Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
Bispo de Marabá, PA
‘A Igreja festeja a
Trindade Santa, que é eterna, manifestada como o Deus Uno e Trino, o mistério
dos mistérios que encerra a vida humana, dá sentido a toda a obra criadora,
redentora, iniciada pelo Pai, assumida pelo Filho e completada pelo Espírito
Santo. O ser humano é convidado a adorar a Deus em três Pessoas e três Pessoas
num único Deus. Glórias sejam dadas ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo,
sendo o fundamento da existência humana e para que um dia as pessoas participem
da vida eterna, em comunhão com o Deus Uno e Trino. A seguir dar-se-á uma visão
a partir dos santos padres, os primeiros escritores cristãos a respeito da
Trindade Santa.
O Batismo em nome da
Santíssima Trindade
Os cristãos se
distinguiram dos judeus e dos pagãos porque admitiam os convertidos à
comunidade de Jesus Cristo e eram batizados em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo (Mt 28,19). São Justino de Roma, padre da Igreja, século II
disse que os catecúmenos eram conduzidos num lugar onde havia água em vista da
regeneração e na recepção de um banho invocando o nome de Deus, Pai soberano do
universo, e de Salvador Jesus Cristo e do Espírito Santo [1]. A fé
batismal na Trindade Santa teve as suas raízes na experiência pascal das
comunidades primitivas, experiência fundada na pessoa de Jesus Cristo que
estava unido ao Pai em falar de seu nome, de morrer segundo a sua vontade pela
salvação da humanidade e também pela esperança da vinda do Messias na efusão do
Espírito Santo [2].
A Trindade em relação à fé
batismal
Santo Ireneu de Lião
reforçou a Trindade em relação à fé das pessoas que recebiam o batismo. Nas
comunidades os catequistas falavam que os convertidos ao cristianismo
acreditassem no Deus Pai, incriado, invisível, único Deus, Criador do Universo.
Como segundo artigo de fé os educadores tinham presentes o Verbo, Filho de
Deus, Jesus Cristo que apareceu aos profetas e assumiu a economia da salvação
disposta pelo Pai, que por meio dele foi criado o universo e no final dos
tempos virá para recapitular todas as coisas, destruir a morte, restabelecer a
comunhão entre Deus e o ser humano (cfr. Ef 2,13-18). O terceiro artigo era o
Espírito Santo, de cujo poder os profetas profetizaram e os Padres
instruíram-se com relação a Deus, a todas as pessoas que realizaram o bem, mas
que veio para renovar a face da terra e o ser humano para Deus (cfr. Sl 104
(103), 30 [3].
A igualdade das Pessoas na
Trindade
Orígenes, padre da
Igreja em Alexandria, séculos II e III afirmou que na Trindade há igualdade das
Pessoas, superando a idéia de diferenças entre as mesmas. A graça do Espírito
Santo é comunicada a quem é digno, transmitida por Cristo e é operada pelo Pai,
segundo o merecimento das pessoas que a acolham em seus corações. O autor
alexandrino disse que o apóstolo Paulo indicou a igualdade de operações ao
afirmar que há uma só e mesma potência na Trindade, pois se há diferenças nos
dons, o Espírito é o mesmo; há distinções nas ações, no entanto, o Deus é o
mesmo que faz as coisas em todos (1 Cor 12,4-7). O apóstolo ensinou com clareza
que na Trindade não há nenhuma separação, mas há a igualdade nas Pessoas, pois
o dom do Espírito vem do ministério do Filho, é operado por Deus Pai e é
repartido a cada um conforme quem o quer (1 Cor 12,11 ) [4].
A Trindade fez o ser
humano
Tertuliano, padre da
Igreja em Cartago, séculos II e III afirmou que a Trindade fez o ser humano. O
fato foi que o Senhor Deus disse : “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança
: homem e mulher os fez” (Gn 1,126). O verbo utilizado foi no plural de modo
que o Senhor não disse no singular como se fosse uma única Pessoa divina, sendo
o Pai e o Filho e o Espírito Santo de modo que falou ao plural, as três Pessoas
divinas. O Deus Criador, o Pai já tinha consigo a segunda Pessoa, o Filho, a
sua Palavra e a terceira Pessoa, o Espírito Santo de modo que disse ao plural
“façamos”. Com quem Deus o fazia semelhante? Ele o fazia semelhante ao Filho,
que assumiria a natureza humana com o Espírito Santo que a santificaria já falava
na unidade da Trindade como com ministros e testemunhas [5].
