sábado, 29 de dezembro de 2012

Orar no aconchego da Sagrada Família

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


 Oração da Sagrada Família
 
‘Sagrada Família de Nazaré :
ensina-nos o recolhimento, a interioridade,
dá-nos a disposição de escutar as boas inspirações e
as palavras dos verdadeiros mestres;
ensina-nos a necessidade do trabalho, da preparação, do estudo,
da vida pessoal interior, da oração, que Deus vê em segredo.
Ensina-nos o que é a Família, sua comunhão de amor,

sua beleza simples e austera,

seu caráter sagrado e inviolável. Amém.’

( Papa Paulo VI )


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O NATAL DO SENHOR

p/ Maria Vanda andrade da Silva
(Ir. Maria Silvia - Obl. OSB/SP)


 Dos Sermões de São Leão Magno, papa
 (Sermo 1 in Nativitate domini, 1-3)  (Séc V)

Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade.

              "Hoje, amados filhos, nasceu o nosso Salvador. Alegremo-nos. Não pode haver tristeza no dia em que nasce a vida; uma vida que, dissipando o temor da morte, enche-nos de alegria com a promessa da eternidade.

               Ninguém está excluído da participação nesta felicidade. A causa da alegria é comum a todos, porque nosso Senhor, vencedor do pecado e da morte, não tendo encontrado ninguém isento de culpa, veio libertar a todos. Exulte o justo, porque se aproxima a vitória; rejubile o pecador, porque lhe é oferecido o perdão; reanime o pagão porque é chamado à vida.

               Quando chegou a plenitude dos tempos, fixada pelos insondáveis desígnios divinos, o Filho de Deus assumiu a natureza do homem para reconciliá-lo com o seu Criador, de modo que o demônio, autor da morte, fosse vencido pela mesma natureza que antes vencera.

                Eis porque, no nascimento do Senhor, os anjos cantam jubilosos: glória a Deus nas alturas; Paz na terra aos homens de boa vontade (Lc. 2,14). Eles vêem a Jerusalém celeste ser formada de todas as nações do mundo. Diante dessa obra inexprimível do amor divino, como não devem alegrar-se os homens, em sua pequenez, quando os anjos, em sua grandeza, assim se rejubilam?

                Amados filhos, demos graças a Deus Pai, por seu Filho, no Santo; pois, na imensa misericórdia com que nos amou, compadeceu-se de nós. E quando estávamos mortos, por causa de nossas faltas, Ele nos deu a vida com Cristo (Ef 2,5) para que fôssemos nele uma nova criação, nova obra de suas mãos.

               Despojemo-nos, portanto, do velho homem com seus atos; e tendo sido admitidos a participar do nascimento de Cristo, renunciemos às obras da carne.

               Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade. E já que participas da natureza divina, não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição. Lembra-te de que cabeça e de que corpo és membro. Recorda-te que foste arrancado do poder das trevas levado para a luz e o reino de Deus.

                Pelo sacramento do batismo te tornaste templo do Espírito Santo. Não expulses com más ações tão grande hóspede, não recaias sob o jugo do demônio, porque o preço de tua salvação é o sangue de Cristo".

(In Liturgia das horas, I, pg 362/363 Ed. Vozes e Ou, 1999)
 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

4º Domingo do Advento

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Dedicamos este texto, que faz parte da Liturgia da Horas,
à reflexão do IV Domingo do Advento :
 
Ofício das Leituras
Segunda leitura
Do Tratado contra a heresia de Noeto, de Santo Hipólito, presbítero.
 
Manifestação do mistério escondido
‘Único é o Deus que conhecemos, irmãos, e não por outra fonte que não seja a Sagrada Escritura. Devemos, pois, saber o que ela anuncia e compreender o que ensina. Creiamos no Pai como ele quer ser acreditado; glorifiquemos o Filho como ele quer ser glorificado; e recebamos o Espírito Santo como ele quer se dar a nós. Consideremos tudo isso, não segundo nosso próprio arbítrio e interpretação pessoal, nem fazendo violência aos dons de Deus, mas como ele próprio nos ensinou pelas santas Escrituras.
Quando só existia Deus, e não havia ainda nada que existisse com ele, decidiu criar o mundo. Criou-o por seu pensamento, sua vontade e sua palavra; e o mundo começou a existir como ele quis e realizou. Basta-nos apenas saber que nada coexistia com Deus. Não havia nada além dele, só ele existia e era perfeito em tudo. Nele estava a inteligência, a sabedoria, o poder e o conselho. Tudo estava nele e ele era tudo. E quando quis e como quis, no tempo que havia estabelecido, manifestou o seu Verbo, por quem fez todas as coisas.
Deus possuía o Verbo em si mesmo, e o Verbo era imperceptível para o mundo criado; mas fazendo ouvir sua voz, Deus tornou-o perceptível. Gerando-o como luz da luz, enviou como Senhor da criação aquele que é sua própria inteligência. E este Verbo, que no princípio era visível apenas para Deus e invisível para o mundo, tornou-se visível para que o mundo, vendo-o manifestar-se, pudesse ser salvo. O Verbo é verdadeiramente a inteligência de Deus que, ao entrar no mundo, se manifestou como o servo de Deus. Tudo foi feito por ele, mas ele procede unicamente do Pai. Foi ele quem deu a lei e os profetas; e ao fazê-lo, impulsionou os profetas a falarem sob a moção do Espírito Santo para que, recebendo a força da inspiração do Pai, anunciassem o seu desígnio e a sua vontade.
 
