Este artigo, gentilmente cedido por Dom
Lourenço Palata Viola, OSB,
monge beneditino do Mosteiro de São Bento de São
Paulo,
Nossos companheiros de
caminhada serão duas pessoas totalmente distintas, que jamais se encontraram ou
ouviram falar uma da outra, com estados de vida totalmente diferentes porém com
um grande ponto em comum: a fé.
O “diácono” Filipe e o
Eunuco etíope, funcionário de Candace, rainha da Etiópia são personagens de
extrema importância no contexto da propagação da Boa Nova da Salvação. Este
etíope, do qual não sabemos o nome, mas apenas conhecemos o desejo de seu
coração, é o primeiro gentil a transpor os umbrais da porta da fé. Ao
explicar-lhe a passagem de Isaías, Filipe desperta-lhe o coração para Jesus
Cristo, verdadeiro Cordeiro de Deus.
“A porta da fé (cf. At
14,27), que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua
Igreja, está sempre aberta para nós. É possível cruzar esse limiar quando a
Palavra de Deus é anunciada e o coração se deixa plasmar pela graça que
transforma” (Bento XVI, PF 1). Anunciar a Palavra, eis a grande missão que nos
é proposta, para que assim como o eunuco várias pessoas que ainda não
compreendem e não tem quem as oriente cheguem ao conhecimento da verdade.
Todos nós temos em nosso
coração um desejo misterioso de Deus, uma lacuna que só pode ser preenchida
pelo amor onipotente. O Catecismo da Igreja Católica nos diz que “desejar a
Deus é um sentimento inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado
por Deus e para Deus. Deus não cessa de atrair o homem a si e só em Deus é que
o homem encontra a verdade e a felicidade que não se cansa de procurar” (CICA
27).
“Assim, pela prontidão e
pelo desejo ardente de sua fé o eunuco é digno de toda nossa admiração. Ele não
viu Jesus Cristo nem presenciou nenhum prodígio, e qual é a razão de sua
mudança? A razão é que, sendo ele observante dos preceitos aplica-se ao estudo
dos livros santos e faz deles seu livro de meditação e leitura” (S. João
Crisóstomo, Hom. Sobre os At. Dos Ap. 19).
De fato este etíope era
verdadeiramente alguém muito culto, pois não somente sabia ler, mas o fazia
também em aramaico. São Lucas nos narra que ele lia um rolo de pergaminho com o
texto do profeta Isaías, provavelmente adquirido em Jerusalém. Suas atitudes:
empreender uma longa viagem para peregrinar até o Templo de Jerusalém e
permanecer no átrio dos pagãos, comprar um rolo de Isaías e voltar lendo-o,
deixam claro o quão grande era seu amor pela fé de Israel, mesmo que não tenha
se circuncidado.
Filipe porém, ao
explicar-lhe toda a escritura partindo da páscoa de Jesus contemplada no texto
lido encaminha-o através do desejo de seu próprio coração ao encontro com o
Deus vivo e verdadeiro revelado por Jesus.
Com o Batismo o eunuco
professará a fé na Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo, e tornar-se-á
participante da natureza divina, filho adotivo de Deus Pai, membro e discípulo
de Cristo, templo e morada do Espírito Santo.
Como conclusão desta
meditação gostaria de destacar através do trecho de uma homilia de São João
Crisóstomo outro aspecto relevante neste texto e neste etíope: seu interesse e
fidelidade a leitura da Sagrada Escritura a qual constitui uma necessidade para
o redescobrir com nova alegria o caminho da fé e assim fazermos este encontro
constante e eficaz com Cristo Jesus.
“Vinha de volta, sentado
no seu carro, a ler o profeta Isaías. Considera que grande coisa é não
descuidar da leitura da Escritura nem sequer durante a viagem (...). Pensem
isto os que nem sequer em casa as lêem e, porque estão com sua mulher, ou
porque militam no exército, ou tem preocupações pelos seus familiares e
ocupações em outros assuntos, acreditam que não lhe seja conveniente fazer esse
esforço de ler as divinas Escrituras (...).
Este bárbaro etíope é um mestre para todos nós: para os que tem uma vida
privada, para os membros do exército, para as autoridades, numa palavra, para
todos os homens e também para as mulheres – mais ainda as que estão sempre em
casa – e para os que escolheram a vida monástica. Aprendam todos que nenhuma
circunstância é impedimento para a leitura da palavra divina, que é possível
realizar não só em casa mas na praça, na viagem, em companhia de muitos ou no
meio de uma ocupação. Não descuidemos, vos rogo, a leitura das Escrituras” (S.
João Crisóstomo, Hom. Sobre o Gen, 35).
- At 8,26-40
* Tenho sido a exemplo de
Filipe, anunciador da Boa nova?
* Como tem sido meu
contato com a Palavra de Deus?
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