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quarta-feira, 6 de setembro de 2023

A caridade que transforma

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Rita Valadas,

presidente da Cáritas portuguesa 


Escreve o Papa Francisco : «A caridade alegra-se ao ver o outro crescer; e de igual modo sofre quando o encontra na angústia : sozinho, doente, sem abrigo, desprezado, necessitado... A caridade é o impulso do coração que nos faz sair de nós mesmos gerando o vínculo da partilha e da comunhão» (Mensagem para a Quaresma 2021).

A Rede Cáritas em Portugal tem vindo a consolidar um lema que quase usa como assinatura : Cáritas, o Amor que transforma. A Rede Internacional usa o Together we [Juntos é o lema da campanha mundial 2021-2024, um convite a que todos desempenhemos um papel ativo no cuidado da nossa Casa Comum e dos pobres, para tornar o nosso planeta um lugar melhor e mais saudável para as gerações atuais e futuras]. É uma forma de identificar em poucas palavras o pulsar da rede. Assumir que a caridade é uma das nossas forças, a ferramenta no agir e o exemplo na ação.

É olhar para a caridade como uma cultura estratégica e um processo de inspiração nos desafios do cuidar de problemas sociais cada vez mais complexos.

É procurar encontrar formas de autonomizar, inserir, inovar, incluir muito para lá do apoio pontual ou ocasional que «desatormenta», mas não cura.

É considerar que em comunidade todos podemos ser recurso e solução. Ninguém se salva sozinho, não há uma só receita e todos podemos ter o trunfo certo.

Quando jogava às escondidas, lembro-me de que o último podia salvar todos… Às vezes o mais pequenino chegava à partida e dizia : «(X) salva todos».  Já então era o «todos, todos, todos e cada um» que nos dias da Jornada Mundial da Juventude tanto nos inspiraram.

A comunhão fraterna que não quer deixar ninguém de fora tem de usar a caridade com todos os dons, vantagens e tesouros que temos, quer seja uma causa humanitária, uma campanha de emergência ou uma estratégia, iniciativa, missão ou ação para mudar as vidas dos mais vulneráveis, cuidar da Casa Comum ou confortar quem sofre.

A caridade não é uma ferramenta frágil, é um trunfo, que unido a uma escuta ativa, uma vigilância permanente e aos recursos de que dispusermos pode transformar vidas. Como refere o Papa Francisco, «a partir do ‘amor social’, é possível avançar para uma civilização do amor a que todos nos podemos sentir chamados. Com o seu dinamismo universal, a caridade pode construir um mundo novo, porque não é um sentimento estéril, mas o modo melhor de alcançar vias eficazes de desenvolvimento para todos» (Fratelli Tutti, 183).

Nos dias que correm, desvaloriza-se muito o sentido da caridade, mas na verdade é a caridade que salva. A caridade não desiste mesmo com a escassez e todas as tormentas. Se não conseguimos a solução ideal, tentaremos construir uma que nos permita o princípio do caminho para uma solução.

Cáritas é o amor que transforma. Como Francisco tem pedido incessantemente : «Não tenham medo.» Vamos lá então!’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/1005/a-caridade-que-transforma/

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Missionárias no Quênia: testemunhas proféticas de uma nova maneira de viver e agir

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

O refeitório da escola gerida pelas Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade na missão de Laare, no Quênia  

*Artigo da Secretaria de Comunicação Orionina


Gostaríamos de abrir esta janela sobre a nossa Congregação, Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade, citando as palavras do nosso fundador, que no início do século passado, ainda antes da primeira guerra mundial, enquanto redigia as Constituições das suas primeiras consagradas, convidava-as a servir o Homem para o desenvolvimento integral do Homem, com uma atenção preferencial aos últimos, aos mais pobres, às pessoas em maior dificuldade.

«O seu objetivo particular e especial é o exercício da caridade para com... os pequenos filhos do povo e os pobres mais afastados de Deus ou mais abandonados...» (São Luís Orione, Constituições psmc, n. 3).

Congregação ‘samaritana’

Desde 29 de junho de 1915, data de fundação da Congregação, foram feitos enormes progressos, sobretudo em certas realidades, mas a natureza essencial deste objetivo não mudou : desde então e ainda hoje, exprime-se em espírito de acolhimento e de família na simplicidade, na assistência e — hoje cada vez mais — na competência profissional.

Esta atitude foi também reiterada no tema do 13º Capítulo geral do Instituto, realizado em maio de 2023 : «Para ser uma ‘Congregação samaritana’ através do testemunho profético de um novo modo de fazer, agir e viver».

No Quênia, apoiando os mais pobres

É nesta chave que queremos narrar a experiência da missão de Laare, no Quénia. Esta missão é a comunidade mais jovem das que foram abertas pelas religiosas nesse país, a menor e a mais afastada da capital. O seu objetivo é apoiar as necessidades da população local, os mais pobres, as crianças e as pessoas com deficiência. Atualmente só ela consegue sustentar de modo financeiro toda a Delegação Mãe da Divina Providência.

