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quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Jesus, o nome acima de todo nome

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo do Padre Rivelino Nogueira

 

‘‘Chegando ao território de Cesareia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos : ‘No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?’. Responderam : uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas. Disse-lhes Jesus : ‘E vós, quem dizeis que eu sou?’’A Palavra continua narrando que Pedro, em nome dos demais apóstolos, respondeu para Jesus que Ele era o Cristo, o filho de Deus vivo!

Uma resposta que vai além do entendimento humano de Pedro e Jesus logo percebeu isso. A palavra ‘Jesus’ significa em hebraico ‘Deus salva’. O nome Jesus traduz a pessoa e a missão dele. A pessoa que é o Filho de Deus, com a missão de quem veio à Terra para salvar seu povo dos pecados. Salvação definitiva e de todos os homens.

O nome que está acima de todo nome (cf. Fl 2,9-10). É nesse nome que os discípulos de Jesus, ontem como hoje, operam milagres, pois o Pai concederá tudo o que for pedido em nome de Jesus (cf. Jo 15,16). 

A palavra ‘Cristo’ é a tradução grega do termo hebraico ‘Messias’, que significa ‘ungido’. Em Israel eram ungidas em nome de Deus as pessoas que lhe eram consagradas para uma missão vinda de Deus.

Um anjo anunciou aos pastores o nascimento de Jesus como sendo Ele o Messias prometido a Israel : ‘Hoje, na cidade de Davi, nasceu-vos um Salvador que é o Cristo Senhor’ (Lc 2,11). Por suas obras e palavras foi reconhecido como ‘o Santo de Deus’ (Mc 1,24), o ‘Filho de Davi’ messiânico, o prometido por Deus a Israel.

Não basta sabermos quem é o Cristo das escrituras se não mudamos de vida para tê-lo como Deus; devemos agir sem esperar apenas por um milagre, mas assumindo uma postura ativa e de mudança de atitude. Jesus é toda autoridade, porém Ele nos dá o livre-arbítrio para vivermos nossas vidas e guiarmos nossas decisões.

É por conhecer quem é Jesus que devemos buscar o entendimento de que se trata a Sagrada Escritura. Jesus quer cada um de nós como discípulos e missionários, indo ao encontro do outro e também sendo os protagonistas de nossas histórias.

Que saibamos enfrentar os desafios do cotidiano com espírito cristão e não nos acomodemos diante das dificuldades, sabendo que existe um Deus que está ao nosso lado. Confiemos os nossos impossíveis a Jesus, nossa confiança está nele.

Seguir Jesus é anunciar o que Ele pregou, viver como Ele viveu e crescer sempre na busca de ouvir o que Ele tem a nos dizer. Vinde e vede!

Que, no dia de hoje, possamos pensar na pergunta de Jesus ‘E vós, quem dizeis que eu sou?’ e nos esforçarmos para que nossa vivência revele a resposta. Como sozinhos jamais conseguimos, peçamos juntos essa graça ao Senhor!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/jesus-o-nome-acima-de-todo-nome.html

domingo, 3 de novembro de 2024

De Jesus a Pedro: a sucessão apostólica se renova na partilha e na alegria do testemunho

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Karla Maria


‘Quando os onze estavam reunidos em Jerusalém para a escolha daquele que iria substituir Judas – o traidor –, o medo e a confusão já tinham sido apascentados pela presença do Espírito Santo. Depois de orarem, escolheram Matias e ali os doze iniciavam um movimento de seguidores de Jesus Cristo, uma Igreja primitiva que herdava a missão de testemunhar a experiência vivida com Jesus crucificado e ressuscitado. Assim nos conta o livro de Atos dos Apóstolos (cf. 1,23-26) sobre a primeira comunidade que começa a expandir-se a partir do chamado, do testemunho dos apóstolos. ‘A fé, a experiência no Ressuscitado é que vai dando a essa primeira comunidade a certeza de que a vida e a morte de Jesus não fora sem sentido (…). O escândalo da morte é superado pela experiência do ressuscitado, com o ressuscitado’, explica Alzirinha Souza, doutora em Teologia pela Université Catholique de Louvain, na Bélgica.

Para ela, essa experiência se renova hoje na Eucaristia e na Palavra, permitindo-nos afirmar que Jesus está entre nós, que vive entre nós e onde dois ou mais estiverem reunidos em seu nome. 

À medida que as comunidades cristãs eram constituídas pelos apóstolos, eles constituíram bispos, isto é, pastores que os sucederam na missão de conduzir o rebanho, transmitindo o dom recebido do Espírito Santo de geração em geração até os dias atuais.

Para a teóloga, a sucessão apostólica ‘significa manter o segmento de Jesus atualizado na história em seus diferentes períodos. Isso é tradição que vai se renovando e por isso essa origem apostólica é importante, não pela pessoa que está conduzindo, mas por aquilo que ela traz consigo : as diferentes formas de ser Igreja nos diferentes tempos históricos’. 

A concepção de bispo autônomo e responsável por sua Igreja local, bem como as concepções de hierarquia na Igreja Católica como as concebemos hoje, vai se desenvolver por volta do século IV, todavia, sua gênese está ligada aos apóstolos. ‘Nossa Igreja vem de Jesus Cristo por meio dos apóstolos. Nossa fé liga-se a Jesus Cristo por meio deles. Isso é uma perene e firme nota de autenticidade da fé da Igreja, afirmada e reafirmada sempre de novo. Nós não inventamos a Igreja, mas participamos dela pela graça de Deus’, explicou o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo (SP) em sua coluna ‘Encontro com o Pastor’.

Edmílson Schinelo, teólogo e biblista do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), ressalva, contudo, que Jesus não fundou nenhuma instituição, nenhuma religião : ‘Nasceu, viveu e morreu como judeu. Os primeiros seguidores foram judeus. O movimento é o judaísmo. A partir do processo de ruptura que vai acontecendo gradativamente depois dos anos 70, 80 há necessidade de uma instituição e a partir de Constantino [imperador romano], nos séculos III e IV é que você pode falar mesmo nessa instituição romana que existe hoje’.

