Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Mirticeli Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja, uma das
poucas brasileiras
credenciadas como vaticanista junto à Sala de
Imprensa da Santa Sé
‘Agora é pra valer. Com o rito
de instituição de ministério do catequista formalizado, agora resta aplicá-lo
nas paróquias. Caberá ao bispo decidir quem poderá receber esse reconhecimento
ou não. O
documento é claro.
Por outro lado, será um desafio
convencer os 'leigos clericalizados' que tal reconhecimento é um modo de
reforçar a importância desse serviço, não de elevá-lo ao ‘grau’ de
sei-lá-o-que. E aquela velha mania de hierarquizar tudo; até o que, pela sua
própria natureza, não entra nos moldes de nenhum ‘organograma’ humano.
Jesus Cristo foi o primeiro
catequista. Era um mestre de vida que, com seu testemunho, formou discípulos.
Portanto, o modelo do catequista é o próprio Cristo.
E os catequistas, por sua vez,
são chamados a criar, a partir da sua missão, uma sequela Christi - pessoas
sensíveis à voz de Deus, que o coloquem acima de tudo em suas vidas, e mais :
que façam do cristianismo um ideal de vida, não uma ideologia que baila à mercê
das modas político-ritualísticas de turno.
O ministério do catequista
nunca foi algo marginal ou considerado de 'segunda categoria' dentro da
história do cristianismo. E quando o Papa Francisco o formaliza, simplesmente
faz jus à história dessa prática.
Basta nos recordarmos do que
foi o catecumenato na Igreja primitiva, principalmente entre os séculos II e V.
Essa preparação para o sacramento do batismo e do crisma era dividida em etapas
: primeiro, o candidato era apresentado para a comunidade; depois, participava
de uma formação, que poderia durar até 3 anos; por fim, era feito um escrutínio
para avaliar se a conduta da pessoa correspondia aos princípios da religião.
Caso houvesse a aprovação, o catecúmeno poderia se preparar para receber os
sacramentos já na quaresma seguinte.
A carta de Agostinho ao diácono
Deogratias, a De catechizandis rudibus, escrita em torno de 400 d.C,
traz uma metodologia de ensino feita para os 'rudes', ou seja, àqueles que se
preparavam para o batismo. Nada mais era que uma lista de orientações ao
instrutor (catequista) sobre como introduzir o neoconvertido aos conteúdos
básicos da fé.
Ensinar é para poucos. E
despertar interesse pela religião nos tempos de hoje é mais desafiador ainda.
E o Papa Francisco, sabendo que
a catequese é a ponta de lança de qualquer projeto de evangelização, dá a ela o
lugar devido. E mais : oferece todos os subsídios para que esse serviço, no dia
a dia das paróquias, cresça em qualidade.
No documento sobre o rito da
instituição do ministério, publicado esta semana pela Congregação para o Culto
Divino, mais uma prova de que Francisco não quer que o protagonismo dos leigos
se reduza a um slogan, como tem acontecido em muitos lugares. Mas que,
concretamente, esses agentes de pastoral assumam a tarefa de 'repropor'
o cristianismo ao homem moderno. Tanto que o Vaticano orienta que seminaristas
recém-aprovados para o diaconato e freiras evitem assumir a função, justamente
para dar espaço ao laicado.
O prefeito da congregação, Dom
Arthur Roche, em carta aos presidentes das conferências episcopais, surpreendeu
ao falar que o papel de catequista não está restrito ao ensinamento, mas
trata-se de uma verdadeira diaconia que engloba o cuidado para com os doentes,
a coordenação de iniciativas pastorais e o auxílio direto aos sacerdotes.
Tanto que, num trecho, recorda
uma faculdade já prevista pelo rito de iniciação de adultos, e que pode ser
exercida por catequistas : a realização de exorcismos menores, caso o bispo
considere oportuno. Na Igreja Católica, há dois tipos de exorcismo : os solenes
ou maiores, aplicados em caso de possessão (que só podem ser presididos por um
bispo ou um padre autorizado) e os menores, que são orações de libertação
voltadas especialmente para o catecúmenos.
Ministério dos leitores,
acólitos e catequistas para todos os leigos, enquanto um sínodo sobre a sinodalidade
reflete, justamente, o papel de todos os batizados na Igreja Católica. Mais
católico que isso, impossível. E há quem diga que Francisco não seja católico.
Certamente, quem faz essa afirmação, nem sabe o que é catolicidade.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1555886/2021/12/catequistas-instituidos-exorcismo-e-outras-tarefas/
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