quarta-feira, 28 de novembro de 2018

6ª Exposição Internacional de Presépios




Com o tema “Nós vimos uma estrela no Oriente!”, tem início na sexta-feira, 30 de novembro, no Mosteiro de São Bento, no Centro de São Paulo, a tradicional Exposição Internacional de Presépios.

Já na sua 6ª edição, o visitante poderá contemplar representações do nascimento de Jesus de vários países e estados brasileiros, confeccionados com os mais diversos materiais.

O grande destaque da exposição é o presépio mecânico do mosteiro, com mais de 100 peças e cerca de 4 metros de extensão. Ele foi artesanalmente construído com moinhos de vento, cachoeira, fontes e residências, e mostra o cotidiano de uma pequena cidade com todas as profissões de seus moradores. Este presépio foi construído durante 40 anos por Alcides Martins Tedeschi. O artista doou a obra ao mosteiro, em 2009, ano de seu falecimento.

Por ter um espaço propício à visitação dos fiéis e turistas que visitam diariamente, os monges tiveram a preocupação pastoral de exibir alguns dos presépios existentes na clausura do mosteiro, dando a oportunidade de serem apreciados pelos visitantes.

Ao todo são 30 presépios expostos na 6ª Exposição Internacional de Presépios do Mosteiro de São Bento de São Paulo, que poderá ser conferida até o dia 28 de dezembro de 2018, com entrada gratuita.




Horários :
. Segunda à sexta-feira, das 8h às 17h.
. Sábado, das 8h às 12h.
. Domingo, das 11h20 às 12h.

Mosteiro São Bento de São Paulo
Largo de São Bento, s/n – Centro 
(Estação São Bento do metrô)
Mais informações: (11) 3328-8799



segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Bento XVI: diálogo com os judeus, não missão


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

  PUSHKIN,CAT,POPE BENEDICT
*Artigo de Vatican News


‘Não se trata de ‘missão’, mas de ‘diálogo’ : é o que Bento XVI diz numa ‘correção’ enviada à revista católica alemã ‘Herder Korrespondenz’ sobre um artigo assinado pelo teólogo de Wuppertal, Michael Böhnke, que na edição de setembro da revista havia comentado o pensamento do Papa emérito sobre a relação entre judeus e cristãos.

O judaísmo e o cristianismo – afirma Bento XVI – são ‘duas maneiras de interpretar as Escrituras’. Para os cristãos, as promessas feitas a Israel são a esperança da Igreja e ‘quem se apega a elas não questiona de modo algum os fundamentos do diálogo judaico-cristão’. As acusações contidas no artigo – continua -, são ‘absurdos grotescos e não têm nada a ver com o que eu disse sobre isso. Por isso rejeito seu artigo como uma insinuação absolutamente falsa’.

Entre outras coisas, Böhnke escrevera que Bento XVI teria mostrado, em um artigo publicado em julho passado na revista ‘Communio’, uma compreensão problemática do judaísmo e mantido silêncio sobre os sofrimentos que os cristãos causaram aos judeus.

Na sua ‘retificação’, Bento XVI aborda – ao lado de outros aspectos teológicos – também a delicada questão da missão aos judeus, isto é, à questão se a Igreja deve anunciar aos judeus a Boa Nova de Cristo. ‘Uma missão aos judeus não está prevista e nem é necessária’, escreve literalmente Ratzinger. É verdade que Cristo enviou seus discípulos em missão a todos os povos e culturas. Por essa razão, ‘o mandato da missão é universal – com uma exceção : a missão aos judeus não estava prevista e não era necessária simplesmente porque só eles, entre todos os povos, conheciam o ‘Deus desconhecido’.

Quanto a Israel, portanto – explica Bento XVI – não se trata de missão, mas de diálogo sobre a compreensão de Jesus de Nazaré : é ‘o Filho de Deus, o Logos’, esperado – de acordo com as promessas feitas ao seu próprio povo – por Israel e, inconscientemente, por toda a humanidade? Retomar esse diálogo é ‘a tarefa que nos coloca o momento presente’.

A ‘correção’, relatada por Kna, está incluída na edição de dezembro de ‘Herder Korrespondenz’ e é assinada ‘Joseph Ratzinger-Bento XVI’.

