*Artigo de Cardeal Dom Orani João Tempesta, O.
Cist.,
Arcebispo Metropolitano de
São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
‘Acontece,
de 25 a 29 de janeiro, no Centro de Estudos e Formação do Sumaré, aqui no Rio
de Janeiro, o 25º. Encontro dos Bispos, uma feliz iniciativa criada pelo nosso
saudoso Cardeal Eugênio Sales. O tema central do Curso deste ano será sobre a
Família, em consonância com as duas últimas assembleias sinodais,
extraordinária e ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre a realidade familiar.
Teremos conferencistas e professores internacionais e nacionais especialistas
no tema.
Acerca da
realidade familiar, nos ensinou o Papa Francisco um desejo que deve estar no
coração dos bispos, padres e de todo o povo fiel : ‘Garanto-vos, queridas famílias, se fordes capazes de caminhar sempre
cada vez mais decididamente na via das bem-aventuranças, aprendendo e ensinando
a perdoar-vos reciprocamente, em toda a grande família da Igreja crescerá a
capacidade de dar testemunho da força renovadora do perdão de Deus.
Diversamente, fazemos pregações lindíssimas, e talvez até esmaguemos algum diabo,
mas no final o Senhor não nos reconhecerá como seus discípulos, porque não
tivemos a capacidade de perdoar e de nos fazer perdoar pelos outros’!
(Audiência Geral de 04 de novembro de 2015).
Mas é oportuna uma
reflexão sobre o Bispo Diocesano, como sucessor dos apóstolos, como aquele que
é o pai da família diocesana, que é o primeiro a perdoar, ensinar o perdão e
nos inscrever na escola da misericórdia e da compaixão. Iniciamos com a fala
profética do Papa Francisco na ordenação episcopal de Monsenhor Angelo De
Donatis, quando ele traçou o perfil do Bispo : ‘Quanto a ti, irmão caríssimo, eleito pelo Senhor, reflete que foste
escolhido entre os homens e para os homens foste constituído nas coisas que
dizem respeito a Deus. Com efeito, Episcopado é o nome de um serviço, não de
uma honra, pois ao bispo compete mais servir do que dominar, segundo o
mandamento do Mestre : ‘Quem é o maior entre vós, faça-se o mais pequenino, e
quem governa, como aquele que serve’’ (Basílica São João de Latrão, 9 de
novembro de 2015).
Continua o Santo
Padre quando fala que o Bispo é um chefe de família : ‘Colocado pelo Pai como chefe da sua família, segue sempre o exemplo do
Bom Pastor, que conhece as suas ovelhas, por elas é conhecido e para elas não
hesitou dar a sua vida’ (Idem).
O Papa ressalta
que cabe ao Bispo ter amor de pai e de irmão para com todos : ‘antes de tudo os presbíteros e os diáconos,
os seminaristas; mas também os pobres, os indefesos e quantos precisam de
acolhimento e de ajuda’ (Ibidem).
A vida e o
ministério do Bispo, como ordinário próprio de sua Igreja Particular, é daquele
que dispensa os vínculos da caridade, acolhendo, corrigindo quando necessário,
lembrando que no direito está a caridade, como lei suprema, sempre fazendo de
tudo para encaminhar a todos para os caminhos de Deus. O amor supera tudo. Com
amor toda solução é imediata.
De um presbítero
se fale somente o que é bom, justo, santo e verdadeiro. Se há falhas, se há
pecados, cala-te e reza pela sua conversão. Não podemos viver na murmuração de
correções públicas ou de condenações ou anátemas imediatos, com decretos
extremos que mais mal fazem para a Igreja do que bem. Devemos nunca cansar de
acolher, de perdoar, de distribuir a graça de Deus e dar a verdadeira
oportunidade para uma conversão profunda, para um recomeçar, para um reinício
de uma vida totalmente voltada para Deus, como o Pai misericordioso da parábola
do Filho Pródigo : ‘Mas o pai disse aos empregados : ‘Depressa, trazei a melhor túnica para vestir o meu filho. E colocai-lhe
um anel no dedo e sandálias nos pés. Pegai o novilho gordo e matai-o. Vamos
fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava
perdido e foi encontrado’ (cf. Lc 15, 22-24). ‘Atire a primeira pedra quem não tiver pecado’.(cf. Jo 8,1-11) Com
misericórdia se inicia uma correção fraterna e com ela também a finaliza.
