sábado, 30 de abril de 2016

Os peregrinos de Xeique Hussein

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Andrea Semplici


Etiópia : A Pequena Meca sufi

O pequeno túmulo do Xeique Hussein é o coração do santuário que acolhe milhares de peregrinos e o convertem na pequena Meca sufi.


‘Xeique Hussein, o santuário branco. Imaculado de cal. Brilha sob o sol na savana dos grandes planaltos do Oriente etíope. Esta é terra de fronteira entre Arsi e Bale, regiões muçulmanas. A qubba, a cúpula, pintada de novo para as grandes festas, é deslumbrante. Lugar santo do Islão etíope. Lugar dos sufis da África. É a Pequena Meca. «Para muitos muçulmanos da Etiópia, Xeique Hussein é a peregrinação – explica Teshome Berhanu Kemal, estudioso do Islão da África Oriental. Estão convictos de cumprir a obrigação da viagem a Meca, indo rezar junto do túmulo deste grande homem sábio. Durante séculos Meca esteve distante, demasiado distante da Etiópia e os fiéis não podiam ir até lá. Havia guerras nesta terra. E então vinha-se venerar o túmulo de Xeique Hussein

No fundo, também Maomé esteve aqui : veio visitar o seu discípulo, este xeique lendário que estava a pregar a nova religião em África, por volta do ano 1000. Conta-se que o Profeta veio da península arábica percorrendo um longo túnel subterrâneo. O Xeique Hussein e Maomé rezaram juntos numa gruta eremítica. «É preciso acreditar nisso – diz ainda Teshome. O Islão é uma fé de sonhos como o Cristianismo. As lendas são mais reais do que a realidade.»

Xeique Hussein é uma povoação distante e dispersa. Horas num todo-o-terreno pelas estradas principais da Etiópia. Não há um único automóvel. Quatro mil habitantes e um motociclo. Duas vezes por semana, nos dias de mercado, uma camioneta da carreira parte de madrugada para Jarra, a pequena cidade mais próxima. Não há eletricidade, só uma casa tem um gerador (e uma parabólica colossal). Cozinha-se com a lenha das acácias. Não há água corrente. As mulheres vão com os bidões amarelos às costas à cova da água santa no recinto do santuário do xeique. É preciso tirar o calçado para chegar ao charco conhecido como Dinkiro e depois remover uma camada de algas para poder beber e encher os bidões. A água de Xeique Hussein como a de zamzam de Meca.

Dia de Mawled. Aniversário de Maomé. É um dos três nos quais, todos os anos, uma multidão de peregrinos viaja até Xeique Hussein. Três vezes por ano os fiéis reúnem-se entre as antigas colunas da mesquita de Zuqxum. A mais antiga da povoação. Ao ler antigas crônicas, vê-se que o seu nome significa ‘Lugar dos estudantes’. Esta povoação alberga escolas alcorânicas, sabedorias rurais do mundo sufi. Muitos peregrinos empunham um bastão estranho e delgado, bifurcado e inútil. Tem a forma dos chifres de um bode. É conhecido como oulle xeique hussein, sinal e símbolo dos homens obcecados pelo culto do xeique, prova da sua grande fé.

De manhã, pequenos grupos de homens chegam dos campos. Trazem grandes cestos e recipientes de madeira. As mulheres não podem entrar na mesquita. Sentam-se em círculo. Ao lado uns dos outros, costas com costas. Os mais velhos cantam, entoam lengalengas de transe, recitam, balanceiam. É o dhikz, oração mística. É grande teatro religioso. Retiram-se as tampas dos cestos e dos frasco s: estão cheios de sopa de cevada com manteiga clarificada. Metemos as mãos lá dentro, passamos os alimentos de boca em boca.

Saímos da penumbra da mesquita. Detemo-nos ao ar livre. À sombra de um grande sicómoro. Árvore espiritual. Árvore do agradecimento pelos dons de Deus. Os velhos lêem suras, canta-se, reza-se, erguem-se as mãos para o céu, contam-se histórias do xeique. Há homens vestidos com roupas festivas e maltrapilhos com calças rotas. Queima-se incenso. Chegam, alegres, os rapazes das escolas alcorânicas. Têm folhetos escritos em árabe e um megafone. Recitam, gritam os louvores do Xeique Hussein. É quase uma competição. Um velho convida ao aplauso. Recolhe-se e distribui-se dinheiro. Chegam contentores cheios de mel. É festa tranquila, abençoada, feliz.

Surpreendente Islão da Etiópia. Lendo o recenseamento de 2007, os muçulmanos são pelo menos 25 milhões, 34 por cento da população. Dados falsos, segundo algumas autoridades islâmicas : ‘Somos pelo menos metade da população’, protestam. São muçulmanos os somalis, os afares, os argobbas, os hararis, grande parte dos oromos. Certamente sub-representados no Governo. Mas o Islão já escalou as altitudes do planalto etíope, terra cristã. O homem mais rico da Etiópia, Mohammed Hussein al-Amoudi (não só : é o quinto homem mais rico do mundo árabe, entre os vinte homens mais poderosos da África, o homem de pele negra com mais dinheiro, o 64.º entre os multimilionários da Terra), é muçulmano, o seu pai era saudita e a sua mãe etíope, tem o título de xeique e mandou construir uma mesquita ao lado do seu Sheraton de Adis-Abeba.