Recordamos que o escrito do Papa emérito na revista ‘Communio’ foi considerado como um aprofundamento de um novo Documento publicado em 2015 pela Comissão da Santa Sé para as relações religiosas com o judaísmo intitulado ‘Porque os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis’ Rom 11,29). Reflexões sobre questões teológicas relacionadas às relações católico-judaicas por ocasião do 50º aniversário da Declaração conciliar Nostra aetate. O documento foi apresentado entre outros pelo cardeal Kurt Koch, presidente da Comissão para as relações religiosas com o Judaísmo. No parágrafo 6 do texto, lemos :

É fácil entender que a chamada ‘missão dirigida aos judeus’ é uma questão muito difícil e sensível para os judeus, pois, aos seus olhos, diz respeito à própria existência do povo judeu. Também para os cristãos, é uma questão delicada, porque consideram de fundamental importância o papel salvífico universal de Jesus Cristo e a consequente missão universal da Igreja. A Igreja, portanto, deve entender a evangelização dirigida aos judeus, que acreditam no único Deus, de uma maneira diferente daquela dirigida àqueles que pertencem a outras religiões ou têm outras visões do mundo. Isto significa concretamente que a Igreja Católica não conduz ou encoraja qualquer missão institucional dirigida especificamente aos judeus. Tendo presente a rejeição – por princípio – de uma missão institucional dirigida aos judeus, os cristãos são chamados a testemunhar sua fé em Jesus Cristo também diante dos judeus; porém, devem fazê-lo com humildade e sensibilidade, reconhecendo que os judeus são portadores da Palavra de Deus e tendo em mente a grande tragédia da Shoah’.’


Fonte :

domingo, 25 de novembro de 2018

Ventos de mudança para o catolicismo?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Imagem relacionada
*Artigo de Mirticeli Dias de Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja


‘O último sínodo para os bispos, que foi dedicado aos jovens, sinalizou o quanto a Igreja Católica na era Francisco assume uma postura diferente diante do homem moderno. Dizer que o atual pontificado não traz nenhuma novidade demonstra um total desconhecimento em relação ao magistério contemporâneo. Desde João XXIII, nenhum outro pontífice havia abalado as estruturas da cúria romana - no bom sentido do termo - da maneira que o atual tem feito. E aqui não se trata somente de uma mudança do ponto de vista organizacional, mas no tocante à natureza desse organismo que, há quase um milênio, assume a tarefa de auxiliar o papa no governo da Igreja.

Até o século XI, não existia propriamente uma cúria, mas uma rede de colaboradores do romano pontífice dotado de plenitudo potestatis, ou seja, que reunia na mesma pessoa as funções de legislar, julgar e governar. Desse período em diante, a cúria passou a ser um órgão de centralização administrativa e jurídica, dividida em departamentos, tribunais e comissões. A mudança que Francisco promove nessa estrutura, não é só para ampliar sua representatividade internacional - algo iniciado por Paulo VI - mas de transformá-la em um instrumento de unificação e de serviço para o restante da Igreja Católica, deixando de lado um pouco do espírito autorreferencial que a caracterizou durante séculos. E é por isso que, em 2019, como divulgamos na semana passada, se espera a oficialização de uma transformação que, sorrateiramente, já se nota : Paolo Ruffini, atual secretário para a comunicação vaticana, é o primeiro leigo da história a ocupar o cargo de presidente de um conselho pontifício. Além disso, é de se esperar que o próximo ‘prefeito’ para a Congregação para os leigos, vida e família seja um leigo ou uma leiga, o que não é factível até o momento, porque, pela regra promulgada por João Paulo II, apenas um cardeal pode presidir uma congregação. A nova constituição sobre a cúria romana poderá flexibilizar esse item, permitindo, dessa forma, que não somente os prelados exerçam a autoridade suprema nesses dicastérios.

João Paulo II e Bento XVI, apesar das boas intenções, foram papas que acabaram sendo absorvidos pela estrutura. E é por isso que se intuía, às vésperas do conclave de 2013, que um papa ‘não curial’ poderia fazer a diferença e seria necessário para os tempos de hoje. Em um passado não muito distante, mais precisamente na década de 60, foram as resistências impostas pela cúria que impediram Paulo VI de levar adiante o espírito revolucionário de João XXIII, o papa bom; o mesmo que, corajosamente, em meio ao advento do feminismo, disse que as mulheres ‘estão no mesmo nível dos homens’, destacando a complementaridade entre homem e mulher.

