Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
de Miguel Oliveira Panão,
professor
‘Aproximamo-nos do Natal e
existem dois pensamentos que começam a preencher a cabeça de muitas pessoas :
prendas e comida. As prendas relacionam-se com o presépio na medida em que
Jesus (aparentemente) também as recebeu dos reis magos. Talvez a diferença seja
que as prendas que Jesus recebeu tinham um significado especial relacionado com
a sua missão neste planeta – ouro = realeza, incenso = divindade, mirra (planta
medicinal) = o que iria sofrer – e será que pensamos na missão de cada pessoa
nesta terra quando oferecemos algo a alguém? Por outro lado, dado o momento de
reunir a família ao redor da mesa, a comida a preparar é uma preocupação em
muitas casas, exceto nas que têm pouco para comer. Talvez haja nestes dois
pensamentos uma oportunidade de conversão.
As prendas no contexto da época
natalícia são motivo para repetidas reflexões sobre o consumismo, mas creio que
essas têm servido de pouco porque todos os anos a corrida às prendas é
sistemática. Ninguém acaba por fugir a essa situação, exceto aqueles que não
têm possibilidades financeiras. Antigamente, no tempo da minha mãe, oferecia-se
uma laranja e um chapéu de chuva de chocolate e essa era a alegria das
crianças. Que sentido tem uma prenda oferecida? Pode ser o que precisamos, ou o
que sabemos que o outro gosta, mas o sentido profundo de hoje que me parece
valer a pena descobrir é – «quero-te bem.» Pensar no bem do
outro é mais importante do que qualquer prenda que lhe possamos oferecer.
A comida é um desafio
ambiental. Em países como os Estados Unidos da América, o consumo de carne no
Natal tem levado as comunidades cristãs a repensar essa opção por escolhas mais
ecológicas. Claro que nos países africanos, onde ter uma galinha é um luxo, ou
em Portugal que habitualmente se opta pelo peixe, repensar o consumo de carne
no Natal pode fazer pouco sentido. Porém, por detrás da comida está o sentido
de sobriedade e, mais uma vez, em querer o bem do outro. Reduzir a quantidade
de comida diminui as sobras que podem ser deitadas ao lixo, mas se se optar por
uma dieta mais vegetal, contribuímos para a saúde dos familiares que nos
visitam e, no silêncio ou sorriso com que acolhemos, ou nos despedimos, dizemos
– «quero-te bem.»
‘Quero-te bem’ através
de sinais e gestos concretos na época de Natal é dizer ao outro aquilo que Deus
lhe diz a cada instante. As pessoas não precisam de prendas e comida, mas de
carinho e manifestações de amor fraterno. Se falta o amor ao redor da mesa,
sente-se mais a ausência de Deus e o sinal será a divisão experimentada entre
as pessoas ou as faltas de atenção. Recuperar o espírito de Natal como a
presença de Jesus entre nós, misticamente, usando o que parece mundano,
significa colocar amor e sobriedade em tudo o que fazemos em relação aos
outros. Sinto que se fala pouco de Deus no Natal, mas se realizarmos gestos de
amor, serão esses a linguagem gestual que falará de Deus aos outros, ainda que
não se dêem conta disso. Mas repensar o Natal não passa somente pelas prendas e
comida.
Noutros tempos, sem televisão,
eram as histórias que animavam as noites de Natal. Os mais velhos tinham a
experiência de vida e a imaginação para se tornarem, naquela noite, contadores
de histórias. As histórias tinham repercussões maiores do que o entretenimento,
pois continham uma filosofia de interioridade que levava quem as escutava a
pensa na vida profunda, antecipando os desejos de mudança no ano novo que se
aproximava. Hoje fazem-se maratonas de filmes, ou de programas para entreter as
pessoas, mas suspeito que o efeito não seja o mesmo que o produzido pelas
histórias. Com um mundo de entretenimento nas mãos de cada pessoa, são, também,
mais frequentes os momentos em que cada um pode isolar-se com o seu ecrã. Algo
tem de mudar.
Ao mudar o clima com o seu
comportamento, o ser humano demonstrou que a cultura tem o mesmo poder de
transformação planetária que um meteorito. Tanto quanto sabemos, até ao
momento, somos o universo que pensa sobre si mesmo e evolui mediante escolhas
orientadas por intenções. Não somos capazes de formular leis físicas para essas
escolhas, como fazemos para a queda de um meteorito. Por isso, o ser humano
precisa de tomar consciência do quanto a face do planeta depende dessas
escolhas. O Natal, as prendas, a comida, as histórias que partilhamos, e o ‘quero-te
bem’ são apenas alguma fruta da época para meditar.
O que sinto necessidade de
mudança está ao nível da vida interior.’
Fonte : *Artigo
na íntegra https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/649/repensar-o-pensar-natalicio-para-mudar-que-tipo-de-vida/
Nenhum comentário:
Postar um comentário