Vi muçulmanos e cristãos rezar juntos nos mesmos lugares. Vi muçulmanos deslocar-se a igrejas cristãs e peregrinos cristãos ir aos santuários islâmicos. O Islão da Etiópia é uma fé de convivência. Mas é preciso ter atenção e preocupação pelos riscos, os rumores, os falsos sinais : da península arábica chegam dinheiro e pregadores de um Islão conservador. Nascem mesquitas wahabitas. Que mal suportam as heresias dos sufis de Xeique Hussein e, em tempos recentes, procuraram impedir com as armas a peregrinação ao santuário. Há dois anos, o Governo etíope prendeu líderes islâmicos que considerava radicais e proibiu as ONG islâmicas. Como parecem distantes estas tensões, enquanto mergulho os meus dedos no mel.

O Xeique Hussein, porventura, viveu há mil anos. Talvez tenha vindo da península arábica como pregador. Ou, segundo outras crônicas, nasceu nestas terras e, depois dos estudos religiosos, voltou para a Etiópia para dar a conhecer a nova fé. O seu túmulo está no coração do santuário, protegido por uma grande cúpula. A arquitetura destas construções está modelada pela passagem de milhões de homens e mulheres : mãos e pés poliram a pedra e deram lustro às colunas. É preciso contorcer-se para entrar no túmulo. Os fiéis giram à volta da grande pedra, roçam o corpo nas colunas, caminham às escuras, ajoelham no chão. Todos passam a mão por entre os ladrilhos do pavimento. Esta terra é sagrada, é jawara, é argila. Roça o corpo do xeique. Os fiéis lambem a palma empoeirada da mão, sabor ácido na boca. Depois esfregam a cara: sinais húmidos e escuros na testa, no nariz, nas bochechas. Como numa Quarta-Feira das Cinzas. Cumpriram o rito da purificação.

Terra queimada que se torna cinza, água benta, árvores espirituais. O Islão do Xeique Hussein, filho da conversão das populações oromos, é sincrético. Não esquece a Natureza, os lugares secretos, as grutas, os antigos espíritos, as divindades dos bosques, das montanhas, das solidões. Se este santuário é a réplica de Meca, a cidade santa de Lalibela, planalto da Etiópia, é Jerusalém Negra, a Jerusalém da África. Aqui, como em Xeique Hussein, milhões de peregrinos chegam caminhando, roçam as pedras, rezam com as mãos erguidas para o céu e a cabeça no chão. Os cristãos como os muçulmanos bebem água santa, descansam e rezam debaixo de árvores espirituais, esfregam o rosto e a testa com cinzas, lambem e comem terra santa. Islão e Cristianismo encontram o seu caminho comum na ritualidade dos gestos, dos movimentos, na matéria.

À noite, durante horas sem fim, nos dias santos, em Xeique Hussein e em Lalibela, soam, obsessivos, os tambores. A oração torna-se sonolência. As mãos não se cansam. A voz é um ritmo que conduz ao sonho e abre as portas dos céus. Entre as basílicas de pedra dos cristãos como na cal branca dos santuários muçulmanos.’


Fonte :
* Artigo na íntegra


quinta-feira, 28 de abril de 2016

A senhora da água - Missão entre os Navajos

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Jessica Cugini

‘Chamam-na «a senhora da água» por ela, duas semanas por mês, percorrer centenas de quilometros para distribuir o ouro branco a 250 famílias que vivem no Novo México, no Leste dos EUA. Uma zona conhecida por ser habitada por uma população de nativos americanos, a mais numerosa : os Navajos.

As mulheres e os homens desta etnia estão concentrados naquela que é a maior reserva índia dos Estados Unidos. É aqui que vivem os Navajos, em habitações rústicas onde 40 por cento das 73 mil pessoas estão desprovidas de energia eléctrica e de água potável. Uma zona muitas vezes árida, em que todos os anos se tem de enfrentar um desconforto considerável : a falta de água para beber, cozinhar e tomar banho. É neste contexto que trabalha «a senhora da água», Darlene Arviso, uma mulher de 51 anos, de longos cabelos grisalhos, viúva e já avó. Também ela descendente desta gente da qual não deixa de cuidar.

Darlene, desde há sete anos, durante cinco dias por semana, duas vezes por mês, percorre centenas de quilometros a bordo de um caminhão amarelo posto à disposição pela missão índia de São Boaventura, fundada pelos Franciscanos espanhóis no longínquo 1782, uma realidade que hoje procura alcançar e dar assistência a todas aquelas famílias que habitam nas zonas isoladas. Provavelmente, se não fosse ela a prover à distribuição do ouro branco entre os Navajos, haveria outra pessoa a levar a cabo esta tarefa, mas de fato esta mulher de voz serena escolheu uma espécie de duplo trabalho para ajudar a sua gente.

