* Artigo de Francesco Strazzari, Jornalista
‘A 31 de Maio de 2011,
com um decreto da Congregação para a Evangelização dos Povos, assinado pelo
prefeito, cardeal Ivan Dias, foram erigidos o Vicariato Apostólico da Arábia do
Norte, que se estende por uma superfície de 2 179 856 quilómetros quadrados;
tem uma população de cerca de 35 milhões de habitantes e compreende o Bahrein,
o Kuwait, o Qatar e a Arábia Saudita, sob a orientação pastoral de D. Camillo
Ballin, um comboniano italiano. E o Vicariato Apostólico de Arábia do Sul, que
compreende os Emirados Árabes Unidos, o Omã e o Iémen, estende-se por uma
superfície de 929 969 quilómetros quadrados e tem uma população de 36 877 959
habitantes, dos quais 882 500 católicos, 15 paróquias e 53 sacerdotes, sob a
orientação de D. Paul Hinder, um capuchinho suíço de 71 anos.
Situação desconhecida
«Muitos europeus que não
conhecem a situação certamente pensam que na Arábia não haja cristãos e que
portanto mesmo para um bispo não haverá lá nada que fazer», relata o bispo Paul
Hinder. «Eu mesmo, até 1994, quando fui eleito para o governo central da Ordem
dos Capuchinhos, tinha quase a mesma opinião. Mas quando, em Dezembro de 1997,
visitei pela primeira vez os nossos confrades do golfo Pérsico, tive de
corrigir radicalmente a minha maneira de pensar. Encontrei aí uma variada
fileira de capuchinhos e de outros sacerdotes oriundos de países
diferentes, que no seio de uma sociedade islâmica assistiam pastoralmente
comunidades cristãs bastante vivas de católicos provenientes de mais de uma centena
de nacionalidades.»
Continua o bispo: «Como
quer que seja, não se podia deixar de notar também durante o sínodo dos bispos
do Médio Oriente, em Outubro de 2010, em Roma, que destes países se sabe muito
pouco. Quando se fala de cristãos do Médio Oriente, a maior parte pensa nas
Igrejas orientais antigas, que, não obstante as muitas dificuldades,
sobreviveram até hoje ao longo de uma história rica de lutas e muitas vezes
também de sofrimentos. Só uma parte delas vive em comunhão com a Sé Apostólica,
por exemplo, os maronitas ou aquelas minorias que no curso da História se
expressaram pela união com a Igreja de Roma, desligando-se das suas Igrejas
mães.»
Novos desenvolvimentos
«Nos últimos anos,
verificou-se uma notável imigração de cristãos nos países do Médio Oriente em
ascensão económica, especialmente nos do golfo Pérsico. Estes países, a partir
dos anos 60 do século passado, atraem cada vez mais investidores e mão-de-obra
de todas as regiões do mundo, em particular da Ásia. Actualmente nestes países
há pelo menos três milhões de cristãos católicos.»
«A migração conduz a uma
situação paradoxal: enquanto muitas Igrejas orientais nas suas zonas de origem,
desde o Egipto ao Iraque, têm cada vez menos fiéis – embora tenham muitas vezes
estruturas dispendiosas e múltiplas instituições – nos países do golfo Pérsico
tem-se vindo a formar uma Igreja de migrantes, jovem, vital, vibrante, mas
estruturalmente frágil. O número global destes fiéis parece rondar os 50 por
cento de todos os católicos que residem no Médio Oriente. Deles fazem parte
fiéis de mais de uma centena de nações, de inúmeras zonas linguísticas e de
ritos diferentes. Os fiéis de rito latino rondam os 80 por cento, enquanto
cerca de 20 por cento pertence às diversas Igrejas católicas orientais.»
«A Igreja é e permanece
por ora uma Igreja de migrantes e para migrantes», conclui o bispo. «Para os
fiéis, que vêm de todas as partes do mundo, mas sobretudo das Filipinas e da
Índia, a pertença à Igreja Católica é muitas vezes o único ponto firme de referência.
Pode estar aqui uma explicação para a surpreendente actividade e vitalidade das
nossas comunidades. Essa gente é muitas vezes religiosamente mais activa do que
nos seus países de origem.»
Igreja de estrangeiros
Os católicos na Península
Arábica são pois «expatriados», isto é, operários, funcionários e empresários
estrangeiros, activos na construção civil, na indústria do petróleo e do gás,
nos serviços de saúde e noutros serviços, como nos trabalhos domésticos, no
turismo, nos bancos e na administração. Provêm de todos os continentes. É
notável a presença de católicos que falam árabe, originários dos países do
Médio Oriente, especialmente do Líbano, Síria, Jordânia, Palestina, Egipto,
Iraque.
«A flutuação da população
estrangeira residente, que depende do desenvolvimento económico – observa o
bispo Hinder – faz que tenhamos fiéis de todas as tradições eclesiais. Apesar
de os católicos pertencentes ao rito latino serem cerca de 80 por cento, há
todavia um número consistente que provém das Igrejas orientais sui iuris
[igrejas orientais que estão em comunhão com Roma] (maronitas, melquitas,
coptas dos países de língua árabe; arménios e – sobretudo – siro-malankares e
siro-malabares originários do Kerala, na Índia)».