Pela primeira vez na história, um evento eclesial organizado pelo Vaticano reitera que as mulheres devem, sim, participar ativamente das decisões da Igreja : e em todas as instâncias (uma novidade em absoluto!). Apesar de o assunto já ter sido tratado em outras ocasiões pelo Papa Francisco, é a primeira vez que o episcopado do mundo inteiro, representado pelos padres sinodais, em outubro deste ano, apresentou a questão sem reservas - algo que, até um tempo atrás, era impensável. E em meio a esses ventos de novidade, a comissão instituída por Francisco para debater a possibilidade do diaconato feminino ganha corpo. Uma das vozes católicas mais sensíveis à questão feminina, o cardeal alemão Reinhard Marx, disse que já passou da hora de discutir seriamente o assunto.

 O que esperar do ano que vem? Teremos Sínodo sobre a Amazônia, o lançamento da nova constituição apostólica de reforma da cúria romana e visitas apostólicas internacionais a países jamais visitados que poderão definir os rumos da Igreja daqui para frente. Se até agora todos se surpreenderam com as mudanças, é hora de se preparar para um ano rico em debates, no qual o catolicismo se deparará com seus maiores tabus e demonstrará, a partir disso, que tipo de diálogo pretende manter ou inaugurar com a sociedade contemporânea.’


Fonte :

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

O mundo reconciliado em Cristo


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Imagem relacionada
*Artigo do Padre Geovane Saraiva,
Pároco de Santo Afonso de Fortaleza, CE,
e vice-presidente da Previdência Sacerdotal


‘No esforço de superar tudo o que ficou para trás, na seriedade do projeto de Deus, como é indispensável ao homem a graça sincera da conversão! A criatura humana, quanto mais se envolve e experimenta a graça do Deus que se fez homem e que assumiu a sua condição, mais ele se depara, no seu estado frágil e pecador, com o mistério do amor de Deus, que quer o homem livre, que, no excelso mistério, é chamado a construir comunhão com os irmãos.

O amor de Deus por nós é de tal modo envolvente que enche todo o nosso ser, indicando-nos, tal amor, o caminho da vida futura e definitiva, tendo por sua base, ou fundamento, o referido amor como mandamento maior. Amor esse incontestável, que, na morte e ressurreição de Jesus, assegura-nos o céu, que, sem sombra de dúvida, torna-se explícito e óbvio na ótica da fé — no Corpo do Senhor, a Igreja. Nela se encontram os membros reunidos, com Cristo, junto de Deus, como na expressão de Santo Agostinho : ‘Depois desta vida, o próprio Deus é o nosso lugar, é o nosso existir’.

Assim sendo, o homem participa da magnífica e misteriosa realidade celestial, à medida que participa da vida de Cristo, que na sua morte e ressurreição, aos olhos da fé, o vemos confundindo-se com Deus, e Deus mesmo envolve a criatura humana no inquestionável mistério. Pela obediência de Jesus, ao morrer na cruz, dá-se o acabamento da vontade de Deus em toda a sua plenitude, entendida no homem Jesus, que se encontra com Deus.

Constata-se, a partir dessa afirmação, um céu inequívoco, quando fé e amor se entrelaçam, andam juntos. Não é uma realidade distante e dissociada, só repositório da morte. É algo perto, sim, mas que, pela vivência do batismo, inicia-se aqui neste mundo, à medida que o ser humano se configura com Jesus de Nazaré e com Ele entra na sua lógica, resoluto e seguro da promessa de novas criaturas.

Entendendo-se aqui a Igreja — Corpo de Cristo — no mistério de sua magnitude cristológica, mas sem esquecer de sua grandeza eclesiológica, que, ao se tratar da pessoa humana, também é socialmente vasta, muito viva na linguagem simbólica do banquete nupcial, concreta, quando a comunidade dos batizados participa e se alimenta na mesma mesa, na ceia eucarística, prenúncio e antecipação de novo céu e nova terra, na realização da salvação de todos em Deus. Amém!’