O Verbo, portanto, se tornou visível, como diz São João. Este repete em síntese o que os profetas haviam dito, demonstrando que aquele era o Verbo por quem tinham sido criadas todas as coisas: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus; e o Verbo era Deus. Tudo foi feito por ele e sem ele nada se fez (Jo 1,1.3). E, mais adiante, prossegue: O mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não quis conhecê-lo. Veio para o que era seu, os seus, porém, não o acolheram (Jo 1,10-11).’
Fonte :
(Cap. 9-12: PG 10, 815-919) (Séc. III) – ‘In Liturgia das Horas I, pg. 333 a 335’ 

domingo, 16 de dezembro de 2012

3o. Domingo do Advento

por Maria Vanda Andrade da Silva
(Ir. Maria Silvia - Obl. OSB-SP)






                                                                 Veni , veni Emmanuel!


Poema a Emmanuel                                                    

Quem haveria de desejar maior bem?
Esse, do Pai seu melhor, Seu Amado,
Seu próprio natural: o sumo bem?

O nosso Esperado,
Pelo Pai foi gerado, e por Ele modelado,
Por indescritível amor e compaixão por alguém.

Sim, foi gerado e a nós enviado.
A nós semelhantes,
Em tudo, menos no pecado.

Então, o Pai, desde antes,
Deu-nos também a “Cheia de Graça”,
Que, do pecado não trazia a mancha...

E eis que o anjo Gabriel volta exultante,
Dizendo: Pai, Ela disse sim, disse faça-se.
Disse a Virgem um “fiat” tão doce e confiante...

Assim foi gerado, pelo Espírito Paráclito
O ser mais nobre, no amor modelado
De cuja natureza divina jamais se aparta!

Feito homem, se encarnou no seio de Maria.
Estamos exultantes, na espera salvadora
A promessa do Pai adveio como guia.

Quem ousaria recusar tão pleno bem?
Um Deus irmão, advindo da pura glória?
Rejubilemo-nos irmãos e cantemos o que advém:

"Veni, veni, Emmanuel
Captivum solve Israel
Gaude, gaude, Emmanuel
Nascetur prote Israel..."

                                                                                                    Maria Vanda Andrade da Silva







sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Serviço Jesuíta aos Refugiados e os afegãos na Turquia

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Crianças afegãs em acampamento de refugiados
  
A Turquia acolheu, a partir de maio de 2012, cerca de 9.000 afegãos em circunstancias excessivamente vulneráveis. Desse contingente, a maioria atravessa o Irã, com pouquíssimo ou nenhum recurso e desconhece o idioma turco.
De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), em menos de seis meses houve um aumento acima de 100%  no número de inscritos como refugiados afegãos.
Atuando no país, desde 2009, o Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS), oferece um amparo inicial : ‘Durante o verão, alguns moraram em barracas, mas foram transferidos para diversas cidades do país. A ideia é que eles achem um lugar para morar e consigam pagar sozinhos os gastos básicos para se manter. Os refugiados estão espalhados hoje por dezenas de cidades e têm que se apresentar à polícia ao menos uma vez por semana. Para ir para outra cidade, eles precisam de permissão oficial’.
Acredita-se que um grande número, em torno de 98%, prefere ficar na Turquia, em vez de se arriscar em mais uma árdua e penosa viagem à Europa.
Eles não têm nada, não podem nem pagar o aluguel. Falta tudo. Algumas famílias vivem em barracas no chão batido. E o inverno está chegando’, informa um membro do JRS.
No momento, estes refugiados, não usufruem do sistema público de saúde, não têm auxílio do governo turco e nem da própria ONU. A situação difícil em que vivem tende a piorar com a chegada do inverno, que na Turquia é bem rigoroso. De imediato, necessitam de camas, cobertores, alimento e combustível para a cozinha e a calefação.
Em pleno Mediterrâneo, a Turquia está encravada no meio de dois continentes : entre a região da Anatólia (no oeste da Ásia) e uma pequena parte no sudeste da Europa. Exerce uma função de passagem, como um porto de chegada e de saída aos expatriados do Afeganistão, Irã, Iraque, Sudão e Somália. Em destaque, abriga atualmente mais de 130.000 refugiados sírios em acampamentos.
Os refugiados recebem das equipes do JRS : assistência espiritual, assistência médica, cestas básicas, roupa, assessoramento e até cursos de língua turca.  

Fonte :

domingo, 9 de dezembro de 2012

2º Domingo do Advento

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 

A Coroa e as Velas do Advento
 
Existem diversas maneiras de interpretar este momento e, de domingo a domingo, nos prepararmos para a vinda do Senhor.
No tocante à origem da coroa do advento, surgem várias alegações. Teria ocorrido no início da tradição escandinava pré-cristã, no decorrer da Idade Média, a partir do luteranismo no século XVI ou por volta de 1839, em Hamburgo, na Alemanha, através do pastor protestante Johann Heinrich Wichern (1808-1881).
Com o intuito de indicar a vinda de Cristo e a iluminação gradual do mundo, as velas do advento são acesas a partir da mais escura até a mais clara e podem ter cores variadas. Embora não haja uma regra formal, a vela rosa deve ser acesa no terceiro domingo do advento, conhecido como Gaudete (domingo da Alegria).
A coroa e as velas possuem um formidável simbolismo :
ª O círculo da coroa, sem começo nem fim, é sempre verde, configura a eternidade, a perfeição e a harmonia
ª As quatro velas representam as quatro semanas deste período, e o acendimento, de modo progressivo, manifesta a expectativa da vinda do Messias.  
 