A obra Ascensão do cristianismo no Ocidente, de Peter Brown, registra que a expansão da fé cristã dentro do mundo romano e a institucionalização da Igreja Católica Apostólica Romana se deu respectivamente em 313, quando Constantino assinou o Édito de Milão, estabelecendo a liberdade de culto aos cristãos e décadas depois, em 380, quando o então imperador Teodósio assinoua o Édito de Tessalônica, oficializando o cristianismo como a fé dos romanos e incorporando a Igreja como uma instituição do Estado. 

‘Então Teodósio e Constantino, principalmente o primeiro, perceberam que esse povo é um povo que pode ajudar a unificar o império que começava a se desmantelar. Ele fez essa associação e esse reconhecimento do cristianismo como religião oficial do Estado, não porque se converteu à pessoa de Jesus, tratava-se de uma razão política e de uma razão econômica’, ensina Alzirinha. A partir daí, a Igreja ganhou uma estrutura de Estado, provocando uma grande transformação das comunidades originárias ‘para aquilo que nós temos hoje e vai se perdendo essa característica comunitária porque passa a ser institucional’, continua a teóloga. 

Para Raylson Araújo, mestrando em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), não fosse a sucessão apostólica e a Igreja como instituição, nós não teríamos Palavra de Deus : ‘Isso é fato. Não teríamos a Palavra de Deus não fosse a Igreja enquanto instituição. Qual é a ordem que Jesus entrega ali para os onze? Vocês devem ir a todas as nações, batizar e ensinar. Ensinar o quê? Tudo aquilo que Jesus prescreveu. Então, essa é a missão da Igreja. Essa é a missão apostólica, ir a todas as nações, batizar e ensinar e o batizar deve ser lido de maneira ampliada. O batizar não é só o Sacramento do Batismo no sentido estrito da coisa, deve ser entendido com toda a dimensão litúrgico sacramental. Então é celebrar, reunir-se em torno do nome do Senhor, de sua memória’, concluiu Araújo.

Apóstolo é quem serve

Durante a audiência geral de 5 de novembro de 2014, ao refletir sobre o ministério episcopal, o Papa Francisco sublinhou que o episcopado não é uma honorificência, mas um serviço. ‘Não deve haver lugar na Igreja para a mentalidade mundana que diz assim : ‘Este homem fez a carreira eclesiástica e tornou-se bispo’. Não, não, na Igreja não deve haver lugar para essa mentalidade, o episcopado é um serviço, não uma distinção para vangloriar-se’, afirmou.

Dom Neri José Tondello, bispo da Diocese de Juína, no Mato Grosso, desde 2009 falou à reportagem sobre ser sucessor apostólico : ‘A partir do Evangelho, quando Jesus envia os apóstolos – ‘Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a toda criatura’ [Mc 16.15] – entendemos que a essência do enviado é o serviço, nas palavras do próprio mestre Jesus, que disse que não veio para ser servido, mas para servi [cf. Mt 20,28]’, 

Membro permanente do conselho da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e atuando em uma realidade de conflitos fundiários que ameaçam a existência dos povos indígenas, Dom Neri é bispo que caminha com seu povo : ’Existimos para o serviço e exatamente onde mais somos necessários, isto é, onde as pessoas estão gritando por socorro, por sofrimentos que enfrentam, ameaças, ações de reintegração de tantos assentados. A invasão das terras indígenas são situações radicais extremas em que somos chamados a servir como intermediação para que o Estado democrático de direito contemple a todos os cidadãos diante das oportunidades e que haja uma distribuição [de terra] equitativa e justa para todos os que nela vivem e trabalham’, pontuou.

O testemunho do bispo de Juína nos recorda os tempos e conflitos vividos pelos primeiros apóstolos em suas comunidades perseguidas por sua fé. Em sua Carta aos Coríntios 2,4.8-9, o apóstolo Paulo escreve ‘De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos’.

O número de bispos no país é 482, dos quais 316 estão no exercício do governo pastoral de uma Igreja particular (dioceses e arquidioceses) e têm, portanto, a missão de manter a porção da Igreja que lhe é confiada na comunhão de fé e doutrina da Igreja e no testemunho da vida cristã. Outros 166 são bispos eméritos.

‘Todos os bispos juntos, em comunhão com o Papa, também respondem pelo bem de toda a Igreja. Eles constituem o ‘colégio episcopal’, que expressa a participação na sucessão apostólica e na missão confiada aos apóstolos por Jesus Cristo. Em força da ‘colegialidade episcopal’, os bispos cultivam a comunhão entre eles e na Igreja e com o Papa, que é o chefe do colégio episcopal. A expressão máxima da colegialidade episcopal e da corresponsabilidade dos bispos por toda a Igreja acontece na celebração dos concílios ecumênicos’, definiu o Cardeal Scherer.

Conduzir o povo

Animar a fé no Ressuscitado e conduzir a comunidade cristã era a missão dos primeiros apóstolos e segue sendo a de seus sucessores apostólicos em cenários políticos, econômicos e sociais diversos e desafiadores. Assim sempre foi, como registram os livros sagrados, e assim ainda é, como nos revelam os acontecimentos diários. 

Dessa maneira, Pedro assume a condução da comunidade, mas não só, ele a conduz com o sopro do Espírito Santo. ‘Há dois textos que são bons para esse ponto. No primeiro texto Jesus disse que ia, mas deixava o Espírito, enviava o Espírito, e também o texto de Pentecostes, que diz que o Espírito desceu sobre eles como se fossem línguas de fogo’, disse a teóloga Alzirinha Souza, lembrando que não é possível falar de sucessão apostólica sem falar da Pneumatologia, o estudo da pessoa do Espírito Santo e como Ele age no mundo.