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Está habituada a conduzir, pois é motorista profissional de uma carrinha escolar. Mas duas vezes por mês, durante dez dias, depois de deixar os «seus» meninos e meninas na escola, muda de meio de transporte, senta-se ao volante de uma furgoneta amarela da missão e começa a distribuir às 250 famílias navajo que vivem nas zonas mais dispersas da reserva dois bidões de plástico por família, contentores de mais de 200 litros cada um. Realmente, não são muito 400 litros para um mês inteiro e fazer face às necessidades diárias, mas se não fosse a determinação de Darlene, já considerada uma heroína entre esta gente, os Navajos nem isso teriam.

Além disso, Darlene não se limita a levar a água, muitas vezes acontece-lhe ter de ouvir as histórias das mulheres que a abordam, partilhar com estas famílias o desconforto que deriva das dificuldades de viver numa reserva onde se sentem afastadas de tudo e de todos. Muitas vezes, Darlene, antes de seguir para outro núcleo familiar, deixa o seu número de telemóvel de modo que estas mulheres a possam contatar em caso de outras necessidades. De fato, não é raro acontecer pedirem-lhe alimentos, cobertores ou medicamentos, e ela procura consegui-los, dirigindo o pedido à missão ou às pessoas que conhece na cidade.

A entrega da água é apenas uma das suas atividades, que decorrem da escuta e do saber-se útil aos outros. Nos dias em que sabe que tem de ir ter com as famílias dos nativos da América, a jornada da «senhora da água» começa muito cedo, às cinco da manhã, carregando de 3500 litros de água o camião amarelo. Depois de ter acompanhado à escola as crianças na sua carrinha escolar, senta-se ao volante do camião e percorre as centenas de quilometros para chegar às várias habitações dos Navajos, para regressar depois, na parte da tarde, à escola, recolher as crianças, levá-las a casa das respectivas famílias, e seguir finalmente para junto dos seus filhos e netos, para preparar o jantar. Até ao dia seguinte, quando recomeçará tudo de novo.

  
Os Navajos

Os Navajos fazem parte das populações nativas americanas. Hoje vivem numa grande reserva que se estende entre o Arizona Setentrional, o Utah e o Novo México, uma área muito vasta. O nome deste povo altivo deriva da língua tewa e significa «campo cultivado num pequeno curso de água».

Os Navajos atualmente são o povo mais numeroso de entre os nativos da América, pertencem à grande nação dos Apaches e distinguem-se por viver em clãs fundados sobre bases matrilineares : eram os homens que iam viver com a família da esposa e não o contrário.

Cada grupo considerava-se uma nação em si, viviam portanto dispersos sobre o território em aglomerados familiares extensos que, contrariamente ao que se possa pensar depois de ter visto os muitos filmes sobre a época western, recusava a guerra.

População inicialmente seminômade, vivem hoje de animais, entre ovelhas e cavalos, vendendo produtos artesanais e mostrando as belezas do seu território aos turistas cada vez mais numerosos.

A dos navajos foi uma das últimas nações de nativos americanos a render-se ao Governo. Em 1868 os Navajos são transferidos para a reserva onde atualmente vivem, a Navajo Nation, que goza de autonomia administrativa, conservando uma forte identidade ameríndia. Em 2014 os Navajos obtiveram da administração Obama a maior indenização no que diz respeito às causas legais movidas pelos nativos contra o Governo americano. Mas para muitos deles as condições de vida não mudaram.’


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segunda-feira, 25 de abril de 2016

África / Malawi - Estado de calamidade alimentar

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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‘‘O mês de junho vai trazer uma carência de alimentos que não se vê há gerações’, prevê padre Piergiorgio Gamba, missionário monfortano que enviou à Agência Fides uma nota sobre a dramática situação alimentar no Malawi.

Os depósitos estão vazios há tempos, mas foram necessários meses para que o governo encontrasse uma resposta a esta situação e somente em 12 de abril o Presidente declarou estado de calamidade em todo o país’, refere padre Gamba. ‘Foi como um passo inaceitável, aceitar ter sido vencido, ceder à oposição que desafiava o governo a agir no Parlamento’. Padre Gamba sublinha que ‘o Malawi, com seus 17 milhões de habitantes, consuma 3 milhões de toneladas de trigo por ano. A insistência para diversificar a produção agrícola, baseada apenas no milho, não teve resposta. Agora, a difícil lição desta crise está ensinando a semear tudo o que é comestível e que sobrevive em terrenos áridos, como faziam os africanos antes de o milho desaparecer: batata doce, soja e todas as verduras que foram colocadas de lado’. ‘Mas isto será para a próxima estação das chuvas, que chegará só no fim do ano. Por enquanto, é fome: as crianças não vão mais às aulas, filas de pessoas pedem o que comer todos os dias... e é apenas o início. O mês de junho trará uma falta de alimentos que não se vê há gerações’.