«Compreende-se porque é
que as Igrejas, que experimentam uma diminuição de fiéis nas regiões de origem
ou que dependem da ajuda externa, mostram um crescente interesse pelos seus
membros que estão emigrados de modo permanente ou de modo temporário. Todavia, no
caso dos países islâmicos do Golfo, a falta da completa liberdade de religião e
de culto torna muitas vezes difícil ou até mesmo impossível a criação de
estruturas próprias para todas as tradições eclesiais. Por isso em 2003, depois
de intensas e acesas discussões, a Santa Sé decidiu que, para salvaguardar a
unidade eclesial no interior e no exterior, todos os fiéis de qualquer rito
para a jurisdição dependam exclusivamente do vicariato apostólico. Esta decisão
de princípio, que encontra não poucas resistências, foi mais do que uma vez
reconfirmada pela Santa Sé. Por conseguinte, os dois vigários têm a obrigação
de garantir aos fiéis das diversas Igrejas católicas orientais a necessária
assistência pastoral juntamente com o cuidado da sua liturgia e das suas
tradições, tanto quanto seja possível e consentido no âmbito dos limites dos
diversos países.»
Nova identidade
D. Hinder faz questão de
sublinhar que «muitas vezes não se considera que os fiéis da Igreja dos
migrantes dos Estados do Golfo fazem uma nova experiência de fé e de igreja.
Pessoas, que na sua pátria eram sujeitas a um rígido código de pertença a um
clã familiar e a um determinado rito, de repente encontram-se numa comunidade
cristã, na qual se vêem muitas cores de pele, muitas línguas, culturas e
tradições eclesiais. É inevitável uma certa mistura e nivelamento das culturas
religiosas. Mas nesta transformação da identidade religiosa não devem ser
considerados apenas os perigos e a perda do seu rito. Em tudo isto há também a
possibilidade de ultrapassar os limites étnicos, raciais e linguísticos e de
crescer dentro de uma nova identidade verdadeiramente católica, isto é,
universal. Por isso podemos mesmo considerar uma Igreja de migrantes, qual é a
do Golfo, como uma espécie de laboratório de como a Igreja pode crescer e
prosperar num ambiente onde há apenas poucas estruturas sólidas e onde existe
apenas uma frágil segurança social e política. É uma situação que lembra muito
de perto as Igrejas dos Actos dos Apóstolos e das Cartas do Novo Testamento,
que certamente, pelo menos no início, eram em grande parte comunidades de
migrantes e que tiveram de desligar-se das suas
origens para se afirmar como fermento na sociedade. Só assim a Igreja pôde
crescer e difundir-se. A imagem da semente, que cai na terra e tem de morrer
para depois germinar e dar fruto, certamente é válida também a este respeito.»’
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Forte desempenho dos leigos
‘Nos países da região do
Golfo notei logo desde o início o forte empenho dos leigos, homens e mulheres.
Actualmente nos sete países da Península Arábica, quase três milhões de
católicos, contamos com cerca de 90 sacerdotes. O seu número, relativamente
reduzido se comparado com o número dos fiéis, tem como consequência que os
sacerdotes sejam completamente absorvidos pelo ministério sacramental e pelo
anúncio. Por isso, têm particular significado os carismáticos e os outros
grupos de oração, as associações de leigos e assim por diante.
A catequese, que envolve
cerca de 30 mil crianças nos dias previstos (quinta/sexta ou sexta/sábado) está
na mão de catequistas, homens e mulheres, especialmente preparados, que
desenvolvem o seu serviço gratuitamente. O mesmo se diga no tocante aos
encontros de oração nos chamados labour-camps, complexos residenciais dos
trabalhadores estrangeiros, e no tocante às visitas aos hospitais e às prisões,
sempre que possível, para a assistência espiritual aos marinheiros e assim
sucessivamente.
A celebração de uma liturgia,
que seja envolvente e viva, só é possível graças à ajuda de fiéis empenhados.
Voluntários põem-se à disposição para a distribuição da comunhão, para as
leituras, para o serviço de ordem na igreja, para os coros. Sem a sua ajuda, a
vida da paróquia não funcionaria. Dado que aos fins-de-semana, segundo a
amplitude das paróquias, se chegam a celebrar vinte missas ou mais,
compreende-se bem como é considerável e precioso o trabalho desenvolvido pelos
fiéis, que se disponibilizam. Quem alguma vez passou uma semana no Dubai ou em
Abu Dhabi ter-se-á apercebido como a celebração da eucaristia requer uma
notável organização. Só para termos uma ideia: no Dubai são distribuídas
semanalmente mais de 50 mil hóstias, em Abu Dhabi cerca de 25 mil.’
Fonte :
*Artigo na íntegra de http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EFllZuZVVyBuBSRkqj
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