Realmente, em uma
Diocese, grande ou pequena, o Bispo, enquanto sucessor dos Apóstolos, necessita
de auxiliares na pessoa dos presbíteros, seus colaboradores em seu ministério
de conduzir, qual o Bom Pastor, o Povo de Deus a ele confiado. Nisso os
sacerdotes muito o auxiliam. Aliás, nos primórdios da constituição hierárquica
da Igreja, só havia uma Missa solene aos domingos com todo o clero junto com o
Bispo. Depois é que a necessidade pastoral fez ver que seria melhor o sistema
de paróquias com um padre – pároco ou administrador paroquial – à frente como
coordenador a serviço daquela comunidade.
É certo que nessa
árdua missão os sacerdote sofrem, como os demais seres humanos em quaisquer
campos de ação que se encontem, as agruras da vida e que muitas vezes têm sido
apontadas em estudos relevantes : solidão, questões doutrinárias ou pastorais,
doenças, questões familiares (o padre vem de uma família, (e alguns de famílias
fragmentadas que experimentam a dureza da separação de seus pais), canseiras
devido ao trabalho, tentações de todos os tipos, muitas incompreensões e
perseguições. Ora, embora os irmãos presbíteros sejam nessas horas um apoio
forte àquele que sofre, é ao Bispo, como verdadeiro pai, que cabe atender com
solicitude os mais fracos, frágeis ou titubeantes mesmo na vida sacerdotal. Há
quem se esqueça de que o padre é um homem e como todo homem tem seus problemas
e dificuldades a carecerem de remédio. O padre ainda não é santo dos altares,
pois carece de ser burilado na sua caminhada sacerdotal que não tem fim nesta
terra dos homens.
Como o bispo o
atenderá? – Primeiramente com a solicitude paternal da acolhida. Nessa acolhida
o ouvirá a fim de poder ajudar da melhor forma possível, sem transigir em nada
daquilo que a Igreja espera do padre, mas também sem colocar a lei – ou pior, o
legalismo – acima da caridade e da misericórdia. Nesse contexto, prestará ao
sacerdote, ainda que errante, seu apoio para que não volte a errar. Essa é a
sábia norma da Igreja, que sempre recomendou detestar o erro, mas amar o
errante (Santo Agostinho).
De um fiel
diocesano, particularmente das famílias de nossas Igrejas particulares, cabe ao
Bispo, também como autêntico pai da Família Diocesana, dar o testemunho de
famílias que vivem da Eucaristia. Isso porque é o Senhor que parte o seu Corpo
e derrama o seu preciosíssimo Sangue por todos, como nos ensina o Papa
Francisco : ‘A família cristã mostrará
precisamente assim a amplidão do seu verdadeiro horizonte, que é o horizonte da
Igreja-Mãe de todos os homens, de todos os abandonados e excluídos, em todos os
povos’ (Audiência Geral de 11 de novembro de 2015).
Os bispos que vêm
ao Rio de Janeiro, aqui vêm para estudo, oração e vivência de união fraterna. Vamos
viver como irmãos. Por isso, refletir nestes dias sobre a Família e toda a sua
problemática é manifestar claramente nosso compromisso com a edificação de uma
família constituída pelo amor esponsal do marido com a mulher, abertos para a
constituição de uma bonita família, sem medo de ter filhos, destemidamente
educados na fé católica, o maior tesouro que podemos deixar como herança para
as gerações futuras. Cuidemos, sobretudo, da família da qual pertencemos. A
grande família, que é a Igreja, precisa viver e testemunhar em gestos concretos
a misericórdia e a compaixão.’
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