Alguns sinais da gravidade da situação são impressionantes : o Ministério do Interior, que é encarregado também dos cárceres e de seus 15 mil prisioneiros, não é capaz de garantir nenhuma refeição por dia de polenta e feijão, e talvez seja por isso que o Presidente concedeu o perdão, em um ano, a mais de 1500 detentos que já haviam cumprido metade de suas penas. Os hospitais que ofereciam refeições aos pacientes agora dão só um; os camponeses que tiveram a sorte de uma pequena colheita terminam vendendo-a para pagar as mensalidades escolares dos filhos ou medicamentos que os hospitais não fornecem, ou uma roupa comprada de segunda mão no mercado. Os jovens perdem peso visivelmente, não usam mais sapatos e vestem o uniforme da escola aos domingos, para ir rezar. Isto não acontecia nunca porque o uniforme era lavado domingo para ficar pronto para a semana. ‘Enquanto se espera que a comunidade internacional possa intervir com uma maciça importação de alimentos, o que a missão pode fazer? Estamos tentando manter ativos os pequenos e grandes projetos de construção, empregos salariados e de ensinamento que garantam uma renda, mesmo que mínima, manter ativos os projetos de Adoção à Distância, Escolas Maternas, Centros Juvenis, hospitais... tudo o que possa gerar um pequeno ganho, que consiga acompanhar o povo até o próximo ano’, conclui o missionário.’


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sábado, 23 de abril de 2016

Filosofia ubuntu

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 *Artigo de Padre Bernardino Frutuoso,
Missionário Comboniano


A humanidade de cada um de nós está ligada, indissoluvelmente, aos outros.

‘O conflito armado na Síria dura há cinco anos. Aquela que foi descrita como «miniguerra mundial» provocou, até ao momento, cinco milhões de refugiados, sete milhões de deslocados dentro do país e um número de mortos que oscila entre os 300 e 470 mil. Ao mesmo tempo, os 28 países da União Europeia (UE) chegaram a um acordo com a Turquia que fecha a rota migratória do mar Egeu e provoca uma mudança radical na política sobre os migrantes. Estipula que por cada sírio que a Turquia aceitar de volta, a UE promete acolher outro pelas vias legais, com um desembolso incluído para o Governo turco. O acordo, sobre o qual há dúvidas acerca da sua legalidade e eficácia – e que parece considerar esses homens e mulheres como números e não como seres dotados de uma dignidade transcendental e de direitos inalienáveis –, é visto como um remendo e não uma solução eficaz para a crise dos refugiados.

O Papa Francisco, que na Quinta-Feira Santa lavou, simbolicamente, os pés a 12 refugiados, denunciou que «ninguém quer assumir a responsabilidade» do destino destes irmãos que vivem uma real e dramática situação de exílio : «Quantos tentam chegar a outros lugares e lhes fecham as portas. E estão ali na fronteira, porque tantas portas e tantos corações estão fechados. Os migrantes de hoje que sofrem, que sofrem a céu aberto, sem alimento, e não podem entrar, não sentem o acolhimento. Gosto quando vejo as nações, os governantes que abrem o coração e abrem as portas.»

Estas palavras de Francisco sobre a globalização da indiferença fizeram-me recordar a filosofia ubuntu. Este conceito, de origem africana, concretamente da língua banta, significa «eu sou porque nós somos». Expressa uma concepção de ser-com-os-outros, conscientes de que não somos ilhas, mas que uma pessoa é e se realiza por meio das outras pessoas e de todos os seres vivos. Pensa a comunidade e a humanidade como uma família – na linha da universalidade do amor e da fraternidade dos cristãos – e a Terra como a Casa Comum da Humanidade, como refere a encíclica ecológica Louvado Sejas. Faz-nos ter consciência de que quando uma pessoa é oprimida, marginalizada, diminuída, todos nós somos. Quando se fomenta compaixão, generosidade, respeito, acolhimento, todos nós beneficiamos. A humanidade de cada um de nós está ligada, indissoluvelmente, aos outros.

O ubuntu – uma dádiva do Sul do mundo – propõe um estilo de vida que se identifica com a ética cívica, sugerida pela filósofa Adela Cortina. Todos os cidadãos, afirma a pensadora espanhola, partilhamos e respeitamos uma ética civil, que inclui os princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, tolerância, diálogo. Essa é a base comum que permite construir uma sociedade mais justa, inclusiva e democrática. Sem estes princípios ético-morais, parafraseando o filósofo francês Jean-Paul Sartre, os outros são para mim um inferno, de quem eu procuro separar-me levantando altos muros. A UE não pode existir como um oásis de paz e progresso, enquanto na outra margem estão milhões de pessoas abandonadas à guerra e à miséria. Como afirmou Filippo Grandi, responsável máximo do ACNUR, «este é o momento para reafirmar os valores sobre os quais se construiu a Europa». Todos nós fazemos parte desta grande família da humanidade e somos peregrinos na casa comum chamada Terra.’


