Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
'Buffone di Corte', de Cesare Augusto Detti
*Artigo
de Mirticeli Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja, uma das
poucas brasileiras
credenciadas como vaticanista junto à Sala de
Imprensa da Santa Sé
‘O sínodo sobre a sinodalidade,
que o Papa Francisco convocou, é a 'prova de fogo'. Através de uma
assembleia única, que envolve representantes da Igreja no mundo todo (clero,
religiosos e laicado), o pontífice conseguirá averiguar se seu espírito de
reforma conseguiu chegar aos centros e às periferias.
Embora o santo padre tenha
focado numa 'reforma da Cúria Romana', a verdade é que a sua intenção
era fazê-la urbi et orbi - de Roma para o mundo - desde o início. Do contrário,
não faria sentido falar de uma ‘reforma do coração’ ou promover uma
revolução pastoral a partir das estruturas.
A ideia, na verdade, foi
concebida universalmente. É mais uma tentativa de abater o clericalismo
enraizado nas paróquias, nas comunidades e nas dioceses que, na visão de Francisco,
é a raiz de todos os males. E não estamos falando só de padres que
instrumentalizam a batina, mas também de leigos clericalizados, que se sentem
os 'alfandegários da fé'.
Mas o que impediria o sucesso
desse sínodo? Existe uma maioria esmagadora contrária a esse projeto? A verdade
é que não. No entanto, existe uma minoria, muito barulhenta, que consegue
ocupar os espaços virtuais para compartilhar suas ideias toscas sobre uma
realidade que sequer dominam.
São os bobos da corte da
Igreja, que fazem piruetas nas redes sociais para agradar seu público alienado.
Se sentem os príncipes da Igreja, através de suas posturas soberbas e discursos
pedantes, mas não passam de bufões de um império católico caricaturado. Em vez
de roupas coloridas, são os efeitos visuais e o grande investimento em aparato
técnico para a produção de vídeos (de)formativos que conseguem maquiar muito
bem a ignorância.
O problema é que tentam frear
um Papa o qual ninguém consegue parar mais. De maneira excepcional, Francisco
já colhe os frutos da sua ousadia, à revelia de todas essas investidas para
acabar com seu pontificado. O sínodo é a coroação de algo que já deu certo. O
choro é livre. O riso também (no nosso caso).
Os próximos três anos, tempo de
duração desse sínodo, serão cruciais - tanto para a Igreja quanto para os
católicos em geral.
Francisco aposta muito nessa
assembleia e acredita que ela será um meio para movimentar a Igreja, de modo
que ela possa refletir sobre como vem sendo aplicado o Concílio Vaticano II,
para além das ideologias ou das interpretações 'partidárias'. E quem
ainda estiver querendo 'anular' o concílio vai ter que decidir : ou se
une a Roma de vez ou vai ter que procurar uma outra instituição fora da Igreja
Católica.
Francisco realiza uma 'revolução
institucional' que dificilmente seus sucessores conseguirão impedir. O
papel do Papa, do bispo, do padre e dos leigos é revisto. E não é uma
revolução, no melhor sentido da palavra, que visa acabar com a hierarquia, mas
impulsiona cada membro da Igreja a viver da forma mais coerente possível,
segundo o que é próprio da sua função. Enxergar um cargo na perspectiva do
serviço, não do status.
A Igreja sequer foi concebida
como uma monarquia. Isso é resquício da Idade Média, que via no poder régio a
forma de governo perfeita. Era a mentalidade da época e não podemos insistir
nesse anacronismo.
O Concílio Vaticano II, ao
reforçar a eclesiologia do povo de Deus, retorna à própria essência do
catolicismo, das primeiras comunidades cristãs, da fé popular que sustentou
gerações. Em outras palavras, foi uma tentativa de romper com aquele mundanismo
institucional que transformou os padres em 'micromangements', os bispos
em príncipes e o Papa num monarca, que antepunha essa função a de vigário de
Cristo.
Mas, pelo jeito, esse é o modelo
ideal de Igreja na cabeça dos bobos da corte. Muita 'teologia' e pouca
caridade. Muita estética e falta de experiência concreta com o sagrado. Muito
latim, mas pouco Jesus Cristo.’
Fonte : *Artigo
na íntegra https://domtotal.com/noticia/1554673/2021/12/os-bobos-da-corte-da-igreja/
Nenhum comentário:
Postar um comentário