Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
ex-Presidente da AIM
‘Literalmente, a ecologia segundo a origem grega
desta palavra (oikos-logos), é o discurso sobre a vida dentro de uma casa,
neste caso, o espaço e o tempo em que os seres humanos vivem.
Este discurso deve conduzir à ação : literalmente,
estes estão agrupados sob o termo economia; de fato, de acordo com a origem
grega do termo (oikos-nomos), a economia é o conjunto de «leis» que
damos para viver juntos neste espaço e neste tempo. É uma pena que este
vocábulo seja, hoje, aplicado apenas no sentido financeiro. No entanto, ele diz
respeito a todos os elementos da vida pessoal, social e mesmo espiritual. Há
uma maneira econômica de viver juntos e uma ecologia pessoal saudável. Os
monges estão, sem dúvida, neste estado de espírito.
Segundo a Regra de São Bento, sua prioridade
econômica é a escuta de Deus e dos seus semelhantes para a livre partilha de
uma palavra útil com relação aos fundamentos. É por isso que os monges
privilegiam o silêncio, na medida do possível, a fim de que as palavras
trocadas tenham o seu autêntico peso. Poder-se-ia dizer que a escuta essencial,
tanto de si mesmo como dos outros e dessa Voz misteriosa que nos precede e que
chamamos Deus, é a base de toda a economia ecológica. O múltiplo sentido da
palavra está certamente na origem de toda a primeira crise econômica da vida
humana. A palavra é um bem recebido e está à disposição de todos. Ela requer um
grande desimpedimento para poder ser percebida em toda a sua grande riqueza.
Assim, tudo no mosteiro é organizado em função
desta ecologia humana, tanto para a vida pessoal como para a vida comunitária.
Dia a dia, os monges tornam-se atentos ao bem
supremo da Palavra que vem do Alto. Eles se reúnem sete vezes por dia para a
oração. Eles se colocam na presença da fonte ativa à qual querem se conectar em
primeiro lugar, e respondem-lhe cantando em abundância tanto para exprimir o
louvor do dom da criação e da vida como para lançar o grito de angústia de uma
humanidade frequentemente posta à prova no caminho deste mundo.
Eles organizam os seus espaços de maneira que cada
detalhe tenha todo o seu valor. A Regra de São Bento pede ao celeireiro do
mosteiro que vele para que se trate todas as coisas no mosteiro com o mesmo
cuidado que os vasos sagrados do altar.
Espaços verdes, hortas, pomares, florestas ou
terrenos agrícolas : tudo no mosteiro se torna um espaço de contemplação. Hoje
muitos mosteiros são cuidadosos em preservar o espaço através de regras
elementares sobre as quais o movimento ecológico chama nossa atenção.
A relação com o tempo partilhado é igualmente
vivida em uma economia saudável, mesmo que hoje a instituição monástica, pelo
menos no Ocidente, seja pressionada pelos mesmos imperativos de produtividade
que a sociedade ao seu redor. Todavia, o equilíbrio que se pretende viver entre
oração, trabalho e vida fraterna continua sendo uma regra importante que deve a
todo o custo ser preservada para uma boa economia social. Para isso, os
mosteiros contam com o potencial da extraordinária rede de solidariedade
constituída pelas numerosas comunidades espalhadas pelos cinco continentes.
Poder-se-ia dizer que a vida monástica desenvolve o ideal ecológico de uma
globalização fraterna.
A alimentação é também um importante item econômico
e ecológico para os monges. Comer, para eles, implica sempre o reconhecimento
de um dom recebido e partilhado. Comer sobriamente, sem excessos nem
desperdícios, é uma regra sobre a qual insiste São Bento. Os pratos serão
suficientes, saudáveis e equilibrados para permitir um crescimento feliz e um
bom desenvolvimento do resto das atividades. Se há um símbolo de um bom
equilíbrio na vida, é o do consumo, especialmente de alimentos. As comunidades
monásticas realmente tentam refletir sobre isso, mesmo quando são obrigadas a
recorrer a serviços externos.
O conforto da vida ordinária limita-se ao que é
necessário. Dá-se a cada um aquilo de que precisa efetivamente. Tudo é posto em
comum para uma economia solidária. Colocar em comum os recursos de uma
comunidade permite reduzir as despesas e investir em projetos mais
desenvolvidos, que um indivíduo ou uma família isolados não poderiam realizar.
Ao acolher hóspedes por períodos de silêncio ou
retiro, os centros monásticos se apresentam no coração das nossas sociedades
como um oásis onde podemos tentar respirar e partilhar de uma maneira melhor,
possuir ilusoriamente menos, a fim de sermos mais nós próprios no
relacionamento com os outros.
É surpreendente, na Regra de São Bento, constatar
que o capítulo mais ecológico é aquele que concerne a economia do mosteiro :
«Seja escolhido para Celeireiro do mosteiro, dentre
os membros da comunidade, um irmão sábio, maduro de caráter, sóbrio, que não
coma muito, não seja orgulhoso, nem turbulento, nem injuriador, nem tardo, nem
pródigo, mas temente a Deus; que seja como um pai para toda a comunidade. Tome
conta de tudo. [...] Não entristeça seus irmãos. Se algum irmão, por acaso, lhe
pedir alguma coisa desarrazoadamente, não o entristeça desprezando-o, mas
negue, razoavelmente, com humildade, ao que pede mal. Guarde a sua alma. [...]
Cuide com toda solicitude dos enfermos, das
crianças, dos hóspedes e dos pobres. [...]
Considere todos os objetos do mosteiro e demais
utensílios como vasos sagrados do altar. Nada negligencie. Não se entregue à
avareza, nem seja pródigo e esbanjador dos bens do mosteiro; mas faça tudo com
medida.» (RB 31)
É claro que a vida do mosteiro não recai sobre o
celeireiro, mas o seu exemplo, como o exemplo de todos no mosteiro, pode
encorajar a comunidade a tomar decisões justas para um testemunho ecológico
sempre atualizado.’
Fonte : *Artigo na íntegra
Nenhum comentário:
Postar um comentário