sexta-feira, 29 de junho de 2018

O dilema do bom samaritano


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Crianças migrantes acampadas em frente à entrada do porto de San Ysidro, na divisa de Tijuana, em 30 de abril de 2018.
Crianças migrantes acampadas em frente à entrada do porto de San Ysidro,
na divisa de Tijuana, em 30 de abril de 2018

*Artigo de Adrian Pabst,
professor de política na Universidade de Kent 


Ética das Políticas de Migração

‘Esta semana o governo alemão liderado por Angela Merkel pode entrar em colapso devido a suas diferenças com seu ministro do Interior, Horst Seehofer, sobre a política de migração. Nos EUA, a administração de Donald Trump está separando as crianças de pais que foram pegos cruzando a fronteira mexicana sem permissão em nome de sua abordagem de ‘tolerância zero’ à imigração ilegal.

A imigração em massa e a deportação em massa talvez seja a grande questão moral de nossos tempos. O drama humano que traz este tipo de imigração levanta questões fundamentais sobre como chegar a um acordo justo e equitativo entre os países e comunidades de onde os refugiados ou migrantes se saem e os países e comunidades que os hospedam. As necessidades, direitos e obrigações dos refugiados ou migrantes podem ser equilibrados com as necessidades, direitos e obrigações dos cidadãos e residentes? Não há respostas simples para essas perguntas. O debate político e a formulação de políticas tendem a ser dominados por duas ideias de justiça. Cada um está em condições de pobreza.

A ideia de justiça é estritamente utilitária, na verdade reduzindo o que é a solução mais justa para o que é mais rentável, ou a melhor relação custo-benefício. Na campanha do referendo da UE, por exemplo, a discussão sobre a imigração foi quase inteiramente travada sobre seus alegados custos ou benefícios para a economia como um todo. O impacto de sair ou permanecer nos salários de certos grupos da sociedade, ou o tipo de pressões que seriam colocadas sobre serviços públicos para o atendimento dos migrantes em partes específicas do país, foram amplamente ocultados da vista. A análise utilitarista tende a esquecer que ninguém é uma estatística.

A abordagem alternativa reduz a justiça aos direitos individuais. Dentro da UE, a livre circulação de pessoas baseia-se na ideia de uma liberdade universal para buscar uma vida melhor em qualquer outro lugar que não seja em nosso país de origem. Certamente, de acordo com esta maneira de pensar, todos devem ter o direito de viver e trabalhar onde quer que escolham? Mas isso é ignorar os efeitos das ações individuais nas famílias e comunidades. A análise libertária tende a esquecer que ninguém vive em um vácuo social.

Utilidade e liberdade são valores importantes e não devem ser negligenciados. Mas nenhum deles tem muito a dizer sobre o que nos une como seres humanos. Cada um fica em silêncio sobre o que constitui o bem comum e a boa vida. Os cristãos acreditam que os seres humanos têm um valor intrínseco porque são criados à imagem e semelhança de Deus. Não são simplesmente coisas produzidas à venda no mercado, redutíveis ao seu valor monetário. Cada indivíduo é, literalmente, ‘além do preço’, aliás inestimável. Quando os seres humanos são tratados como mercadorias, isso leva a sistemas desumanos que perturbam as relações pessoais e os padrões duradouros da vida. As pessoas são tratadas como meios e não como fins. A sensação de que toda vida é sagrada é violada.

Os seres humanos não são simplesmente os portadores de direitos individuais. Nós temos corpos, mentes e almas. Estamos inseridos em relacionamentos e instituições - por mais difíceis e disfuncionais que possam ser. Nossos direitos não são simplesmente posses pessoais; eles derivam de um senso mais profundo de dignidade e deveres. A dignidade inalienável da pessoa consagrada em muitas constituições nacionais é talvez a mais próxima tradução secular da crença religiosa na santidade da vida. Deveres são obrigações que devemos a nós mesmos e aos outros - ser pai, professor ou político envolve obrigações para servir aos outros. Temos o dever de cuidar dos outros e de seu bem-estar; para liderar pelo exemplo.