Além da lógica da manutenção

No entanto, em agosto de 2008, as religiosas abriram a missão com pouquíssimos recursos, muita boa vontade e uma confiança infinita na Divina Providência. Com o tempo, estas ‘obras de Deus’ tornaram-se cada vez mais ‘poderosas’ e, com uma lógica operacional muito exata, as religiosas missionárias conseguiram torná-las economicamente independentes, interrompendo a superada lógica da ‘manutenção’, com a finalidade de garantir a continuidade das obras sanitárias, educativas e pastorais, até no caso em que os benfeitores fossem obrigados a interromper o próprio apoio.

‘O que ainda se pode e se deve salvar para reconduzir a Deus a nossa sociedade transtornada são os jovens. Eles são a sociedade do futuro : o sol ou a tempestade do futuro. As mais belas esperanças da Igreja e do mundo. Salvemos os jovens! (São Luís Orione, 1912).’

Em termos de apoio financeiro externo, por exemplo, agora a missão de Laare pode ajudar diariamente mais de 1.600 crianças e famílias.

As religiosas gerem também uma escola primária e secundária, que oferece acesso à educação às crianças. Entre as estruturas educativas iniciadas, há também um jardim da infância, útil para acolher as crianças mais pequeninas e combater a subalimentação desde o início da vida.

A nível pastoral, as irmãs colaboram com a comunidade paroquial local para aproximar as crianças e os jovens dos valores cristãos, da fraternidade universal e dos sacramentos, envolvendo-os na vida da Igreja.

Incidir na cultura para restituir dignidade

Existe também um centro diurno para crianças com deficiência, para prestar ajuda e assistência aos mais frágeis e desprezados da sociedade e melhorar a sua qualidade de vida. A este respeito, as irmãs tiveram um impacto profundo na cultura e na mentalidade africana, vítima da antiga herança segundo a qual a deficiência física é motivo de escândalo e marginalização, que tira toda a dignidade humana aos deficientes.

Audazes para dar um futuro

Mas as religiosas também foram audazes a nível concreto. Ao longo do tempo, abriram uma alfaiataria que não só emprega mulheres locais, como também confecciona uniformes escolares e peças de paramentos litúrgicos, cujo rendimento é o sustento desta e de outras atividades da Delegação. Com a mesma finalidade, a população local foi formada para trabalhos agrícolas, o cuidado da quinta, dos campos e do gado. Entre elas, prevalece a criação de camelos, utilizados para a venda de leite e para a produção de sabonetes naturais.

Acreditamos firmemente que o segredo do sucesso é viver da caridade, servir os mais pobres com autenticidade, esquecendo-nos de nós mesmas, permanecendo abertas a outras culturas. Por isso, ativamos também uma promissora rede de voluntariado missionário, constituída sobretudo por jovens que passam tempo na missão, provenientes de todos os continentes, mas sobretudo da Itália e da Polonia.

Os jovens : sal da terra

Acreditamos que os jovens são o sal da terra e queremos acompanhá-los nesta maravilhosa experiência de voluntariado missionário. Em Laare, os jovens redescobrem a alegria de fazer parte da Igreja. Todos os anos, mais de 100 voluntários de todo o mundo vêm aqui para experimentar a autenticidade do serviço à população africana.

Em Laare, experimentamos a alegria de partilhar sobretudo com os pobres, mas também com a jovem comunidade local e com os jovens voluntários provenientes do resto do mundo, para abrir o nosso coração e dar testemunho recíproco do Amor e, assim, do ‘poder’ de Deus!

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2023-08/projeto-sisters-pequenas-irmas-missionarias-caridade-pime-africa.html

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Quatro grande vantagens para quem possui a caridade

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo do Padre Angelo Bellon, OP


Questão

Caro Padre Angelo, São Tomás de Aquino fala da caridade somente na Suma Teológica?

Obrigado

Resposta do sacerdote

Caro,

Sim, e ele fala também em outros lugares, como por exemplo no terceiro livro do Comentário às Sentenças de Pietro Lombardo. Mas eu quero relembrar também uma breve apresentação dos efeitos e das vantagens da caridade, que São Tomás escreveu.

Comentando os dois preceitos da caridade (amar a Deus e ao próximo), ele enumera quatro efeitos desta virtude, que a tornam muito agradável, aos quais acrescenta outros cinco. Exponho a síntese dos primeiros quatro (São Tomás, In duo praecepta caritatis et in decem legis praecepta expositio, nn. 1139-1154).

1. Infunde no homem a vida espiritual (causat in eo spiritualem vitam)

É manifesto que o amado vive naturalmente no coração daquele que o ama. E por isso quem ama a Deus o possui dentro de si (qui diligit Deum, ipsum habet in se) : ‘quem permanece na caridade, permanece em Deus, e Deus nele’ (1Jo 4,16). 

Por seu dinamismo natural, o amor transforma o amante no amado; por isso, se amamos coisas sem valor e passageiras, tornamo-nos também nós sem valor e efêmeros, como diz o profeta Oseias : ‘tornaram-se abomináveis como aquilo que amaram’ (Os 9, 10). Se amamos a Deus, tornamo-nos divinos, porque ‘quem se une ao Senhor torna-se com ele um só espírito’ (1Cor 6,17). 