 
Num panorama geral :
ª A primeira semana alude aos patriarcas, à guarda vigilante e ao retorno do Senhor
o   Por meio das leituras bíblicas
§  mantemos uma atitude de atenção,
§  buscamos o perdão de quem ofendemos e
§  damos o perdão a quem nos tenha ofendido
o   Acendemos a primeira vela da Coroa do Advento, de cor roxa, como sinal de vigilância 

ª A segunda semana enaltece os profetas  
o   Ao longo da pregação de João Batista, a liturgia nos exorta
§  a refletir sobre a vinda de Jesus e
§  a preparar este caminho  
o   Acendemos a segunda vela da Coroa do Advento, de cor roxa, como desejo de conversão 

ª A terceira semana evoca a alegria messiânica : o Senhor está próximo
o   Perante o testemunho de João Batista, a liturgia nos sugere
§  exaltar a figura de Maria, a Mãe de Jesus que sempre acolhe os necessitados e
§  meditar sobre o papel que ela desempenhou
o   Acendemos a terceira vela da Coroa do Advento, de cor rosa, como sinal de júbilo 

ª E a quarta semana reverbera o anúncio do advento do Filho de Deus
o   A liturgia, desta vez, é direcionada à disposição da Virgem Maria, diante do anúncio do nascimento de Jesus
§  somos convidados a aceita-Lo em nosso coração, no ambiente familiar e no comunitário
o   Acendemos a quarta vela da Coroa do Advento, de cor roxa, como sinal de esperança
o   Se houver uma quinta vela ( branca, ao centro ), será acesa na vigília ou no dia de Natal, representando Cristo como a LUZ do mundo  

Fonte :

 

sábado, 8 de dezembro de 2012

Imaculada Conceição de Maria Mãe de Deus

p/ Maria Vanda A. Silva
(Ir. Maria Silvia - Obl.OSB)



Das Meditações de Santo Anselmo, bispo.
(Oratio 52: PL158, 955-956) (Séc XII).

“Ó Virgem pela tua benção foi abençoada a criação inteira!

O céu e as estrelas, a terra e os rios, o dia e a noite, e tudo quanto obedece ou serve aos homens, congratulam-se, ó Senhora, porque a beleza perdida foi por ti de certo modo ressuscitada e dotada de uma graça nova e inefável. Todas as coisas pareciam mortas, ao perderem sua dignidade original que é de estar em poder e a serviço dos que louvam a Deus.. Estavam oprimidas e desfiguradas pelo mau uso que delas faziam os idólatras, para os quais não haviam sido criadas. Agora, porém, como que ressuscitadas, alegram-se, pois são governadas pelo poder e embelezadas pelo uso dos que louvam a Deus.

Perante esta nova e inestimável graça, todas as coisas exultam de alegria ao sentirem que Deus, seu Criador, não apenas as governa invisivelmente lá do alto, mas também está visivelmente nelas, santificando-as com o uso que delas faz. Tão grandes bens procedem do bendito fruto do sagrado seio da Virgem Maria.

Pela plenitude da sua graça, aqueles que estavam mansão dos mortos alegram-se agora libertos; e os que estavam acima do céu rejubilam-se renovados. Com efeito, pelo Filho glorioso de sua gloriosa virgindade todos os justos que morreram antes de sua morte vivificante, exultam pelo fim de seu cativeiro, e os anjos se congratulam

Pela restauração de sua cidade quase em ruínas.

Ó mulher cheia e mais que cheia de graça, o transbordamento de tua plenitude faz nascer toda criatura! Ó Virgem bendita e mais que bendita, pela tua benção é abençoada a natureza, não só as coisas criadas pelo Criador, mas também o Criador pela criatura!

Deus deu a Maria o seu próprio Filho, único gerado de seu coração, igual a si, a quem amava como a si mesmo. No seio de Maria, formou seu Filho, não outro qualquer, mas o mesmo, para que por natureza, fosse realmente um só e o mesmo Filho de Deus e de Maria! Toda a criação é obra de Deus, e Deus nasceu de Maria. Deus criou todas as coisas e Maria deu à luz a Deus! Deus que tudo fez formou-se a si próprio no seio de Maria. E deste modo refez tudo o que tinha feito. Ele que pode fazer tudo do nada, não quis refazer sem Maria o que fora profanado.

Por conseguinte, Deus é o Pai das coisas criadas, e Maria a mãe das coisas recriadas. Deus é o Pai da criação universal, e Maria a mãe da redenção universal. Pois Deus gerou aquele por quem tudo foi feito, e Maria deu à luz aquele por quem tudo foi salvo. Deus gerou aquele sem o qual nada absolutamente nada existe, e Maria deu à luz aquele sem o qual nada absolutamente é bom.

Verdadeiramente o Senhor é contigo, pois quis que toda a natureza reconheça que deve a ti, juntamente com Ele, tão grande benefício”.

(In Liturgia das Horas, I (Advento), pg.1042/1043).


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Encontro dos bispos católicos de rito oriental


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



Ocorreu em Zagreb, capital da Croácia, entre 22 e 25 de novembro de 2012, o encontro anual dos bispos representantes de 14 igrejas católicas de rito oriental e o 4º centenário da união da Igreja greco-católica croata com Roma, e teve como pauta :  


W o concílio Vaticano II e as Igrejas católicas orientais,
W o catecismo da Igreja greco-católica ucraniana,
W o código de direito canônico oriental e
W as celebrações programadas para o Ano da Fé nas Igrejas católicas orientais

 
Para realçar o vínculo entre a Croácia e outras tradições orientais da Europa, foi utilizado na parte central da missa de abertura, o antigo idioma croata-glagolítico, uma forma veterocroata ligada ao mais antigo alfabeto eslavo criado pelos santos irmãos missionários Cirilo e Metódio, no século IX.  

De acordo com o cardeal Bozanić, arcebispo de Zagreb : ‘No Ano da Fé, somos chamados a renovar os dons que recebemos e que nos fortaleceram no seguimento de Cristo’. 

Quanto ao bispo Nikola Kekic, de Krievci, da diocese que acolheu o evento, o intuito era o de demonstrar uma Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, encabeçada pelo papa de Roma. 