Na tradição cristã, nosso dever é amar o próximo ‘como a nós mesmos’. Para alguns, isso significa que o amor é predominantemente reservado para aqueles que estão próximos a nós em nosso lar e em nossa comunidade antes de ser estendidos ao estranho, seja qual for a dificuldade que o estrangeiro possa ter experimentado ou pela que tenha passado. Para outros, significa que o amor deve ser dirigido, antes de tudo, aos mais vulneráveis neste mundo - os pobres, os oprimidos, os jovens, as crianças e os muito idosos, os perseguidos, todos os que não têm lar.

Essa tensão parece irresolúvel. A quem devemos nosso amor? A resposta cristã para essa questão é que não temos que escolher um ou outro. É ambos. Devemos nosso amor a ‘pessoas como nós’, nossos amigos e parentes, e ao ‘outro’, ao estranho que bate à nossa porta. O amor ao próximo nos chama a amar as pessoas que são nossos vizinhos - aquele que está diante de nós, não importa de onde eles sejam ou a que grupo possam pertencer. Isso é o que aprendemos da parábola do Bom Samaritano; o viajante tornou-se próximo do samaritano e o samaritano tornou-se próximo do viajante.

Porém, se somos chamados a amar aqueles que estão à nossa frente, isso exclui o amor por aqueles que moram longe, como o refugiado líbio em um campo italiano ou a criança mexicana detida na fronteira com os EUA? Não. É claro que a compaixão e a caridade devem ser estendidas aos refugiados que perderam suas casas e precisam de abrigo. Ao mesmo tempo, é importante não nos desconectarmos de nossos vizinhos imediatos em nosso desejo de servir aos próximos. Nascemos em um lugar particular e fazemos parte de uma comunidade local. É isso que nos dá uma sensação de pertencer. Só Deus pode amar todas as pessoas igualmente. A Igreja é chamada a ser uma fraternidade universal de solidariedade, especialmente solidariedade com os pobres, de onde quer que sejam. No Ensino Social Católico, isso é conhecido como ‘a opção preferencial pelos pobres’.

A outra noção chave do Ensino Social Católico é ‘o bem comum’. Isso traz algo diferente para nossa compreensão da justiça. Direitos ou liberdades são principalmente individuais; a utilidade é principalmente coletiva. O bem comum, pelo contrário, combina a realização pessoal com o florescimento mútuo. Como pessoas únicas com talentos únicos, só podemos contribuir para a sociedade e realizar o nosso potencial em conjunto com os outros. Somos seres relacionais, não solitários em uma massa anônima.

O bem comum é sobre os bens que, de fato, temos em comum - não apenas terras comuns e recursos compartilhados, mas nossos relacionamentos e amizades, e nossa linguagem e cultura compartilhadas; nossas músicas, nossas comidas favoritas, a maneira como criamos nossos filhos. Nenhum desses bens é abarcado pelos números como os gastos da nação. Assim, ao contrário dos direitos ou da utilidade, o bem comum inclui todas as relações entre pessoas que oferecem significado.

Assim como o amor ao próximo, que equilibra o amor ao ‘nosso povo’ com o amor aos ‘estranhos’, há um equilíbrio a ser alcançado entre a opção preferencial pelos pobres e pelo bem comum. Ao formar uma política justa de migração, isso sugere fazer uma distinção entre refugiados que fogem da guerra e escapam da perseguição, e migrantes que deixam para trás a pobreza e estão em busca de melhores oportunidades. A situação dos refugiados e requerentes de asilo é uma catástrofe humanitária. A situação de muitos migrantes econômicos é terrível, mas não tão desesperada. A opção preferencial pelos pobres sugere que os refugiados têm uma demanda prévia por nossa ajuda sobre os migrantes econômicos.

Países prósperos como a Grã-Bretanha têm o dever moral de receber mais refugiados e fornecer ajuda adequada, até porque a política externa e as vendas de armas do Reino Unido têm sido um fator significativo na criação da emergência de refugiados desde o verão de 2015, quando centenas de milhares de sírios começaram a fugir de seu país devastado pela guerra. A obrigação de receber migrantes econômicos de países onde não há guerra civil ou perseguição não se aplica na mesma medida. Enquanto isso pode soar sem coração, é exatamente o oposto. A emigração em massa tem profundas consequências sociais e culturais para as sociedades desses países ‘emissores’.

