O Movimento dos
Oblatos Beneditinos no Mundo
*Artigo de Dom Rembert Weakland, OSB
O Movimento dos Oblatos entre
o antigo e o novo estilo
Quando considero o mundo
monástico, vejo que, hoje, o Movimento dos Oblatos está em vias, como direi, de
mudança. É um momento de fluidez. Passamos de um antigo sistema de organização
para algo um pouco novo. É difícil prever qual será o resultado desse porvir.
Creio que será um retorno
aos valores fundamentais da espiritualidade monástica, e também a um tipo de
relacionamento bem mais íntimo entre o mosteiro e os oblatos. Entretanto, a
modalidade desse relacionamento ainda não está clara. Sempre tive a impressão
de que, quando há uma mutação cultural total no mundo e também na Igreja, isto
é, quando se está em vias de passar de um período da história para outro, os
mosteiros assumem uma maior importância, porque são comunidades cristãs
estáveis em um mundo que muda. Olha-se para os mosteiros como um lugar que pode
integrar a melhor tradição do passado e dar a esses valores uma nova expressão
no mundo do futuro.
Nesse momento histórico, o
mundo monástico tem precisamente um papel importante para ajudar nossa
civilização cristã com os valores permanentes de nossa Fé.
Dentre os elementos mais
importantes de nossa vida monástica sobre os quais gostaria de lhes falar,
encontra-se a estabilidade.
É interessante dar uma olhada nas revistas
publicadas hoje em dia para os oblatos : quantas vezes se fala nelas de
estabilidade! Como é importante, hoje, para os monges, a perseverança, a
estabilidade. Hoje ainda, um elemento, é um valor importante. E vejo como, para
os oblatos, o acento colocado sobre essa virtude e sobre a oração.
Elementos da
espiritualidade dos oblatos
É interessante ver a que
ponto, hoje, a oração litúrgica entra na espiritualidade dos oblatos. Esse
valor da liturgia é capital para nós, mas também para vocês. Diga-se o mesmo
para o valor monástico da solidão,
quero dizer, da oração verdadeiramente pessoal; importantíssima para nós
atualmente, ela o é também para os oblatos. No momento em que tudo, no mundo,
caminha com a máxima rapidez, experimentamos a necessidade de um pouco de
afastamento do mundo, de um certo tempo de paz e de solidão.
Eu diria que é um dever
para os nossos mosteiros tornar possível aos oblatos esses momentos de solidão.
Há também, parece-me, algo
a ser dito sobre o equilíbrio entre o trabalho e oração que falta enormemente
na vida de cada um.
Desse valor fala-se agora
bastante nos meios monásticos. Também, nesse momento de mutação cultural, vejo
a utilidade de que há, para o mosteiro, de rever e avaliar esses dois valores
permanentes e ajudar os oblatos a vive-los.
Monges e oblatos confrontados
às atuais mutações culturais
Ainda uma palavra, sobre
algo muito importante. Antigamente, em história, dizia-se que os monges, nesses
momentos de mutação cultural, puderam salvar a cultura greco-romana e assim
criar uma nova cultura ocidental. Presentemente, nós monges somos bem mais
modestos. Perante a complexidade do mundo atual, com mudanças culturais tão
vastas, além do pouco de vocações que temos, devemos ser bem mais humildes.
Quando os historiadores me perguntam se seria possível que nós monges
pudéssemos retomar a obra dos monges dos séculos V e VI, eu respondo sempre : não. De fato, não somos mais
tão numerosos como outrora, não temos as mesmas capacidades e, além do mais, as
mudanças culturais são muito vastas e complexas! Devemos ser bem mais humildes.
No entanto, hoje temos uma outra maneira de abordar essas mudanças, quero
dizer, não somente como monges, mas como monges unidos aos oblatos, numa
espécie de mosteiro mais amplo, no sentido em que o mosteiro englobe oblatos e oblatas. Desse modo, o mosteiro aumenta sua extensão e pode fazer um bem muito
maior.
Para ajudar nossa
civilização em face de qualquer mudança, não importa qual, devemos aceitar a
dimensão do mosteiro incluindo oblatos e oblatas. Tomemos, por exemplo, o
domínio das ciências. Não se pode mais pedir aos monges que sejam especialistas
em todos os setores das ciências.
