Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
Abadessa de Shanti Nilayam, India
Os céus proclamam a glória de Deus,
e o firmamento anuncia as obras de suas mãos.
O dia transmite ao dia a mensagem
e a noite dá conhecimento à outra noite.
Não são palavras nem discursos
nem se ouve a sua voz.
Por toda a terra se difunde o seu som,
e até os confins do mundo vai sua mensagem.
Ali armou uma tenda para o sol,
que sai como um noivo do quarto nupcial,
e exulta como um gigante a percorrer
o seu caminho.
A sua saída é desde os confins dos céus
e o seu percurso vai até o outro extremo,
e nada pode subtrair-se ao seu calor.
‘O salmista seria talvez um pastor que cuidava de
seu rebanho e admirava a criação de Deus. Mesmo sem qualquer conhecimento
científico e ignorando a tecnologia do futuro, podia maravilhar-se com a
criação e cantar este belo salmo.
Pela sua potente Palavra, Deus criou e organizou o
universo inteiro, e os seus planos são irreversíveis. A glória, a
magnificência, o esplendor de Deus manifestam-se no salmo. Deus é o criador dos
céus e do sol que ilumina o mundo. Os corpos celestes e a sucessão regular do
dia e da noite manifestam a glória de Deus e transmitem silenciosamente a sua
mensagem, chamando-nos ao louvor de Deus. Deus arranjou maravilhosamente o
universo e tudo o que ele contém é para o nosso bem. O céu e a terra manifestam
a sua glória. As perfeições de Deus são proclamadas num silêncio eloquente pelo
mundo criado. O salmista medita sobre o perfeito silêncio da natureza. Não
podemos aproveitar as maravilhas da natureza senão em silêncio. Como o profeta
Elias, encontraremos o Criador numa brisa suave. Sem palavra nem voz, a criação
descreve a glória de Deus. Ela segue perfeitamente a lei da natureza. O sol não
deixará de nascer ou de se pôr porque Deus Criador colocou ordem na criação, e
ela segue perfeitamente a ordem que, a menos que ele o queira, não mudará.
São Bento consagra um capítulo inteiro da Santa
Regra ao silêncio. Somente no silêncio podemos encontrar Deus como também
os nossos semelhantes. Quanto mais o espírito do Homem penetra no mundo que o
envolve, mais este testemunho nos espanta pela sua grandeza e glória. Deus
maravilhoso de um mundo maravilhoso que merece uma grande honra e uma grande
glória. A glória de Deus significa a sua manifestação de si e a sua
comunicação, exigindo a resposta de louvor do homem. Em numerosos outros
salmos, o salmista convidará toda a criação a celebrar a grandeza do Criador,
como, por exemplo, no Salmo 148.
A noite é a ausência de luz solar. A noite e o dia
cantam a glória de Deus. O dia proclama o esplendor de Deus, e a noite o seu
caráter escondido e o seu mistério. Nem o dia nem a noite podem falar como o
homem, mas, não obstante, eles transmitem a sua mensagem enquanto «sacramentos»
do poder e da majestade de Deus. A sua eloquência é silenciosa. O louvor
prestado a Deus de dia como de noite cobre toda a terra; ela é entendida
universalmente.
O sol é a principal e a mais evidente testemunha do
esplendor de Deus. É poeticamente concebido como escondido em uma tenda no céu
do Oriente antes de aparecer na aurora, e é comparado a um esposo vestido com
trajes esplêndidos devido à intensidade do seu calor, e a um herói militar por
causa da sua luz.
O salmista impressionou-se muito com o céu, a
sequência ininterrupta dos dias e das noites, e o nascer e o pôr do sol. Compôs
um poema e cantou-o em presença dos fiéis. O mundo da criação é um espelho que
reflete Deus, e todos aqueles que creem como o salmista podem ver os reflexos
de Deus no mundo natural. A extrema grandeza e o poder de Deus brilham no
santuário celeste, na vasta extensão do céu e sobre toda a terra.
«O sol quando aparece, fazendo uma proclamação à
medida que surge, é um instrumento maravilhoso, obra do Altíssimo. Ao meio-dia
ele seca a terra, e quem pode suportar seu calor ardente? Um homem que se ocupa
de uma fornalha trabalha em um calor feroz, mas o sol queima três vezes mais as
montanhas, exala vapores ardentes e, com raios luminosos, cega a vista. Grande
é o Senhor que o fez e a seu comando ele se apressa a seguir seu curso.» (Ben
Sira 43)
«Louvado sejais, meu Senhor, com todas as vossas
criaturas. Sobretudo pelo Irmão sol, que é o dia e através do qual vós nos
concedeis a luz, e ele é belo e radiante com grande esplendor, e ele se
assemelha a vós, ó Altíssimo.» (São Francisco de Assis)
Deus criou o céu e a terra, e a coroa da criação é
o homem. O homem é um pouco menos de Deus (Sl 8). O salmista, um homem comum
dotado de uma imaginação prodigiosa e de um profundo sentimento de temor,
proclama a majestade e o poder do Criador. Mas o homem desfigurou a beleza da
criação pelo pecado. Cristo, como a luz do sol, veio dissipar as trevas deste
mundo. O Criador do imenso e maravilhoso universo é tão grande e poderoso, e,
contudo, cuida dos seres humanos. Quando o homem abusa ou trata mal a criação,
a natureza reage. Recentemente, o nosso mosteiro e as proximidades ficaram
inundadas porque algumas pessoas lançaram dejetos na drenagem. Esta ficou
bloqueada com chuvas incessantes que afetaram a nossa fazenda e a maior
parte das nossas culturas, e contaminaram a água potável. Sofremos grandes
perdas. Nada pudemos fazer até que a água recuasse lentamente e isto levou mais
de uma semana. Quando a natureza reage, nada podemos fazer senão confiar em
Deus transcendente presente na criação.
Rezando este salmo, podemos maravilhar-nos com a
criação : com que sabedoria e amor Deus tudo planificou e organizou? Agradecemos
a Deus Soberano do universo, todo sábio e todo poderoso, por tudo ter criado
tão bom e tão belo. Todo o louvor e toda a glória a Deus pela sabedoria
infinita, o seu poder, a sua beleza, a sua criatividade e o seu amor. Louvamos
a Deus em nome de toda a criação. Louvar e glorificar o Criador e Sustentador
do universo inteiro é o fim último de todas as criaturas e seres humanos.
Senhor Deus, nós te louvamos em nome de toda a
criação. A beleza e a bondade de tudo o que fazes, bem como o sistema e a ordem
perfeitos na natureza manifestam a tua sabedoria e o teu amor. Tudo o que fazes
é uma maravilha. Aceita os louvores e a adoração que te oferecemos, e faz com
que todos os seres humanos possam reconhecer a bondade e a sabedoria que estão
ativas na criação, e louvar-te de todo o coração.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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