Como o ex-arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, escreveu no ano passado, ‘a migração em massa produz um enfraquecimento das solidariedades civis comuns. Em países obrigados a supor que uma proporção significativa de seu povo estará no exterior por um número indefinido de anos produtivos - produtivos não apenas financeiramente, mas em termos de serviço público e responsabilidade compartilhadas - a mobilidade excessiva das populações trabalhadoras esvazia o espaço cívico. Estas são sociedades que muitas vezes já são economicamente e socialmente vulneráveis’.

A obrigação dos estados prósperos é ajudar a limitar a emigração trabalhando com países ‘emissores’ para proporcionar mais segurança e melhores condições de vida. Essa é também a posição do Papa Francisco : ‘A Igreja está do lado de todos os que defendem o direito de cada pessoa a viver com dignidade, em primeiro lugar exercendo o direito de não emigrar e de contribuir para o desenvolvimento do país de origem’ (Mensagem no Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados, 17 de janeiro de 2016). Mas, infelizmente, os países ocidentais não têm a vontade política de se comprometerem oferecendo os recursos necessários para tornar a permanência em um país ‘emissor’ uma opção possível e credível. Se isso não acontecer, mais migrantes continuarão chegando.

Outra razão para a justiça privilegiar os refugiados em relação aos migrantes econômicos está no bem-estar dos países ‘hospedeiros’. A imigração em massa pode levar a um ritmo de mudança que é incompatível com uma medida de coesão social na qual a coexistência pacífica e a integração hospitaleira dos migrantes dependem. O Ensino Social Católico sugere que precisamos combinar financiamento mais generoso para programas de integração com o incentivo a formas criativas de promover o respeito pelas leis e tradições dos países anfitriões. Somente cultivando uma casa estável e à vontade consigo mesma podemos receber outros com amor de boa vizinhança.’


Fonte :

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Pálio : o que é, como é feito e para que serve.

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Palios a serem entregues aos novos arcebispos
*Artigo do Padre Arnaldo Rodrigues 


‘Esta entrega do pálio está ligada ao juramento de lealdade ao Papa e seus sucessores pelos metropolita. Tendo em vista esta celebração que se aproxima, é interessante saber o que significa a celebração e, principalmente o que significa esta vestimenta litúrgica chamada ‘Pálio’.


Pálio

O pálio - derivado do latim pallium, manto de lã - é uma vestimenta litúrgica usada na Igreja Católica, consistindo de uma faixa de pano de lã branca que é colocada sobre ombros dos Arcebispos.

Este pano representa a ovelha que o pastor carrega nos ombros, assim como fez Cristo com a ovelha perdida. Desta forma podemos dizer que o palio é o símbolo da missão pastoral do bispo. O pálio é também a prerrogativa dos arcebispos metropolitanos, como símbolo de jurisdição em comunhão com a Santa Sé.


História

Originalmente o pálio era o manto usado pelos filósofos e na arte paleocristã, eram pintados neste ‘manto’ Jesus e os apóstolos . Esta prática foi posteriormente adotada também pela Igreja Cristã, com um uso semelhante ao do omoforion (uma tira de pano), muito mais larga que o pálio, atualmente usada pelos bispos ortodoxos e pelos bispos católicos orientais de rito bizantino.

O pálio era originalmente uma única tira de pano enrolada nos ombros e caída no peito na altura do ombro esquerdo; nos primeiros séculos do cristianismo foi trazido por todos os bispos.

Podemos ver nas iconografias que representam os primeiros bispos e santos, como Santo Ambrósio, Santo Atanásio, São João Crisóstomo, Santo Inácio de Antioquia, São Hilário e outros.

O primeiro caso conhecido de imposição do pálio a um bispo remonta a 513, quando o Papa Simmaco concedeu o pálio a São Cesário, bispo de Arles.