Fonte :

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Papa Francisco : Bento XVI ensina a olhar com coragem os problemas de nosso tempo


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
  
Papa Francisco e Bento XVI em um encontro de 2017


‘O Papa Francisco incentivou a prosseguir o estudo do legado de Bento XVI e assinalou que o Papa Emérito ensina a olhar com coragem e esperança os problemas de nosso tempo.

O Santo Padre falou sobre isso na audiência concedida aos membros da Fundação Joseph Retingir – Bento XVI, no sábado, 17 de novembro, para conferir o Prêmio Retingir 2018, que foi entregue a teólogo católica alemã Marianne Schlosser, especialista em São Boaventura, e ao arquiteto suíço Maria Botta, que desenhou e construiu várias igrejas.

Sobre Schlosser, o Papa destacou que ‘é muito importante que seja reconhecida cada vez mais a contribuição feminina no campo da pesquisa teológica científica e do ensino da Teologia, por muito tempo considerados campos quase exclusivos do clero’.

Sobre Maria Bota, o Santo Padre ressaltou que ‘o compromisso do arquiteto criador de locais sagrados na cidade dos homens é de grande valor, e deve ser reconhecido e incentivado pela Igreja, em particular quando se corre o risco do esquecimento da dimensão espiritual e da desumanização dos espaços urbanos’.

Em seguida, Francisco disse que ‘esta é uma bela ocasião para dirigir juntos nosso pensamento afetuoso e grato ao Papa Emérito Bento XVI. Como admiradores de sua herança cultural e espiritual, vocês receberam a missão de cultivá-la e fazer com que continue frutificando, com aquele espírito fortemente eclesial’ que sempre caracterizou Joseph Retingir.

O seu é um espírito que olha com consciência e coragem os problemas de nosso tempo e sabe extrair da escuta da Escritura na tradição viva da Igreja a sabedoria necessária para um diálogo construtivo com a cultura de hoje’, destacou.

Nesse sentido, prosseguiu o Santo Padre, ‘encorajo-os a continuar estudando os seus escritos, mas também a enfrentar os novos temas com os quais a fé é chamada a dialogar, como os que foram evocados por vocês e que eu considero muito atuais, desde o cuidado da Criação como Casa comum e a defesa da dignidade da pessoa humana’.

Do mesmo modo, o Pontífice sublinhou que, ‘no contexto dos grandes problemas do nosso tempo, a teologia e a arte devem seguir estando incentivados e elevados pela potência do Espírito, fonte de força, alegria e esperança’.

Em seguida, o Papa recordou uma reflexão que Bento XVI fez há alguns anos sobre São Boaventura e a esperança.

Uma bela imagem da esperança a encontramos num de seus sermões do Advento, onde ele compara o movimento da esperança ao voo do pássaro, que abre as asas da maneira mais ampla possível, e para movê-las emprega todas as suas forças. Faz de si mesmo um movimento para subir e voar. Esperar é voar, diz São Boaventura. Mas a esperança exige que todos os nossos membros se movam e projetem-se em direção ao verdadeiro auge do nosso ser, em direção às promessas de Deus. Quem espera, diz ele, ‘deve levantar a cabeça, voltando para o alto os seus pensamentos, em direção à altura e de nossa existência, ou seja, em direção a Deus’’, disse Bento XVI no cidade italiana de Bagnoregio, em setembro de 2009.

Para concluir, o Papa Francisco agradeceu aos ‘teólogos e arquitetos que ajudam a levantar a cabeça e a dirigir nossos pensamentos para Deus. Desejo-lhes o melhor neste nobre trabalho para que sempre se dirija a este fim’.’


Fonte :

sábado, 17 de novembro de 2018

A sabedoria dos ciclos da vida


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 ROZWÓJ I MODLITWA

*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG


‘A sabedoria dos ciclos ensina, com simplicidade, que a vida se configura a partir de elos que se abrem e se fecham. Importante saber a hora certa para iniciar um ciclo ou fechá-lo. Administrar de forma equivocada os ciclos da vida resulta em perdas. Paga-se caro pela falta de sabedoria na gestão de diferentes fases. Trata-se, obviamente, de um desafiador processo existencial. Por falta dessa sabedoria, tropeça-se nas escolhas. E a vida é feita de escolhas.

