perseguição aos adeptos do cristianismo, Jorge protestou e
acabou sendo torturado pela insolência. Ele morreu decapitado em 23 de abril de
303, mas sua história foi contada em diversas cidades do Império Romano pelos
soldados que estavam em missão. Foi assim que ele ganhou sua fama e virou são
Jorge, o santo guerreiro. Essa é, em teoria, a história verdadeira, conforme é
contada pela Igreja Católica. Mas a história do santo também está envolvida em
algumas lendas piedosas.
Contudo, quando
falamos de padroeiro, estamos remetendo aqueles que são protetores e
intercessores do povo, de uma comunidade ou de toda uma cidade. No nosso caso,
queremos pedir ao nosso padroeiro São Sebastião que interceda por sua cidade e
seus habitantes, e sua vida seja de exemplo para todos nós. Que, seguindo a
Cristo como seguiu São Sebastião, possamos ter dentro de nossas fronteiras
amor, compaixão, misericórdia e paz a cada lar. A Paz esteja com todos!’
Fonte :
Nenhum comentário:
Postar um comentário