A partir do século IX reduziu-se ao formato atual de ‘Y’, com as duas extremidades descendo abaixo do pescoço até o meio do peito e nas costas e se tornando a marca registrada dos arcebispos metropolitanos que o obtiveram pelo papa. O Papa João Paulo II, por ocasião da noite de Natal de 1999, abertura do Jubileu de 2000, usava um omoforion com cruzes vermelhas.


Confecção do pálio

Dois cordeiros cuja lã é destinada, no ano anterior, são criados pelos monges trapistas da Abadia de Tre Fontane, em Roma. E desde 1644, são abençoados pelo Abade Geral dos Cônegos Lateranenses em Basílica, na Via Nomentana Complexo Monumental de Santa Inês, fora dos muros, no dia em que se faz memória da Santa, em 21 de janeiro.

Depois são levados ao Papa no Palácio Apostólico. O pálio é tecido e costurado pelas freiras de clausura do convento romano de Santa Cecília em Trastevere. Os pálios são armazenados na Basílica de San Pietro, em Roma, aos pé do altar de confissão (altar central), muito próximo ao túmulo do Apóstolo Pedro.


Como é pálio

O pálio, em sua forma atual, é uma faixa estreita de tecido, com cerca de cinco centímetros de largura, tecida em lã branca, curvada no meio para poder repousar sobre os ombros acima da casula e com duas abas pretas penduradas na frente e atrás, de modo que - visto tanto na frente quanto atrás - a vestimenta lembra a letra ‘Y’.

É decorado com seis cruzes negras de seda (que lembram as feridas de Cristo), uma em cada cauda e quatro na curvatura, e é cortado na frente e atrás, com três alfinetes de gema aciculada em forma de alfinete. Essas duas últimas características parecem ser uma lembrança dos momentos em que o pálio era um simples lenço duplo dobrado e pregado com um alfinete no ombro esquerdo.

Piero Marini para o Papa Bento XVI restaurou o uso do longo e cruzado pálio no ombro esquerdo usado até o século IX, deixando inalterada a forma do pálio concedido aos arcebispos, com as duas abas penduradas no alto centro do peito e no meio das costas.

Por ocasião da Missa de 29 de Junho de 2008 (Solenidade dos Santos Pedro e Paulo), o Papa voltou a usar um pálio em formato de ‘Y’, similar ao usado comumente pelos metropolitas, mas com forma mais ampla e com a cor vermelha das cruzes: essas diferenças hoje põe em evidencia a diversidade da jurisdição, reservado para o Bispo de Roma, enquanto que em épocas anteriores em períodos remotos, não havia este significado particular, dado que eram comuns a todos os bispos, sem distinção.

O mesmo pálio foi usado pelo Papa Francisco após a cerimônia solene de imposição do pálio das mãos do proto-diácono cardeal Jean-Louis Tauran, durante a Missa de inauguração do seu ministério petrino.’


Fonte :


quarta-feira, 27 de junho de 2018

Consistório e cardeais: uma história que viaja no tempo


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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Pio XI no Consistório de 1935


‘No Consitório Ordinário público desta quinta-feira (28/06), serão criados pelo Papa Francisco 14 novos cardeais. A história do cardinalato tem origens longínquas. A palavra deriva do latim ‘cardo/cardinis’, em português ‘gonzo ou eixo’, algo que gira, neste caso, em torno do Papa. De fato, o papel dos cardeais está estreitamente ligado não apenas com a eleição do Pontífice, mas à colaboração com o Papa na sua função de Pastor da Igreja universal, como explica o Código de Direito Canônico em mérito.


A origem dos cardeais

Na Igreja antiga o Papa tinha como colaboradores alguns presbíteros responsáveis pelo cuidado das mais antigas igrejas de Roma, diáconos que administravam o Palácio de Latrão e os sete departamentos de Roma, e os bispos suburbicários, ou seja das dioceses próximas de Roma. A partir dos colaboradores nasceram os cardeais e as três ordens : os cardeais-bispos, os cardeais-presbíteros e os cardeais-diáconos.

Mas foi com Nicolau II, em 1059, que a eleição foi reservada apenas aos cardeais bispos romanos e não mais ao clero da Diocese de Roma. Em 1179, Papa Alexandre III ampliou este direito a todos os cardeais, e foi no século XII que começaram a ser nomeados cardeais também os prelados residentes fora de Roma.