E dom Alessandro D'Errico, Núncio Apostólico para a Croácia, leu uma mensagem do cardeal Peter Erdo, arcebispo de Esztergom-Budapeste e presidente do episcopado europeu : ‘Na Europa de hoje, embora nem sempre plenamente conscientes, os nossos cidadãos sentem uma grande necessidade de Deus, dos valores espirituais e de uma nova concepção de vida que não olhe apenas para os bens materiais’. Para o cardeal húngaro, os cidadãos europeus ‘precisam conhecer confessores da fé e pessoas que não separam a fé da vida cotidiana’. 

Os trabalhos foram agraciados pelo pronunciamento do bispo responsável pelos católicos de rito bizantino na Grécia, dom Dimitrios Salachas, de Sua Beatitude Sviatoslav Schevchuk, líder da Igreja greco-católica ucraniana, e de dom Cyril Vasil, secretário da Congregação para as Igrejas Orientais da Santa Sé. 

Dom Virgil Bercea, bispo de Oradea-Mare, lançará em breve um comunicado sobre o recente Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização.
 

Fonte :


domingo, 2 de dezembro de 2012

1º Domingo do Advento

p/ Maria Vanda Andrade da Silva
(Ir. Maria Silvia  Oblata OSB/SP)

                           "A vós, meu Deus, elevo a minha alma.
                       Confio em vós,
                             que eu não seja envergonhado!
                            Não se riam de mim meus inimigos,
                       pois não será desiludido
                           quem em vós espera" 
                          (cf.Al 24,1-3).


                                             Já é sabido que para igreja Católica Apostólica Romana o Tempo do Advento é o primeiro tempo dos quatro tempos do ano litúrgico.

                                            Domingo dia 02 de dezembro de 2012, inicia-se, pois um novo ano litúrgico e será o Ano C, sendo as leituras tiradas do Evangelho segundo Lucas.

                                            Gostaríamos de compartilhar com todos uma reflexão feita por Santo Irineu de Lião (Obra Contra as heresias), que de uma forma indireta  cabe, perfeitamente, neste tempo litúrgico do advento.

                                             Irineu, ao defender que o “Verbo identifica-se com Cristo”, demonstra a doutrina dos apóstolos. Apesar de,  neste ano, as leituras do Evangelho serem do Evangelho de Lucas, citaremos o que disse S. Irineu segundo o  Evangelho de Marcos,  sobre a encarnação de Jesus Cristo, no seio da Virgem Maria, para que notemos como se encaixa bem a Promessa de Deus Pai que envia o Deus Filho para a nossa redenção. 

“Eis por que também Marcos diz: “Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus conforme está escrito nos profetas”.171 Ele reconheceu um único filho de Deus Jesus Cristo, anunciado pelos profetas, nascido do fruto do seio de Davi, Emanuel, mensageiro do grande desígnio do Pai, por meio do qual se fez nascer o Oriente, o justo, sobre à casa de Davi, levantou o poder de sua salvação, suscitou um testemunho em Jacó, como diz Davi, explicando os motivos de seu nascimento, e “pôs uma lei em Israel, para que a soubesse a geração seguinte; os filhos que hão de nascer e se hão de levantar , o contarão também a seus filhos, para que ponham em Deus a sua esperança e busquem com cuidado os seus mandamentos”.172 Assim também o anjo dando a boa nova a Maria, diz: “Este será grande, será chamado Filho do Altíssimo e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi”.173 proclamando que o filho do Altíssimo é também filho de Davi. E o próprio Davi, conhecendo pelo Espírito Santo a economia de sua vinda, pela qual reina soberanamente todos os vivos e os mortos, proclama que é o Senhor que está sentado à direita do Pai altíssimo”.

E Continua Irineu. “alem disso, os que dizem ser Jesus homem pura e simplesmente, gerado por José, permanecem na antiga escravidão da desobediência e morrem nela, porque ainda não unidos ao Verbo de Deus Pai, não recebem a liberdade por meio do Filho, como ele próprio diz: “se o filho vos emancipar, sereis verdadeiramente livres”.223 Ignorando o Emanuel, nascido da Virgem, são privados do seu dom, que é a vida eterna, e não recebendo o Verbo da incorruptibilidade, permanecem na carne mortal, devedores da morte, sem o antídoto da vida. É para estes que o Verbo fala, quando explica o dom que faz de sua graça: “Eu disse: todos vós sois deuses e filhos do Altíssimo; mas, como homens, morrereis”.224 Estas palavras são dirigidas aos que recusam o dom da adoção filial, desprezam este nascimento sem mancha que foi a encarnação do Verbo de Deus, privam o homem de sua elevação a Deus e manifestam ingratidão para com o Verbo de Deus, que se encarnou por eles.... (IRINEU DE LIÃO CONTRA AS HERESIAS EDIÇÃO PAULUS- , pg. 320, 336- Coleção Patrística).

                Assim, Crentes sejamos. Esse é o ano da Fé, instituído pelo nosso Papa Bento XVI. Aprimoremos nossa Fé. Vamos caminhar ao encontro dessa promessa de salvação e redenção (já realizada por Jesus Cristo). Comemoremos esse tempo litúrgico do advento com alegria. Saudemos a Maria com o "Magnificat" e andemos firmes para aderir, para abraçar e para vivenciar Jesus, Aquele que há de vir, finalmente para nos mostrar o seu reino que não tem fim.
                                                                                                         Maria Vanda A. Silva
                        

                                                                                      

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Bispos africanos denunciam violência na República Democrática do Congo

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


Os bispos presidentes das Caritas africanas estão indignados ao testemunhar como a guerra desencadeada há alguns meses no leste da República Democrática do Congo está se ampliando e predispondo a um novo drama humano. Eles também denunciam a exploração ilegal de recursos naturais como a principal causa deste conflito.