Mas como diz Santo Agostinho, ‘como a alma é a vida do corpo, assim Deus é a vida da alma’ (Confissões, X,1). E isto é obvio. De fato, digamos que o corpo vive graças à alma quando possui as atividades próprias da vida, aquilo que age e se move. Se a alma vai embora, o corpo não age e não se move mais. E assim, também a alma age virtuosae e perfeitamente quando age movida pela caridade, por meio da qual Deus habita nela. Sem caridade, porém, não age. De fato ‘quem não ama, permanece na morte’ (1Jo 3,14). 

Deve-se considerar também que se uma pessoa tem todos os dons carismáticos do Espírito Santo, mas não tem a caridade, não tem a vida. O carisma das línguas, da fé e também qualquer outro carisma, sem a caridade, não comunica a vida. Um cadáver, se revestido de ouro e de pedras preciosas, permanece igualmente um cadáver. Isto é, portanto, o primeiro efeito do amor.

2. A caridade nos faz observar os mandamentos

São Gregório diz que ‘o amor de Deus nunca se encontra no ocioso; porque existe, faz coisas grandiosas. Se se recusasse a agir, não seria amor’. Ou seja, sinal evidente da caridade é a prontidão no observar os mandamentos divinos. Nós vemos, de fato, que o amante é capaz de coisas grandes e difíceis pelo amado : ‘se alguém me ama, guarda a minha palavra’ (Jo 14,23).

Gosto de lembrar que João Paulo II, na Encíclica Veritatis Splendor, parece se referir a este pensamento de São Tomás quando escreve : ‘Quem vive «segundo a carne» sente a lei de Deus como um peso, mais, como uma negação ou, pelo menos, uma restrição da própria liberdade. Ao contrário, quem é animado pelo amor e «caminha segundo o Espírito» (Gál 5, 16) e deseja servir os outros, encontra na lei de Deus o caminho fundamental e necessário para praticar o amor, livremente escolhido e vivido’ (VS, 18).

3. A caridade é baluarte (praesidium) contra a adversidade

Quando uma pessoa possui a caridade, nenhum infortúnio ou dificuldade a prejudica, mas volta ao seu favor : isso porque ‘todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus’ (Rm 8, 28). Contrariedade e dificuldade parecem suaves a quem ama, como atesta a experiência. 

4. A caridade conduz à felicidade

Somente a quem possui a caridade é prometida a bênção eterna. Sem a caridade, de fato, tudo é insuficiente : ‘resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição’ (2Tm 4,8).

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://pt.aleteia.org/2014/09/04/quatro-grande-vantagens-para-quem-possui-a-caridade/

domingo, 26 de dezembro de 2021

O grande ausente dos tempos modernos: o silêncio

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Ana Lydia Sawaya 

 

‘O mundo de hoje precisa reaprender o silêncio. O silêncio que se experimenta quando se vive no campo e se observa a natureza, o céu, a lua, as estrelas, o rio, as árvores e o seu burburinho, o vento que assobia – o silêncio eloquente que fala com uma voz suave. Esse silêncio preenche, não é vazio. Restaura, endireita, reordena a vida e o instante em que se vive. 

No constante barulho da cidade, na correria da vida cheia de preocupações e afazeres, as pessoas se desumanizam, se esvaziam e se perdem. Não são mais si mesmas, não sabem mais quem são; tornam-se como bolhas vazias – ocupam espaço, mas são ocas por dentro e estouram facilmente. 

Perde-se o rosto e perde-se a si mesmo. A incrementar esse vazio está o uso excessivo das mídias digitais. São estas que estão na base da diminuição do Q.I. e da inteligência das crianças como têm mostrado vários estudos. Estar sempre ligado ao celular, ao computador ou à tevê contribui para um esvaziamento ainda maior. As crianças e os adolescentes se tornam assim, presas fáceis da sociedade de consumo, insatisfeitas, inseguras e violentas. 

Tudo isso é consequência da falta de silêncio. O que é o silêncio? O silêncio é uma suspensão do falar, uma interrupção dos afazeres e do barulho, do contato direto com as pessoas, para viver um momento em que se entra em si, um tempo para conversar com Deus. Este silêncio pode dar medo, mas é só no começo. Se mergulharmos nele, conseguiremos ouvir a voz de Deus (Dt 6,4-7) : ‘Escuta Israel, o Senhor é o nosso Deus. Lembre-se Dele e fale Dele para os seus filhos, quando comeres e quando dormires, quando caminhares pela rua, quando te deitares e quando te levantares’. 

Os momentos de silêncio servem para escutar Deus que nos fala por meio do que está acontecendo fora e dentro de nós. O Espírito de Deus age sempre e é o único que nos pode dar o sentido das coisas e dos eventos. Só a partir do silêncio saberemos o que é justo pensar e como agir. A sabedoria nasce só em quem habita no silêncio. É da experiência do silêncio que nasce a palavra. A palavra se nutre do silêncio, precisa do silêncio. Disse alguém : como a mais luminosa das estrelas tem necessidade da noite para iluminar, a palavra tem necessidade do silêncio para iluminar. 