‘Ele [Espírito Santo] move o mundo, porque ele move pessoas. (…) Nós olhamos para Jesus para saber aquilo que fazemos ou que deveríamos fazer para irmos nos humanizando e temos a mão do Espírito, que nos ajuda no discernimento e que nos empurra para frente, impulsiona-nos a fazer efetivamente essa vivência, desde queiramos, naturalmente. Logo, a ação humana e a práxis cristã, ela sempre de quem está’, afirmou Alzirinha.

Práxis é um conceito filosófico da atividade teórico-prática do ser humano em todas as áreas da sociedade e aos apóstolos coube e cabe realizar muitas coisas, como explica Raylson Araújo : ‘A eleição de Matias se dá depois que Jesus volta para o Pai, após a ascensão. Então, qual é a ordem que Jesus entrega ali para os onze? Vocês devem ir a todas as nações, batizar e ensinar. Ensinar o quê? Tudo aquilo que Jesus prescreveu. Essa é a missão da Igreja, é a missão apostólica, ir a todas as nações, batizar e ensinar. O batizar deve ser lido de maneira ampliada, não é só o Sacramento do Batismo no sentido estrito da coisa, deve ser entendido com toda a dimensão litúrgico-sacramental. É celebrar. Celebrar a Missa e o Batismo e os demais sacramentos. É se reunir em torno do meu nome, da minha memória’.

O teólogo Alexandre Ferreira dos Santos, especialista em Pensamento Religioso pela Pontifícia Universidade Lateranense, na Itália, lembra, portanto, que a sucessão apostólica garante a continuidade e a autenticidade para aqueles que creem na igreja. Esse ‘na’ significa ‘desde dentro’, ou seja, a Igreja é um grupo de pessoas formado a partir do chamado que Jesus Cristo faz a alguns homens e mulheres.

O chamado se atualiza e corresponde às demandas dos nossos tempos, isso é o que o Papa Francisco vem propondo à reflexão. Em outubro de 2023, durante a primeira sessão do Sínodo dos Bispos em Roma, ele disse que, na conversa no Espírito’ encontramos um caminho de participação voltado para a comunhão e renovação da missão que acolhe em unidade as diferenças na Igreja, encontrando o caminho sempre à luz do que inspira o Espírito.

É preciso ouvir e acolher o que sopra o Espírito.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/de-jesus-a-pedro-a-sucessao-apostolica-se-renova-na-partilha-e-na-alegria-do-testemunho.html

sábado, 19 de outubro de 2024

A missionariedade na catequese, testemunho e serviço

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Paulo Gil


‘É sempre bom recordar as palavras de Jesus quando, reunindo os seus apóstolos, apresentou suas últimas instruções antes de sua ascensão. O encontro foi de orientação e de motivação para o grupo que foi enviado em mandou-os em missão de fazer novos discípulos : ’Naquele tempo, os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado. Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram. Então Jesus aproximou-se e falou : ‘Toda a autoridade me foi dada no Céu e sobre a Terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo’ (Mt 28,16-20).

Três aspectos que iluminam a nossa reflexão sobre o mandato de Jesus a seguir : 

  • A obediência dos discípulos – eles obedecem ao pedido do Senhor;
  • A contemplação dos discípulos – contemplam e adoram Cristo;
  • O envio dos discípulos – eles são enviados em missão. 

Temos, então, um itinerário de vida de fé : obediência, contemplação e missão.

Podemos conferir o contraste entre as expectativas dos apóstolos e a missão que Jesus se propunha a assumir. Ele chamava sua comunidade para uma missão além-fronteiras, motivando-os a abandonar a zona de conforto e as expectativas anteriores. 

Sair da própria terra é sempre um desafio. As palavras de Jesus remetem ao chamado de Abraão: ‘O Senhor disse a Abrão : ‘Sai da tua terra, do meio de teus parentes, da casa de teu pai, e vai para a terra que eu vou te mostrar. Farei de ti uma grande nação e te abençoarei : engrandecerei o teu nome, de modo que ele se torne uma bênção’’ (Gn 12,1-3). Observe-se : sair da sua terra; sair da casa da família; sair para um lugar desconhecido, uma terra prometida; ser pai da fé; pai de uma grande nação.

Gerar novos filhos para Deus e levá-los para uma rica experiência de fé é o mesmo que fazer novos discípulos como pede Jesus.

A comunidade dos discípulos é revestida de motivação : ’Eis que eu estarei convosco todos os dias’ (Mt 28,20) – motivação para uma missão que se fortalece quando se alimenta de fé, de confiança e de esperança. Observe-se : fé para reconhecer o seu chamado, escutar a sua voz; confiança para aceitar e se entregar em suas mãos; esperança para trilhar o caminho do seguimento; ir para onde Ele nos levar.

O que essa passagem do Evangelho traz de inspiração para a catequese hoje? A catequese tem uma árdua e encantadora missão : introduzir, com profundidade, a Palavra de Deus no processo de iniciação à vida cristã. 

No caminho do discipulado, catequético e missionário, é necessário que exista um progressivo envolvimento com a Sagrada Escritura, a Palavra de Deus : ‘A missão de iniciar na fé coube, na Igreja antiga, à liturgia e à catequese’ (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Documento 107, 70). 

Catequese é ‘um processo dinâmico e abrangente de educação da fé, um itinerário, e não apenas uma instrução’ (Catequese renovada, 281); processo que leva ao acolhimento da Palavra de Deus e da Pessoa de Jesus Cristo; acolhimento da verdade de fé: a Palavra se fez carne e veio habitar entre nós (cf. Jo 1,14).

