Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Vanderlei de Lima,
eremita
na Diocese de Amparo, BA
‘O
século XII é, sem dúvida, na vida da Igreja, o tempo áureo dos grandes místicos
cistercienses, ou seja, dos membros da Ordem monástica homônima fundada em
1098, em Cister, na França.
Sobre
tais místicos escreve Dom Luís Alberto Ruas Santos, O. Cist.: ‘Os mosteiros
cistercienses produziram grandes místicos. […] Talvez não tenha havido na
Igreja uma escola de espiritualidade tão uniforme na temática e com tantos
autores como a cisterciense’ (Os cistercienses : uma espiritualidade
abrangente e criativa. Itatinga: Abadia cisterciense de Nossa Senhora da
Assunção de Hardehausen-Itatinga, 1998, p. 17).
Daí
a questão : quem são eles? – Todos foram Abades. Deixaram-nos uma rica
espiritualidade marcada por três pontos : o pastoral, visava, em
forma de Sermões, a santificação dos monges, seus primeiros destinatários;
o patrístico, pois continuava a teologia bíblico-simbólica dos
Padres da Igreja (escritores cristãos – não necessariamente sacerdotes – dos
primeiros sete séculos que muito ajudaram na formulação da reta fé) e também
o místico, ou seja, a vivência da verdadeira e estável união com
Deus a fim de se tornarem um só com Ele. São grandes expoentes dessa corrente
mística Bernardo de Claraval (o pai ou iniciador), Guilherme de Saint-Thierry,
Elredo de Rievaulx, Guerrico de Igny, Balduíno de Ford etc. (cf. Dom Bernardo
Bonowitz. Os místicos cistercienses do século XII. Juiz de Fora:
Subiaco, 2005, p. 7-11). Alguns destes homens tratarão do Sagrado Coração de
Jesus em seus escritos. Ei-los :
São
Bernardo de Claraval escreve : ‘O ferro da lança transpassou sua alma e
aproximou-se de Seu coração para que ele pudesse sentir conosco, com a nossa
fraqueza. O segredo do Coração tornar-se-á visível através da abertura do
corpo. Abre-se aquele grande mistério de sua clemência, abre-se o íntimo
trancado da misericórdia de Deus’ (PL CLXXXIII. 1072 in Dom
Veremundo A. Toth, OSB. Por sinais ao invisível, Juiz de Fora:
Subiaco, 2003, p. 144).
Guilherme
de Saint-Thierry registra : ‘Assim como Tomé, o cético, expressando seu desejo,
também eu desejo vê-lo por inteiro e tocá-lo; mas não apenas isso, e sim chegar
junto da sagrada chaga de seu lado; até a fenda da arca da aliança que se abriu
no seu lado, para que eu pudesse introduzir não apenas meus dedos e minha
inteira mão, mas todo eu pudesse achegar-me ao próprio Coração de Jesus, ao
Santo dos Santos à arca da aliança’ (PL CLXXXIV. 368, idem, p.
144).
Guilbert
de Hoyland diz : ‘A chaga do coração assinala o ardor do amor. Em verdade, é um
doce Coração que induz nossos sentimentos à reciprocidade afetuosa. Por mais
que ame, não ama, mas apenas retribui o amor… Esposa, não consegues
corresponder totalmente ao teu Amado. Mesmo assim Ele não cessa de se dar
inteiramente. O que ele te oferece ainda não é completo, mas se compromete.
Todo o amor que Lhe retribuis, Ele o recebe não como uma dívida, mas sim como
uma oferenda espontânea. Ele sente uma espécie de desafio ao amor, enquanto
apresenta seu Coração ferido’ (PL CLXXXIV. 155, ibidem, 2003, p.
144-145).
Guerrico
d’Igny chega, por sua vez, ao símbolo preciso do Coração, ao escrever : ‘Para
que eu pudesse construir meu ninho na fenda de um rochedo, bendito seja quem
suportou que traspassassem seus pés, sua mão e o lado e se abriu totalmente
para mim para que eu pudesse adentrar na maravilhosa tenda e encontrasse
proteção no refúgio do seu interior… Por isso, Ele abriu misericordiosamente
seu lado, para que o sangue de sua chaga me vivificasse, o calor de seu corpo
me alentasse, o sopro libertador do hálito puro de seu Coração me reanimasse’
(PL CLXXXV. 140, ibidem, p. 146).
Que
tão preciosos ensinamentos dos grandes místicos cistercienses do século XII
sobre o Sagrado Coração de Jesus fale alto no nosso coração neste conturbado
século XXI.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://pt.aleteia.org/2021/06/13/o-sagrado-coracao-de-jesus-entre-os-misticos-cistercienses/
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