Este artigo, gentilmente cedido por Dom
Lourenço Palata Viola, OSB,
monge beneditino do Mosteiro de São Bento de São
Paulo,
Nesta nossa segunda
meditação seremos acompanhados por Lídia, a negociante de púrpura da cidade de
Tiatira que habitava em Filipos e, como nos relata São Lucas, estava juntamente
com outras mulheres no grupo que se reuniu para escutar Paulo e seus
companheiros. “Lídia era adoradora de Deus” (At 16,14).
A figura desta mulher a
qual “o Senhor abriu o coração para que atendesse ao que Paulo dizia” (At
16,14) torna-se um grande exemplo daquilo que nos afirma o mesmo apóstolo na
sua Carta aos Romanos: “Acredita-se com o coração e com a boca faz-se a
profissão de Fé” (Rm 10,10).
Sabemos que na linguagem
bíblica o coração representa o centro de todo ser humano; dele nascem as
vontades, as afetividades, o bem, o mal, e é também ele a porta de entrada de
nossa alma, da vida interior, é no coração que encontra-se a nossa porta da Fé,
a qual devemos abrir generosamente para que por ela entre o “Rei da Glória” (Sl
23,7).
Nosso Pai São Bento já
nos exorta nas primeiras palavras da Santa Regra a escutarmos os preceitos do
Mestre com os ouvidos do coração inclinados, ou seja, deste modo eles estarão
bem próximos do coração transmissor da verdade e da obediência, uma comunicação
que se dá de coração para coração.
Assim como aconteceu na
vida de Lídia, que após ter acolhido generosamente em seu coração a ação
transformadora da fé e foi imediatamente batizada com toda sua família
tornando-se membros do corpo de Cristo, nós também ao acreditarmos no Senhor e
ao abraçarmos a fé não devemos resumi-la unicamente ao plano da nossa
inteligência ou a um mundo do saber intelectual, mas pelo contrário, damos
início a um processo de mudança que compromete a vida, a TOTALIDADE do nosso
ser, uma verdadeira conversação de todos os
nossos costumes.
Com a fé, eficazmente
muda tudo em nós, somos novas criaturas em Cristo pela ação transformadora do
Espírito Santo.
Temos assim a urgente
necessidade de expulsar de nossos corações antigos e novos ídolos, vícios e
maus desejos, os quais criamos e alimentamos para suprirem nossas carências;
devemos nos deixar purificar pelo amor do Senhor. Expulsar do nosso templo tudo
aquilo que não é puro aos olhos de Deus e consequentemente aos olhos dos
homens; vendilhões de pombas, ovelhas e bois;
isso faz-se uma essencial característica de quem almeja a dilatatio
cordis. Que isso seja sempre constante em nós; tenhamos a certeza: Jesus está
ao nosso lado com o chicote na mão para nos auxiliar nesta difícil tarefa pois,
“em tudo aquilo que nossa natureza tiver menores possibilidades roguemos ao
Senhor que ordene à sua graça que nos preste auxílio”(RB, Pról.).
Somente dessa maneira a
fé poderá resplandecer de maneira fulgurante e difundir em minha consciência,
em meu coração, em todo meu ser, a sua luz, dando-me respostas e sentido as
minhas inquietações e questionamentos. Somente em Deus repousa um coração
inquieto: “És grande Senhor, e digno de todo louvor (...). fizeste-nos para ti
e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em ti” (S. Agostinho,
Confissões).
Deus atuou através de
Paulo e seus companheiros para que o coração de Lídia fosse generosamente
aberto a fé, e assim a primeira européia temente a Deus, provavelmente não
judia, pela sua vontade “acolhe a graça da fé e mostra imediatamente sua
fidelidade insistindo de maneira mais fervorosa que Abraão para que os
apóstolos ficassem em sua casa se a julgassem verdadeiramente fiel ao Senhor”
(S. João Crisóstomo, Homilia aos Atos dos Apóstolos).
Essa mulher nos mostra a
necessidade de termos um coração solícito, de constantemente orarmos suplicando
a Deus que abra nosso “sacrário interior”, que o torne bem disposto a sua
graça, a tudo aquilo que nos é revelado por Jesus Cristo nosso Senhor.
NÃO SEJAMOS ORGULHOSOS!
PEÇAMOS A DEUS QUE ABRA
NOSSOS CORAÇÕES!
“Deus abre os corações
bem dispostos e não os endurecidos, pois esses se fecham voluntariamente a sua
voz. Abrir o coração de Lídia foi obra de Deus, enquanto que o aceitar essa
abertura, sem dúvida alguma partiu somente dela. Assim trata-se de uma obra divina
e humana ao mesmo tempo” (S. João Crisóstomo) pois Deus não viola em nada a
liberdade do ser humano, nem mesmo para abrir a porta de nosso coração.
- At 16, 11-15
* Tenho acolhido e aberto
a porta de meu coração ao dom da fé?
* Neste momento de minha
vida, quais seriam os ídolos que devo expulsar de meu coração? Como Lídia somos
adoradores do Deus vivo, porém meu coração é livre suficientemente para que eu
seja julgado verdadeiramente fiel ao Senhor?
* Quem são os hóspedes de
minha morada interior?
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