Uma verdade que precisa ser transmitida com competência

O Papa Francisco, em sua Carta Apostólica Antiquum Ministerium sob forma de motu próprio, diz : ‘Toda a história da evangelização destes dois milênios manifesta, com grande evidência, como foi eficaz a missão dos catequistas. Bispos, sacerdotes e diáconos, juntamente com muitos homens e mulheres de vida consagrada, dedicaram a sua vida à instrução catequética, para que a fé fosse um válido sustentáculo para a existência pessoal de cada ser humano. Além disso, alguns reuniram à sua volta outros irmãos e irmãs, que, partilhando o mesmo carisma, constituíram ordens religiosas totalmente dedicadas ao serviço da catequese. Não se pode esquecer a multidão incontável de leigos e leigas que tomaram parte, diretamente, na difusão do Evangelho através do ensino catequético. Homens e mulheres, animados por uma grande fé e verdadeiras testemunhas de santidade, que, em alguns casos, foram mesmo fundadores de Igrejas, chegando até a dar a sua vida’ (3).

Ele vai indicar que a missão da catequese é uma ação evangelizadora; é insubstituível; é missão própria do Bispo e dos outros sujeitos a serviço da catequese : presbíteros, diáconos, religiosos(as), famílias, catequistas, leigos(as) que estão presentes no mundo; é uma missão salvadora da Igreja para o mundo. 

Queridos catequistas, é importante reconhecer a incansável participação de vocês, anunciando o Evangelho de Cristo com competência, criatividade e dedicação.

É missão da catequese :

  • conduzir as pessoas na adesão a Jesus Cristo, introduzindo-as nos sacramentos da iniciação cristã : Batismo, Confirmação e Eucaristia; 
  • educar para a escuta da Palavra e para a oração pessoal, ‘mediante a leitura orante, evidenciando uma estreita relação entre Bíblia, catequese e liturgia’ (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Documento 107, 66);
  • permanecer na centralidade do querigma (primeiro anúncio das verdades da fé) para o amadurecimento e para a maturidade da fé;
  • favorecer, no seguimento de Jesus, uma experiência mistagógica (pedagogia do mistério) para progredir no conhecimento e na vivência do mistério pascal.

Lembremo-nos sempre do que disse Jesus : ‘Asseguro-vos que quem ouve a minha Palavra e crê em quem me enviou, tem vida eterna’ (Jo 5,24). Hoje, desafia-nos a urgência de construirmos comunidades eclesiais missionárias, comprometidas com o anúncio da Palavra de Deus, nas diferentes realidades da vida.

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/a-missionariedade-na-catequese-testemunho-e-servico.html

terça-feira, 18 de junho de 2024

O precursor

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Diego Lelis, CMF

‘Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judeia. Dizia ele : ‘Fazei penitência porque está próximo o Reino dos Céus’.’ (Mt 3,1-2)

‘Viva João Batista,

Viva o precursor!

Porque João Batista

Anunciava o Salvador.’ (Hinário popular)

No mês de junho, celebramos o nascimento de São João Batista. Esse santo é um dos mais venerados no mundo e o único a ter seu nascimento terreno comemorado, isso porque a Igreja celebra a festa dos santos na data em que eles partiram deste mundo para a casa do Pai.

João, o Batista, é reconhecido como o último dos profetas, aquele que teve a missão singular de preparar o caminho para a vinda de Jesus Cristo. Sua vida e seu ministério são marcados por uma profunda ligação com a figura de Cristo antes mesmo de seu nascimento.

O Evangelho de Lucas nos revela um momento extraordinário que ressalta essa relação única entre João e Jesus. No relato da visitação, Maria, mãe de Jesus, vai ao encontro de sua prima Isabel, que está grávida de João Batista. Ao chegar e saudar Isabel, o bebê João estremeceu de alegria no ventre de sua mãe, indicando, segundo a tradição, o reconhecimento da presença de Jesus ainda não nascido. Isabel, cheia do Espírito Santo, exclamou : ‘Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor? Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre’ (Lc 1,43-44). Essa passagem é particularmente significativa, pois revela não apenas a singularidade da missão de João, mas também a sua profunda consciência da presença salvífica de Cristo. Vê-se nesse evento uma antecipação da missão de João, que seria o precursor do Messias, anunciando a sua chegada e preparando os corações para acolhê-lo.

O canto do Magnificat, proclamado por Maria em resposta à saudação de Isabel, também ressalta a importância de João como o precursor de Jesus. Nesse cântico, Maria exalta a grandeza de Deus e reconhece a bênção de ser a mãe do Salvador. Ela diz  : ‘Sua misericórdia se estende aos que o temem. Manifestou o poder do seu braço : desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes’ (Lc 1,50-52).

O canto do Magnificat é o anúncio de um novo tempo que será pregado mais fortemente por João ao anunciar a chegada do Reino e a necessidade de conversão. 

Ao celebrarmos a vida e o testemunho de São João Batista somos convidados a nos prepararmos e recebemos o Salvador, que nos convida à conversão.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://revistaavemaria.com.br/o-precursor.html


sexta-feira, 29 de setembro de 2023

A Idade Média foi “noite escura”?

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo de Veritatis Splendor


‘A Idade Média é por vezes considerada qual «noite de mil anos» que se abateu sobre a civilização, constituindo, pela barbárie e ignorância de seus homens, verdadeira mancha no decorrer da História.

É o que, conforme alguns autores, a própria designação «Idade Média» deveria incutir. Esta foi forjada pelos humanistas do séc. XVI, que com tal denominação queriam caracterizar o período da língua latina, que vai da idade clássica antiga ao Renascimento da mesma, no séc. XVI. Entre duas épocas áureas estaria [então] uma fase intermediária ou «média», fase apagada ou decadente na História do idioma latino.

Em 1688, o historiador alemão Cristóvão Keller (Cellarius) na sua «Historia Medii Aevi» (=‘História da Idade Média’) adotou pela primeira vez o nome no setor da História da Civilização, o que dava a entender que o período decorrente entre a Idade Antiga e a Renascença foi igualmente uma época apagada e decadente.

Nem todos os autores, porém, concordaram com tal modo de ver…

O historicismo do século passado tinha a Idade Média na conta de período cheio de realizações construtivas.