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quarta-feira, 20 de abril de 2016

A crise dos direitos humanos - Desiludidos pela última utopia

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



‘«A Europa é a pátria dos direitos humanos, e quem quer que pise a terra europeia deveria podê-lo experimentar», recordou o Papa acompanhando os refugiados de Lesbos à Itália. É uma frase que faz refletir, porque recorda que precisamente a Europa – pátria dos direitos humanos, matriz cultural daquela Declaração assinada na esteira dos desastres da segunda guerra mundial, documento que deveria ter posto fim às formas mais ferozes de exploração do homem pelo seu semelhante – hoje está muito longe de os respeitar.

Com aquela frase Francisco tocou o cerne do problema, colocou o dedo na ferida : nunca como neste momento histórico os direitos humanos parecem ser desrespeitados, em cada canto do globo.

E não só os governantes de muitos países de cultura não ocidental afirmam candidamente que os consideram inaplicáveis nas suas sociedades, confessando que os acham uma imposição «imperialista» em relação a eles, mas na própria Europa crescem de hora em hora os sinais da sua degradação. Com efeito, também aqui, os modos como são tratados os migrantes ou o mercado de seres humanos, que alimenta a prostituição, revelam pouca atenção relativamente a estes direitos, embora sejam considerados garantes da dignidade humana.

Portanto, a crise dos direitos humanos é grave e profunda, e aponta uma situação geral ainda mais dramática : a falta de um horizonte moral de esperança compartilhada para o qual olhar com confiança. Como tinha denunciado com perspicácia Marcel Gauchet alguns anos depois da queda do muro de Berlim, com a falência do comunismo os direitos humanos tinham-se tornado a única proposta política aceitável e capaz de conquistar consenso e colaboração.

Todos apelavam-se aos direitos humanos, que pareciam a bússola segura para resolver qualquer situação, e a perspectiva de os tornar reais e realmente válidos para todos constituía um horizonte utópico que podia alimentar as esperanças das novas gerações. Certamente, nos decénios que se seguiram à proclamação da Declaração dos direitos em 1948, as intervenções que visavam limitá-los – por exemplo a ab-rogação do direito de conversão a outra religião – ou ampliá-los artificialmente com perspectivas econômico-sociais que pouco tinham a ver com o projeto ideal originário, enfraqueceram fortemente o seu impacto ideal. A tudo isso devemos acrescentar o fato de que alguns países desde o início os assinaram com muitas reservas.

Mas, não obstante estes limites, a proposta por algumas décadas pareceu ser válida, ou seja, continuou a ser considerada digna de toda a atenção e respeito. Hoje, infelizmente, a Declaração parece deixar vazar por todos os lados, sobretudo por causa das condições de emergência que estamos a viver. E enquanto o direito internacional produz formas cada vez mais requintadas, infelizmente só abstratas, de garantia para os indivíduos inspiradas nos direitos, a realidade atual induz a esquecê-los, a comportar-se como se ninguém os tivesse proclamado e assinado.

O Papa Francisco, regressando de um dos epicentros da crise, o campo de refugiados da ilha de Lesbos, mesmo apelando-se a esta reconhecida garantia internacional, com os seus gestos revela ao mundo que, superior ao direito e à utopia, é sempre a misericórdia e que só ela pode salvar o ser humano.’


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terça-feira, 19 de abril de 2016

Iniciativas de Mãos Unidas no Brasil contra as mulheres escravizadas nas plantações

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


‘É difícil estabelecer se o café e o açúcar fizeram com que a Europa dos séculos XVII a XIX fosse deveras feliz, mas certamente estas duas plantas são responsáveis pela má sorte que atingiu dois continentes. Destruiu-se a América para obter mais terrenos para as plantar; esvaziou-se a África para obter mão-de-obra para as cultivar. Embora hoje já não se esvazia a África com o tráfico de escravos, são sempre os descendentes dos africanos que garantem os trabalhos exigidos para a cultivação e utilização destes precisos produtos da terra. Trabalhos longos, difíceis e nocivos à saúde.

A realidade, escondida por cifras de três zeros e vigorosamente dissimulada, constitui uma das acusações mais eloquentes ao estilo de vida contemporâneo. A escravidão, abolida, não foi esquecida. Subsiste, e não só a nível de cicatriz mas de chaga infetada.

Examinando-a, não olhamos para o passado; abre-se sobre a realidade de hoje, especialmente na do famigerado Nordeste, onde se enraíza mais do que em qualquer outro lugar por uma série de motivos que seria demasiado longo enumerar. Pelos produtos mencionados, a notícia chega do sertão pernambucano, e precisamente de uma zona chamada Bacia do Goitá, uma microrregião a cinquenta e cinco quilômetros da capital Recife, onde a cansativa colheita da cana de açúcar e o descascamento da mandioca são realizados pelas mulheres negras, as grandes inválidas da história. Os dois produtos são importantes porque alimentam a indústria local : a cana de açúcar acaba numa grande destilaria para a produção da cachaça (bebida alcoólica típica local), considerada a melhor do Brasil; a mandioca é apanágio de uma grande empresa de alimentos.

