sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Catequistas instituídos, exorcismo e outras tarefas

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Aula de Catequese em pequena comunidade cambojana

*Artigo de Mirticeli Medeiros,

jornalista e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras

credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé


‘Agora é pra valer. Com o rito de instituição de ministério do catequista formalizado, agora resta aplicá-lo nas paróquias. Caberá ao bispo decidir quem poderá receber esse reconhecimento ou não. O documento é claro.

Por outro lado, será um desafio convencer os 'leigos clericalizados' que tal reconhecimento é um modo de reforçar a importância desse serviço, não de elevá-lo ao ‘grau’ de sei-lá-o-que. E aquela velha mania de hierarquizar tudo; até o que, pela sua própria natureza, não entra nos moldes de nenhum ‘organograma’ humano.

Jesus Cristo foi o primeiro catequista. Era um mestre de vida que, com seu testemunho, formou discípulos. Portanto, o modelo do catequista é o próprio Cristo.

E os catequistas, por sua vez, são chamados a criar, a partir da sua missão, uma sequela Christi - pessoas sensíveis à voz de Deus, que o coloquem acima de tudo em suas vidas, e mais : que façam do cristianismo um ideal de vida, não uma ideologia que baila à mercê das modas político-ritualísticas de turno.

O ministério do catequista nunca foi algo marginal ou considerado de 'segunda categoria' dentro da história do cristianismo. E quando o Papa Francisco o formaliza, simplesmente faz jus à história dessa prática.

Basta nos recordarmos do que foi o catecumenato na Igreja primitiva, principalmente entre os séculos II e V. Essa preparação para o sacramento do batismo e do crisma era dividida em etapas : primeiro, o candidato era apresentado para a comunidade; depois, participava de uma formação, que poderia durar até 3 anos; por fim, era feito um escrutínio para avaliar se a conduta da pessoa correspondia aos princípios da religião. Caso houvesse a aprovação, o catecúmeno poderia se preparar para receber os sacramentos já na quaresma seguinte.

A carta de Agostinho ao diácono Deogratias, a De catechizandis rudibus, escrita em torno de 400 d.C, traz uma metodologia de ensino feita para os 'rudes', ou seja, àqueles que se preparavam para o batismo. Nada mais era que uma lista de orientações ao instrutor (catequista) sobre como introduzir o neoconvertido aos conteúdos básicos da fé.

Ensinar é para poucos. E despertar interesse pela religião nos tempos de hoje é mais desafiador ainda.

E o Papa Francisco, sabendo que a catequese é a ponta de lança de qualquer projeto de evangelização, dá a ela o lugar devido. E mais : oferece todos os subsídios para que esse serviço, no dia a dia das paróquias, cresça em qualidade.

No documento sobre o rito da instituição do ministério, publicado esta semana pela Congregação para o Culto Divino, mais uma prova de que Francisco não quer que o protagonismo dos leigos se reduza a um slogan, como tem acontecido em muitos lugares. Mas que, concretamente, esses agentes de pastoral assumam a tarefa de 'repropor' o cristianismo ao homem moderno. Tanto que o Vaticano orienta que seminaristas recém-aprovados para o diaconato e freiras evitem assumir a função, justamente para dar espaço ao laicado.

O prefeito da congregação, Dom Arthur Roche, em carta aos presidentes das conferências episcopais, surpreendeu ao falar que o papel de catequista não está restrito ao ensinamento, mas trata-se de uma verdadeira diaconia que engloba o cuidado para com os doentes, a coordenação de iniciativas pastorais e o auxílio direto aos sacerdotes.

Tanto que, num trecho, recorda uma faculdade já prevista pelo rito de iniciação de adultos, e que pode ser exercida por catequistas : a realização de exorcismos menores, caso o bispo considere oportuno. Na Igreja Católica, há dois tipos de exorcismo : os solenes ou maiores, aplicados em caso de possessão (que só podem ser presididos por um bispo ou um padre autorizado) e os menores, que são orações de libertação voltadas especialmente para o catecúmenos.

Ministério dos leitores, acólitos e catequistas para todos os leigos, enquanto um sínodo sobre a sinodalidade reflete, justamente, o papel de todos os batizados na Igreja Católica. Mais católico que isso, impossível. E há quem diga que Francisco não seja católico. Certamente, quem faz essa afirmação, nem sabe o que é catolicidade.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1555886/2021/12/catequistas-instituidos-exorcismo-e-outras-tarefas/

Nenhum comentário:

Postar um comentário