Perde-se muito com a incompetência para conduzir processos. Os resultados são atropelos e descompassos, gerando prejuízos. Desperdiça-se a oportunidade para ganhos que poderiam levar indivíduos e a sociedade a alcançarem metas importantes. Essa incompetência em reger processos deriva, em parte, da síndrome da desconexão : a pessoa desconhece qual é o seu lugar e a relevância da sua participação em ambientes institucionais, segmentos diversos ou mesmo no contexto mais amplo da sociedade.

As opiniões são desconexas, indivíduos se acham os ‘donos’ da verdade – pura ilusão.  Essa síndrome leva à perda da capacidade para discernir e interpretar a realidade. Consequentemente, mistura-se tudo, sem adequada leitura dos cenários sociopolíticos, culturais, religiosos, entre tantos outros. Perde-se a noção dos ciclos da vida. Saber reconhecê-los é fundamental para identificar e gerir bem as muitas etapas, desde seu início, o desenrolar dos processos, até o momento de sua conclusão.

Somente assim pode-se alcançar conquistas, pois a vida, em sua complexidade, é muito mais que um conjunto de dados matemáticos. Exige sabedoria na articulação das muitas variáveis que definem cada ciclo, produzindo avanços e encontrando respostas, recuperando sentidos e reabilitando valores. A sabedoria dos ciclos na composição da vida pessoal, familiar, religiosa e política é uma referência civilizatória no tecido de uma sociedade, nas suas práticas sociais e políticas.

A inevitável experiência da morte revela uma verdade : os diferentes ciclos da vida, invariavelmente, chegam a um fim. Por isso, é preciso urgência em gerenciá-los bem, pois a morte – fim de um ciclo – não pode significar fracasso. Ao invés disso, deve representar a passagem para uma nova etapa. O Mestre ensina : a morte é caminho para uma vida que não passa, cuja garantia vem d’Aquele que morreu e ressuscitou, Jesus Cristo, o único Senhor e Salvador. Na morte de Jesus, a morte humana, experiência sob o signo do pecado, torna-se acesso à vida. Deus permanece fiel ao ressuscitar Jesus para uma vida nova.

Identificada com a morte de Cristo, a morte humana torna-se sacramento pascal da passagem deste mundo para o Pai. A morte, assim, fecha um ciclo, o tempo que é dado a cada pessoa, como dom de Deus. Compreende-se, no horizonte desse desfecho decisivo, a importância de se gerenciar, com qualidade, os diversos ciclos da existência. É imprescindível qualificar-se, humana e espiritualmente, para reger os diferentes processos da vida, de modo adequado.

A sabedoria para se viver ciclos conta muito também na configuração ou recomposição do tecido social e político de uma sociedade. As eleições de 2018, com suas peculiaridades e muitos desafios, significaram o fechamento de um momento político. Agora, nos primeiros passos de uma nova etapa, é ainda mais fundamental a participação dos cidadãos, das instituições e diferentes segmentos da sociedade. Configura-se no horizonte a exigência de reformulações profundas, a substituição de dinâmicas, a adoção de técnicas modernas para respostas eficazes. Um tempo para repensar e redefinir a sociedade brasileira.

Não falte lucidez para o mea culpa que se fizer necessário, nem a abertura para o diálogo, de modo a superar intolerâncias. Assim não se perderá o valor da democracia. Cada pessoa e diferentes instituições estarão unidas para superar destrutivas polarizações e acusações. As muitas diferenças não serão obstáculos para os avanços, pois prevalecerá a força da unidade e da comunhão que permitem ao povo se reconhecer como pertencente a uma mesma pátria. Avanços e correções, conquistas e novas respostas serão possíveis se todos forem aprendizes da sabedoria dos ciclos.’


Fonte :

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Tutela da dignidade da pessoa humana, defendem Bento XVI e Francisco

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Papa Francisco visita Bento XVI no Mosteiro Mater Ecclesiae
Papa Francisco visita Bento XVI no Mosteiro Mater Ecclesiae

*Artigo de Mariangela Jaguraba


‘Teve início, nesta quinta-feira, em Roma, o simpósio internacional Direitos fundamentais e conflitos entre os direitos, promovido pela Fundação Vaticana Joseph Ratzinger-Bento XVI junto com a Universidade Lumsa (Libera Università Maria Santissima Assunta).