Para se opôr à exploração da mão-de-obra feminina (quatro arrobas de mandioca descascada, que exige um trabalho de 12-14 horas, é pago 4 reais, menos de um euro) em 1988 nasceu o «Centro das mulheres de Vitória de Santo Antão», que luta pela defesa dos direitos das trabalhadoras, que constituem 80% da força de trabalho. A Bacia do Goitá é famosa sobretudo pela mandioca, a melhor dizem, entre as sete mil espécies do túbero, mas só os donos de fazendas nas quais é cultivada aproveitam dos benefícios. Satisfeitos com os lucros a bom preço, eles não se preocuparam (e não se preocupam) em mudar os ambientes, os sistemas de trabalho e nem o comportamento ambíguo e vexatório em relação às operárias. Além de ter que trabalhar em ambientes insalubres, sem ar nem água potável, as mulheres, quase todas analfabetas, estão expostas a doenças de vários tipos, como tumores, doenças de pele, alergias, tudo resumido numa sequência cínica e inexorável : nascer, trabalhar, sofrer abusos de todos os tipos, dar à luz os filhos, adoecer, passar fome, morrer.

Hoje, graças a um projeto financiado pela associação «Mãos unidas», uma organização ligada à Igreja na Espanha, mais de cem mulheres que faziam parte do «centro das mulheres do Cabo» deixaram a velha faca de «raspadoras de mandioca» e deram início a uma pequena atividade empresarial que produz doces e salgados em três localidades da Bacia. Vendidos nas lojas, pelas ruas, diante de hospitais, escolas e universidades, doces e salgados foram aprovados pelo ministério e destinados ao grande público estudantil do Programa nacional de alimentação escolar (Pnae) até tornar-se o alimento «oficial» dos alunos de todas as escolas primárias e secundárias.

A atividade está nas mãos de trinta e seis mulheres reunidas em três grupos de doze cada um, todas afrodescendentes, felizes de poder oferecer aos filhos oportunidades que a elas foram negadas, começando pela escola, que os libertará das explorações dos fazendeiros que no âmbito das suas propriedades, quase sempre intituladas a um santo, restabeleceram uma forma de escravidão que causa vergonha a um país desenvolvido como o Brasil.’


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domingo, 17 de abril de 2016

Escravidão infantil, flagelo do século XXI : romper as correntes

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)



‘A demanda de mão de obra de baixo custo, a pobreza, a falta de oportunidades, a desagregação do núcleo familiar e a perda de valores da comunidade são as principais causas da escravidão de menores e dos abusos que continuam a se verificar ainda hoje, 200 anos depois da abolição da escravidão, e envolvem pelo menos 9 milhões de crianças.

Por ocasião do Dia contra a Escravidão Infantil, celebrado anualmente em 16 de abril, a Procura das Missões Salesianas enviou à Fides uma nota sobre o compromisso dos Salesianos, presentes em várias partes do mundo, no combate a este flagelo. ‘Queremos dar voz a milhões de crianças, denunciar a escravidão infantil e exigir medidas para erradicar este flagelo do século XXI’, afirmam os Salesianos, propondo uma campanha global intitulada ‘Romper as correntes’.

As fábricas de tijolo e de tecidos no Afeganistão e na Índia usam crianças no trabalho, em condições de escravidão. No Brasil, são empregadas em minas. Em Mianmar trabalham em canaviais. Em Serra Leoa, na procura de diamantes e de coltan, na República Democrática do Congo. Na coleta de algodão no Egito e no Benin, de cacau na Costa do Marfim. Em muitos outros lugares do mundo, milhões de crianças e jovens são explorados todos os dias no trabalho doméstico, na prostituição, na mendicância. Na Colômbia, Índia, Benin, Costa do Marfim e Mali, os Salesianos enfrentam estra trágica realidade e tentam oferecer às crianças vítimas da escravidão uma segunda chance, para que sejam protagonistas de suas vidas e rompam, assim, as correntes que os prendem.’


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sexta-feira, 15 de abril de 2016

Educar pela vida familiar

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG


‘O Papa Francisco, atento às dinâmicas da cultura contemporânea e após a realização de dois sínodos, traz pertinente interpelação com a Exortação Apostólica sobre o amor na família, Amoris Laetitia.  Com sua extraordinária sensibilidade humana e a partir da escuta do mundo católico, Francisco mostra que a grande meta é reavivar a consciência sobre a importância do matrimônio e da família. Desafio complexo que não permite tratamento superficial. São necessárias ações bem fundamentadas para não se correr o risco de obscurecer ou anular o determinante e indispensável papel da família - lugar da educação por excelência - particularmente essencial neste momento, quando se precisa configurar novo tecido cultural. E isso é imprescindível para a superação das crises muito desafiadoras, nos âmbitos da ética, política, economia e instituições.