O silêncio é deixar o espaço ao Outro e ao outro. É fazer o outro ser. É a origem da caridade. O silêncio é aquilo que permite a nudez e a transparência das coisas. É necessário habitar o silêncio para poder gerar e criar ambientes de vida. É o silêncio que impede que a vida seja gasta só com coisas a fazer. É o silêncio que nos ensina a esperança e nos permite viver numa dimensão de excedência e de abundância. Só quem habita o silêncio experimenta a plenitude da vida. E habitar o silêncio significa voltar sempre a ele como à nossa casa.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/12/20/o-grande-ausente-dos-tempos-modernos-o-silencio/#

sábado, 18 de dezembro de 2021

Deus não é indiferente

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Capa da obra 'A Peste', de Albert Camus

*Artigo de Fabrício Veliq,

teólogo protestante

 

‘Há algumas semanas, falamos sobre o primeiro sermão do padre Paneloux, na obra A Peste de Albert Camus. Neste texto, pretendo falar sobre o segundo sermão desse padre. Tal sermão é marcado pelo presenciar de Paneloux da morte de uma criança que foi acometida pela peste. Esse fato é o motivador da mudança de tom e perspectiva do padre jesuíta.

Em seu segundo sermão, alguns pontos se mostram bastante contrastante em relação ao anterior. Em primeiro lugar, o vós é substituído pelo nós. Essa simples mudança pronominal revela também uma mudança de atitude frente aos seus concidadãos. Ao dizer o nós, o padre se coloca também como alguém que é sofredor e responsável junto com sua comunidade. O trecho abaixo deixa isso claro :

Meus irmãos, é preciso sermos aquele que fica (...) Meus irmãos, disse por fim Paneloux, anunciando que ia terminar, o amor de Deus é um amor difícil. Ele supõe o abandono total de si mesmo e o desdém da sua pessoa. Mas só Ele pode apagar o sofrimento e a morte das crianças, só Ele, em todo o caso, pode torná-los necessários, pois é impossível compreendê-los, e não podemos senão desejá-los. Eis a difícil lição que queria compartilhar convosco. Eis a fé, cruel aos olhos dos homens, decisiva aos olhos de Deus, de que é preciso aproximarmo-nos. Perante esta imagem terrível, é preciso que nos igualemos. Neste cume, tudo se confundirá e se igualará, a verdade brotará da injustiça aparente (CAMUS, s/d, p. 246,248).

No segundo sermão é possível perceber a marca da caridade. Enquanto no primeiro havia a necessidade de explicação da peste e saber dizer sua causa e seus motivos, nesse, a postura é mais serena frente a ela. Paneloux tem claro que algumas coisas são inexplicáveis aos olhos de Deus, como a morte de uma criança. Nesse momento, questiona sobre a compensação eterna frente ao sofrimento momentâneo desse menino que sofre e morre. Chega a dizer que um cristão não diria um discurso assim para o menino que está a morrer, uma vez que o Mestre sofreu na carne e na alma a angústia e a dor humanas, sacrificando tudo no maior dos martírios de seu tempo.

Em certo momento de seu sermão, Paneloux interroga aos seus ouvintes : ‘Meus irmãos, a hora chegou. É necessário crer em tudo ou negar tudo. E quem, entre nós, ousaria negar tudo?’ (CAMUS, s/d, p. 216).

Paneloux lança o grande desafio, que é também o desafio do evangelho, do salto de fé. Esse salto, que exige o lançar-se inteiramente, em total entrega em resposta à radicalidade do amor de Deus, mesmo sem compreender quais são seus planos. Esse aceitar tudo, porém não em simples fatalismo, porém como fatalismo ativo, implicaria ver qualquer indiferença como criminosa.

Agora, a conclamação é à responsabilidade pelo outro, como fruto do entregar-se totalmente a Deus, aceitando tudo em oposição ao negar tudo. No primeiro sermão, percebemos que a condenação vinha porque o Deus apresentado por Paneloux não aceitava ser ignorado e se sentia amado recebendo a visita de seu povo. Dessa forma, não aceitava a indiferença, antes essa era a causa de sua condenação por meio da peste, ou seja, havia a exigência da reciprocidade : porque eu amo, você não pode ser indiferente a esse amor. Se o for, não posso aceitar e não tenho outra escolha a não ser condená-lo a fim de que se arrependa.

No segundo, porém, é o lançar-se diante do inexplicável de Deus, do seu amor infinito, em ato de fé, que gera em nós a atitude de não ser indiferente, uma vez que Deus é sempre amor e nunca indiferente.

Ao nos assemelhamos àquele a quem amamos, ficar e se importar se torna a escolha radical frente ao mal do mundo. É o ver de longe que nos fala Hebreus 11, contemplando com os olhos da fé, que nos faz ‘caminhar para frente, na sombra, um pouco às cegas, e tentar fazer o bem. Quanto ao resto, necessário esperar, entregando-nos a Deus, aceitar a morte das crianças, não buscar refúgio’ (CAMUS, s/d, p. 216).’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1555510/2021/12/deus-nao-e-indiferente/

terça-feira, 25 de maio de 2021

Fé, Esperança e Caridade: a bela história das 3 filhas de Santa Sofia

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Alienor Goudet


‘Não houve adversários mais cruéis para os cristãos do que aqueles dos primeiros séculos. Naquela época, as terras do Império Romano eram mais regadas com sangue do que com água. Quem se dedicava a Cristo corria o risco de sofrer e morrer. Mas nesta escuridão, o brilho da fé de Santa Sofia e de suas filhas (Fé, Esperança e Caridade) se destacou.

