segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Ecologia e vida monástica

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
 *Artigo de Dom Jean-Pierre Longeat, OSB

ex-Presidente da AIM

 

‘Literalmente, a ecologia segundo a origem grega desta palavra (oikos-logos), é o discurso sobre a vida dentro de uma casa, neste caso, o espaço e o tempo em que os seres humanos vivem.

Este discurso deve conduzir à ação : literalmente, estes estão agrupados sob o termo economia; de fato, de acordo com a origem grega do termo (oikos-nomos), a economia é o conjunto de «leis» que damos para viver juntos neste espaço e neste tempo. É uma pena que este vocábulo seja, hoje, aplicado apenas no sentido financeiro. No entanto, ele diz respeito a todos os elementos da vida pessoal, social e mesmo espiritual. Há uma maneira econômica de viver juntos e uma ecologia pessoal saudável. Os monges estão, sem dúvida, neste estado de espírito.

Segundo a Regra de São Bento, sua prioridade econômica é a escuta de Deus e dos seus semelhantes para a livre partilha de uma palavra útil com relação aos fundamentos. É por isso que os monges privilegiam o silêncio, na medida do possível, a fim de que as palavras trocadas tenham o seu autêntico peso. Poder-se-ia dizer que a escuta essencial, tanto de si mesmo como dos outros e dessa Voz misteriosa que nos precede e que chamamos Deus, é a base de toda a economia ecológica. O múltiplo sentido da palavra está certamente na origem de toda a primeira crise econômica da vida humana. A palavra é um bem recebido e está à disposição de todos. Ela requer um grande desimpedimento para poder ser percebida em toda a sua grande riqueza.

Assim, tudo no mosteiro é organizado em função desta ecologia humana, tanto para a vida pessoal como para a vida comunitária.

Dia a dia, os monges tornam-se atentos ao bem supremo da Palavra que vem do Alto. Eles se reúnem sete vezes por dia para a oração. Eles se colocam na presença da fonte ativa à qual querem se conectar em primeiro lugar, e respondem-lhe cantando em abundância tanto para exprimir o louvor do dom da criação e da vida como para lançar o grito de angústia de uma humanidade frequentemente posta à prova no caminho deste mundo.

Eles organizam os seus espaços de maneira que cada detalhe tenha todo o seu valor. A Regra de São Bento pede ao celeireiro do mosteiro que vele para que se trate todas as coisas no mosteiro com o mesmo cuidado que os vasos sagrados do altar.

Espaços verdes, hortas, pomares, florestas ou terrenos agrícolas : tudo no mosteiro se torna um espaço de contemplação. Hoje muitos mosteiros são cuidadosos em preservar o espaço através de regras elementares sobre as quais o movimento ecológico chama nossa atenção.

A relação com o tempo partilhado é igualmente vivida em uma economia saudável, mesmo que hoje a instituição monástica, pelo menos no Ocidente, seja pressionada pelos mesmos imperativos de produtividade que a sociedade ao seu redor. Todavia, o equilíbrio que se pretende viver entre oração, trabalho e vida fraterna continua sendo uma regra importante que deve a todo o custo ser preservada para uma boa economia social. Para isso, os mosteiros contam com o potencial da extraordinária rede de solidariedade constituída pelas numerosas comunidades espalhadas pelos cinco continentes. Poder-se-ia dizer que a vida monástica desenvolve o ideal ecológico de uma globalização fraterna.

A alimentação é também um importante item econômico e ecológico para os monges. Comer, para eles, implica sempre o reconhecimento de um dom recebido e partilhado. Comer sobriamente, sem excessos nem desperdícios, é uma regra sobre a qual insiste São Bento. Os pratos serão suficientes, saudáveis e equilibrados para permitir um crescimento feliz e um bom desenvolvimento do resto das atividades. Se há um símbolo de um bom equilíbrio na vida, é o do consumo, especialmente de alimentos. As comunidades monásticas realmente tentam refletir sobre isso, mesmo quando são obrigadas a recorrer a serviços externos.

O conforto da vida ordinária limita-se ao que é necessário. Dá-se a cada um aquilo de que precisa efetivamente. Tudo é posto em comum para uma economia solidária. Colocar em comum os recursos de uma comunidade permite reduzir as despesas e investir em projetos mais desenvolvidos, que um indivíduo ou uma família isolados não poderiam realizar.

Ao acolher hóspedes por períodos de silêncio ou retiro, os centros monásticos se apresentam no coração das nossas sociedades como um oásis onde podemos tentar respirar e partilhar de uma maneira melhor, possuir ilusoriamente menos, a fim de sermos mais nós próprios no relacionamento com os outros.

É surpreendente, na Regra de São Bento, constatar que o capítulo mais ecológico é aquele que concerne a economia do mosteiro :

«Seja escolhido para Celeireiro do mosteiro, dentre os membros da comunidade, um irmão sábio, maduro de caráter, sóbrio, que não coma muito, não seja orgulhoso, nem turbulento, nem injuriador, nem tardo, nem pródigo, mas temente a Deus; que seja como um pai para toda a comunidade. Tome conta de tudo. [...] Não entristeça seus irmãos. Se algum irmão, por acaso, lhe pedir alguma coisa desarrazoadamente, não o entristeça desprezando-o, mas negue, razoavelmente, com humildade, ao que pede mal. Guarde a sua alma. [...]

Cuide com toda solicitude dos enfermos, das crianças, dos hóspedes e dos pobres. [...]

Considere todos os objetos do mosteiro e demais utensílios como vasos sagrados do altar. Nada negligencie. Não se entregue à avareza, nem seja pródigo e esbanjador dos bens do mosteiro; mas faça tudo com medida.» (RB 31)

É claro que a vida do mosteiro não recai sobre o celeireiro, mas o seu exemplo, como o exemplo de todos no mosteiro, pode encorajar a comunidade a tomar decisões justas para um testemunho ecológico sempre atualizado.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.aimintl.org/pt/communication/report/122

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