A Igreja, na unidade de doutrina e práxis, acolhe a indicação de que, em cada país ou região, é possível buscar soluções mais atentas às tradições e aos desafios locais. Longe de qualquer tipo de permissividade, o caminho é se debruçar sobre culturas diferentes, considerando a pluralidade que caracteriza cada sociedade. Essa tarefa exige acuidade, empenhos e profunda espiritualidade. Por isso, o Papa Francisco recoloca, com destaque, alguns caminhos pastorais que levam à construção de famílias sólidas, fecundas segundo o plano de Deus, com especial luz sobre a educação dos filhos.

Não há mais tempo a perder diante da necessidade de se investir na família, referência singular com propriedades para edificar nova cultura humanística e espiritual que permita superar o atual momento social e político. Há uma complexidade própria na realidade da família, que precisa ser adequadamente compreendida e tratada.  Para isso, as jaulas do egoísmo e da mesquinhez devem ser evitadas. Essas prisões nascem de individualismos perversos e da consequente perda de capacidade para gestos altruístas, indispensáveis na vida de todos, especialmente no exercício da cidadania. Em questão, portanto, está o desafio de se compreender, em profundidade, a importância da família.

O desvirtuamento dos laços familiares é um real perigo alimentado por uma exasperada cultura individualista que pode parecer atraente, mas é caminho para prejuízos irreversíveis. É preciso conhecer mais profundamente a realidade familiar para não se negociar o inegociável. A liberdade de escolha, sublinha o Papa Francisco, permite a cada pessoa projetar a própria vida e cultivar o melhor de si mesmo, mas se não houver objetivos nobres e disciplina, se degenera numa incapacidade para a doação. O entendimento de que a liberdade individual garante o direito de julgar a partir de parâmetros próprios, como se não houvesse verdades, valores e princípios diferentes, é problemático. Cria a convicção de que tudo, desde que atenda ao interesse particular, é permitido.  Contribui para que entendimentos sobre o matrimônio sejam achatados por conveniências e caprichos.

Há um percurso longo para resgatar valores que foram perdidos. Sem essas referências, continuarão a surgir descompassos e a humanidade sofrerá com a perda de rumos. A trajetória a ser seguida exige entendimentos, recomposições e a necessária capacitação para a vivência de valores éticos e morais.  E a família é, indiscutivelmente, a primeira escola desses valores. Lugar em que se aprende o bom uso da liberdade. A Exortação Apostólica lembra que há inclinações maturadas na infância que impregnam o íntimo de uma pessoa e permanecem pelo resto da vida como tendência favorável a um valor ou como uma rejeição espontânea de certos comportamentos.

O aprendizado ético e moral no contexto educativo inigualável da família sustenta a vida, permeia atos e escolhas. Somente a instituição familiar tem propriedades para cumprir certas tarefas e metas na formação das pessoas, em razão de sua particular capacidade para alcançar e fecundar corações. De modo especial, é âmbito da socialização primária, em meio aos afetos mais profundos e tocantes, que possibilitam a aprendizagem da reciprocidade, do relacionar-se com o outro. Capacita para a escuta, a partilha, o respeito, a ajuda e a convivência.

A humanidade é convidada a compreender e a investir na força educativa da família, criando condições sociopolíticas, humanísticas e espirituais para que essa escola primeira seja qualificada e se mantenha como vetor para as grandes mudanças.’


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quarta-feira, 13 de abril de 2016

Marajó : miséria e prostituição infantil. Como se vive na ilha?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)


‘Melgaço, no Arquipélago de Marajó, é o município com menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país. Em uma escala que vai de 0 a 1, a cidade alcança 0,418. É comum moradores viverem em palafitas, numa realidade em que falta quase tudo : saneamento, educação, saúde de qualidade e policiamento. O banheiro dos moradores é o rio. A cidade é isolada até mesmo do resto do Estado; para chegar a Melgaço, partindo de Belém, são necessárias pelo menos 16 horas de barco.  Mais de 96% desses moradores vivem com renda per capita inferior a meio salário mínimo. São 26 mil habitantes, dos quais 12 mil não sabem ler e nem escrever.


A visita do Cardeal Cláudio Hummes

Como Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, o Cardeal Cláudio Hummes já visitou mais de 30 dioceses na região. Sua última viagem, em março deste ano, foi a Marajó. Levado pelo bispo, Dom José Luis Azcona, Dom Cláudio voltou consciente de que é preciso denunciar esta realidade ao Brasil e ao mundo. É ele mesmo que conta.