No ano de 137, quando os cristãos de Roma fugiam dos soldados do imperador, um boato se espalhou pela cidade. Uma viúva de Milão passava seus dias nas áreas pobres da cidade cuidando mais necessitados.

Com a ajuda de suas três filhas, a viúva chamada Sofia alimentava, cuidava dos pobres e os confortava. Sua gentileza a tornou apreciada por todos. O mesmo vale para suas filhas, tão generosas e prestativas quanto a mãe.

Mas dizem que, ao cair da noite, Sofia fugia para as prisões da cidade. Ela comprava os guardas e visitava os prisioneiros cristãos. Ela orava com eles e os abençoava, lembrando-os da promessa do reino vindouro.

Muitos cristãos passavam por sua provação com os corações iluminados pelas palavras de Sofia. Tão virtuosas quanto ela, Pistis (Fé), Elipis (Esperança) e Agape (Caridade) sempre a seguiam. Mas Sofia e suas filhas sabiam que não poderiam ser fiéis a Cristo fugindo para sempre.

A lenda do martírio

Elas serviam incessantemente a seus irmãos. A chama da fé cristã era reacesa a cada uma de suas orações. Roma não podia ignorar este fogo brilhante que aquecia o coração dos cristãos. Mas Sofia e suas filhas foram presas e levadas à justiça perante o próprio Imperador Adriano. Entretanto diante da beleza e da simplicidade das rés, os juízes ficaram transtornados. Elas seriam, então, soltas sem punição se renunciassem a Cristo. Sem medo, Sofia respondeu que não iria trair o filho de Deus.

O martírio de Fé, Esperança e Caridade

As três meninas foram questionadas separadamente, a fim de usar sua juventude. À Fé, a mais velha, de 12 anos, ofereceram-se belos presentes. Mas ela os rejeitou com desdém. Um carrasco a chicoteou e depois cortou seus seios, antes de mergulhá-la em óleo fervente. Mas a pureza de sua alma não deixou que nenhuma dor a afetasse.

Os torturadores fizeram as mesmas promessas à Esperança, de 10 anos, e a ameaçaram com o destino de sua irmã. Sem hesitar, ela escolheu seguir a irmã mais velha. Ela também não sentiu as chamas queimando-a ou os ganchos rasgando sua carne. 

Caridade, a mais nova, de 9 anos, foi decapitada.

O coração de Sofia, que assistiu a tudo, se dividiu entre a dor de uma mãe que perdeu suas filhas e a alegria de saber que elas estavam perto de Cristo. Porque elas não desistiram de sua pureza. Por crueldade, ela foi autorizada a enterrar os restos mortais de suas filhas, mas foi morta no mesmo local do enterro.

Uma devoção tenaz ao longo dos séculos

 A história confirma a existência e o martírio das quatro santas, mas os detalhes deste último são difíceis de verificar. A lenda da tortura testemunha da mesma forma o impacto que essas santas tiveram sobre a população cristã da época. Essa devoção era particularmente notável em Bizâncio e no mundo eslavo.

Os nomes das quatro santas também fornecem uma boa metáfora. A sabedoria gera e guia a fé, a esperança e a caridade, as três virtudes teologais que todo cristão deve seguir e aplicar.

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/05/25/fe-esperanca-e-caridade-a-bela-historia-das-3-filhas-de-santa-sofia/

sábado, 16 de maio de 2020

Uma Igreja humilde para uma humanidade sofredora

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

The Compass Magazine Living in the Shadow of the Cross: How Jesus ...
*Artigo d0 Padre Federico Lombardi, SJ 




‘Na conclusão do Grande Jubileu do ano 2000 que ele viveu e nos convidou a viver como um grande encontro entre a graça de Cristo e a história da humanidade, João Paulo II escreveu à Igreja uma bela Carta intitulada : ‘No início do Terceiro Milênio’, na qual ressoavam as palavras de Jesus a Pedro : ‘Duc in altum… Faze-te ao largo; lançai vossas redes para a pesca’ (Lc 5, 4). O Papa nos convidou a ‘lembrar o passado, viver o presente com paixão, e abrir-nos com confiança ao futuro’, porque ‘Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e nos séculos’. Como sabemos, Papa Francisco retomou e relançou o tema falando desde o início do seu pontificado da ‘Igreja em saída’, uma Igreja evangelizadora animada pelo Espírito que lhe foi doado por Cristo ressuscitado.