Quem pode ser nomeado cardeal

Até o século XX os leigos também podiam ser nomeados cardeais e logo depois recebiam a ordenação diaconal, mas em 1918 Bento XV decidiu que todos os cardeais deveriam ser ordenados presbíteros. João XXIII decidiu que deveriam ser ordenados bispos. Atualmente os cardeais podem ser livremente eleitos pelo Papa entre os clérigos que tenham recebido pelo menos o presbiterado. De fato, os últimos três Papas, elevaram à dignidade cardinalícia também sacerdotes com mais de 80 anos, portanto sem direito a voto no Conclave.


O Consistório

Os novos cardeais são criados no Consistório. Voltando atrás no tempo pode-se ver como o termo tenha suas origens na antiga Roma : o ‘sacro consistório’ era o conselho privado do imperador formado pelos seus colaboradores mais próximos. Portanto os Consistórios são reuniões do Colégio Cardinalício e se dividem em ordinários e extraordinários : os primeiros com os cardeais residentes em Roma, enquanto que nos extraordinários devem participar todos os cardeais. O Consistório para a criação de cardeais é o Ordinário Público.

Também é interessante saber que nem todos os nomes dos cardeais são conhecidos com antecedência, pois há casos raros que o nome não é revelado por razões de perigo e portanto para protegê-lo.


O Conclave

No Conclave, os cardeais elegem o Pontífice. Enquanto nos primeiros séculos o número oscilava entre 20 e 40, com o Papa Sisto V, em 1586, foi fixado em 70, e por fim Paulo VI elevou o número de cardeais eleitores para um máximo de 120. Um limite confirmado pelos Sucessores, com algumas derrogações. Atualmente o Colégio conta com 212 cardeais, dos quais 114 eleitores e 98 não eleitores, e com o Consistório desta quinta-feira (28/06) se somarão outros 14 novos cardeais, dos quais 3 não eleitores.

Foi o próprio Paulo VI com a Carta Apostólica Ingravescentem Aetatem a estabelecer o limite de 80 anos para os cardeais que elegem o Papa. Hoje os cardeais são provenientes dos cinco continentes e precisamente de 83 países.

Entre os cardeais há o Decano do Colégio cardinalício, que é eleito e preside o Colégio dos Cardeais e o Conclave. Também há a figura do Camerlengo que administra os bens da Santa Sé, assume a sede vacante e convoca o Conclave. O primeiro dos cardeais-diáconos chama-se protodiácono (que é cardeal há mais tempo) e deve anunciar ao povo cristão a eleição do novo Papa com o conhecido Habemus Papam.

Os sinais

Os sinais que distinguem a nomeação cardinalícia são a designação de uma igreja de Roma (Título ou Diaconia), o anel, em uso desde o século XII, e o barrete vermelho púrpura. Uma cor que caracteriza as vestes dos purpurados e retoma o sinal de disponibilidade ao martírio.


Papa Francisco e os cardeais

Nos Consistórios realizados pelo Papa Francisco, ele recordou a todos os novos cardeais a sua vocação a servir. ‘Ele não vos chamou para vos tornardes ‘príncipes’ na Igreja, para vos ‘sentardes à sua direita ou à sua esquerda’. Chama-vos para servir como Ele e com Ele. Para servir ao Pai e aos irmãos’, disse no Consistório público de 28 de junho de 2017.

Convidou também para gastar a própria vida apoiando a esperança do povo, como ‘sinais de reconciliação’. ‘Amado irmão neo-cardeal – disse em 2016 - o caminho para o céu começa na planície, no dia-a-dia da vida repartida e compartilhada, de uma vida gasta e doada : na doação diária e silenciosa do que somos. O nosso cume é esta qualidade do amor; a nossa meta e aspiração é procurar na planície da vida, juntamente com o Povo de Deus, transformar-nos em pessoas capazes de perdão e reconciliação’.

Outras significativas palavras do Papa foram no Consistório de 2015, quando recordou aos neo-cardeais que o chamado é para serem homens de esperança e caridade e no ano anterior dissera para serem homens de paz.