Em nossos dias os monges
não podem mudar uma cultura sem esse prolongamento do mosteiro que vocês
constituem. É algo que atualmente me parece muito importante e pede de nossa
parte mais humildade e uma colaboração mais empenhada com vocês.
O carisma monástico na
Igreja, para a Igreja
Quando viajo pelas diversas
partes do mundo digo aos monges que eles devem ter um senso eclesial mais
acurado. Nós, monges, nos gabamos de ser independentes. Cada mosteiro é
autônomo e por isso achamos que nos bastamos a nós mesmos.
Meu mosteiro tem uma mina
de carvão. Temos também um dínamo para a eletricidade e proclamamos que não
temos necessidade da sociedade que nos cerca porque podemos fazer tudo por nós
mesmos... Uma vez chegamos até a fabricar tijolos para construção...e assim por
diante. No momento presente, vemos que fazer tudo isso por conta própria sai
muito mais caro. É bem mais fácil comprar eletricidade do que produzí-la. E
assim vamos nós, cada vez mais nos tornando tributários da sociedade onde
vivemos. É natural. Talvez os monges vendo a independência ou, sobretudo, a
autonomia que tiveram, tenham se constituído um pouco como Igrejas quase
independentes, em Igrejas de elite.
Em viagem, ouço com
frequência a opinião de outras pessoas sobre os monges : Mas os monges, são a classe do esnobismo espiritual! Fala-se assim a nosso respeito por causa de nossa independência
infelizmente orgulhosa. Quando vou a algum mosteiro, procuro dizer aos monges o
que dizia São Paulo : A cada um é dada a
manifestação do Espírito, em vista do bem de todos (1Cor 12,7). É preciso evitar com todo cuidado acreditar que somos
independentes da Igreja. Todo carisma é para a Igreja, e os monges também são
para a Igreja.
Os oblatos necessários para
os monges
Portanto, é para nós uma
obrigação ter 0blatos e 0blatas. Não é algo que se faça por bondade, para
difundir nossa espiritualidade. Nossa espiritualidade monástica é para a Igreja
e deve verdadeiramente ajudar a comunidade eclesial. Não se trata, pois, de
fazer alguma coisa por vocês, graças ao grupo de 0blatos, por bondade e dever
de fazê-lo ou para aparecermos : quando se fala hoje de 0blatos, trata-se de
uma necessidade vital para os mosteiros. A comunidade monástica deve de alguma
maneira se dilatar. Falando certo dia a um grupo de monjas beneditinas, Paulo
VI lhes disse : Quando os hóspedes vêm ao mosteiro, não é por
que suas hospedarias são bastante confortáveis, pois pode-se ir para um hotel
onde se encontra coisa melhor; o que motiva a vinda de alguém a um mosteiro,
hoje, é o desejo de viver em um ambiente de fé, de estar em contato com uma
comunidade que vive a fé. A vida monástica não tem sentido algum se nela não
existe fé.
O desejo do cristão atual
de estar perto de um mosteiro, é de nele encontrar um reconforto, um apoio em
sua vida de fé. Igualmente nós monges temos um dever de partilhar com os outros
nossa fé na Igreja; como São Paulo foi reconfortado em sua fé à vista das
comunidades fiéis, do mesmo modo sejam vocês todos como São Paulo (2Ts 1,4).
Quando alguém visita um mosteiro, deveria poder dizer : eu me sinto mais
cristão, mais fortalecido em minha fé.
Movimento dos Oblatos :
extensão do mosteiro
Gostaria de mostrar como o movimento dos 0blatos deve se tornar uma extensão do mosteiro. É esse, pelo
menos, o sentido que se dá à oblatura em nossos dias. Através dos 0blatos e 0blatas, o mosteiro com sua espiritualidade pode atingir inúmeros ambientes que,
sozinho, ele não poderia de forma alguma atingir!
