Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
Jornalista
‘Na edição de Junho da
revista Além-Mar, damos destaque à situação de guerra no Sudão, em
que se enfrentam, numa luta pelo poder, o Exército e o grupo paramilitar Forças
de Apoio Rápido. Entretanto, foi assinado um acordo de cessar-fogo entre as
duas facções envolvidas, tendo como mediadores e supervisores a Arábia Saudita
e os Estados Unidos. Não obstante, a violência não dá tréguas. Por essa razão,
segundo a Organização Internacional para as Migrações, mais de um milhão de
pessoas foram obrigadas a deslocar-se internamente e outras 319 mil fugiram
para os países vizinhos. Também os missionários tiverem de abandonar a sua
missão.
A situação de guerra
no Sudão não é uma novidade para os missionários que trabalham neste país da
África Oriental. São Daniel Comboni (1831-1881), o grande evangelizador desta
região, foi o primeiro bispo do Sudão e tinha em Cartum a sede do vicariato
apostólico. Pouco depois da sua morte, os homens e mulheres que seguiam o seu
carisma sofreram as consequências da revolução madista, chefiada por Mohamed
Ahmed Al Mahdi, que se autoproclamou o Mádi, o redentor prometido do mundo
islâmico (cf. a obra Religião e Tensões Coloniais no Sudão, de
Patrícia Teixeira Santos). Depois da derrota do sucessor de Al Mahdi, o califa
Abdullah, em 1898, os missionários regressaram a Cartum e retomaram o trabalho
de evangelização, convencidos de que, como dizia Comboni, «as obras de Deus
nascem e crescem aos pés da Cruz».
Em 1964, o general
golpista Ibrahim Abbud, então chefe de Estado, decretou a expulsão de todos os
missionários estrangeiros que trabalhavam no Sul do Sudão. Nessa ocasião, 154
combonianas, 104 combonianos, 13 missionários de Mill Hill e algumas dezenas de
protestantes tiveram de abandonar o país. No entanto, muitos dos
evangelizadores expulsos regressaram ao país ou continuaram o seu trabalho em
novas latitudes, seja na África ou na América Latina, disseminando, sem
desanimar, as sementes do Evangelho.
Durante uma longa
guerra civil no final do século passado e início deste, que culminou com a
independência do Sudão do Sul em 2011, os missionários voltaram a viver
episódios de morte e destruição, sendo obrigados, por diversas vezes, a
abandonar a missão. Mantiveram sempre acesa a esperança de regressar em tempos
melhores e assim aconteceu. Posteriormente, rebentou a guerra civil no Sudão do
Sul, obrigando muitos missionários a retirarem-se para zonas mais seguras.
Fiéis à sua missão, também voltaram.
O atual confronto
armado, que está a causar tanta morte e destruição no Sudão, obrigou, mais uma
vez, muitos missionários a retirarem-se da sua missão, mesmo contra a sua
vontade. Os seus testemunhos são aterrorizadores, mas, ao mesmo tempo, cheios
de esperança e de confiança em Deus. Apesar da complexa situação, todos os que
partiram sonham em retornar. E quando a única alternativa é partir, desejam
sempre regressar, porque querem estar com aqueles que sofrem, testemunhando o
Reino de Deus e partilhando a alegria, a esperança e a paz do Evangelho, mesmo
que isso lhes possa custar a vida.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/966/testemunhas-de-paz-e-esperanca/
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