Vejamos o que há de objetivo nestas diversas apreciações.

1) O período Antigo ou Greco-Romano da civilização termina com a ruína do Império Romano, o qual cedeu aos golpes das invasões bárbaras (Roma caiu em 476). A Europa e a África Setentrional foram ocupadas pelos germanos invasores que, após haver derrubado as instituições antigas, eram incapazes de construir a vida social, pois careciam de valores culturais correspondentes. Ora, tendo desaparecido a figura do Imperador no Ocidente, a única autoridade capaz de tomar as rédeas da situação europeia dos séculos V/VII era a autoridade eclesiástica : o Papa, então, os bispos e os monges se puseram a preservar da perda total os valores da civilização greco-romana, utilizando-os na confecção de nova síntese cultural.

Não há dúvida de que a Religião Católica foi altamente benemérita neste trabalho de reconstrução; criaram-se valores e instituições de vulto no início e no decurso da Idade Média. Detendo-nos apenas na história da educação e da cultura, devemos mencionar que foram os clérigos e monges que asseguraram o ensino primário nas escolas catedrais, monacais e palatinas (isto é, erguidas respectivamente junto a uma igreja catedral, a um mosteiro, a um palácio de rei).

Eis alguns documentos a propósito :

Teodulfo, bispo de Orléans no séc. VIII, promulgou a seguinte lei :

– ‘Os sacerdotes mantenham escolas nas aldeias, nos campos. Se qualquer dos fiéis lhes quiser confiar os seus filhos para aprender as letras, não os deixem de receber e instruir, mas ensinem-lhes com perfeita caridade. Nem por isto exijam salário ou recebam recompensa alguma, a não ser por exceção, quando os pais voluntariamente a quiserem oferecer por afeto ou reconhecimento’ (Sirmond, Concilia Galliae 2,215).

Este decreto passou verbalmente para as legislações eclesiásticas da Inglaterra. Frequentemente os Concílios regionais dos séc. VIII/IX repetiram semelhantes normas. O III concilio ecumênico do Latrão em 1179, por sua vez, lavrou o seguinte cânon :

– ‘A Igreja de Deus, qual mãe piedosa, tem o dever de velar pelos pobres aos quais, pela indigência dos pais, faltam os meios suficientes para poderem facilmente estudar e progredir nas letras e nas ciências. Ordenamos, portanto, que em todas as igrejas catedrais se proveja um benefício (rendimento) conveniente a um mestre, encarregado de ensinar gratuitamente aos clérigos dessa igreja e a todos os alunos pobres’ (cân. 18, Mansi 22,227-228).

Também o ensino superior na Idade Média se ministrava por iniciativa, ou ao menos sob a tutela, de bispos e príncipes cristãos. As primeiras Universidades foram fundadas por volta de 1100. Constituem uma das criações mais originais e valiosas da Idade Média : no período greco-romano cada filósofo e cada mestre de ciências tinham sua escola — o que implicava justamente no contrário de uma Universidade. Esta, na Idade Média, reunia mestres e discípulos de várias nações, os quais constituíam poderosos focos de erudição.

Até 1440, foram erigidas na Europa 55 Universidades e 12 Institutos de Ensino Superior, onde se ministravam cursos de Direito, Medicina, Línguas, Artes, Ciências, Filosofia e Teologia. Em 1200, Bolonha contava dez mil estudantes (italianos, lombardos, francos, normandos, provençais, espanhóis, catalães, ingleses, germanos etc.). O Papa Clemente V, no Concílio de Viena, em 1311, mandou que se instaurassem nas escolas superiores cursos de línguas orientais (hebreu, caldeu, árabe, armênio etc.), o que em breve foi executado em Paris, Bolonha, Oxford, Salamanca e Roma.

Poder-se-iam multiplicar dados deste gênero. Estes, porém, já dão a ver que a Idade Média não foi alheia à cultura, justamente em virtude da influência da Igreja que nela se exerceu.

2. É preciso, porém, reconhecer uma particularidade da ciência medieval : os homens da época careciam do aparato técnico necessário a experiências e investigações precisas; o seu horizonte geográfico e astronômico também era bastante restrito. Sendo assim, a ciência medieval era levada não raro a julgar os fenômenos segundo a sua aparência e pouco habilitada a exercer o senso crítico.

Outra consequência da penúria de meios de observação é que os cientistas medievais procediam por dedução mais do que por indução; não podendo formular as leis da natureza na base de experiências exatas físico-químicas, os medievais as formulavam recorrendo a princípios especulativos, abstratos, dos quais julgavam poder deduzir a explicação dos fenômenos da natureza. Este trabalho, porém, era em alta escala sujeito a erro : os medievais não raro julgavam (e nisto se enganavam) que a Bíblia Sagrada podia ser utilizada para elucidar não somente questões teológicas, mas também temas de ciências profanas, de sorte que, na falta de outros critérios, apelavam para a Escritura a fim de resolver problemas de ordem biológica, astronômica etc. (haja vista o que ainda no séc. XVII se deu no caso «Galileu», do qual trata o artigo O caso de Galileu).

Deve-se sublinhar que tal atitude se devia em grande parte à falta de instrumentos precisos para a investigação da natureza (falta bem compreensível na Idade Média, já que o homem só aos poucos progride na conquista do mundo que o cerca). Não seria justo dizer que os cristãos medievais tinham medo da ciência empírica e que as autoridades eclesiásticas travavam os estudos a fim de evitar conflitos de Ciência e Fé; entre os pioneiros dos avanços científicos medievais contam-se eclesiásticos, monges e cristãos de valor, como Santo Alberto Magno (op), Rogério Bacon (ofm), João Peckam (ofm; arcebispo de Cantuária), Dietrich de Freiberg (op), Jordão Nemorário, Guilherme de Moerbeke (op)…

Muito significativo é um dos últimos depoimentos sobre o assunto, proferido em 1957 por um grupo de estudiosos que, sem intenção confessional alguma, escreveram a História da Ciência Antiga e Medieval :

– ‘Parece-nos impossível aceitar a dupla acusação de estagnação e esterilidade levantada contra a Idade Média latina. Por certo, a herança (cultural) antiga não foi totalmente conhecida nem sempre judiciosamente explorada; (…) mas não é menos verdade que de um século para outro — mesmo de uma geração a outra dentro do mesmo grupo — há evolução e geralmente progresso. A Igreja (…) na Idade Média salvou e estimulou muito mais do que freou ou desviou. Por isso, embora só queira apelar para a Antiguidade, a Renascença é realmente a filha ingrata da Idade Média’ (‘La Science Antique et Médiévale’, sob a direção de René Taton, Presses Universitaires de France, Paris, 1957, pp.581-582).

