*Artigo de Dom Alberto Taveira Corrêa,
Arcebispo
Metropolitano de Belém, PA
‘O Apóstolo São
Paulo teve atuação decisiva na expansão do cristianismo no mundo antigo, a
partir do fato da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Passando o Senhor
da Morte para a Vida, ficou vencido o grande inimigo. A morte foi vencida por
aquele que abriu as portas para a vida plena para todos os homens e mulheres.
De fato, ‘Cristo ressuscitou dentre os
mortos, como primícias dos que morreram!’ (1 Cor 15, 20). São Paulo,
anunciando que Cristo ressuscitou e nele está a nossa esperança, indicou as
estradas para que todos os homens e mulheres, convertidos pela força da Palavra
proclamada e tocados pela graça suficiente, venham para o Senhor e nele
encontrem o caminho, a verdade e a vida! Em suas cartas e nos muitos discursos
pronunciados nas viagens apostólicas realizadas, tratou de situações que abrem
o horizonte para a compreensão do modo adequado para viver como cristãos.
Sabemos que o correr dos séculos mostrou a busca contínua de concretizar a
Palavra do Evangelho, sabendo que todas as culturas não são canceladas, mas
elevadas à sua máxima expressão, pelo contato com Jesus Cristo e sua Igreja.
A menor das cartas
atribuídas a São Paulo, alguns chamam de pequeno ‘bilhete’, dedicada a Filêmon, trata de uma das questões mais
delicadas da história da humanidade, a escravidão. Mesmo que as nações tenham
descoberto a grandeza da dignidade humana, sabemos que as situações de
escravidão se repetem diante de nossos olhos. Vivendo na região amazônica, bem
perto de nós sabemos existirem graves fatos de tráfico humano, tráfico de
mulheres para a prostituição, contrabando de órgãos para transplante, tudo eivado
de interesses políticos e econômicos inconfessáveis, práticas criminosas também
presentes em outras áreas do Brasil e do Mundo. Tem a palavra o apóstolo das
gentes : ‘Caríssimo : Eu, Paulo, velho
como estou e agora também prisioneiro de Cristo Jesus, faço-te um pedido em
favor do meu filho que fiz nascer para Cristo na prisão, Onésimo. Eu o estou
mandando de volta para ti. Ele é como se fosse o meu próprio coração. Gostaria
de tê-lo comigo, a fim de que fosse teu representante para cuidar de mim nesta
prisão, que eu devo ao evangelho. Mas, eu não quis fazer nada sem o teu parecer
para que a tua bondade não seja forçada, mas espontânea. Se ele te foi retirado
por algum tempo, talvez seja para que o tenhas de volta para sempre, já não
como escravo, mas, muito mais do que isso, como um irmão querido, muitíssimo
querido para mim quanto mais ele o for para ti, tanto como pessoa humana quanto
como irmão no Senhor. Assim, se estás em comunhão de fé comigo, recebe-o como
se fosse a mim mesmo’ (Fm 9b-10.12-17).
Paulo está preso e
avançado em anos, e pronuncia palavras de fogo dirigidas a um amigo querido
que, convertido, é chamado a superar uma estrutura comum na época, quando a
escravidão era tolerada, como aconteceu em tantas nações e épocas da história.
Quem fura o olho da escravidão é a prática da fraternidade, o amor de Deus que
estabelece novas relações entre as pessoas. Expressões usadas pelo Apóstolo
mostram a estrada : filho e irmão! Olhar para o outro, e este outro tem nome, é
Onésimo, como filho, faz com que filho não seja somente o que nasceu das
próprias entranhas, mas nasça um relacionamento diferente, que gera a vida em
Cristo. E o escravo ou o senhor de escravos se torna irmão e se supera a
distância entre as pessoas. Só em Cristo a humanidade encontra seu caminho de
restauração e superação dos pecados pessoais ou sociais.
Como viver e
enfrentar os outros desafios existentes? Só quando se abre o coração e a mente
à ação do Espírito Santo se tornam retos os caminhos dos que estão na terra e
os homens aprendem o que agrada a Deus. O que se apresenta diante dos olhos de
todas as pessoas para fazerem suas opções é a decidida exigência de escolher o
que dá rumo certo à existência. E Jesus apresenta às multidões, quer dizer, a
todos, o caminho a ser percorrido (Cf. Lc 14, 25-33). Jesus não receia
apresentar a todos tais condições a serem acolhidas. Sua sabedoria pede que
seus discípulos estabeleçam uma relação diferente com as coisas e propriedades,
e o nome é pobreza, com as outras pessoas, no uso da capacidade de amar,
chamado de castidade, e também com a própria vida, com o nome de obediência.
Mais cedo ou mais tarde, todas as pessoas deverão sentir-se livres em relação
às coisas, os afetos e a própria vida, nem que seja no último momento de sua
caminhada nesta terra, já que a passagem pelos umbrais da morte não nos
permitirá levar nada do que tiver sido acumulado nesta terra.
E o Senhor Jesus vai além, provocando-nos positivamente em nossa
liberdade. Trata-se de desapegar-se, renunciar a si mesmo e às propriedades, e
abraçar a Cruz! Pelo visto, a propaganda não é muito atrativa! No entanto, de lá
para cá e até o fim dos tempos homens e mulheres de todas as idades e situações
sociais, econômicas e culturais venham atrás de Jesus o descubram como Caminho,
Verdade e Vida, Senhor e Deus! Se uma pessoa cometeu crimes, ou se reconhece a
mais pecadora da história, pode se converter e mudar de vida radicalmente. Um
dono de escravos e o escravo estão na mesma comunhão e comunidade, na qual está
um perseguidor inveterado chamado Paulo, ou a história pode acrescentar outros
nomes, como o grande Santo Agostinho, convertido e transformado num dos mais
significativos nomes de mudanças profundas de vida.
Trata-se de homens
e mulheres que resolveram edificar com bases sólidas a própria existência,
pessoas que podem ser questionadas, mas não ridicularizadas (Cf. Lc 14, 28-30).
Transformaram suas vidas em verdadeiras batalhas, mas escolheram os
instrumentos adequados, que os fizeram vitoriosos (Cf. Lc 14, 31-32).
Tantos deles foram
reconhecidos como santos! E há pouco tempo uma figura emblemática de nosso
tempo, Madre Teresa de Calcutá, é canonizada pelo Papa Francisco no Jubileu da
Misericórdia. A frágil figura que girou o mundo anunciando a misericórdia com
os mais pobres e até moribundos, aquela que abraçou os mais sofredores com a
sede de amor e fé encontrada em Jesus Crucificado, grita apenas com seu
exemplo, voz eloquente para um mundo carente de testemunhas vigorosas. Santa
Madre Teresa de Calcutá, rogai por nós!’
Fonte :
* Artigo na íntegra http://www.domtotal.com/noticia/1086770/2016/10/opcao-de-vida/
Nenhum comentário:
Postar um comentário