Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
de Ramana Rech Duarte
‘Com a retomada do poder
pelo grupo radical Talibã no Afeganistão, imagens do aeroporto de Cabul e
aviões apinhados de gente desesperada para fugir do país chocaram o mundo.
Mesmo antes do retorno do grupo, o país da Ásia Central já era o terceiro
do mundo em geração de refugiados, atrás apenas da Síria e Venezuela, segundo
dados do Alto-Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) de 2020.
A guerra na região corre desde
os anos de 1970 e os conflitos nunca cessaram por completo, gerando migração
forçada tanto no âmbito interno quanto externo.
Na década de 90, ficou evidente
para a comunidade internacional a tendência de prolongamento de crises como
essas. O fenômeno tem ampliado preocupações sobre o desrespeito contínuo aos
direitos humanos e criado dificuldades para a atuação de organizações
humanitárias.
O ACNUR destaca que a
continuidade de conflitos agrava a migração de crise. Em 2020, foram 48 milhões
de pessoas deslocadas internamente, enquanto dez anos atrás esse número era de
25 milhões. O porta-voz da agência, Luiz Fernando Godinho, disse que a
continuidade dos conflitos impede que essas pessoas retornem a seus locais de
origem de forma segura e voluntária.
Para o representante da ACNUR,
não há organização capaz de resolver as questões humanitárias frutos da
violência armada. É preciso vontade e coordenação política para declarar um
cessar-fogo. ‘Essa é a única maneira de reduzir o número de pessoas
refugiadas no mundo.’
Redução de danos
A vida acaba se tornando
insustentável para aqueles que vivem em regiões conflituosas. Segundo o
professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas, Daniel Rio
Tinto, a guerra se difunde na comunidade local e molda todos os aspectos da
vida social e política.
Comércios saqueados, ocupação
de escolas e hospitais e queima de plantações passam a ser recorrentes, ‘o
que torna difícil e pouco prático reconstruir essa infraestrutura ou retomar as
atividades normais’, explica Tinto.
A dilatação de guerras está
associada a uma maior propensão de conflitos dentro de um mesmo Estado. Essas
crises, geralmente, têm menor avanço militar em função do objetivo político e,
por isso, costumam se esticar. Ainda que não sofram violências físicas, os
civis vivem sob ameaças existenciais, como efeito colateral dos
conflitos.
Nesse cenário de crise incessante,
as organizações internacionais buscam minimizar os efeitos para a população ao
oferecer serviços básicos, como alimentação, moradia e atendimento em saúde.
Embora seja o mínimo, a atuação das entidades humanitárias pode fazer a
diferença entre a vida e a morte das pessoas da região.
Prolongamento de
conflitos
O chefe da Delegação Regional
do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para o Cone Sul, Alexandre
Formisano, afirma que a extensão de conflitos por décadas é o principal desafio
para a organização. As violências armadas costumavam durar entre dois a quatro
anos, período no qual o CICV trabalhava de forma emergencial.
‘Isso [prolongamento de
conflitos] está nos forçando a ter uma reflexão mais profunda sobre como
trabalhar em contextos de violência prolongada, em parceria com outros atores e
garantir mais a sustentabilidade dessas ações’, comenta Formisano.
Uma pesquisa do Instituto
Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) publicada em maio de 2020 indica
que 60% dos conflitos armados atuais persistem por mais de uma década. Na
maioria das vezes, eles incluem a proliferação e sofisticação de grupos armados
não-estatais.
André Zuzarte, vice-coordenador
do Centro de Proteção a Refugiados e Imigrantes (CEPRI), lembra que o
recrutamento da população civil para a luta armada retroalimenta esses
conflitos. Hoje, as milícias detém grande poder de fogo e, diversas
vezes, são financiadas por atores estrangeiros com interesses no país em crise.
‘Essas regiões já são
bastante castigadas por governos corruptos, a pobreza, falta de infraestrutura
básica, e a guerra vem destruir o mínimo que existia’, diz Zuzarte. ‘Muitos
veem a adesão a grupos paramilitares como a única saída’, completa.’
Fonte : *Artigo
na íntegra https://migramundo.com/prolongamento-de-conflitos-desafia-atuacao-de-entidades-e-aumenta-migracao-forcada/
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