*Artigo
de Dom Gil Antônio Moreira,
Arcebispo de Juiz de Fora, MG
‘Praticamente em
todas as religiões se crê que, além das criaturas humanas, há também espíritos
incorpóreos criados por Deus, dotados de inteligência e vontade. Na fé judaica
e cristã, eles existem para prestar culto perpétuo a Deus e auxiliar os humanos
em seu dia a dia.
A Bíblia Sagrada,
seja na versão judaica, seja na versão católica seja nas versões protestantes,
apresenta abundantes menções aos anjos e faz distinção hierárquica,
constituindo-os em nove coros, entre serafins, querubins, tronos, dominações,
potestades, virtudes, principados, arcanjos e anjos.
Já no livro do
Gênesis, encontram-se várias referências aos anjos, entre as quais se destaca a
visita de três seres celestiais a Abraão, que prenunciaram o nascimento de seu
filho com Sara, sua esposa estéril e idosa (cf Gên 18). No livro de Tobias
encontra-se a história do Arcanjo Rafael (medicina de Deus), sendo ele o
socorro do velho Tobit que ficara cego ao praticar a caridade de enterrar
dignamente os mortos. O Arcanjo lhe traz fel de peixe e o cura. Isaías se
refere a Serafins. Daniel revela visões de anjos e apresenta o Arcanjo Miguel
(Quem como Deus?) como chefe defensor no combate contra os persas infiéis (cf
Dan 10, 1 – 20). Miguel é conhecido como Príncipe das Milícias Celestes.
No Novo
testamento, as referências aos anjos são também numerosas, tendo o Arcanjo
Gabriel (Força de Deus) anunciado a Maria o nascimento de Jesus, o Divino
Salvador, cumprindo assim a principal e mais elevada missão entre todos os
anjos e santos. Nas pregações de Jesus, encontramos várias alusões aos anjos,
destacando-se a presença do anjo consolador nas agonias do Horto das Oliveiras,
na noite que antecedeu a sua condenação e morte na cruz. Também anjos se
apresentaram ao lado do túmulo, no domingo da ressurreição, anunciando que
Cristo vencera a morte e se encontrava vivo.
Nas cartas de São
Paulo e de São Judas, encontramos menções que revelam a plena fé dos primeiros
cristãos na existência e nas ações dos anjos. No Apocalipse, a figura do
Arcanjo Miguel toma grande importância, sendo apresentado como o defensor da ‘mulher que estava para dar à luz seu Filho’,
vencendo a força infernal de um poderoso dragão que ‘com sua calda arrastava a terça parte das estrelas do céu’ (cf Ap
12, 1- 18). Os cristãos sempre viram na figura desta mulher a Santíssima Mãe de
Jesus e ao mesmo tempo a imagem da Igreja sempre ameaçada pelo poder do mau.
Nos escritos
teológicos dos Santos Padres, também é frequente o estudo e a defesa da fé na
existência dos anjos, como em São Clemente (séc. I), Santo Ambrosio (séc. IV),
Pseudo-Dionísio, o Areopagita (séc. V), São João Damasceno (séc. VIII). São
tomados de grande importância os estudos de São Tomás de Aquino (Séc. XIII) e
tantos outros. Na idade Moderna, o Concilio de Trento (séc XVI) e na
Contemporânea, o Concílio Vaticano II (séc XX) e o Catecismo da Igreja Católica
(CIC), seguem confirmando a doutrina sobre os anjos.
Na liturgia
Católica, ao menos duas festas se destacam em louvor aos Anjos, sendo uma dia
29 de setembro, quando celebra a festa dos Arcanjos São Miguel, São Rafael e
São Gabriel e ainda a memória dos Santos Anjos da Guarda, no dia 2 de outubro.
Também os Anglicanos, os Luteranos, outras correntes protestantes, bem como os
Ortodoxos têm, em seus calendários, liturgias próprias dos Anjos.
Os anjos nos
protegem, nos animam e nos impulsionam no caminho da santidade e da dignidade,
da prática do amor e dos serviços ao próximo, nos colando sempre perante Deus
que não se cansa de manifestar sua misericórdia e de nos amparar com seu
amor. Creio firmemente nesta doutrina e
quando vejo pessoas dedicadas e humildes ao lado de doentes ou servindo
desinteressadamente aos pobres, me lembro deles e penso em meu coração : os
anjos existem; eu os vejo também na terra.’
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