Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo do Padre Fernando Domingues,
Missionário Comboniano
‘Os dois discípulos de Emaús
(Lucas, 24) são conhecidos como aqueles que partiram de Jerusalém desiludidos e
tristes com a morte de Jesus, que os tinha entusiasmado por algum tempo com o
seu novo projeto de vida, e que viveram momentos de misteriosa esperança
enquanto caminhavam e conversavam com Ele, sem saberem que ressuscitara nessa
mesma manhã. Reconheceram-no só à noitinha quando Ele se sentou com eles à mesa
e partiu o pão, como fizera na última ceia, alguns dias antes. Diz-nos o texto
que logo decidiram regressar a Jerusalém. Mas é bom notar que o verbo usado por
São Lucas – que escrevia em grego – não diz bem «regressar» no sentido
de «voltar para trás», o que indica é que fizeram uma «grande mudança
de rumo» : já não estão a ir embora, fugindo de uma experiência triste.
Eles agora avançam ao encontro dos amigos que ficaram em Jerusalém, cheios de
alegria com a novidade que têm para contar.
A experiência daqueles dois
discípulos é a que fazemos muitos de nós, missionários, ao regressarmos ao
nosso país para refazer as forças ou para assumir um serviço missionário aqui,
por algum tempo. Não voltamos atrás; continuamos o caminho da nossa vida
tomando um novo rumo para enriquecermos os irmãos com as descobertas que fomos
fazendo. De fato, o Jesus que caminha conosco, muitas vezes incógnito nos
momentos de escuridão e incerteza, e que acabamos por descobrir sentado à mesa conosco
quanto «repartimos o pão» com as novas comunidades que vamos iniciando,
esse Jesus tem um rosto cheio de novidade. É o mesmo que já conhecíamos antes
da partida e, ao mesmo tempo tem toda uma série de traços novos que a missão
nos ensinou a descobrir no seu rosto. Ele será agora o «Irmão mais velho»
que reúne a família toda, o «Primogênito» que abre o túnel da vida a
muitos irmãos e irmãs que vêm a seguir, o «Mestre» que inicia os «mais
novos» a uma nova maneira de viver, o «Deus-conosco» que anima os nossos
dias com o seu Espírito e transforma as nossas eucaristias na festa que nos faz
dançar de alegria.
O missionário que regressa vem
com um alforge cheio de tesouros para partilhar, e o melhor de todos é esse
Jesus que encontrou a caminho de terras longínquas, e que viu sentado à sua
mesa em outras eucaristias, falando outras línguas entre rostos de outras
cores. Mas nesse alforge vem também o rosto de muitos novos irmãos e irmãs que
deixaram nos nossos corações traços novos de Jesus e da sua comunidade, como
uma certa Maria, doente que batizei num domingo à noite : rezou a Jesus
agradecendo-Lhe porque, depois de uma vida tão atribulada, tinha finalmente «chegado
a casa». Essa casa era a pequena comunidade reunida ali à volta da sua
cama, na noite do seu batismo, e era também a casa eterna onde Jesus a ia
receber poucos dias depois : eu nunca tinha entendido tão bem o que queria
dizer que «Deus nos prepara uma casa».
Os discípulos de Emaús,
chegando a Jerusalém, tinham muito que contar! O mesmo se diga de Barnabé e
Paulo, uns anos mais tarde, quando regressam à comunidade de Antioquia, que os
tinha enviado (Atos 13,3; 14,27-28). A missão é ir e voltar, e cada vez
que se vai e vem, o Senhor faz-nos descobrir novos traços do seu rosto e do
rosto da sua Igreja viva.’
Fonte : *Artigo
na íntegra https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/628/missao-e-ir-e-voltar/
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