Na noite de 12 de outubro de 2012, o Papa Bento XVI fez um breve discurso da mesma janela da qual, 50 anos antes, João XXIII havia saudado, sob o olhar benevolente da Lua, a multidão que tinha afluído à Praça São Pedro no final do dia de abertura do Concílio. Enquanto Bento, com o olhar dirigido para o alto, fez uma reflexão que foi muito marcante, pois não suscitou o desejado entusiasmo fácil, mas sim – mesmo em confiança – inspirava grande humildade, característica do final de seu pontificado. Ele recordou como nos 50 anos anteriores a Igreja havia experimentado o pecado, o joio no meio do trigo, a tempestade e do vento contrário. Mas também o fogo do Espírito, o fogo de Cristo. Porém como um fogo que não é devorador, mas humilde e silencioso, uma pequena chama que suscita carismas de bondade e caridade que iluminam o mundo e testemunham a sua presença conosco.

À medida que Pentecostes se aproxima, penso nas palavras de nossos três papas do Terceiro Milênio. Na realidade, este novo Milênio, em que entramos há vinte anos, não tem sido, no conjunto, uma era de progresso luminoso para a humanidade. Abriu-se com o 11 de setembro de 2001 e com a guerra do Golfo, depois tivemos a grande crise econômica e a guerra mundial ‘aos pedaços’, a destruição da Síria e da Líbia, o agravamento da crise ambiental, muitos outros problemas, e agora a pandemia global com suas consequências, experiência inédita que marca este papado. Certamente não faltam novos sucessos científicos e progressos em saúde, educação e comunicação, por isso não seria correto apressar balanços negativos. Mas certamente não podemos falar de um caminho linear e seguro para a humanidade em direção ao melhor. A experiência da pandemia, mesmo que seja superada, é certamente uma experiência comum de incerteza, de insegurança, de dificuldades em governar o caminho cada vez mais complexo da sociedade contemporânea. Não sabemos se no futuro vamos ler isso como uma oportunidade de crescimento solidário ou de novas tensões internacionais e internas e desequilíbrios sociais. Provavelmente, ambas as dimensões serão misturadas: o trigo e o joio.

A Igreja deste início de milênio, do ponto de vista humano, não é forte. Sua fé é testada pelas desertificações espirituais de nosso tempo. Sua credibilidade é testada pela humilhação e pela sombra do escândalo. A história continua e a Igreja continua a aprender que sua única força verdadeira é a fé em Jesus Cristo Ressuscitado e o dom de seu Espírito. Um frágil vaso de barro no qual está contido o tesouro de um poder de vida além da morte. Seremos nós uma Igreja humilde capaz de acompanhar fraternalmente uma humanidade provada, com caridade e bondade? Com uma caridade tão difundida que também anima as inteligências e as forças sociais a buscar e encontrar os caminhos do bem comum e da melhor vida? Uma Igreja do ‘lava-pés’ do nosso tempo, como diz o Papa Francisco? Em alto mar, num mar imóvel e sempre desconhecido para todos nós, mas nunca estranho pelo amor de Deus.

Na maravilhosa Sequência de Pentecostes invocamos o dom do Espírito como pai dos pobres e luz dos corações, como consolador e conforto, como força que cura as culpas, a aridez, as feridas, que aquece o que está gelado, que orienta o que está mal orientado. Oferecer ao Espírito do Senhor um espaço aberto de expectativa e desejo, um espaço concreto de mentes e corações, de almas e carne humana, para que possa operar e manifestar-se no tecido profundo da nossa humanidade - o das guerras e pandemias - como um poder de salvação da fragilidade e solidão, da aridez, da confusão, dos enganos das ilusões e do desespero, como um poder de esperança de vida eterna. Isto pode fazer uma Igreja humilde, irmã, companheira e serva de uma humanidade sofredora. E isso é o mais importante.



Fonte :
*Artigo na íntegra

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Ordem de Malta: a equipe de emergência da Igreja


Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 Ordem de Malta elege novo líder no sábado - ISTOÉ Independente
*Artigo de William Van Ornum,
professor de psicologia


‘Eles estão por toda parte : Síria, Jerusalém, Damasco, Turquia, Líbano, Haiti, África e até na cidade de Nova York.

A cruz maltesa de oito pontos (representando as oito bem-aventuranças do Sermão da Montanha), no peito ou nos ombros, identifica cada um dos 13.500 Cavaleiros e Damas da Ordem de Malta, ou os 82.000 membros da Malteser International.

Sua prioridade são os doentes e os pobres, que agora incluem os marginalizados, vítimas de perseguição e refugiados de diferentes fés e etnias.

No Camboja, a Ordem administra hospitais especializados para pacientes com hanseníase. A hanseníase não foi erradicada e em muitos lugares ainda é uma ameaça incapacitante à saúde.

As pessoas não gostam de leprosos. Nossa estranha doença as assusta’, explica Yim Heang, do Camboja. ‘Algumas pessoas mostram bondade e compaixão pelos leprosos, mas a maioria está preocupada com a infecção e não quer nenhum contato conosco.’

Durante o outono de 2013, bombas caíram sobre Aleppo, na Síria, uma das cidades mais antigas do mundo. As explosões demoliram estruturas que estavam em pé há centenas, talvez até milhares, de anos.

Sobrevoando Aleppo, via-se a multidão de refugiados desesperados e feridos que inundou o campo de refugiados sírios em Kilis, logo após a fronteira com a Turquia. No primeiro dia, 4.000 pessoas fugiram de seu país. Não havia comida, abrigo, remédio. A Malteser International trouxe os suprimentos necessários e construiu um hospital de campanha e um centro de triagem.