Criados e santificados por
meio da Trindade
São Cromácio de
Aquiléia, bispo nos séculos IV e V, disse que o ser humano foi criado e
santificado por meio da Santíssima Trindade. Da mesma forma como a primeira
criação foi feita por meio da Trindade, assim também a segunda criação foi
feita também pela Trindade. O Pai enviou o seu Filho ao mundo e veio também o
Espírito Santo, de modo que uma e idêntica foi a graça da Trindade. O ser
humano foi salvo por meio da Trindade, porque esta graça não existiria se ao
principio não fosse criado pela Trindade [6].
A Unidade e a Trindade
São Basílio de
Cesareia, bispo no século IV disse que a fé cristã leva à pessoa adorar a
unidade e a trindade em Deus. Desta forma não existem três princípios, mas
apenas um principio, em que o Pai criou as coisas pelo Filho e aperfeiçoou pelo
Espírito Santo. O Pai faz tudo por meio do Filho e o Filho perfaz por meio do
Espírito. A Sagrada Escritura confirma esta unidade na Trindade. O evangelista
João diz que no principio estava com Deus e o Verbo era Deus (Jo 1,1); o Sopro
da boca de Deus é o Espírito da Verdade que vem do Pai (Jo 15,26) [7] e do Filho.
A Santíssima Trindade,
amiga do ser humano
São João Damasceno,
monge e sacerdote do século VIII teve presente que a Santíssima Trindade é
amiga do ser humano. São Três Pessoas co-eternas, mas um único Senhor Deus,
reforçando-se a unidade da natureza divina, pois com fé as pessoas aclamam a
Majestade divina, a Trindade Santa, liberte os servos que seguem a Trindade das
tribulações deste mundo. O povo pede que a Santíssima Trindade, início da vida
estabeleça as pessoas nos bens que não mudam, mas quem ficam eternamente. O
fiel suplica que a Trindade Santa, amiga do ser humano tenha piedade e tenha
misericórdia das pessoas pecadoras, ilumina a todas pela sua benignidade [8].
Unidade na Trindade
Santo Agostinho,
bispo de Hipona, dos séculos IV e V reforçou a unidade na Trindade. O ser
humano é convidado a acreditar no Pai e no Filho e no Espírito Santo, como um
só e único Deus, onipotente, grande, bom, justo, misericordioso, Criador de
todas as coisas visíveis e invisíveis, conforme a capacidade humana. Quando se
tem presente as Pessoas uma não está desligada das outras. Em relação ao Pai,
como um só Deus, não se separe o Filho e o Espírito Santo : o mesmo argumento é
dado ao Filho como um só Deus, não seja separado do Pai e do Espírito Santo :
da mesma forma é dito do Espírito Santo como um só Deus, não seja separado do
Pai e do Filho. Não se trata de três deuses, mas de uma única essência, um só
Deus em três Pessoas [9].
A glória seja dada ao
Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, Deus Uno e Trino. O louvor e o
agradecimento vão às três Pessoas divinas num único Deus. A unidade e a
trindade revigoram as atividades humanas, o engajamento familiar, comunitário,
social, as pastorais, os movimentos, os serviços vida da Igreja, no mundo e um
dia na eternidade.’
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[1] Cfr. Justino de
Roma. I Apologia 61,3. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 76.
[2] Cfr. B.
Studer. Trinità. In: Nuovo Dizionario Patristico e di
Antichità Cristiane. Genova – Milano, Editrice Marietti, 2008, pgs.
5467-5468.
[3] Cfr. Irineu de
Lyon. Demonstração da Pregação Apostólica, 6. São Paulo,
Paulus, 2014, pgs. 75-76.
[4] Cfr. Orígenes. Tratado
sobre os Princípios, 1,3,7. São Paulo, Paulus, 2012, pgs. 92-93.
[5] Cfr.
Q.S.F.Tertulliano. Contro Prassea, XII, 1-3. Edizione
critica com Introduzione, Traduzione italiana, note e indici a cura di Giuseppe
Scarpat. Torino, Società Editrice Internazionale, 1985, pgs. 171-173.
[6] Cfr. Cromazio di
Aquileia. Sermone 18,4. In: Ogni giorno con i Padri della
Chiesa, A cura di Giovanna della Croce, Presentazione di Enzo Bianchi.
Milano, Paoline, 1996, pg. 167.
[7] Cfr. Basílio de
Cesareia. Tratado sobre o Espírito Santo, 38. São Paulo,
Paulus, 1998, pgs. 133-134.
[8] Cfr. Giovanni
Damasccno. Ochtoêchos, VIII. In: Ogni giorno con i
Padri della Chiesa, pg. 182..
[9] Cfr. Santo
Agostinho. A Trindade, Livro VII, 12. São Paulo, Paulus, 1994, pgs.
256-257.
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2023-06/gloria-pai-filho-espirito-santo.html
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