Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
teólogo protestante
‘Nesta semana se comemora o
Natal no Ocidente. Em tempos de pandemia, muito provavelmente, tais
comemorações se mostrarão bem mais reservadas para uma parcela da população que
está atenta aos cuidados que ainda se precisa ter para evitar a proliferação da
Covid-19. Da mesma forma, dado o grande número de mortes que o país teve por
causa das omissões do Governo Federal na aquisição de vacinas, muitas famílias
estarão sem seus entes queridos, vivenciando ainda momentos de luto por causa
deles, tornando suas celebrações mais íntimas e introspectivas.
Há ainda aqueles e aquelas que,
contrariando todas as normas de segurança, passarão em grandes festas, comendo
e bebendo como se não houvesse pandemia ou amanhã. Em contraste a esses,
infelizmente, também haverá aqueles e aquelas que passarão sem nada para comer,
visto que a fome voltou a ser uma realidade no país, fruto de um governo que
visa a morte de seus cidadãos.
Em todos esses cenários é
possível perceber, dado o contexto em que vivemos, a marca da vulnerabilidade.
Claramente, o último grupo se mostra como mais vulnerável de todos, uma vez que
não possuem, muitas vezes, nem mesmo a opção de se protegerem do vírus. Essa
vulnerabilidade, por sua vez, se voltarmos para as narrativas dos evangelistas,
coloca-se como marca característica da maneira como Deus se revelou à
humanidade : na situação de vulnerável. O bebê na manjedoura, cercado de
pessoas anônimas, sábios e pastores que observavam o tempo em que estavam, um
casal pobre se refugiando em um lugar vulnerável para dar luz revelam muito bem
o cenário escolhido por Deus para o anúncio de sua salvação.
A narrativa do nascimento de
Jesus, tão lembrada nessa época, chama nossa atenção para aquilo que os
evangelistas mostraram tão claramente : Deus se encontra junto aos
vulneráveis, e tem por eles a sua preferência. Longe das pompas dos
grandes palácios e das grandes riquezas, Deus se revelou entre as pessoas
simples, em um lugar remoto, na improbabilidade.
Essas características da
improbabilidade e da vulnerabilidade, por sua vez, não são uma invenção dos
evangelistas, visto já estarem presentes em outras narrativas de nascimentos
bíblicos, como, por exemplo, o de Isaque e o de Moisés. Um Deus que se revela
no improvável e no vulnerável é marca do Deus bíblico e, consequentemente,
marca do próprio Jesus, que de acordo com a fé cristã, é o próprio Deus
encarnado.
Lembrar-se do Natal, no
entanto, não tem a ver com a exaltação da pobreza, como se Deus quisesse que
todas as pessoas estivessem em situações de vulnerabilidade. Discursos desse
gênero só fazem sentido para os poderosos deste mundo que desejam que suas
riquezas aumentem, mesmo que para isso milhões de pessoas devam morrer.
Muito pelo contrário, a
mensagem do Natal visa a afirmar que mesmo na improbabilidade e
vulnerabilidade, Deus se revela trazendo sua salvação da morte e a esperança de
que dias melhores haverá de surgir. Se todo nascimento de uma criança é um sinal
de que Deus ainda acredita na humanidade, a narrativa do Natal mostra isso em
sua radicalidade. O nascimento daquele bebê em vulnerabilidade revela que,
mesmo que improvável, a salvação de Deus chega ao seu povo. É na verdadeira
humanidade que Deus se revela como é, no paradoxo de um amor vulnerável e, no
entanto, firme; improvável e, contudo, digno de fé. Lembrar-se disso é o
primeiro passo para se celebrar o Natal em perspectiva cristã.
Feliz Natal.’
Fonte : *Artigo
na íntegra https://domtotal.com/noticia/1556675/2021/12/ponto-de-vista-um-deus-vulneravel-e-improvavel/
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