Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
‘O mundo de hoje precisa
reaprender o silêncio. O silêncio que se experimenta quando se vive no campo e
se observa a natureza, o céu, a lua, as estrelas, o rio, as árvores e o seu
burburinho, o vento que assobia – o silêncio eloquente que fala com uma voz
suave. Esse silêncio preenche, não é vazio. Restaura, endireita, reordena a
vida e o instante em que se vive.
No constante barulho da cidade,
na correria da vida cheia de preocupações e afazeres, as pessoas se
desumanizam, se esvaziam e se perdem. Não são mais si mesmas, não sabem mais
quem são; tornam-se como bolhas vazias – ocupam espaço, mas são ocas por dentro
e estouram facilmente.
Perde-se o rosto e perde-se a
si mesmo. A incrementar esse vazio está o uso excessivo das mídias digitais.
São estas que estão na base da diminuição do Q.I. e da inteligência das
crianças como têm mostrado vários estudos. Estar sempre ligado ao celular, ao
computador ou à tevê contribui para um esvaziamento ainda maior. As crianças e
os adolescentes se tornam assim, presas fáceis da sociedade de consumo,
insatisfeitas, inseguras e violentas.
Tudo isso é consequência da
falta de silêncio. O que é o silêncio? O silêncio é uma suspensão do falar, uma
interrupção dos afazeres e do barulho, do contato direto com as pessoas, para
viver um momento em que se entra em si, um tempo para conversar com Deus. Este
silêncio pode dar medo, mas é só no começo. Se mergulharmos nele, conseguiremos
ouvir a voz de Deus (Dt 6,4-7) : ‘Escuta Israel, o Senhor é o nosso Deus.
Lembre-se Dele e fale Dele para os seus filhos, quando comeres e quando
dormires, quando caminhares pela rua, quando te deitares e quando te levantares’.
Os momentos de
silêncio servem para escutar Deus que nos fala por meio do que está
acontecendo fora e dentro de nós. O Espírito de Deus age sempre e é o único que
nos pode dar o sentido das coisas e dos eventos. Só a partir do silêncio
saberemos o que é justo pensar e como agir. A sabedoria nasce só em quem habita
no silêncio. É da experiência do silêncio que nasce a palavra. A palavra se
nutre do silêncio, precisa do silêncio. Disse alguém : como a mais luminosa das
estrelas tem necessidade da noite para iluminar, a palavra tem necessidade do
silêncio para iluminar.
O silêncio é deixar o espaço ao
Outro e ao outro. É fazer o outro ser. É a origem da caridade. O silêncio é
aquilo que permite a nudez e a transparência das coisas. É necessário habitar o
silêncio para poder gerar e criar ambientes de vida. É o silêncio que impede
que a vida seja gasta só com coisas a fazer. É o silêncio que nos ensina a
esperança e nos permite viver numa dimensão de excedência e de abundância. Só
quem habita o silêncio experimenta a plenitude da vida. E habitar o silêncio
significa voltar sempre a ele como à nossa casa.’
Fonte : *Artigo
na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/12/20/o-grande-ausente-dos-tempos-modernos-o-silencio/#
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