Também recorda-se que o Papa Francisco, com um Quirógrafo de 2013, instituiu o Conselho de Cardeais, chamado C9, para coadjuvá-lo no governo da Igreja universal e propor a revisão da Constituição Apostólica Pastor bonus sobre a Cúria Romana.’


Fonte :

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Minoria católica na península arábica terá uma catedral dedicada à Virgem Maria


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Nossa Senhora da Arábia


‘No último dia 10 de junho, foi colocada a pedra fundamental da Catedral de Nossa Senhora da Arábia, na cidade de Awali (Bahrein).

Segundo informações a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), esta será a sede da Igreja na península do norte da Arábia.

O projeto de construção desta catedral começou em 11 de fevereiro de 2013, quando o rei do Bahrein, Hamad Bin Isa Al Khalifa, doou à comunidade católica um terreno de nove mil metros quadrados para construir uma nova igreja.

A construção depende de muitos fatores e está sendo realizada graças à perseverança e boa vontade dos fiéis e das autoridades locais. Entretanto, a obtenção de fundos sempre é complicada.

A Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) está colaborando ativamente na construção da catedral e é um dos principais doadores.

Pe. Andrzej Halemba, responsável pelo projeto por parte da ACN, esteve presente na cerimônia do início das obras e assegurou que foi um acontecimento memorável ver como a catedral dá um passo a mais para se tornar realidade.

O sacerdote sublinhou que ‘foi um momento de muita alegria’ e também ‘um momento para rezar, um encontro profundamente espiritual e um momento para depositar a nossa confiança no Senhor. Na Liturgia da Palavra, rezamos pelo país e pelas pessoas que vivem aqui’.

Entretanto, o projeto ainda precisa de mais dinheiro, muitos crentes no Bahrein contribuíram com uma grande parte dos fundos, apesar de seus escassos recursos, para que a catedral finalmente se torne realidade.

A ACN sublinhou que a Catedral de Nossa Senhora da Arábia será um edifício que não só responderá às necessidades espirituais dos crentes – no total, uma população de aproximadamente 5 milhões de pessoas nos quatro países do Vicariato Apostólico –, mas também terá um prédio adjacente para eventos sociais e educacionais.

Esta é uma necessidade muito importante para os católicos ‘locais’, um grupo formado principalmente por imigrantes da Índia, das Filipinas e de Bangladesh que trabalham como diaristas e empregados domésticos para apoiar as famílias que deixaram para trás em seus países.

No Bahrein, a situação não é tão ruim, o pior que pode acontecer é a tentação de explorar os trabalhadores que vêm para cá. Às vezes, os imigrantes são obrigados a trabalhar em condições extremas, como em maio, com mais de 47 graus Celsius’, destacou Pe. Halemba.

Os católicos nesses territórios são uma minoria religiosa e étnica, por isso, geralmente são discriminados e têm desvantagens em suas condições de trabalho.

Por isso, o sacerdote sublinhou que estão ‘oferecendo aulas de inglês e cursos para sensibilizar os imigrantes sobre a cultura local. Isto é muito importante para as pessoas que vêm trabalhar, porque facilita a sua estadia aqui, longe de suas casas’.

Além disso, indicou que conhecer a cultura é absolutamente necessário para a sua segurança, pois podem ‘correr perigo se não forem conscientes da cultura e se, sem querer, se comportarem de uma maneira que ofenda a população local’.

Na cerimônia em que foi colocada a pedra fundamental da catedral, estiveram presentes os representantes do Bahrein, Kuwait, Catar e Arábia Saudita, que formam o Vicariato Apostólico da Arábia do Norte.

Também participaram da cerimônia um representante do rei do Bahrein, o Núncio Apostólico, Dom Francisco Montecillo Padilla, e o Bispo do Vicariato Apostólico, Dom Camillo Ballin, assim como os embaixadores da Itália e da França.’