O encontro, ocorrido em Kinshasa entre 20 e 22 de novembro de 2012, teve como foco o debate sobre a missão e a identidade da Caritas à luz da encíclica de Bento XVI Deus caristas est.

A investida no Kivu Norte e a conquista da capital Goma, feita pelo grupo guerrilheiro M23, impôs a mais profunda miséria e perplexidade a milhares de homens, mulheres e crianças, vítimas da violência sem controle. A grande maioria não tem onde morar, passam fome, estão à mercê de estupros e do recrutamento forçado de crianças.


Os bispos clamam por misericórdia e pedem à ONU, União Africana, União Européia, ao governo da República Democrática do Congo, aos demais países envolvidos nesta luta sanguinária e às multinacionais do setor de mineração, que trabalhem por um desenlace justo. É necessário acabar definitivamente com o sofrimento descabido da população civil.

domingo, 25 de novembro de 2012

Cristo, Rei do Universo

p/Maria Vanda a. Silva
(Ir. Maria Silvia-obl/osb)






Evangelho:



35 O povo estava a observar. Os príncipes dos sacerdotes com o povo O escarneciam dizendo: "Salvou os outros, salve-Se a Si mesmo, se é o Cristo, o escolhido de Deus!" 36 Também o insultavam os soldados que, aproximando-se dele e oferecendo-lhe vinagre, 37 diziam: "Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo!" 38 Estava também por cima de sua cabeça uma inscrição: "Este é o Rei dos judeus". 39 Um daqueles ladrões que estavam suspensos da cruz, blasfemava contra ele, dizendo: "Se és o Cristo, salva-Te a Ti mesmo e a nós" 40 O outro, porém, tomando a palavra, repreendia-o dizendo: "Nem tu temes a Deus, estando no mesmo suplício? 41 Quanto a nós se fez justiça, porque recebemos o castigo que mereciam nossas ações, mas Este não fez nenhum mal." 42 E dizia a Jesus: "Senhor, lembra-Te de mim, quando entrares no teu Reino!" 43 Jesus disse-lhe: "Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso." (Lc 23, 35-43).


Mons. João Clá Dias, EP




Por direito de herança e de conquista, Cristo reina com autoridade absoluta sobre todas as criaturas. Entretanto, não governa segundo os métodos do mundo.






I - REI NO TEMPO E NA ETERNIDADE

Ao ouvirmos este Evangelho da Paixão, de imediato surge em nosso interior uma certa perplexidade: por que a Liturgia, para celebrar uma festa tão grandiosa como a de Cristo Rei, terá escolhido um texto todo ele feito de humilhação, blasfêmia e dor?


Tanto mais que, em extremo contraste com esse trecho de São Lucas, a segunda leitura de hoje nos apresenta Jesus Cristo como sendo "a imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda a criação (...) porque foi do agrado do Pai que residisse n'Ele toda a plenitude" (Col 1, 15 e 19). Como conciliar esses dois textos, à primeira vista, tão contraditórios?

Para melhor compreendermos esse paradoxo, devemos distinguir entre o Reinado de Cristo nesta terra e o exercido por Ele na eternidade. No Céu, seu reino é de glória e soberania. Aqui, no tempo, ele é misterioso, humilde e pouco aparente, pelo fato de Jesus não querer fazer uso ostensivo do poder absoluto que tem sobre todas as coisas: "Foi-me dado todo o poder no Céu e na terra" (Mt 28, 18).

Apesar de as exterioridades nos causarem uma impressão enganosa, Ele é o Senhor Supremo dos mares e dos desertos, das plantas, dos animais, dos homens, dos anjos, de todos os seres criados e até dos criáveis. Porém, diante de Pilatos, assevera: "O meu Reino não é deste mundo" (Jo 18, 36), porque não quer manifestar seu império em todas as suas proporções, a não ser por ocasião do Juízo Final.


Assim, enquanto o Evangelho nos fala de seu Reinado terreno, a Epístola proclama o triunfo de sua glória eterna. No tempo, vemo-Lo exangue, pregado na Cruz entre dois ladrões, sendo escarnecido pelos príncipes dos sacerdotes e pelo povo, insultado pelos soldados e objeto das blasfêmias do mau ladrão. A Liturgia exige de nós um esforço de fé para, indo além do fracasso e da humilhação, crermos na grandiosidade do Reino de Jesus.

Por outro lado, errôneo seria imaginar que Ele não deve reinar aqui na terra. Para compreender bem o quanto Cristo é Rei, é preciso diferenciar seu modo de governar daquele empregado pelo mundo.

O governo humano, quando ateu, encontra sua força nas armas, no dinheiro e nos homens. Tem por finalidade as grandes conquistas territoriais, perdurar longamente e alcançar a felicidade terrena. Porém, o tempo sempre demonstra o quanto esses objetivos são ilusórios e até mentirosos. As armas em certo momento caem ao solo, ou se voltam contra o próprio governante; o dinheiro é por vezes um bom vassalo mas sempre um mau senhor; os homens, quando não assistidos pela graça, neles não se pode confiar.

 
Napoleão Bonaparte é um bom exemplo do vazio enganador no qual se fundamentam os Impérios neste mundo. Basta imaginá-lo proclamando seu fracasso do alto de um penhasco na ilha Santa Helena, durante o penoso exílio ao qual ficara reduzido. Em síntese, a plenitude da felicidade de um governador terreno é um sonho irrealizável. E ainda que ela fosse atingível, a nós caberia a frase do Evangelho: "Que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma?" (Mc 8, 36).