Para a ocasião, o Papa emérito Bento XVI enviou uma carta ao presidente da fundação Joseph Ratzinger-Bento XVI, pe. Federico Lombardi, que foi lida na abertura do evento, esta manhã.

Convivência da família humana

Na missiva, Bento XVI manifesta seu apreço pela iniciativa, ‘considerando-a extraordinariamente útil’. Segundo o Papa emérito, é importante falar claramente sobre a ‘problemática da ‘multiplicação dos direitos’ e do risco da ‘destruição da ideia de direito’’.

É uma questão atual e fundamental a fim de tutelar as bases da convivência da família humana, que merece ser novamente tema de uma reflexão profunda e sistemática, conforme demostrado pelo programa do simpósio’, destaca Bento XVI na carta.

O Papa emérito manifesta aos relatores e participantes do encontro sua estima e proximidade na oração ‘a fim de que o Senhor abençoe os trabalhos como um serviço precioso para a Igreja e o bem da família humana’.

Remover os muros de separação

O Papa Francisco também enviou uma carta a pe. Lombardi, por ocasião do simpósio.

O Pontífice recorda o aproximar-se do aniversário de 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, sublinhando que ‘é oportuno não somente celebrar a memória desse evento histórico, mas também estabelecer uma reflexão profunda sobre a implementação e o desenvolvimento da visão dos direitos humanos no mundo atual’.

No discurso ao Corpo Diplomático, em janeiro passado, dedicado a essa declaração, Francisco observa que esse documento ‘visa remover os muros de separação que dividem a família humana e favorecer o desenvolvimento humano integral’.

O Papa destaca que ‘no decorrer dos anos, a interpretação de alguns direitos foi mudando progressivamente, a fim de incluir uma diversidade de novos direitos, muitas vezes em oposição um ao outro. Abre-se assim, uma série de problemas que envolvem profundamente a ideia de direito e seus fundamentos.’

A propósito de Bento XVI

Francisco recorda que ‘o Papa emérito Bento XVI sentiu com lucidez a urgência dessas temáticas para o nosso tempo e interveio com autoridade sobre isso como pensador e como pastor. Por isso, vinte anos atrás a Universidade Lumsa concedeu ao cardeal Ratzinger a laurea honoris causa em Jurisprudência’.

Francisco conclui a missiva, desejando que esse simpósio, obtendo inspiração do pensamento e do magistério do Papa emérito Bento XVI, ‘possa contribuir com coragem e profundidade a iluminar uma problemática essencial para a tutela da dignidade da pessoa humana e seu desenvolvimento integral’.’


Fonte :

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Itália: Uma história feita de nomes

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Resultado de imagem para migrantes na italia
*Artigo de Domenico Guarino,
Missionário Comboniano


 ‘Um grupo de missionários combonianos e leigos missionários combonianos trabalham em rede com associações, organizações e movimentos num esforço para defender os direitos dos imigrantes e refugiados que chegam às costas da Itália.

Desde Setembro de 2013, o porto de Palermo, na Sicília, tornou-se parte da linha de pontos de desembarque no Mediterrâneo, aonde chegam migrantes da África e de países de outros continentes. Após a sua chegada, estamos lá para dar estojos com roupas, sapato, um pacote de comida com um sanduíche, maçã e uma garrafa de água.

Não queremos simplesmente fornecer-lhes bens materiais, também tentamos recolher informações sobre como são tratados os migrantes que chegam, pois eles já estão sobrecarregados com experiências indescritíveis sofridas antes ou durante a viagem. Além disso, eles são totalmente ignorantes sobre o que esperar na Itália.

Infelizmente, em muitas ocasiões, os corpos daqueles que morreram no mar também chegam com os sobreviventes. Desde o início, a nossa preocupação tem sido seguir de perto e dar a esses corpos uma sepultura digna no cemitério de Palermo.

Todos os anos, em Novembro, no Dia de Todos os Santos, a sociedade civil se junta aos representantes de várias religiões para um serviço inter-religioso em sua memória. É um ato de solidariedade com as vítimas para denunciar as causas da sua morte, entre elas os acordos chocantes da Itália e, atrás da Itália, da Europa com a Líbia e outros terceiros que trabalham para bloquear ou rejeitar os migrantes.