Fonte :

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Mediocridade e mérito


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
  
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*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG


‘Apenas um nome não basta. Uma lista diminuta de referências também é insuficiente. A sociedade precisa de líderes. É preciso evitar perspectivas centralizadoras que remetem ao antigo coronelismo ou à ilusão de que determinada pessoa é insubstituível. Ao invés disso, o que se espera é que surjam muitos novos líderes capacitados para gerenciar projetos e tornar realidade os sonhos do povo, em seus diferentes âmbitos – religioso, cultural, econômico e político. Pessoas qualificadas para atuarem não apenas na esfera global ou nacional, mas também gente que se dedique a trabalhos nos contextos mais locais – nas cidades, nos bairros e nas ruas.

Sem novos líderes as instituições permanecem sacrificadas, pois se tornam reféns de pessoas que exercem suas responsabilidades aprisionadas na mediocridade. Oportuno lembrar que uma instituição depende dos exercícios de liderança para renovar-se e conseguir ajustar-se às necessidades contemporâneas. Mais uma vez, é importante ressaltar: isso não significa depositar toda a esperança em um nome. Ao contrário, espera-se a articulação de diferentes líderes que se dediquem, permanentemente, à qualificação de seus desempenhos e instituições.

Essa realidade torna-se distante quando pessoas buscam organizações estatais, religiosas, privadas e tantas outras apenas para ocupar um lugar que garanta comodidades e benesses. Com frequência, muitos almejam ser pouco exigidos em suas atribuições. Realizam-se, assim, com os resultados pífios de suas próprias atuações. A sociedade, consequentemente, vai se moldando a uma dinâmica cultural em que se aceitam as barganhas para conquistar apenas benefícios pessoais. Em segundo plano, ficam a inventividade e a coragem audaciosa para agir de modo proativo, protagonizando processos de mudança.

A carência de pessoas comprometidas com a promoção do bem comum é consequência da falta de uma consistente formação humanística, que capacite os indivíduos a orientarem suas ações a partir de princípios éticos. Sem qualificada formação humana, corre-se sempre o risco de se deixar conduzir por princípios duvidosos e se envolver na corrupção. Assim, a ausência de uma formação humanística consistente leva as pessoas a uma estreita visão de mundo, contentando-se em alcançar certa comodidade, mesmo que isso signifique agir com mesquinhez ou indiferença.

Desse modo, consolidam-se as mediocridades, tornando comum nas instituições a presença de pessoas incapazes de oferecer soluções para os mais diferentes problemas. Passam a se destacar aqueles que se contentam com a mediocridade, em vez de serem valorizados os méritos, prevalecendo a acomodação. As pessoas ocupam-se mais com a tarefa de esconder as próprias fragilidades, de conservar as vantagens, esquecendo-se dos trabalhos capazes de promover o bem. Uma situação que inviabiliza o surgimento de líderes, perpetua atrasos, alimenta mediocridades e se agrava com a ausência de autocrítica.

É importante ressaltar : quem é medíocre não consegue, muitas vezes, perceber as próprias limitações. Candidata-se a cargos estratégicos, com grandes responsabilidades sem a real condição de exercê-los.  Atua de modo bem diferente, se comparado aos que, de fato, possuem capacidade. As pessoas verdadeiramente qualificadas são hábeis no exercício da autocrítica, qualidade imprescindível para conduzir os líderes à inovação e às intuições criativas. O desafio é, precisamente, identificar pessoas competentes, que reconhecem a necessidade de se buscar o bem comum e a paz social.

Nesse caminho, há de se vencer apatias, pois ninguém pode se dar por satisfeito ao fazer o mínimo. As instituições precisam de novos líderes para se renovar. E os contextos institucionais, por sua vez, necessitam de novas dinâmicas, com a superação de práticas obsoletas, para favorecerem o surgimento de pessoas capazes de exercer a liderança. Entre as dinâmicas institucionais a serem superadas, estão as que acirram disputas internas e que contribuem para a propagação de maledicências, consolidando ambientes propícios à mediocridade.

O desafio de desarticular o habitual jeito medíocre de agir, que contamina diferentes lugares, é grande. Superá-lo exige de cada pessoa que se reconheça como agente de transformação, capaz de impulsionar avanços. Mas esse processo requer que todos se dediquem à autocrítica, ao compromisso de se fazer escolhas bem fundamentadas. Que ajam com coragem e audaciosamente no exercício das próprias responsabilidades, especialmente em contextos organizacionais. Assim, não serão favorecidos aqueles que buscam ocultar a própria mediocridade para se tornarem líderes de um grupo, ou mesmo de um povo. É urgente substituir a mediocridade pelo mérito, um movimento  inteligente e inovador, dedicado à vida, à paz e à justiça.’