Digo sempre extensão. Não me agrada, e digo
isso um pouco a guisa de advertência, que um grupo de 0blatos se torne um grupo
de pressão sobre os mosteiros : isso pode dar ocasião a dificuldades. 0blatos e 0blatas devem caminhar com o mosteiro, não lhe opor resistência nem criar um
grupo contestatório. Às vezes, vejo isso atualmente, talvez como consequência
de uma falta de ligação, de uma caminhada em comum. Por conseguinte, os 0blatos
não deveriam ser um grupo de vanguarda para dizer aos monges como eles deveriam
viver. Isso eu digo sempre : não me sinto de modo algum à vontade quando os 0blatos me dizem como eu deveria viver minha vocação. Todos nós temos nossa
vocação e é 0 belo poder intercambiar lealmente. Eu não devo me tornar
Oblato nem viver como vocês, e reciprocamente.
Oblatura e formação
Hoje, para a
espiritualidade dos oblatos, os monges procuram evitar uma espiritualidade de
clausura : é preciso, sobretudo, uma espiritualidade no mundo. Já falei sobre
isso e me parece evidente.
Por conseguinte, acentua-se
a oblatura como tal. Isso constrange um pouco certos oblatos que vêem seu
noviciado e sua oblação como uma imitação do noviciado e da profissão dos
monges. O valor da oblação deveria ser estudado teologicamente um pouco mais a
fundo.
Troca de experiências entre
monges e oblatos
Finalizando, queria dizer
uma última palavra. No decurso da história, sempre concebemos a relação
mosteiro-Oblatos em mão única : o mosteiro dá aos oblatos um pouco de
espiritualidade monástica. Como professores, os monges; como alunos, os oblatos.
Ao menos era a prática habitual.
Agora, começamos a praticar
um intercâmbio mais largo, pois os 0blatos e as oblatas têm uma experiência da
vida que o monge não pode ter; eles têm, portanto, de um lado uma contribuição
que podem dar ao monge para seu progresso e sua compreensão do mundo em que
vive. É também interessante constatar em nossos dias essa colaboração entre
monges e leigos para o bem da Igreja.
Fonte :
*Dom Rembert Weakland, OSB, antigo monge e Abade-Coadjutor da Arquiabadia de Saint Vincent, Pennsilvania (1963-1977), foi Abade Primaz da Confederação Beneditina (1967-1977) e posteriormente Arcebispo Metropolitano de Millwaukee, Estados Unidos (1977-2002). Hoje é Arcebispo Emérito.
Trechos de uma conferência dada em Subiaco, a 31 de agosto de 1977, por ocasião do VI Congresso Nacional dos Oblatos Beneditinos da Itália ( publicada na ‘Lettre de Ligugé’ 196, pp. 8-18).
Traduzido do francês por Dom Matias Fonseca de Medeiros, OSB, do Mosteiro do Rio de Janeiro, faz parte de sua palestra sobre Pressupostos Bíblicos e Teológicos da Oblação Beneditina.
Apresentado no III ENOB (Encontro Nacional dos Oblatos Seculares da Congregação Beneditina do Brasil) em outubro de 2011, na Cidade do Salvador, Bahia, cujo tema era ‘Oblação, oferta a Deus e aos irmãos’.
*Dom Rembert Weakland, OSB, antigo monge e Abade-Coadjutor da Arquiabadia de Saint Vincent, Pennsilvania (1963-1977), foi Abade Primaz da Confederação Beneditina (1967-1977) e posteriormente Arcebispo Metropolitano de Millwaukee, Estados Unidos (1977-2002). Hoje é Arcebispo Emérito.
Trechos de uma conferência dada em Subiaco, a 31 de agosto de 1977, por ocasião do VI Congresso Nacional dos Oblatos Beneditinos da Itália ( publicada na ‘Lettre de Ligugé’ 196, pp. 8-18).
Traduzido do francês por Dom Matias Fonseca de Medeiros, OSB, do Mosteiro do Rio de Janeiro, faz parte de sua palestra sobre Pressupostos Bíblicos e Teológicos da Oblação Beneditina.
Apresentado no III ENOB (Encontro Nacional dos Oblatos Seculares da Congregação Beneditina do Brasil) em outubro de 2011, na Cidade do Salvador, Bahia, cujo tema era ‘Oblação, oferta a Deus e aos irmãos’.
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