A Ordem de Malta apoia o Hospital da Sagrada Família em Belém, localizado em uma área que é um turbilhão de facções em guerra e grupos em oposição. É a maior maternidade da Palestina.

A Ordem de Malta não toma partido, mesmo nos conflitos mais violentos. Eles estão presentes para servir os doentes e os pobres.

Um filme sobre a Malteser International mostra os voluntários trabalhando em Mianmar, em uma área atingida por ciclones e inundações. Juntamente com os moradores, os voluntários plantaram 18.000 árvores – para servir de quebra-vento e barreiras de proteção da vila no futuro.

Mais de 25.000 médicos e enfermeiros já participaram dos trabalhos da Ordem. Os centros médicos são a marca registrada da Ordem de Malta. A maioria dos hospitais fica na Alemanha, França e Itália. Alguns possuem unidades especiais para doentes terminais, onde se oferecem cuidados paliativos. Durante a Primeira Guerra Mundial, a Ordem administrava hospitais em trens que viajavam para onde fosse necessário.

Paul Wright, cardiologista norte-americano, viaja para Calcutá todos os anos para oferecer exames e tratamento gratuito para os necessitados.

Ele ingressou neste ministério depois de visitar Madre Teresa, que o levou à Casa dos Moribundos. Madre Teresa o levou a uma sala onde as pessoas estavam prestes a morrer e disse : ‘Não podemos curá-las. Aliviamos a dor delas, oferecemos compaixão e muito amor.

O serviço e o desapego às coisas materiais o levaram a se sentir sereno. ‘Também descobri que preciso de poucas coisas para ser feliz’, disse Wright.

Em 2013, a Ordem de Malta comemorou seu 900º aniversário. Os 4.000 membros que puderam viajar para Roma receberam uma bênção papal.

A Rádio Vaticano disse que, embora a Ordem não seja um país, é uma entidade soberana. Tem um observador nas Nações Unidas, além de embaixadas em quase cem países.

Onde quer que atuemos, somos construtores da paz’, disse Jean-Pierre Mazery, ministro de Relações Exteriores. ‘Não dependemos de ninguém, não defendemos territórios, não participamos de conflitos, agimos apenas para ajudar as pessoas, independentemente de sua nacionalidade, etnia ou religião’.

A Ordem foi fundada no século XII para ajudar os peregrinos pobres enquanto viajam para a Terra Santa.

A Ordem tem atualmente menos de 100 religiosos professos que fazem votos permanentes de pobreza, castidade e obediência, embora não exijam vida comunitária. Os membros leigos compõem dois outros níveis de comprometimento. É dado um interesse especial à promoção da santidade de cada membro.

Nos Estados Unidos, a Ordem de Malta tem cerca de 1.300 membros. Seu trabalho pode não ser tão dramático quanto nos lugares mais distantes, mas eles patrocinam centenas de iniciativas de caridade. Entre esses iniciativas estão asilos, escolas católicas, voluntariado, serviço assistenciais.

Todos os anos, associações de diferentes áreas geográficas patrocinam peregrinações a Lourdes. Isso não apenas resume o carisma original da Ordem, mas também oferece a oportunidade de oferecer às pessoas doentes ou deficientes, juntamente com seus cuidadores, a participação no poder de cura do santuário mariano.

Pratique firmemente a religião católica apostólica romana e defenda diligentemente a caridade para com o próximo e, principalmente, para com os pobres e doentes.’ Esse dizer faz parte da oração individual que os membros fazem todos os dias. ‘Conceda-me as virtudes necessárias para poder cumprir de acordo com o Espírito do Evangelho, com um espírito desinteressado e inteiramente cristão’.’


Fonte :
* Artigo na íntegra

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Síria : apelo do Patriarca de Antioquia neste Natal

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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‘‘Estamos caminhando por uma estrada de dor e de tristeza, mas também de esperança e de um futuro melhor’. É o que escreve o Patriarca de Antioquia e de todo o Oriente da Igreja greco-católica, Gregório III Laham, que com estas palavras sintetiza sua mensagem com os votos de um Santo Natal para a Síria e dirige um apelo aos que estão fugindo para que fiquem ‘a fim de construir um mundo novo’.

Apesar de toda a dor e a tragédia que estamos assistindo, seja em Damasco, como em Homs ou em Aleppo, a comunidade cristã na Síria se prepara à alegria do Natal, hoje mais do que nunca’, escreve o patriarca.

Para Dom Laham, ‘estamos vivendo um momento de grande desafio e é preciso usar a força do Natal para levar alegria para quem se encontra na tristeza e na dor, para quem perdeu a esperança e percebe não ter mais um futuro’.

Neste Natal – continua ainda o Patriarca – em todas as igrejas onde é possível haverá encontros com orações especiais, missas e vigílias com leituras evangélicas e espirituais’. E acrescenta : ‘Todas as igrejas estão trabalhando para levar um pouco de alegria ás crianças, às famílias dos mártires e dos idosos’.

Este deve ser o compromisso da Igreja com a chegada do Natal : ‘Precisamos fazer todo esforço possível para criar condições a fim de levar alegria ao maior número de pessoas’. 