Cultura de exclusão

Reconhecemos a disseminação de uma cultura de exclusão. Hoje, as pessoas sentem-se livres de qualquer responsabilidade social, qualquer laço com os outros, qualquer objetivo comum. É urgente concentrarmo-nos de novo nas histórias e na vida dos migrantes para enfrentar o racismo e a xenofobia, baseados em falsas suposições e em informações dominadas e manipuladas pelos meios de comunicação social.

Graças a atividades que promovemos nas escolas e nas paróquias, apresentamos as histórias dos migrantes, refazendo as várias fases das suas jornadas : as razões pelas quais partiram, a sua permanência na Líbia, que subverte as suas vidas para sempre, atravessando o Mediterrâneo e a sua chegada à Itália, onde acabam por ser meros números.

Ir além das mentiras, reconhecer e defender os direitos dos migrantes como pessoas são passos muito importantes na construção de uma sociedade intercultural e multicultural.

Em cooperação com organizações cívicas e eclesiais, compartilhamos espaços de alojamento para os migrantes e damos as boas-vindas aos projetos com a ideia de produzir reuniões de base e relações com o território. No processo de aceitação, há fases críticas ligadas especialmente ao tempo excessivo que permanecem nos centros de primeira aceitação e ao pequeno número de estruturas ou lugares especiais no SPRAR (Sistema de Proteção para os Requerentes de Asilo e Refugiados).

Em muitos casos, a inserção de migrantes transforma-se numa verdadeira loteria. Refletir sobre os migrantes significa repensar as nossas estruturas sociais, políticas e eclesiais. Significa ter a coragem de mudar a ordem atual das coisas.

Por fim, o elemento constante da nossa presença é a denúncia profética de pessoas e instituições que especulam com a falta de esperança dos migrantes, explorando o seu trabalho, ou daqueles que estão na base política, que acabam por se apropriar dos recursos destinados ao processo de chegada.

«Sempre que constrói uma parede», escreveu Calvino, «pense no que deixa do lado de fora.» O que hoje parece uma estrutura protetora, amanhã poderia tornar-se uma prisão. A vida desenvolve-se e cresce além da parede. Mas, se o medo é contagiante, também a coragem e a esperança o são.’


Fonte :

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

“Juju”: o vínculo surpreendente e assustador entre magia negra e tráfico humano

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 juju


 ‘São crescentes as notícias sobre mulheres nigerianas que foram subjugadas pelas máfias da exploração sexual e do tráfico de pessoas mediante o recurso ao terror provocado nelas por ritos de magia negra relacionados com o assim chamado ‘juju’.

Esse termo não se refere a um ritual específico, mas sim, de modo geral, a um conjunto tradicional de crenças animistas presentes na África Ocidental, em particular na Nigéria, e relacionadas com a magia negra. A palavra ‘juju’, em certo sentido, evoca um conceito semelhante ao de ‘tabu’ nas sociedades polinésias : tem a ver com o que é sobrenatural, assustador, poderoso e que não deve ser desafiado. É uma dimensão obscura do sobrenatural. Envolve seres malignos e vingativos com os quais seria possível fazer determinados pactos, selados durante rituais que incluem oferendas e sacrifícios de animais.

Ficará mais fácil começar a entender este conceito difuso com o exemplo que relataremos a seguir.

Em algumas regiões da Nigéria, mulheres jovens, muitas vezes ainda adolescentes, são recrutadas em seus povoados com falsas promessas de trabalho na Europa ou na Ásia. Pressionadas por suas famílias, que vislumbram nessas promessas a ilusória oportunidade de sair da pobreza, as jovens são induzidas a aceitar tais propostas – às vezes, no fundo, sabendo que o ‘trabalho’ envolverá a venda do próprio corpo, mas, na maioria dos casos, sem suspeitar do inferno que realmente as espera.

