*Artigo
de Fabrício Veliq,
protestante,
é mestre e doutorando em
teologia
pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE),
doutorando
em teologia na Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica,
formado
em matemática e graduando em filosofia pela UFMG
‘Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e,
por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros : Colhei primeiro o joio, e atai-o em
molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro. Mateus 13:30.
A meu ver, esse
texto é um convite à humildade e à tolerância. No mundo atual em que estamos
inseridos, em que diversos discursos de ódio tem crescido tanto em nosso país
como em diversos lugares do mundo com a volta de nacionalismos e grupos de
extrema direita, acredito que pensarmos a questão da tolerância e da humildade
é tarefa importantíssima.
Não dificilmente
ouvimos nos diversos meios cristãos em que estamos inseridos frases do tipo ‘essa coisa não é de Deus’, ou ‘Deus não pode agir desse modo, onde já se
viu?’. Essas frases, muitas vezes, refletem a ideia de que aquele que a diz
é extremo conhecedor daquilo que é de Deus e aquilo que não é. Nesse sentido,
essa parábola do joio e do trigo tem muito a nos ensinar na atualidade.
Um dos pontos mais
interessantes é que quem faz a colheita não são os servos do dono da plantação.
Por mais que a intenção dos servos aparentasse ser muito boa e solícita, a
resposta do senhor da plantação é muito clara. Um enfático ‘não’ é dada à proposta. Porém, não é um ‘não’ sem justificativa, mesmo que, como
senhor da plantação poderia ter dado esse ‘não’
e pronto. Porém, diante dessa resposta, propõe também um motivo. Esse era
simples : ‘para que, ao colher o joio,
não arranqueis também o trigo com ele’ (v. 39).
Isso nos mostra
que, por mais que a intenção dos servos fosse boa, o senhor da plantação tinha
consciência de que os mesmos não eram capazes e não tinham conhecimento
suficiente para fazer a separação entre o joio e o trigo, o que acarretaria em
perda do trigo e a confusão de um com o outro. Ao contrário, o senhor diz para
deixar crescer o joio e o trigo juntos e, na ceifa, os ceifeiros fariam a
separação entre o joio e o tribo.
Assim, antes de
falar se algo é ou não de Deus, devemos lembrar dessa parábola. Não somos nós
quem fazemos a separação entre joio e trigo; o senhor da plantação não
autorizou os servos que plantam a fazerem isso. Antes, dá-lhes uma palavra de
tolerância : ‘deixai crescerem juntos’.
Isso poderia
incomodar os servos, contudo era necessário a eles reconhecerem que não tinham
capacidade para a separação e que, caso o tentassem fazer, o estrago seria
maior que a ajuda.
Não é difícil
termos a impressão de que sabemos separar as coisas que ‘são de Deus’ daquelas que não são. Quem costuma fazer isso,
geralmente, não atenta que há situações que são bem complexas para sermos
totalmente taxativos sobre elas. A humildade e a tolerância sempre fazem bem
nesses casos.
A ordem do senhor
da plantação nos instiga a desenvolvermos essas duas virtudes que ficam cada
dia mais raras entre nós e que pode ser de grande valia para vivermos em dias
atuais.
Isso não quer
dizer tolerar os intolerantes, nem tão pouco sermos apáticos e inertes frente
às situações que vão contra o exemplo de Cristo, mas, antes, mostra que, nas
situações ‘cinzas’ da vida, a
parcimônia é virtude a ser desenvolvida por nós, os plantadores, bem como nos
instiga a tomarmos consciência de que somente Deus sabe aqueles que lhe
pertencem e que, muitas vezes, nossos olhos e nossas visões de mundo podem nos
enganar, fazendo com que, na ânsia de ajudar o senhor da plantação, estraguemos
e queimemos diversas partes do trigo que está em nosso meio.’
Fonte :
* Artigo na http://www.domtotal.com/noticia/1090317/2016/10/joio-e-trigo-algo-sobre-tolerancia-e-humildade/
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