* Artigo de A. Torres Neiva
Quatro jovens viviam às margens de um rio perdido
entre as rochas de uma montanha. Tinham-se reunido levados por um mesmo sonho
que identificava os quatro : a busca da santidade. Resolveram formar uma
comunidade de vida, escolhendo para superior um ancião renomado, homem santo e
cheio de sabedoria nos caminhos de Deus. A fama daquela comunidade de jovens
chegou à cidade e logo outros se reuniram ao pequeno grupo. Ao fim de alguns
anos foi preciso construir um convento. Todos falavam da santidade dos irmãos e
havia até quem contasse milagres por obra e graça daqueles santos.
Porém os quatro jovens fundadores não estavam
contentes. Não é que as coisas estivessem mal, escândalos não havia, mas não
corriam como eles gostariam.
Certo dia, durante uma reunião da comunidade, que
acontecia toda semana, Cassiano disse o que todos já adivinhavam : abandonaria
a comunidade porque ali não se vivia com austeridade e pobreza. Bruno
igualmente pediu a palavra para acusar a comunidade de falta de generosidade e
de dedicação aos outros. Para isso não valia a pena estar ali. E também ele
partiria. Logo em seguida, Geraldo queixou-se do pouco tempo que a comunidade
dedicava à oração. Eram orações decoradas, rotineiras, que a ele pouco falavam.
Abandonaria da mesma forma a comunidade.
Por fim, Hilário, responsável pelas plantações,
manifestou também o seu descontentamento pela pouca vontade de trabalhar que
percebia nos seus irmãos. Uma comunidade de gente burguesa era um
contra-testemunho. Por isso ele iria tratar da sua vida.
E, assim, aqueles quatro, desejosos de uma
comunidade mais perfeita, saíram para o mundo à procura de uma maior
radicalidade de vida.
O superior, homem experimentado na vida e cheio de
sabedoria nos caminhos de Deus, deixou-os partir. Deu-lhes a bênção e
disse-lhes que as portas do convento estariam sempre abertas. Era uma tradição antiga
já dos tempos de São Bento. Passaram-se muitos anos. Um belo dia, quatro
anciãos de cabelos brancos, bordão na mão e saco ao ombro, bateram à porta do
convento.
Cassiano pedia para ser readmitido, pois queria ser
pobre e austero; Bruno desejava ser mais generoso; Geraldo vinha à procura de
paz e serenidade para rezar e Hilário queria aproveitar as forças que ainda lhe
restavam para trabalhar e dar o melhor de si mesmo.
Os quatro compreenderam afinal o seu pecado :
desejaram converter a comunidade antes de converterem a si próprios. Agora
perceberam que eram eles que deviam se converter.
Fonte :
* Artigo adaptado de Vida Consagrada, 275 – Janeiro 2005, do Padre Adélio Torres Neiva, C. S. Sp. (missionário espiritano (+2010)).
Revista Beneditina nrº 15, Março/Abril de 2006, editado pelas monjas beneditinas do Mosteiro da Santa Cruz – Juiz de Fora/Minas Gerais.
publicacoesmonasticas@yahoo.com.br
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