Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
eremita na Diocese de Amparo,
BA
‘Na pandemia, vimos o ateísmo
prático mostrar suas afiadas garras, fora e – infelizmente – também dentro da
Igreja, contra a Santa Missa bem como contra os demais sacramentos. De
passagem, perguntemos : quantos doentes, por exemplo, se foram deste mundo sem
a Unção dos Enfermos? Quem responderá pelo pecado desse descuido para com essas
almas? Se é que, em meio ao materialismo reinante, ainda se pensa nas almas…
Como quer que seja, oferecemos,
hoje, aos irmãos e às irmãs na fé uma reflexão sobre a Eucaristia. Elaborada
por Dionísio, o Cartuxo († 1471), intitula-se ‘O alimento dos fracos’.
Ei-la : ‘Para chegar a estar convenientemente concentrado, considera com
devoção quem é Aquele que se dá a ti no altar, pobre e vil pecador mil vezes
digno do inferno. Ele é um Deus de infinita majestade, onipotente e terrível :
‘Ele olha para a terra e a faz tremer, toca as montanhas e elas fumegam’ (Sl
103,32). ‘Leva escrito um nome em seu manto e em sua coxa : Rei dos reis e
Senhor dos senhores’ (Ap 19,16). Esse nosso Deus desce diariamente pela nossa
causa, miseráveis; mais ainda, com tanta humildade que não há ninguém tão vil a
quem Ele não desça, contanto que o homem o queira. Vem com tanta paciência que
está disposto a perdoar até mesmo o mais perverso de seus inimigos, se este
quer se reconciliar com Ele. Vem com tanto amor que está disposto a abrasar
também a pessoa mais fria do mundo, contanto que ela o deseje’.
‘Vem com tanta liberalidade
que não há ninguém tão pobre que Ele não esteja pronto a enriquecer. Vem com
tanta doçura, que deseja saciar até os mais famintos com o seu alimento
verdadeiro. Vem com tanta luz, que não há ninguém tão cego que não queira
iluminar. Vem com tanta santidade, que não há ninguém tão impuro ou indolente
que ele não possa purificar e mover à devoção.’
‘Procura ter presente essas
e outras reflexões, dia e noite em todas as tuas ações e exercícios, a fim de
conservar limpa para tal hóspede a cela do teu coração. Todos os teus salmos e
orações faze-os como ação de graças, depois de ter recebido esse dom e outros
inumeráveis benefícios ou para preparar-te a fim de recebê-Lo dignamente. Toda
a vida se gaste em honrar a esse hóspede que tão frequentemente se honra de vir
a ti, aspirando sempre àquele feliz momento em que o Deus infinito se digna a
rebaixar-se e a unir-se a ti, a partir do momento em que toda a tua felicidade
consiste unicamente nisso. Teme sempre que aproximando-te d’Ele indignamente
não te menospreze e se cumpra, assim, o que está escrito nos salmos : ‘Que a
sua mesa ante eles se converta em um laço e sua abundância em armadilha!’ (Sl
68,23)’ (Contra detestabilem cordis inordinationem in Dei laudibus,
art. XXIV. Opera omnia, t. 40, pp. 247-248, apud Um
cartuxo. Antologia de autores cartuxos : itinerário de contemplação.
São Paulo : Cultor de Livros, 2020, p. 336-337).
Afinal, a Eucaristia antecipa,
já neste mundo passageiro, o Banquete celeste, conforme se lê na obra de outro
monge cartuxo que se mantem anônimo. Diz ele : ‘A Eucaristia é promessa,
penhor da união final. É, na fé, um pregustar do último banquete, onde o pão do
céu já não será dado ao homem sob o véu do sacramento, mas no esplendor da luz
do Cordeiro. Jesus nos ensinou a pensar no céu como um banquete, onde ele mesmo
passará de um comensal a outro para servi-lo (cf. Lc 12,37). E o alimento que
dará a comer será ele mesmo’ (A Missa, mistério nupcial. 2ª ed. Juiz
de Fora : Subiaco, 2019, p. 97).
Lendo tais passagens de
profundos autores espirituais, como não ter, no coração, o desejo de participar
da Santa Missa e, em estado de graça, receber – até diariamente, se possível –,
Nosso Senhor, com seu corpo, sangue, alma e divindade, na hóstia consagrada e
de adorá-Lo, sempre mais, no Santíssimo Sacramento?’
Fonte : *Artigo
na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/12/12/o-valor-da-santa-missa/
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