Em particular, com referência ao fato de que só a partir de fins do séc. XIII se começaram a fazer dissecações e observações em cadáveres humanos, dizem os mencionados estudiosos :

– ‘Como quer que seja, não se poderia aceitar a opinião um tanto simplista segundo a qual a Igreja teria sido ‘a grande responsável da estagnação dos estudos de anatomia’’ (ibidem, p.580).

Estes testemunhos tão insuspeitos levam a concluir que as crenças cristãs dos homens medievais não prejudicaram a cultura humana; antes, a favoreceram – apesar das consequências errôneas que em matéria de ciências os medievais julgavam por vezes dever deduzir da sua fé.

Dê o observador muito maior atenção a outra faceta da cultura medieval : a capacidade humana de especulação filosófica parece ter atingido então o auge de sua clareza e agudez, criando as famosas Sumas de Lógica, Ontologia e Metafísica da Idade Média. Estas obras, continuando as dos grandes pensadores gregos (principalmente de Aristóteles), até hoje são monumentos perenes, não ultrapassados, da cultura humana.

É, sem duvida, este aspecto positivo que merece preponderância numa apreciação objetiva da Idade Média.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2017/03/14/a-idade-media-foi-noite-escura/

terça-feira, 6 de junho de 2023

Testemunhas de paz e esperança

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Bernardino Frutuoso,

Jornalista

 

Na edição de Junho da revista Além-Mar, damos destaque à situação de guerra no Sudão, em que se enfrentam, numa luta pelo poder, o Exército e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido. Entretanto, foi assinado um acordo de cessar-fogo entre as duas facções envolvidas, tendo como mediadores e supervisores a Arábia Saudita e os Estados Unidos. Não obstante, a violência não dá tréguas. Por essa razão, segundo a Organização Internacional para as Migrações, mais de um milhão de pessoas foram obrigadas a deslocar-se internamente e outras 319 mil fugiram para os países vizinhos. Também os missionários tiverem de abandonar a sua missão.

A situação de guerra no Sudão não é uma novidade para os missionários que trabalham neste país da África Oriental. São Daniel Comboni (1831-1881), o grande evangelizador desta região, foi o primeiro bispo do Sudão e tinha em Cartum a sede do vicariato apostólico. Pouco depois da sua morte, os homens e mulheres que seguiam o seu carisma sofreram as consequências da revolução madista, chefiada por Mohamed Ahmed Al Mahdi, que se autoproclamou o Mádi, o redentor prometido do mundo islâmico (cf. a obra Religião e Tensões Coloniais no Sudão, de Patrícia Teixeira Santos). Depois da derrota do sucessor de Al Mahdi, o califa Abdullah, em 1898, os missionários regressaram a Cartum e retomaram o trabalho de evangelização, convencidos de que, como dizia Comboni, «as obras de Deus nascem e crescem aos pés da Cruz».

Em 1964, o general golpista Ibrahim Abbud, então chefe de Estado, decretou a expulsão de todos os missionários estrangeiros que trabalhavam no Sul do Sudão. Nessa ocasião, 154 combonianas, 104 combonianos, 13 missionários de Mill Hill e algumas dezenas de protestantes tiveram de abandonar o país. No entanto, muitos dos evangelizadores expulsos regressaram ao país ou continuaram o seu trabalho em novas latitudes, seja na África ou na América Latina, disseminando, sem desanimar, as sementes do Evangelho.

Durante uma longa guerra civil no final do século passado e início deste, que culminou com a independência do Sudão do Sul em 2011, os missionários voltaram a viver episódios de morte e destruição, sendo obrigados, por diversas vezes, a abandonar a missão. Mantiveram sempre acesa a esperança de regressar em tempos melhores e assim aconteceu. Posteriormente, rebentou a guerra civil no Sudão do Sul, obrigando muitos missionários a retirarem-se para zonas mais seguras. Fiéis à sua missão, também voltaram.

O atual confronto armado, que está a causar tanta morte e destruição no Sudão, obrigou, mais uma vez, muitos missionários a retirarem-se da sua missão, mesmo contra a sua vontade. Os seus testemunhos são aterrorizadores, mas, ao mesmo tempo, cheios de esperança e de confiança em Deus. Apesar da complexa situação, todos os que partiram sonham em retornar. E quando a única alternativa é partir, desejam sempre regressar, porque querem estar com aqueles que sofrem, testemunhando o Reino de Deus e partilhando a alegria, a esperança e a paz do Evangelho, mesmo que isso lhes possa custar a vida.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/966/testemunhas-de-paz-e-esperanca/

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Na Síria, o testemunho do padre Jallouf: "guerra e sofrimento, mas Deus nunca nos traiu"

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
Padre Jallouf com o Papa Francisco   (Vatican Media)

*Artigo de Paolo Ondarza


‘É uma testemunha silenciosa do Evangelho dos cristãos das três aldeias de Knaye, Yocoubieh e Gidaideh, no Vale Orontes, a 43 quilômetros de Antioquia, na região de Idlib, nas mãos dos jihadistas de Hayat Tahrir al-Sham. Há 12 anos havia 10.000, hoje existem apenas 600, pouco mais de 200 famílias. Ali o padre Hanna Jallouf continua sendo o único religioso, juntamente com um coirmão, a levar conforto espiritual, material e médico. ‘Todos eles fugiram’, diz aos microfones de Rádio Vaticano - Vatican News. ‘Há doze anos estamos em guerra, sob o domínio dos jihadistas, longe do governo, não temos recursos econômicos ou forças para nos proteger’.