Por fim Laham expressa toda sua ‘dor’ pelo fato que ‘muitas pessoas foram obrigadas a deixar suas casas e procura refúgio em regiões da Síria, nos Países próximos ou mesmo na Europa. Nós como Igreja – esclarece – somos contra todo tipo de migração, porque isto enfraquece as forças espirituais da sociedade’. Ao mesmo tempo reconhece que ‘não se pode proibir a uma pessoa garantir a sobrevivência dele e de sua família’. Mas aproveita esta mensagem de Natal para mais um apelo : ‘Fiquem! Dizemos a todos? Fiquem para construir um mundo novo após esta crise, precisamos reconstruir nossa nação sobre os alicerces do perdão, da reconciliação e da fraternidade’, conclui Dom Laham.’
  

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quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Os anjos existem?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

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*Artigo de Dom Gil Antônio Moreira,
Arcebispo de Juiz de Fora, MG


‘Praticamente em todas as religiões se crê que, além das criaturas humanas, há também espíritos incorpóreos criados por Deus, dotados de inteligência e vontade. Na fé judaica e cristã, eles existem para prestar culto perpétuo a Deus e auxiliar os humanos em seu dia a dia.

A Bíblia Sagrada, seja na versão judaica, seja na versão católica seja nas versões protestantes, apresenta abundantes menções aos anjos e faz distinção hierárquica, constituindo-os em nove coros, entre serafins, querubins, tronos, dominações, potestades, virtudes, principados, arcanjos e anjos.

Já no livro do Gênesis, encontram-se várias referências aos anjos, entre as quais se destaca a visita de três seres celestiais a Abraão, que prenunciaram o nascimento de seu filho com Sara, sua esposa estéril e idosa (cf Gên 18). No livro de Tobias encontra-se a história do Arcanjo Rafael (medicina de Deus), sendo ele o socorro do velho Tobit que ficara cego ao praticar a caridade de enterrar dignamente os mortos. O Arcanjo lhe traz fel de peixe e o cura. Isaías se refere a Serafins. Daniel revela visões de anjos e apresenta o Arcanjo Miguel (Quem como Deus?) como chefe defensor no combate contra os persas infiéis (cf Dan 10, 1 – 20). Miguel é conhecido como Príncipe das Milícias Celestes.

No Novo testamento, as referências aos anjos são também numerosas, tendo o Arcanjo Gabriel (Força de Deus) anunciado a Maria o nascimento de Jesus, o Divino Salvador, cumprindo assim a principal e mais elevada missão entre todos os anjos e santos. Nas pregações de Jesus, encontramos várias alusões aos anjos, destacando-se a presença do anjo consolador nas agonias do Horto das Oliveiras, na noite que antecedeu a sua condenação e morte na cruz. Também anjos se apresentaram ao lado do túmulo, no domingo da ressurreição, anunciando que Cristo vencera a morte e se encontrava vivo.

Nas cartas de São Paulo e de São Judas, encontramos menções que revelam a plena fé dos primeiros cristãos na existência e nas ações dos anjos. No Apocalipse, a figura do Arcanjo Miguel toma grande importância, sendo apresentado como o defensor da ‘mulher que estava para dar à luz seu Filho’, vencendo a força infernal de um poderoso dragão que ‘com sua calda arrastava a terça parte das estrelas do céu’ (cf Ap 12, 1- 18). Os cristãos sempre viram na figura desta mulher a Santíssima Mãe de Jesus e ao mesmo tempo a imagem da Igreja sempre ameaçada pelo poder do mau.

Nos escritos teológicos dos Santos Padres, também é frequente o estudo e a defesa da fé na existência dos anjos, como em São Clemente (séc. I), Santo Ambrosio (séc. IV), Pseudo-Dionísio, o Areopagita (séc. V), São João Damasceno (séc. VIII). São tomados de grande importância os estudos de São Tomás de Aquino (Séc. XIII) e tantos outros. Na idade Moderna, o Concilio de Trento (séc XVI) e na Contemporânea, o Concílio Vaticano II (séc XX) e o Catecismo da Igreja Católica (CIC), seguem confirmando a doutrina sobre os anjos.

Na liturgia Católica, ao menos duas festas se destacam em louvor aos Anjos, sendo uma dia 29 de setembro, quando celebra a festa dos Arcanjos São Miguel, São Rafael e São Gabriel e ainda a memória dos Santos Anjos da Guarda, no dia 2 de outubro. Também os Anglicanos, os Luteranos, outras correntes protestantes, bem como os Ortodoxos têm, em seus calendários, liturgias próprias dos Anjos.

Os anjos nos protegem, nos animam e nos impulsionam no caminho da santidade e da dignidade, da prática do amor e dos serviços ao próximo, nos colando sempre perante Deus que não se cansa de manifestar sua misericórdia e de nos amparar com seu amor.  Creio firmemente nesta doutrina e quando vejo pessoas dedicadas e humildes ao lado de doentes ou servindo desinteressadamente aos pobres, me lembro deles e penso em meu coração : os anjos existem; eu os vejo também na terra.
  

Fonte :