Desemprego e miséria

Esta área é muito abandonada pelo poder público estadual e federal; praticamente não há investimentos. Melgaço é o município mais pobre do Brasil. O povo está muito aflito por falta de oportunidade de trabalho, não existe trabalho. O desemprego é colossal, não há investimentos ali. Os municípios não têm condições, porque não têm arrecadação, uma vez que não existe produção. Grande parte deste povo vive da bolsa família e às vezes de um ou outro aposentado que ajuda a sua parentela a sobreviver. Quando andamos por Melgaço, à beira do rio, vemos as pessoas andando, ou sentadas em casa, porque não existe trabalho. É muito triste’.


Bandidagem e impunidade

‘Além disso, há uma boa dose de bandidagem, cada vez maior, porque a vigilância policial é pouquíssima ou nula, praticamente a segurança é nula. A própria polícia diz ‘não temos nenhuma infraestrutura, não temos gente, não temos barco, não temos combustível para os barcos’; não conseguem atender nada. Os rios são como as nossas grandes estradas. As nossas rodovias, lá são os rios, que fazem todo o transporte. Que se fizesse vigilância de tudo aquilo que ocorre nesses rios, mas não existe nada. Aquilo é um abandono colossal’.


Prostituição infantil

Uma das coisas piores que existe é a exploração sexual das crianças, o que é feito nas grandes balsas de transporte daqueles rios, e onde a pobreza das famílias que não têm como se sustentar chega a oferecer muitas vezes as suas crianças ou não fazem nada para evitar, porque estas crianças buscam um pouco de comida ou alguma coisa nestas balsas, em troca de serem abusadas sexualmente por este pessoal que passa ali’.


A Igreja presente

Também existe uma bandidagem crescente de bandidos que simplesmente assaltam barcos e barquinhos para roubar. E o povo não tem com o que se defender, não tem polícia a quem apelar; e se apela, a polícia diz ‘não temos como chegar lá’. É uma impunidade inaceitável, intolerável. E vai assim... O único que cuida do povo é o bispo local. E o povo aplaude muito; em todo lugar onde Dom Azcona chega o povo aplaude, porque é o único que de fato se interessa por cuidar daquele povo. É a Igreja’.

Dom Cláudio Hummes é também Presidente e fundador da Rede Eclesial Pan-amazônica, a REPAM.’


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segunda-feira, 11 de abril de 2016

Rei da Jordânia financia restauração do Sepulcro de Jesus

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 


‘O Rei Abdullah II da Jordânia anunciou, por meio de um edito real, sua decisão de financiar a restauração do Sepulcro de Jesus na Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém.

A Corte real informou o Patriarcado Ortodoxo de Jerusalém da ‘makruma’ (doação real de beneficência), por meio de uma carta enviada a Sua Beatitude Theophilos III em 10 de Abril. O Patriarca ortodoxo elogiou a generosidade do Rei Abdullah, recordando como ele sempre foi e continuará a ser o fiel guardião e depositário dos Lugares Santos cristãos e muçulmanos de Jerusalém.

Durante a Semana Santa, o Patriarcado Ortodoxo de Jerusalém e da Custódia da Terra Santa havia divulgado a decisão de que o Sepulcro de Cristo, na Basílica da Ressurreição em Jerusalém, seria restaurado logo após as solenidades da Páscoa ortodoxa. Um estudo científico realizado precedentemente revelou que o local sofre de graves problemas de umidade ligados à ‘condensação da respiração dos visitantes’, mas também da oxidação provocada pela fumaça das velas.

Esta restauração será possível graças a um acordo entre as três principais confissões (greco-ortodoxos, latinos e armênios), que coexistem na basílica.

Dom William Shomali, Vigário Patriarcal latino de Jerusalém, acolheu favoravelmente a decisão do Rei Abdullah : ‘É uma excelente notícia, uma notícia altamente simbólica, uma vez que o Santo Sepulcro é o lugar mais sagrado para os cristãos de todos confissões. Esta decisão mostra toda a benevolência do rei para com os cristãos e sua contínua solicitude em preservar os patrimônios do cristianismo, nomeadamente seu papel de garante dos Lugares Santos, cristãos e muçulmanos de Jerusalém, desde os acordos de Wadi Araba’.

O último ‘makruma’, ou edito real, é mais uma prova do compromisso do Rei Abdullah para com os locais cristãos e muçulmanos da cidade três vezes santa. A Esplanada das Mesquitas, ‘al Haram al-Sharif’, onde o acesso é regido por um status quo que foi colocado sob a jurisdição jordaniana e administração do Waqf de Jerusalém, é igualmente emblemático do papel da Jordânia na proteção dos Lugares Santos.

Em relação à Basílica do Santo Sepulcro, a parte que será restaurada é o local do sepultamento e da ressurreição de Cristo. O local permaneceu intocado desde 1947, data em que os britânicos cercaram de vigas de aços para iniciar uma restauração, que acabou nunca se realizando. Esta retomada histórica dos trabalhos será confiada a uma equipe grega liderada pela Professora Antonia Moropoulou da Universidade Técnica Nacional de Atenas.’


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