* Artigo de José Barbosa de Miranda,
Diácono Permanente na Arquidiocese de Brasília
‘No artigo anterior
refletimos sobre a catequese insuficiente, aquela que chamamos de verniz
superficial. A catequese que não ajuda no amadurecimento da fé por falta de
conteúdo.
Hoje, refletiremos sobre
a necessidade de uma catequese voltada para os excluídos, os que foram
rejeitados por pessoas da Igreja por falta de humildade e caridade. Ainda
reporto-me a Dom Juventino Kestering, em sua conferência na Segunda Semana
Brasileira de Catequese, que dizia : “Um dos grupos que desperta hoje nossa
atenção é o dos que foram afastados por falta de acolhida: eles buscaram na Igreja
respostas aos seus problemas concretos, não encontraram acolhida e nem sequer
ouvidos atentos para escutar” (Estudos CNBB 84, p. 260).
A Catequese que lembra
Jesus
Essa catequese visa
essencialmente uma reaproximação com “as ovelhas desgarradas”. Fazem parte do
aprisco, mas estão distantes à espera de uma oportunidade de diálogo, de um
reencontro. A catequese com esses adultos deve ser alimentada pela docilidade
do Bom Pastor (cf. Jo 10, 11-15). Nesse momento é oportuno mostrar que a Igreja
é obra divina, mas administrada por homens. O que deve prevalecer agora não são
os erros, as prepotências, o autoritarismo humano, mas o reencontro com Deus
que se manifesta em seu Filho, e seu Filho permanece na Igreja. É catequisar
com São Paulo : “Vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus” (1Cor 4,23). É uma
catequese que busca o reencontro com Cristo. É o momento em que o catequista se
pareça com Cristo, chegando a despertar na ovelha que foi afastada a admiração:
“você me lembra Jesus”! Um dos eixos dessa catequese é a humildade : reconhecer
as fragilidades que podem ser transformadas em instrumentos confiáveis para o
reencontro com o Reino de Deus. As pessoas que foram afastadas ainda estão com
as feridas abertas pela exclusão injusta, mas aceitam o curativo que pode
restabelecer a inclusão. São Paulo dá a receita para essa catequese : “Para os
fracos, fiz-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Tornei-me tudo para todos, a
fim de salvar alguns a todo custo. E isto tudo eu faço por causa do evangelho,
para dele me tornar participante” (1Cor 9, 22).
Uma Catequese de Escuta
Certa ocasião, em um
encontro de preparação para o matrimônio, dele participava um casal jornalista
que ainda tinha a feridas abertas de quando foram afastados da Igreja. Eu
conversava com eles e dava-lhes oportunidade de abertura para promover um
possível reencontro com a Igreja. Nesse momento se aproxima um sacerdote e, ao
ouvir os desabafos do casal jovem contra a Igreja, foi ríspido : “vocês não
deveriam estar aqui. Aqui não é lugar de falar mal da Igreja. Podem se
retirar”. Eu tentei argumentar com o sacerdote sobre um diálogo caridoso, mas
ele não aceitou, concluindo; “aqui é lugar para quem acredita na Igreja e não
de quem fala mal dela. Não vale a pena perder tempo com essa gente”.
A catequese com adultos
se prima pela escuta que gera diálogo e sem prejulgamento. Como catequisar com
monólogo e sem aceitar as diferenças? Como falar farisaicamente de Cristo sem
admitir erros que podem ser reparados? A partir do momento que a pessoa começa
a falar de suas frustações já se supõe uma relação: restabelecer laços. É o
início da catequese paulina : “fiz-me fraco para ganhar os fracos”.
A Catequese da
Reconciliação
Na mesma conferência, Dom
Juventino comenta: “Existe também o grupo dos que se afastaram por
desentendimentos com o padre. Na maioria dos casos, a experiência de
“afastamento” é traumática. Muitos sentem-se amargurados, cultivam resistência
contra a Igreja e seus líderes, e alguns, inclusive, tornam-se agressivos”
(Estudos da CNBB 84, p. 260).
Como encontrar essa
ovelha tresmalhada se não for ao seu encontro? É a catequese do amor e da
reconciliação. A catequese da “minha culpa, minha máxima culpa”. A catequese
que coloca a ovelha nos braços do Pai.
Nesse momento aparece a
catequese sobre a Igreja, depositária da fé. Cristo instituiu a Igreja para ser
seu Sacramento, uma instituição que contém e realiza a graça redentora de
Cristo. A igreja que provocou o afastamento não estava revestida do mandato de
Cristo: “Fazei todos meus discípulos, ensinando-os a observar tudo o que vos
ordenei” (cf. Mt 28,19-20), mas agiu como instrumento de divisão e exclusão.
Não se trata de uma catequese de jogar pedras, mas de recuperar, mostrando a
misericórdia de Deus. Cristo não veio para condenar, mas salvar. A essência
dessa catequese está na misericórdia e gratuidade do amor : “Sede
misericordiosos como vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, para não serdes
julgados; não condeneis, para não serdes condenados; perdoai, e vos será
perdoado” (Lc 6, 36-37).
A catequese, toda ela é
uma Escola de Jesus, Escola de Igreja. Seu itinerário é o de Jesus.’
Fonte :
*Artigo na íntegra http://www.zenit.org/pt/articles/catequese-para-adultos-catequese-reconciliadora
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