*Artigo de Dom Alberto Taveira Corrêa,
Arcebispo
Metropolitano de Belém, PA
‘Santa
Maria de Belém do Grão Pará, quatrocentos anos de fundação comemorados no dia
12 de janeiro de 2016. Quatrocentos anos do início da Evangelização da
Amazônia. Assim a Arquidiocese de Belém eleva seu coração e sua voz, em
preparação ao XVII Congresso Eucarístico Nacional, o presente que deseja
oferecer à nossa cidade : ‘Jesus
Eucaristia, fonte de vida para todos, coração dos corações! Nós te acolhemos
presente entre nós. Ao recebermos teu Corpo e teu Sangue, mostra-nos a força
redentora de teu sacrifício. Tu és partilha de vida e salvação para a vida do
mundo. Abre nossos corações para compartilhar com todos os nossos bens.
Ensina-nos a testemunhar, amar e servir e proteger a vida, aprendendo a lição
do Altar. Em ti todas as coisas foram criadas e nossas terras amazônicas são
obra do amor do Pai. Reconhecemos estes sinais de amor, presença e providência
em nossa história, e desejamos irradiar na comunhão com Deus e com todos, a
missão que nos confiaste. Senhor Jesus, há quatro séculos a Boa Nova do
Evangelho aportou em nossas terras, para aqui plantar raízes. Os teus
missionários se alegraram, ao verem as Sementes do Verbo de Deus, que o
Espírito Santo havia espalhado, precedendo seus passos, e anunciaram
corajosamente a tua Palavra. A partir do Forte do Presépio, sob a proteção de
Nossa Senhora da Graça, chamando-a Santa Maria de Belém ou Senhora de Nazaré, a
Amazônia recebeu a mensagem da salvação. Renova hoje, Senhor, com a força da
Eucaristia, o vigor missionário em nossos povos, e brotem entre nós santas
vocações para o serviço do Evangelho. Cristo Senhor, ao reconhecer-te no partir
do Pão, faze arder nossos corações, para que do Altar da Eucaristia nasça um
novo ardor missionário em nossa Pátria. Ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo
sejam dadas, hoje e sempre, toda a honra e toda a glória! Amém.’
A evangelização nasce do alto, é dom de Deus que nos anuncia o
Cristo Senhor e Salvador, sentido e rumo para nossas lides nesta terra, rumo à
eternidade. A evangelização é o que existe de melhor, nascida do coração da
Trindade Santa, passando pelos caminhos da história humana, marcada por
alegrias e esperanças, dores e angústias. Os instrumentos escolhidos por Deus
são os corações, boca, olhos, mãos e sentidos das pessoas que acolhem a Boa
Notícia e a transmitem.
Não tinham
natureza angélica os que trouxeram o Evangelho para a Amazônia. Com as gerações
que o fizeram, dando sangue, suor e lágrimas, pedimos perdão a Deus pelos
atrasos, fracassos e erros de abordagem com os quais atuaram. Ao mesmo tempo
damos graças porque os acertos foram muito maiores. Os valores do Evangelho
estão presentes em nossa cultura, as devoções, e devoções são provas de amor,
suscitaram confiança imensa na Providência de Deus, cultivaram famílias
piedosas, edificaram as igrejas, formaram gerações de sacerdotes,
comprometeram-se com a educação de crianças e jovens, deram nomes a pessoas,
logradouros, bairros. Por todo lado algum santo se tornou protetor, um título
de Nossa Senhora se implantou e, mais do que tudo, o perene louvor a Deus se
consolidou. Quatrocentos anos de Missa e de pregação da Palavra, quatrocentos
anos de Batizados, Matrimônios, Sacramento da Penitência, Sepultura Cristã,
quatrocentos anos de Oração! Quatrocentos anos de presença fiel da Igreja junto
à sociedade, como sal e luz e fermento!
Nestas plagas
abençoadas, a infinita criatividade da Providência plantou no coração do
paraense o amor a Nossa Senhora, em seu lindo título de ‘Nossa Senhora de Nazaré’. Não é possível para nós ser de Belém ou
ser do Pará sem o carinho com a Virgem de Nazaré. Nós chamamos de Círio esta
imensa e magnífica festa religiosa, porque queremos manter acesos os círios da
fé recebida na fonte batismal. Nossa Senhora é ‘madrinha de Batismo’ do povo paraense e assumiu o compromisso de
acompanhá-lo em sua história, operando as milhares de delicadezas, nascidas de
seu coração materno. Ela continua a levar ao Filho amado as necessidades de seu
povo, como nas Bodas de Caná (Cf. Jo 2, 1-12). Em nosso dia a dia, quando falta
o vinho da alegria, a mãe de Jesus lhe diz : ‘Eles não têm vinho!’. Mesmo quando parece difícil a situação, a mãe
diz aos servos de ontem e de hoje : ‘Fazei
tudo o que ele vos disser!’. Queremos encher não apenas seis talhas de
pedra, de quase cem litros cada, destinadas às purificações rituais, mas
recolher a água do quotidiano, representada pelos nossos rios, e apresentá-la a
Jesus. Sujas ou limpas as nossas águas, queremos entregá-las a Jesus, para que
as transforme no vinho novo. E queremos ouvir, a esta altura de nossa história,
que o vinho da alegria de hoje é melhor. ‘Tu
guardaste o vinho bom até agora’. Que Jesus manifeste sempre e de novo a
sua glória, e seus discípulos de hoje acreditem nele.
Entretanto, a
Igreja quer fazer a todos os irmãos e irmãs, homens e mulheres amados por Deus,
a proposta de não se acomodarem assentados sobre os louros de vitória dos
quatrocentos anos celebrados em festa nos dias que correm. Há muito a fazer! Em
torno do Altar da Eucaristia, queremos pedir que a força redentora do
Sacrifício de Cristo, partilha de vida e salvação para a vida do mundo, abra
nossos corações para compartilhar com todos os nossos bens. Trata-se de lutar
com todas as forças para superar a escandalosa desigualdade social. O senso do
bem comum há de crescer entre nós, ensinando a olhar em torno a nós. Basta
verificar a quantidade de homens e mulheres que vivem em nossas ruas,
machucados pela miséria, bebidas e drogas. São dolorosos letreiros acesos por
Deus para nos despertar! E podemos visitar com o coração as inúmeras casas e
famílias nas quais a miséria está presente e grita alto!
Queremos pedir ao
Senhor que nos ensine a testemunhar, amar e servir e proteger a vida,
aprendendo a lição do Altar. Sabemos que tudo foi feito em Cristo, nele todas
as coisas foram criadas e nossas terras amazônicas são obra do amor do Pai.
Reconhecemos estes sinais de amor, presença e providência em nossa história, e
desejamos irradiar na comunhão com Deus e com todos, a missão que nos foi
confiada.
A partir do Forte
do Presépio, a Amazônia recebeu a mensagem da salvação. Nossa Igreja pede a
Jesus que, com a força da Eucaristia, cresça o vigor missionário em nossos
povos, e brotem entre nós vocações para o serviço do Evangelho. A Ele dizemos :
‘Cristo Senhor, ao reconhecer-te no
partir do Pão, faze arder nossos corações, para que do Altar da Eucaristia
nasça um novo ardor missionário em nossa Pátria. Ao Pai e ao Filho e ao
Espírito Santo sejam dadas, hoje e sempre, toda a honra e toda a glória! Amém’.’
Fonte :
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