* Artigo de Carlo Bellieni , neonatologista e bioeticista
‘O suicídio é o
assassinato de si mesmo, um ato cuja relação com a solidão é geralmente muito
estreita, a ponto de lançar dúvidas sobre a verdadeira liberdade de escolha de
quem o comete. O suicídio assistido é o ato de provocar a própria morte através
de um terceiro, com a aprovação do sujeito.
Realismo
É o ato de dar fim
voluntariamente à própria vida. Em caso de não ser possível fazê-lo ativamente
e por isso apelar-se para a ação de outro, temos o suicídio assistido. O
suicídio pode ser cometido ativamente, mediante fármacos ou armas ou com
intervenções lesivas de vários tipos, ou passivamente, removendo-se os
instrumentos necessários para a salvação da vida. O suicídio foi condenado pela
cultura ao longo dos séculos. Hoje, uma corrente pós-moderna o considera um ato
de livre escolha e, por isso, digno de respeito. Com frequência, quem recorre
ao suicídio está em situação de abandono ou depressão; mais raramente, em
situação de sofrimento físico ou de doença terminal. O suicídio, especialmente
quando muito alardeado pela mídia, acaba se tornando “contagioso” e
sugestionando outros a cometê-lo.
A razão
Quem e por que recorre ao
suicídio? Um estudo canadense mostra que, entre os enfermos que solicitam a
morte, é alto o índice de pessoas deprimidas. Mas a depressão é tratável : assim
sendo, a lei sobre a eutanásia não acabaria deixando de proteger os pacientes
cujas escolhas são influenciadas pela própria depressão? Dos idosos deprimidos,
de acordo com estudos, apenas 10% são encaminhados a especialistas, contra 50%
dos jovens deprimidos. Não deve surpreender, portanto, que alguns deles peçam
para morrer.
Como pretender a
liberdade de suicidar-se no hospital ao mesmo tempo em que se lamenta o
suicídio de quem se atira de uma ponte? É um paradoxo que compromete qualquer
suposta liberalização: quem aprova o primeiro suicídio e desaprova o segundo
nunca explicou quem está autorizado a decidir quais são as pessoas dignas do
suicídio e quais não são. Se o suicídio é liberdade, por que preocupar-se com a
sua propagação? Com que base admitir ou excluir uma pessoa do suicídio
autorizado por lei? Tanto faria, afinal, aprovar todos os suicídios, mesmo o do
adolescente que perde a namorada ou o da garota que vai mal na universidade.
Quem é o juiz laico do coração dos outros? A tragédia é que, em nome da solidão
elevada a suprema corte e poeticamente chamada de "autonomia",
ninguém mais estará autorizado a salvar o suicida, pois qualquer interferência
seria ilegal: a decisão do suicida, afinal, é seu direito. No panorama atual,
podemos esperar que aquele que salva um suicida, em vez de receber um prêmio,
seja denunciado.
O sentimento
O suicídio é um grito de
socorro que exige uma resposta. É urgente melhorar o atendimento para todos,
especialmente para as pessoas com deficiências mentais, para as pessoas
abandonadas e para as vítimas da angústia. E é urgente parar de dizer que tudo
o que decidimos em nossa solidão é uma decisão correta. É muito fácil para o
Estado liberar o suicídio, livrando-se da sua responsabilidade e da sua
obrigação à solidariedade.’
Fonte :
*Artigo na íntegra http://www.zenit.org/pt/articles/suicidio-a-definicao-em-tres-pontos
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