II - A REALEZA ABSOLUTA DE CRISTO



A Realeza de Cristo é bem outra. Ele de fato é Rei do Universo e, de maneira muito especial, de nossos corações. Ele possui uma autoridade absoluta sobre todas as criaturas e já muito antes de sua Encarnação, quando se encontrava no seio do Padre Eterno, ouviu estas palavras:

"Tu és meu Filho, eu hoje te gerei. Pede- me; dar-te-ei por herança todas as nações; tu possuirás os confins do mundo, tu governarás com cetro de ferro" (Sl 2, 7-9).

Rei por direito de herança

Ele é o unigênito Filho de Deus e por Este foi constituído como herdeiro universal, recebendo o poder sobre toda a criação, no mesmo dia em que foi engendrado (1).


Rei por ser Homem-Deus

Por outro lado, Jesus Cristo é Deus e, assim sendo, tudo foi feito por ele, o Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. Senhor absoluto de toda existência, do Céu, da terra, do sol, das estrelas, das tempestades, das bonanças. Seu poder é capaz de acalmar as mais terríveis ferocidades dos animais bravios e as procelas dos mares encapelados. Os acontecimentos, as forças físicas e morais, a guerra e a paz, a pobreza e a fartura, a humilhação e a glória, o revés e o sucesso, as pestes, os flagelos, a doença e a saúde, a morte e a vida, estão todos ao dispor de um simples ato de sua vontade. Aí está um Governo incomparável, superior a qualquer imaginação, e do qual ninguém ou nada poderá se subtrair.


O título de Rei Lhe cabe mais apropriadamente do que às outras duas Pessoas da Trindade Santíssima, por ser o Homem-Deus, conforme comenta Santo Agostinho: "Apesar de que o Filho é Deus e o Pai é Deus e não são mais que um só Deus, e se o perguntássemos ao Espírito Santo, Ele nos responderia que também o é...; entretanto, as Sagradas Escrituras costumam chamar de rei, ao Filho" (2).

De fato, o título de Rei, quando aplicado ao Pai, é usado de forma alegórica para indicar seu domínio supremo. E se quisermos atribuí-lo ao Espírito Santo, faltará exatidão jurídica, por tratar-se Ele de Deus não-encarnado, pois, para ser Rei dos homens é indispensável ser Homem. Deus não encarnado é Senhor, Deus feito homem é o Rei.

Rei por direito de conquista

Jesus Cristo é nosso Rei
também por direito de conquista, por nos ter resgatado da escravidão a Satanás.

Ao adquirirmos um objeto às custas de nosso dinheiro, ele nos pertence por direito. Mais ainda se o obtivermos através de duras penas, pelos esforços de nosso trabalho, e muito mais, se for conseguido pelo alto preço de nosso sangue. E não fomos nós comprados pelo trabalho, sofrimentos e pela própria morte de Nosso Senhor Jesus Cristo? É São Paulo quem nos assevera: "Porque fostes comprados por um grande preço!" (I Cor 6, 20).

Rei por aclamação


Cristo é nosso Rei por aclamação. Antes mesmo das purificadoras águas do Batismo serem derramadas sobre nossa cabeça, nós O elegemos para ser o regente de nossos corações e de nossas almas, através dos lábios de nossos padrinhos. Por ocasião do Crisma e a cada Páscoa, de viva voz nós renovamos essa eleição, sempre de um modo solene.

 
Rei do interior dos homens e de todas as exterioridades

Não houve, nem jamais haverá um só monarca dotado da capacidade de governar o interior dos homens, além de bem conduzi-los na harmonia de suas relações sociais, seus empreendimentos, etc. O único Rei pleníssimo de todos os poderes é Cristo Jesus.

Exteriormente, pelo seu insuperável e arrebatador exemplo - além de suas máximas, revelações e conselhos - Ele governa os povos de todos os tempos, tendo marcado profundamente a História com sua Vida, Paixão, Morte e Ressurreição. Por meio do Evangelho e sobretudo ao erigir a Santa Igreja, Mestra infalível da verdade teológica e moral, Jesus perpetua até o fim dos tempos o imorredouro tesouro doutrinário da fé. Através dessa magna instituição Ele orienta, ampara e santifica todos os que nela ingressam, e vai em busca das ovelhas desgarradas.

Aqui precisamente se encontra o principal de seu governo neste mundo: o Reino Sobrenatural que é realizado, na sua essência, através da graça e da santidade.

Nosso Senhor Jesus Cristo enquanto a "videira verdadeira" é a causa da vitalidade dos ramos. A seiva que por eles circula, alimentando flores e frutos, tem sua origem n'Aquele Unigênito do Pai (Jo 15, 1-8). Ele é a Luz do Mundo (Jo 1, 9; 3, 19; 8, 12; 9, 5) para auxiliar e dar vida aos que dela quiserem se servir para evitar as trevas eternas. Jesus - segundo a leitura de hoje - é "a cabeça do corpo que é a Igreja, é o Princípio, o Primogênito entre os mortos, de maneira que tem a primazia em todas as coisas, porque foi do agrado do Pai que residisse n'Ele toda a plenitude e que por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, pacificando pelo Sangue da sua Cruz, tanto as coisas da terra, como as do Céu" (Col 1, 18-20).

O Reinado de Cristo, em nosso interior, se estabelece pela participação na vida de Jesus Cristo. Só no Homem- Deus se encontra a plenitude da graça, enquanto essência, virtude, excelência e extensão de todos os seus efeitos. Os outros membros do Corpo Místico participam das graças que têm sua origem em Jesus, a cabeça que vivifica todo o organismo. Quem de maneira privilegiadíssima tem parte em grau de plenitude nessa mesma graça, é a Santíssima Virgem.