Aceitar essas ofertas de ‘trabalho’ implica aceitar também uma dívida altíssima, a ser paga em dólares ou euros : as máfias recrutadoras explicam que, do salário que vierem a receber, as jovens terão que destinar uma parte a saldar os seus custos com passagem, visto, hospedagem, alimentação. O que elas não sabem é que os valores da dívida serão inflados de modo impagável, amarrando-as a uma escravidão sem perspectivas de libertação. As dívidas, arbitrariamente determinadas pelos exploradores, frequentemente ultrapassam os 100 mil dólares.

Mas não é a soma estratosférica em dinheiro o que subjuga com mais eficácia as escravas nigerianas do terceiro milênio : é a aterrorizante ‘dívida espiritual’ que, sob pressão, elas acreditam que também estão assumindo ao aceitarem a ‘oferta de trabalho’.

É aqui que entra o ‘juju’.

Para comprovar o seu comprometimento em pagar a dívida, as jovens são submetidas a rituais de magia negra. Nessas cerimônias, são colhidas amostras de suas unhas, cabelos e até pelos púbicos. Tudo é misturado com o sangue de animais oferecidos em sacrifício durante o mesmo rito e levado em oferenda a obscuras divindades como um pacto irrevogável. Esse pacto é simples : as mulheres se comprometem a saldar completamente a dívida em dinheiro; do contrário, assumirão consequências espirituais aterrorizantes.

O ritual funciona, portanto, como uma espécie de ‘caução’, uma garantia ‘espiritual’ de que essas jovens de baixa educação formal, profundamente crédulas em tradições tribais imemoriais, pagarão a dívida assumida com os seus ‘recrutadores’ para não sofrerem a pavorosa maldição que recairia sobre elas próprias e sobre as suas famílias se rompessem o pacto. Apavoradas, elas se tornam reféns de corpo e de mente : longe de casa, transferidas quase sempre clandestinamente a países como Itália, Espanha, Turquia, vigiadas implacavelmente o tempo todo, elas são forçadas pela impossibilidade de pagar o impagável a se prostituírem diariamente, até dezenas de vezes por dia, durante anos e anos a fio, em condições de absoluta e abominável desumanização e terror psicológico.

Importante : quando se fala em ‘exploradores’, não se está falando apenas em vilões do sexo masculino. De acordo com o Escritório contra Drogas e Crime (Unodc), departamento da ONU, quase a metade dos traficantes humanos da Nigéria são mulheres. Conhecidas como ‘madames’, elas são, na maioria dos casos, ex-vítimas que se tornaram uma combinação de cafetinas, recrutadoras e sequestradoras : para tentarem escapar elas próprias da prostituição, passam a enganar outras mulheres e, por conseguinte, eternizam o ciclo de escravização humana sem que a consciência as consiga impedir.

O ‘juju’

Os rituais de ‘juju’ se contextualizam na complexa teia de crenças animistas que permeia as culturas tribais da África Ocidental.

animismo não é uma religião hierárquica e dogmaticamente organizada, mas uma visão de mundo em que, grosso modo, não há uma clara separação entre o material e o espiritual : praticamente tudo pode ser ‘habitado’ por espíritos, inclusive plantas, rochas, rios, trovões, o vento, as sombras. Essa visão de mundo engloba um conjunto amplo e polifacético de mitos cosmológicos e ritos mágicos que, no geral, não se voltam prioritariamente ao louvor de divindades ou à busca da salvação da alma, e sim à obtenção de soluções imediatas para problemas do dia-a-dia. Embora o animismo em si mesmo não seja uma religião institucionalizada, foram surgindo dele, ao longo do tempo, inúmeras manifestações religiosas mais definidas, que, trazidas com o tráfico de escravos entre África e América, estão hoje arraigadas em várias partes do Novo Mundo : é o caso, por exemplo, do vodu haitiano, da ‘santería’ cubana e das religiões afro-brasileiras, que, pelo processo de sincretismo religioso, foram também incorporando diversos aspectos do cristianismo.

A influência dessa ancestral visão de mundo também perdura na África Ocidental em paralelo com as grandes religiões monoteístas. De fato, na Nigéria, o Estado de procedência de quase 90% das escravas sexuais traficadas para a Europa é majoritariamente cristão : Edo, com cerca de 3 milhões de habitantes. Apesar de nominalmente cristã, grande parte da população local mantém vivos muitos elementos culturais caracteristicamente animistas.

Um deles é o sombrio conceito de ‘juju’.’


Fonte :