O sequestro em 2014 

Os olhos do padre Jallouf revelam o sofrimento do povo sírio, traem os medos de um destino sombrio, mas também irradiam a luz de uma certa esperança, fundada em Cristo. ‘O Senhor sempre esteve conosco, Ele nunca nos traiu. Nem mesmo quando fui sequestrado’, diz ele, lembrando o sequestro por milicianos em 2014. ‘Eles queriam me forçar a me converter, mas o Senhor me deu a força e a coragem para testemunhar a fé cristã’.

Viver a fé com as restrições

Sem dinheiro, sem defesa, os cristãos destas terras vivem a vida diária altamente condicionada. ‘Nosso testemunho é a vida, as pessoas com quem vivemos sabem que somos reais, sinceros e de bom comportamento’. Nós conduzimos o barco para frente, mas há muitas dificuldades’. Por exemplo, explica o frade, ‘somos forçados a viver e dar testemunho de nossa fé somente dentro das igrejas’. Lá fora, todos os nossos símbolos religiosos foram cancelados, não podemos tocar os sinos, não podemos usar o hábito franciscano, as mulheres têm que se cobrir. O contexto é muito difícil’.

Mas apesar destas restrições’, continua padre Jallouf com um sorriso, ‘nossa fé cresce’. Quanto mais eles apertam, mais nós nos expandimos. Também no Natal poderemos realizar nossas celebrações eucarísticas, novenas ou montar o presépio dentro da igreja, mas fora ou dentro das casas é proibido até mesmo ter uma ‘árvore de Natal’.

Natal

A esperança dos franciscanos é que em breve chegue um dia de paz para viver o Natal em plenitude. Para fortalecê-lo neste sentimento veio como um presente inesperado o encontro nos últimos dias com o Papa Francisco por ocasião da entrega do reconhecimento ‘Flor da Gratidão’ promovido pelo Dicastério para o Serviço da Caridade, símbolo do amor que sustenta o mundo e homenagem a Madre Teresa de Calcutá.  ‘Este reconhecimento é uma alegria depois de tanto sofrimento para meu povo e minha gente. Receber a flor representada para mim e para nosso povo é um vislumbre de esperança e alegria. Quando o cardeal Mario Zenari, nosso núncio, me chamou, ele disse : ‘O Santo Padre quer premiá-lo. Eu respondi : ‘Não sou digno’. ‘Venha e veja’, ele me disse. Então pensei : vamos fazer como São Paulo fez quando entrou em Damasco e lhe disseram : ‘Entre e ali você saberá o que tem que fazer’. Foram necessários três dias e três noites só para chegar a Aleppo’.

O incentivo do Papa

O franciscano também teve a oportunidade de falar pessoalmente com o Papa : ‘Ele expressou sua proximidade para com nosso povo junto com o desejo de que esta guerra termine e em breve se consiga a paz, verdadeira e segura, a justiça e o alívio para nosso povo’.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2022-12/siria-testemunho-padre-jallouf-guerra-sofrimento.html


quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Testemunhas fiéis

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo do Padre Geovane Saraiva,

jornalista, colunista e pároco

de Santo Afonso de Fortaleza, CE

 

Senhor Deus, tu sabes tudo. Nestes tempos difíceis e desafiadores, pedimos que nos mostre, com clareza, o caminho a ser seguido. São muitas as interrogações em nossos dias, as quais necessitam de seguras e convictas respostas, mas há luz da esperança, aquela que se encontra na palavra divina. Chegou, finalmente, a hora de ficar ao lado dos que sofrem, dos irmãos que carregam cargas e fardos pesados. Acompanha-os, Senhor, na tua indulgente compaixão e ternura de Pai!

Que haja na humanidade o interesse e o ímpeto de esperança de um povo que acredita na própria criatura humana. Que pessoa alguma possa ficar de fora ou excluída da compaixão de Deus. Ajude a todos, mesmo que eles se deparem com os que se fecham à graça divina, assumindo funções obscuras e contraditórias, ao contrariar o projeto redentor, ao blasfemar e ignorar sua suprema complacência e brandura, a ponto de imperar à vontade, destruir e tirar de circulação seus semelhantes, na condição de seus inimigos e adversários. Ó Deus, na nossa vocação de teus discípulos e missionários, ajuda-nos a todos e a cada um, destinados que somos a felicidade, no mais límpido e elevado sonho, o do condicional e relativo, no incondicional e absoluto de Deus.

Sem perder de vista a fé no Senhor que ressuscitou verdadeiramente, que a esperança seja muito mais que uma simples visão otimista e luminosa das coisas. Buscar, sim, a verdadeira esperança, que encontra sua consistência e fundamento na vida das pessoas, com toda a sua largueza e abrangência no nosso mundo contraditório e marcado pelo pecado. Esperança verdadeira, muito além da realidade hodierna, indo na direção do infinito e da eternidade em Deus, segundo a promessa de Jesus de Nazaré, fundamento seguro e sólido dos seus seguidores.

No mês de outubro, o das missões, a partir da Igreja essencialmente missionária, que Deus nos encha de esperança, afável compreensão, de que os confins do mundo nos inquietam, inquietam a todos. O Deus de Jesus de Nazaré, como boa e melhor notícia, sem excluir ninguém, diante da dor e do sofrimento a clamar do seio do mundo, como nas palavras esperançosas do Senhor ressuscitado : ‘Sereis minhas testemunhas’ (At 1, 8).’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://domtotal.com/noticias/?id=1590392

domingo, 26 de setembro de 2021

O testemunho de uma religiosa católica no Afeganistão

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

*Artigo da Vatican News


‘Irmã Shahnaz Bhatti é uma religiosa da Caridade de Santa Joana Antida Thouret, originária do Paquistão. Ficou em missão no Afeganistão até 25 de agosto, quando, escoltada pelo exército italiano, conseguiu deixar o país. Deu seu testemunho à ‘Ajuda à Igreja que Sofre’, a fundação católica que ajuda os fiéis cristãos perseguidos.

