Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘Quando penso em
tortura, a primeira imagem que me vem em mente são cenas relacionadas à
Inquisição, uma chaga na história tantas vezes mencionada pelos que querem
atacar a fé e a Igreja. Em diversas cidades da Europa, por sinal, é comum
encontrarmos ‘museus da tortura’, que recordam tal período. Mais do que expor
objetos, esses museus têm uma função social, alertando para tais práticas
cruéis e ajudando-nos a refletir sobre os males e consequências negativas que
aquela realidade provocou na história.
Mas
ao mesmo tempo que visualizo mentalmente as cenas da Inquisição, recordo também
de tantos relatos relacionados à ditadura no Brasil e em diversos outros
países, tanto do passado quanto do presente. Inúmeros grupos continuam exigindo
explicações e respostas das autoridades sobre males cometidos por tais regimes
totalitários. Todos certamente já ouvimos falar do movimento ‘Tortura nunca
mais’, ou das ‘Mães da praça de maio’, para recordar a terra natal do Papa
Francisco. Na luta contra a tortura hoje se unem ainda a Amnistia
internacional, a Cruz vermelha, a Organização mundial contra tortura e tantos
outros.
Em
1984, 155 nações assinaram a convenção da ONU contra a prática de tortura, no
entanto ela continua acontecendo em muitos países. Uma pesquisa recente realizada
pela Amnistia internacional mostrou inclusive que parte da população considera
a tortura ‘justificável’ em alguns casos. Daí a necessidade e atualidade dos
inúmeros grupos que defendam a dignidade humana. O Papa Francisco se une a
estes movimentos, iniciando o seu vídeo do mês de junho lamentando e ao mesmo
tempo denunciando que a tortura não é algo do passado, mas infelizmente
continua a fazer parte da nossa história atual. ‘Como é possível que a
crueldade humana seja tão grande?’, questiona o Papa, que a seguir recorda que
o próprio Jesus foi torturado e crucificado. Ao longo da história da Igreja,
muitos dos seus seguidores tiveram o mesmo fim. Reconhecemos alguns como
mártires, mas tantos outros ‘cristãos desconhecidos’ também sofreram e continuam
a sofrer formas variadas de tortura por causa da fé e da defesa dos valores
evangélicos, como a paz, a justiça, a igualdade, a dignidade humana.
No
Brasil, não é preciso grande esforço para encontrarmos regularmente práticas de
tortura ou abusos de autoridade expostos nas mídias tradicionais ou nas redes
sociais. O ambiente digital, por sinal, se mostra cada vez mais um difusor de
tortura psicológica e moral. Multiplicam-se os casos de ciberbullying, abusos,
perseguições, manipulações várias que conduzem à violência, depressão,
automutilação e uma proliferação de ódio muito perigosa. O próprio Papa nos
alertou para tal perigo em diversos documentos e mensagens. Na encíclica Fratelli
tutti, por exemplo, nos alerta que ‘a agressividade social encontra um espaço
de ampliação incomparável nos dispositivos móveis e nos computadores’.
No
início do seu pontificado, ouvimos algumas calúnias sobre a atuação do Papa
Francisco quando ainda era provincial dos jesuítas na Argentina. Queriam
difama-lo com informações polêmicas de que Bergoglio teria sido omisso em
alguns casos de tortura de sacerdotes, particularmente no caso de Orlando Yorio
e Francisco Jalics, jesuítas que faziam trabalho social com comunidades
carentes de Buenos Aires, e acabaram sendo sequestrados e torturados pela
ditadura argentina. O episódio é aludido no livro o livro ‘Iglesia y Dictadura’
(1986), de Emílio Mignone, e também no filme ‘Dois papas’ (2019), dirigido pelo
brasileiro Fernando Meirelles. Diversas outras fontes, porém, comprovam que
Bergoglio nunca mediu esforços para denunciar os crimes contra a dignidade
humana. No Brasil foi publicado em 2013 o livro ‘A Lista de Bergoglio : os que
Foram Salvos por Francisco’ (Paulus Editora). O autor descreve como o então
padre Jorge Mario Bergoglio empenhou-se em salvar muitas pessoas, que, sem sua
ajuda, teriam desaparecido sob a perseguição dos militares argentinas.
Teríamos tantas outras situações para descrever, mas o importante é sublinhar a ação do Papa, que no seu vídeo do mês fica ainda mais evidente. O Santo Padre exorta-nos todos a colocar em primeiro lugar a dignidade da pessoa humana, respeitando e apoiando as vítimas, que não são ‘coisas’, objetos, mas pessoas humanas, filhos de Deus. Para tal, pede o fim da tortura no mundo e que cada cristão possa, ao longo deste mês, rezar ‘para que a comunidade internacional se empenhe concretamente na abolição da tortura, garantindo apoio às vítimas e aos seus familiares’.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2023-06/irmao-darlei-pelo-fim-tortura.html
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