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quarta-feira, 20 de junho de 2018

Onde está o teu tesouro aí está o teu coração


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Se queremos encontrar onde está nosso coração basta perceber onde ou em que colocamos a maioria das nossas forças e nossa maior porção de tempo.
*Artigo de Fabrício Veliq,
teólogo protestante
  
‘‘Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração. Mateus 6:19-21

Esses versículos, inseridos no chamado Sermão do Monte que segue de Mateus 5 e vai até o capítulo 7 são muito conhecidos. Mesmo sendo comumente ouvidos, na maioria das vezes, são associados somente às questões de cunho espiritual e usados para fazer uma total dicotomia entre coisas do céu e coisas da terra, termos esses entendidos não no sentido bíblico, mas no sentido literal.

A princípio, podemos pensar que Jesus está fazendo uma mera contraposição entre céu e terra e que, assim, devemos pensar somente nas coisas que são do alto e ignorar as coisas que estão na parte de baixo, numa espécie de pensamento de que nada aqui vale a pena e, ainda pior, que tudo que é terreno recebe a reprovação de Deus.

Porém, ao se ter em mente que céu na Bíblia é simplesmente um nome para Deus é possível reler esse versículo como sendo um conselho para que guardemos nossos tesouros em Deus.  Qual seria o motivo para isso? O texto nos mostra dois: porque ali a ferrugem e a traça não o destroem e, o mais importante de todos, porque ali onde está nosso tesouro ali estará o nosso coração, o que, de maneira inversa pode ser dito que, onde está o nosso coração, ali está o nosso tesouro.

Dizer que nosso coração está em algo quer dizer que esse algo é o que define nossas prioridades e nosso comportamento diante das situações do cotidiano. Dessa forma, se queremos encontrar onde está nosso coração basta perceber onde ou em que colocamos a maioria das nossas forças e nossa maior porção de tempo.

A chamada de Jesus, desse modo, nos confronta para uma tomada de decisão que é justamente onde guardaremos nosso tesouro, se nas coisas de Deus, ou se nas coisas terrenas. Se atentarmos ao Evangelho pregado por Jesus é possível identificar quais são as coisas dos céus e quais são as coisas da terra. As coisas dos céus, que é o mesmo que dizer a respeito das coisas de Deus, são aquelas que têm a ver com o se importar com pobres, marginalizados e esquecidos da sociedade, o que o texto de Mateus 25 deixa muito claro quando afirma que fazer algo aos pequeninos é fazer ao próprio Deus. Nesse sentido, empatia e misericórdia é o modo de viver de todo/a aquele/a que decide por guardar seus tesouros nas coisas de Deus.

Por outro lado, com relação às coisas terrenas, é sempre importante lembrar que terra aqui não tem a ver com o planeta, antes com um sistema e uma forma de vida. Ser terreno, nesse sentido, é viver uma vida que é voltada somente para si, movida pelo individualismo e sem se importar com outros. Dessa forma, individualismo e egoísmo são marcas de todos/as que decidem guardar o seu tesouro nas coisas terrenas.

Por sua vez, esse lugar onde nosso tesouro está não fica em secreto de maneira que os outros não têm como saber onde o guardamos. Lao Tsé já dizia que ‘A alma não tem segredos que o comportamento não revele’. Esse ensinamento, então, serve de critério para avaliação de toda coadunação entre discurso e prática. Em outras palavras, muito além do discurso, é o comportamento que nos indica onde está o nosso tesouro e, ao mesmo tempo, torna-o visível para todos/as que os observam e estão atentos ao nosso modo de viver. Nesse sentido, é importante lembrar que o grito de nosso comportamento é sempre maior que a ênfase de nossas palavras e que nosso esforço deve ser sempre de, assim como Jesus, viver uma vida na qual a nossa prática manifeste nosso discurso e nosso discurso seja reflexo de nossa prática.’


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