Qual é a sua congregação e a sua missão?

Pertenço à Congregação Internacional das Irmãs da Caridade de Santa Joana Antida Thouret. Nossa missão é o serviço espiritual e material dos pobres no estilo de São Vicente de Paulo, o grande apóstolo da caridade.

Quais foram as razões de sua presença no Afeganistão?

Como Congregação, aderimos ao projeto ‘Para as crianças de Cabul’, criado em 2001 para responder ao apelo do Papa João Paulo II ‘salvar as crianças de Cabul’, e ao qual a vida religiosa na Itália respondeu com generosidade através da USMI (União dos Superiores Maiores da Itália). Pessoalmente, eu estava em Cabul há dois anos com duas outras irmãs, Irmã Teresia Crasta da Congregação de Maria Bambina e Irmã Irene da Congregação das Irmãs da Consolata. A comunidade em Cabul é, de fato, intercongregacional. Tivemos uma escola para crianças com deficiência mental e síndrome de Down dos 6 aos 10 anos de idade e as preparamos para entrar no sistema escolar público. Trabalhavam conosco professores, zeladores e cozinheiros locais. Com a ajuda das autoridades italianas, pudemos trazê-los e com suas 15 famílias para a Itália. Eles foram acolhidos por congregações religiosas muito generosas e hospitaleiras. Enquanto que as famílias das crianças que estavam aos nossos cuidados, continuam a chamar e pedir ajuda, pois permaneceram em seus lares em perigo, como vocês podem imaginar.

 A senhora poderia descrever como eram seus domingos em solo afegão?

O domingo não é reconhecido como um feriado religioso, é um dia como qualquer outro. As práticas religiosas e a Santa Missa podiam ser celebradas na Embaixada da Itália, de forma reservada.

Quais foram as principais dificuldades encontradas durante sua missão?

A primeira dificuldade foi aprender a língua local, porque no Afeganistão eles não aprendem inglês e não pode se nem mesmo ensiná-lo. Outra dificuldade era entrar em seu mundo, seus hábitos, sua mentalidade, a fim de poder dialogar e estar perto deles. A maior dificuldade era não poder se mover livremente, pois era preciso estar sempre acompanhado por um homem. Eu, que tinha que fazer a papelada necessária com bancos ou outros escritórios, tinha que ser acompanhado por um homem local. Duas mulheres não significavam nada e, naturalmente, não contavam. O sofrimento que me marcou mais fortemente, no entanto, foi ver as mulheres tratadas como coisas. Uma dor indescritível era ver mulheres jovens que tinham que se casar com a pessoa decidida pelos chefes de família contra sua vontade.

A liberdade religiosa era respeitada no Afeganistão antes da retirada dos militares ocidentais?

Não, porque para os afegãos, os estrangeiros ocidentais são todos cristãos, portanto sempre fomos controlados, não era permitido nenhum sinal religioso. Nós freiras tínhamos que nos vestir como mulheres locais e sem o Crucifixo que nos distinguiria.

Como a senhora vivenciou em agosto passado, o período entre a retirada das tropas ocidentais e sua partida para a Itália?

Era uma época muito difícil, estávamos trancadas em nossas casas e tínhamos medo. Durante mais de um ano, éramos apenas duas. Assim que foi possível, a freira que estava comigo partiu e eu fiquei sozinha até o final. Ajudei as irmãs de Madre Teresa, nossas vizinhas, a partir com suas 14 crianças com graves deficiências e sem família, para embarcar no último voo para a Itália antes dos atentados. Se as crianças não tivessem sido salvas, não teríamos saído. Temos que agradecer à Farnesina (Ministério do Exterior italiano) e à Cruz Vermelha Internacional que nos ajudaram a chegar ao aeroporto, e a presença do Padre Giovanni Scalese, que representava a Igreja Católica no Afeganistão, que não nos deixou até a nossa partida. Foi uma viagem difícil de Cabul até o aeroporto, duas horas com paradas, tiroteios, mas no final chegamos.

Como religiosa católica e como mulher, como a senhora vê a tentativa ocidental de ‘exportar a democracia’ para o Afeganistão?

Uma mentalidade não pode ser mudada com boas intenções, acredito que um projeto cultural com as novas gerações possa mudar a mentalidade. Estamos vendo isso com as jovens mulheres que não querem abrir mão de seus direitos de liberdade, mas a formação das novas gerações é necessária. A democracia não se exporta, se cultiva.

O que a senhora gostaria de pedir aos líderes políticos dos países ocidentais mais envolvidos no Afeganistão?

Gostaria de pedir-lhes que ajudem este país a alcançar a verdadeira liberdade, que é o respeito, a promoção humana e civil, lembrando que o fanatismo religioso leva à divisão e aos inimigos, que nenhum povo é melhor que outro e que a coexistência pacífica traz bem-estar a todos.

Como podemos ajudar a população?

Podemos ajudá-los a serem pessoas livres através da educação cultural e cívica, facilitando a acolhida quando decidem deixar o país, mas também, quando as autoridades o permitem, ficando com eles. Eu seria a primeira a voltar para lá. Neste momento de emergência, poderíamos estar presentes nos campos de refugiados vizinhos e não permitir que os pequenos morram de fome, sede e doenças que poderiam ser facilmente curadas. Também devemos considerar as mulheres como pessoas dignas de direitos e deveres, mas como pessoas e não como coisas.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2021-09/religiosa-afeganistao-missionaria-testemunho.html