*Artigo
de Fernando Félix, Jornalista
‘Uma
das guerras que os Estados Unidos da América (EUA) querem esquecer é a que
travaram contra o Vietnam. Este conflito armado teve início em 1959 e terminou
em 1975. Os EUA entraram na contenda em 1964.
Esta guerra deve
ser enquadrada no contexto histórico da Guerra Fria. O Vietnam foi colônia
francesa. Quando terminou a Guerra da Indochina (de 1946 a 1954), que foi um
prolongamento da II Guerra Mundial no Sudeste Asiático, e a França acabou
derrotada, o território foi dividido em dois países. O Vietnam do Norte ficou
alinhado com as ideologias comunistas da ex-União Soviética e da China, e o Vietnam
do Sul passou a ser aliado dos Estados Unidos, com um sistema capitalista.
Em 1959,
vietcongues (guerrilheiros comunistas) atacaram uma base norte-americana no Vietnam
do Sul. Este fato deu início à II Guerra da Indochina, também conhecida como
Guerra do Vietnam no Ocidente. Durante cinco anos, nem a ex-União Soviética nem
os Estados Unidos intervieram diretamente, mas fizeram-no indiretamente, a
ex-União Soviética apoiando o Vietnam do Norte e os Estados Unidos dando apoio
ao Vietnam do Sul.
Em 1964, os
Estados Unidos resolveram entrar ativamente no conflito. Enviaram soldados e
armamento. Os vietcongues, porém, utilizavam tácticas de guerrilha,
aproveitando-se das suas florestas tropicais fechadas, e derrotavam o exército
americano. Os Estados Unidos optaram, então, pelo uso de helicópteros e aviões,
preferindo os bombardeamentos.
Como acontece em
todas as guerras, o saldo dos conflitos são mortos, feridos, deslocados e
refugiados.
A Guerra do Vietnam
terminou em 1975, com a retirada das tropas norte-americanas. Um ano depois, o
país foi reunificado, sob um regime comunista, aliado da ex-União Soviética.
O conflito deixou
mais de um milhão de mortos (civis e militares) e mais de dois milhões de
mutilados e feridos.
E deixou uma
herança de bombas, seja de restos fragmentados, seja de artefatos que não
explodiram. E esta herança não se limitou ao território vietnamita. Porque os
Norte-Vietnamitas cruzaram a fronteira com o Laos para se esconderem nas matas
do país vizinho a oeste, e para aniquilar a rota de fornecimento militar dos
vietcongues, os americanos também bombardearam este país. E fica para a História
um recorde trágico : o Laos é o país mais bombardeado no mundo, atendendo ao
número dos seus habitantes. De 1964 a 1973, os aviões norte-americanos
despejaram nele 270 milhões de bombas, à média de uma bomba a cada oito
minutos, mais de 100 bombas por habitante.
Estima-se que
daqueles 270 milhões de bombas lançadas, 75 milhões não detonaram. Praticamente
metade do território do Laos ficou semeado com munições não deflagradas, que
fazem parte da paisagem. E estes engenhos explosivos ainda fazem vítimas atualmente.
Durante a guerra, as bombas mataram 30 mil civis laosianos. Depois do conflito,
ceifaram a vida ou feriram mais de 20 mil. Mais de quarenta anos após o término
da guerra, ainda há 46 milhões de bombas por desativar e 300 vítimas por ano. Os
explosivos continuam a ser uma ameaça, em particular para os camponeses que
aram os campos e para as crianças que brincam ao ar livre.
De objetos de morte a
ferramentas e arte
O Laos é um país
muito pobre, ocupa o posto 139 no Índice de Desenvolvimento Humano. A população
– sobretudo a rural, mas também a urbana – vê nos fragmentos das bombas e nos
engenhos não detonados uma oportunidade de ganhar dinheiro. Uns recolhem,
separam e vendem o metal como sucata. Outros transformam as carcaças das bombas
em cercas da casa e dos terrenos, em floreiras para plantação de flores e hortas,
em pilares das casas, em mobília de interior – como bancos, mesas, móveis –, em
apetrechos para os trabalhos diários : baldes, taças e badalos para vacas, e
até em peças de decoração. Nas áreas urbanas, são os hotéis e os restaurantes
que exibem carcaças de bombas transformadas em peças de arte e de decoração.
A herança da
Guerra do Vietnam no Laos está patente em particular na Cooperativa Ortopédica
e Protética (COPE). Esta tem centros de medicina de reabilitação (CMR) e um
museu – o COPE Visitor Centre –, situado em frente ao Green Park Hotel, na
capital, Vientiane. No museu, há exposições que explicam toda a problemática
relacionada com as bombas não detonadas e que relatam o trabalho desenvolvido
pela COPE e pelos CMR. Junto com exemplares das bombas, há fotografias, há
esculturas e filmes e documentários em exibição a que os visitantes podem
assistir gratuitamente.
No Laos rural, a
aldeia de Ban Napia tornou-se famosa por transformar engenhos explosivos não
detonados em colheres e pulseiras.
Uma lição da História
O que acontece no
Laos teria de ser uma lição para o mundo. Contudo, as bombas de fragmentação
lançadas sobre esta nação continuaram a ser usadas em guerras posteriores, no
Líbano, na Croácia, na Bósnia, na República Democrática do Congo, no Uganda, na
Etiópia, no Sudão, no Chade, no Paquistão.’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EuVkplAAyFBiLVOKWt
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