Dada a desordem estabelecida em nós após o pecado original, acrescida pelas nossas faltas atuais, nossa natureza necessita do auxílio sobrenatural para atingir a perfeição. Sem o sopro da graça, é impossível aceitar a Lei, obedecer aos preceitos morais, não elaborar razões falsas para justificar nossas más inclinações e conhecer, amar e praticar a boa doutrina de forma estável e progressiva. Ela refreia nossas paixões e as equilibra nos gonzos da santidade, orienta nosso espírito, modera nossa língua, tempera nosso apetite, purifica nosso olhar, gestos e costumes. É através da graça que nossa alma se transforma num verdadeiro trono e, ao mesmo tempo, cetro de Nosso Senhor Jesus Cristo. E é nessa paz e harmonia que se encontra nossa autêntica felicidade, e esse é o Reino de Cristo em nosso interior.


E qual o principal adversário contra esse Reino de Cristo sobre as almas? O pecado! Por isso mesmo, se alguém tem a desgraça de o cometer, nada fará de melhor do que procurar um confessionário e com arrependimento ali declará-lo a fim de ver-se livre da inimizade de Deus. É impossível gozar de alegria com a consciência atravessada pelo aguilhão de uma culpa. Nessa consciência não reinará Cristo; e se ela não se reconciliar com Deus, aqui na terra, tampouco reinará com Ele na glória eterna.



III - A IGREJA, MANIFESTAÇÃO SUPREMA DO REINADO DE CRISTO



O júbilo e às vezes até mesmo a emoção, penetram nossos co rações ao contemplarmos estas inflamadas palavras de São Paulo: "Cristo amou a Igreja e Se entregou a Si mesmo por ela, para a santificar, purificando-a no batismo da água pela Palavra, para apresentar a Si mesmo esta Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e imaculada" (Ef 5, 25-27).

 
Porém, ao analisarmos a Igreja militante, na qual hoje vivemos, com muita dor encontramos imperfeições - ou pior ainda, faltas veniais - nos mais justos, conferindo opacidade a essa glória mencionada por São Paulo. Entre as ardentes chamas do Purgatório, está a Igreja padecente, purificando-se de suas manchas. Até mesmo a triunfante possui suas lacunas, pois, exceção feita da Santíssima Virgem, as almas dos bem-aventurados foram para o Céu deixando seus corpos em estado de corrupção nesta terra, onde aguardam o grande dia da Ressurreição.

 
Portanto, a "Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e imaculada" , manifestação suprema da Realeza de Cristo, ainda não atingiu sua plenitude.

E quando definitivamente triunfará Cristo Rei? Só mesmo depois de derrotado seu último inimigo, ou seja, a morte! Pela desobediência de Adão, introduziram-se no mundo o pecado e a morte. Pelo seu Preciosíssimo Sangue Redentor, Cristo infunde nas almas sua graça divina e aí já se dá o triunfo sobre o pecado. Mas a morte será rendida com a Ressurreição no fim do mundo, conforme o próprio São Paulo nos ensina:

Porque é necessário que Ele reine, ‘até que ponha todos os inimigos debaixo de seus pés'. Ora, o último inimigo a ser destruído será a morte; porque Deus ‘todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés' " (I Cor 15, 25- 26).

Cristo Rei, por força da Ressurreição que por Ele será operada, arrancará das garras da morte a humanidade inteira, como também iluminará os que purgam nas regiões sombrias. Ao retomarem seus respectivos corpos, as almas bem-aventuradas farão com que eles possuam sua glória; e assim, serão também os eleitos outros reis cheios de amor e gratidão ao Grande Rei. Apresentarse- á o Filho do Homem em pompa e majestade ao Pai, acompanhado de um numeroso séqüito de reis e rainhas, tendo escrito em seu manto: "Rei dos reis e Senhor dos senhores" (Apoc 19, 16)


IV - SE CRISTO É REI, MARIA É RAINHA

Se Cristo é Rei por ser Homem-Deus e recebeu o poder sobre toda a Criação no momento em que foi engendrado, daí se deduz ter sido realizada no puríssimo claustro maternal de Maria Virgem a excelsa cerimônia da unção régia que elevou Cristo ao trono de Rei natural de toda a humanidade. O Verbo assumiu de Maria Santíssima nossa humanidade, e assim adquiriu a condição jurídica necessária para ser chamado Rei, com toda a propriedade. Foi também nesse mesmo ato que Nossa Senhora passou a ser Rainha. Uma só solenidade nos trouxe um Rei e uma Rainha.



V - CONCLUSÃO


Agora sim, estamos aptos a entender e amar a fundo o significado do Evangelho de hoje. A resposta ao povo e aos príncipes dos sacerdotes que escarneciam contra Jesus: "Salvou os outros, salve-Se a Si mesmo, se é o Cristo, o escolhido de Deus" (v. 35), como também aos próprios soldados romanos em seus insultos: "Se és o Cristo, salva-Te a Ti mesmo" (v. 37), transparece claramente nas premissas até aqui expostas.

Eles eram homens sem fé e desprovidos do amor a Deus, julgando os acontecimentos em função de seu egoísmo e por isso levados a se esquecerem de sua contingência. Cegos de Deus, já há muito afastados de sua inocência primeva, perderam a capacidade de discernir a verdadeira realidade existente por trás e por cima das aparências de derrota que revestiam o Rei eterno transpassado de dor sobre o madeiro, desprezado até pelas blasfêmias de um mau ladrão. Não mais se lembram dos portentosos milagres por Ele operados, nem sequer de suas palavras: "Julgas porventura que Eu não posso rogar a meu Pai e que poria já ao meu dispor mais de doze legiões de anjos?" (Mt 26, 53). Sim, se fosse de sua vontade, numa fração de segundo poderia reverter gloriosamente aquela situação e manifestar a onipotência de sua realeza, mas não o quis, como o fez em outras ocasiões: "Jesus, sabendo que O viriam arrebatar para O fazerem rei, retirou-se de novo, Ele só, para o monte" (Jo 6, 15).



Quem discerniu em sua substância a Realeza de Cristo foi o bom ladrão, por se ter deixado penetrar pela graça. Arrependido em extremo, aceitou compungido as penas que lhe eram infligidas, e reconhecendo a Inocência de Jesus no mais fundo de seu coração, proclamou os segredos de sua consciência para defendê-La das blasfêmias de todos: "Nem tu temes a Deus, estando no mesmo suplício? Quanto a nós se fez justiça, porque recebemos o castigo que mereciam nossas ações, mas Este não fez nenhum mal" (vv. 40-41). Eis a verdadeira retidão. Primeiro, humildemente ter dor dos pecados cometidos; em seguida, com resignação abraçar o castigo respectivo; por fim, vencendo o respeito humano, ostentar bem alto a bandeira de Cristo Rei e aí suplicar- Lhe: "Senhor, lembra-Te de mim, quando entrares no teu Reino!" (v. 42)

Tenhamos sempre bem presente que só pelos méritos infinitos da Paixão de Cristo e auxiliados pela poderosa mediação da Santíssima Virgem nos tornaremos dignos de entrar no Reino.

Seguindo os passos da conversão final do bom ladrão, poderemos esperar com confiança ouvir um dia a voz de Cristo Rei dizendo também a nós: "Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso" (v. 43).



1 ) cf. Hb 1, 2-5.

2 ) Enarrat. in Ps. 5 n. 3: PL 37, 83

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Eis uma solução eficaz para todas as crises atuais: a celebração solene da festa de Cristo Rei

Assim se exprime o Papa Pio XI a esse respeito:

Cristo, fonte da verdadeira Paz


Se soubessem os homens resolver-se a reconhecer a autoridade de Cristo em sua vida particular e pública, deste ato para logo dimanariam em toda a humanidade incomparáveis benefícios: uma justa liberdade, a ordem e o sossego, a concórdia e a paz (...).


Se os príncipes e governos legitimamente constituídos tivessem a persuasão de que regem menos no próprio nome do que em nome e lugar do Rei Divino, é manifesto que usariam do seu poder com toda a prudência, com toda a sabedoria possíveis em legislar e na aplicação das leis, como haveriam de atender ao bem comum e à dignidade humana de seus súditos! Então floresceria a ordem, então veríamos difundirem- se e firmarem-se a tranqüilidade e a paz (...).


Oh! que ventura não pudéramos gozar, se os indivíduos, se as famílias, se a sociedade se deixasse reger por Cristo! "Então finalmente - para citarmos as palavras que, há 25 anos, o Nosso Predecessor Leão XIII dirigia aos bispos do mundo inteiro - fora possível sanar tantas feridas; o direito recobraria seu antigo viço, seu prestígio de outras eras; tornaria a paz com todos os seus encantos. e cairiam das mãos armas e espadas, quando todos de bom grado aceitassem o império de Cristo, Lhe obedecessem, e toda língua proclamasse que Nosso Senhor Jesus Cristo está na glória de Deus Padre" (Enc Annum Sacrum) (...).

As festividades, mais eficazes que os documentos.

A fim de que a sociedade cristã goze largamente de tão preciosas vantagens, e para sempre as conserve, é mister que se divulgue quanto possível o conhecimento da dignidade real de Nosso Salvador.  Ora, nada pode, pelo que nos parece, conseguir melhor este resultado, do que a instituição de uma festa própria e especial em honra de Cristo Rei.

Com efeito, para instruir o povo nas verdades da fé e levá-lo assim às alegrias da vida eterna, mais eficazes que os documentos do Magistério eclesiástico são as festividades anuais dos sagrados mistérios. Os documentos do Magistério, de fato, apenas alcançam. um restrito número de espíritos mais cultos, ao passo que as festas atingem e instruem a universalidade dos fiéis.  Os primeiros, por assim dizer, falam uma vez só, as segundas falam sem intermitência de ano para ano; os primeiros dirigem-se, sobretudo, ao entendimento; as segundas influem não só na inteligência, mas também no coração, quer dizer, no homem todo.  Composto de corpo e alma, precisa o homem dos incitamentos exteriores das festividades, para que, através da variedade e beleza dos sagrados ritos, recolha no ânimo a divina doutrina, e, transformando- em substância e sangue, tire dela novos progressos em sua vida espiritual.

Além disso, ensina-nos a própria História, que estas festividades litúrgicas foram introduzidas no decorrer dos séculos, umas após outras, para responder a necessidades ou vantagens espirituais do povo cristão. Foram-se constituindo para fortalecer os ânimos em presença de algum inimigo comum, para premunir os espíritos contra os ardis da heresia, para mover e inflamar os corações a celebrar com a mais ardente piedade algum mistério de nossa fé ou algum benefício da divina graça (...) Assim se deu com a festa de Corpus Christi, instituída quando se esfriava a reverência e o culto para com o Santíssimo Sacramento.

Instituição da festa

A festa, doravante anual, de "Cristo-Rei" dá-nos a mais viva esperança de acelerarmos a tão desejada volta da humanidade a seu Salvador amantíssimo (...) Uma festa, anualmente celebrada por todos os povos em homenagem a Cristo-Rei, será sobremaneira eficaz para condenar e ressarcir, de algum modo, esta apostasia pública (...).

Portanto, em virtude de Nossa autoridade apostólica, instituímos a festa de "Nosso Senhor Jesus Cristo Rei", mandando que seja celebrada cada ano, no mundo inteiro, no último domingo de outubro (...) porque ele, em certo modo, encerra o ciclo do ano litúrgico. Destarte, os mistérios da vida de Jesus Cristo, comemorados no decorrer do ano que finda, terão na solenidade de "Cristo-Rei" seu como termo e coroa.

Fonte:
(Revista Arautos do Evangelho, Nov/2004)