domingo, 16 de fevereiro de 2014

Paz na diversidade

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

* Artigo de Fernando Domingues, 
Missionário Comboniano

 ‘Era quarta-feira de tarde. À noite, nesse mesmo dia, tinha o meu voo marcado para regressar do Paquistão, onde tinha passado uma semana repleta de visitas surpreendentes e experiências muito, muito enriquecedoras. Como ainda tinha umas horas livres, pedi ao bispo que me hospedava e ele disponibilizou um carro com motorista para eu poder ir até à fronteira com a Índia ver uma cerimónia especial de que me tinham falado, o arriar da bandeira na zona onde se tinha combatido a última guerra entre os dois países, há menos de vinte anos. Acompanhava-me Amjad, o jovem sacerdote paquistanês, meu aluno em Roma, em cuja ordenação eu tinha participado alguns dias antes, na catedral de Lahore.

Seguindo acordos entre os dois países, a cerimónia prevê que a bandeira de cada um dos países seja arriada todos os dias antes do pôr-do-sol, exactamente ao mesmo tempo, por dois grupos de soldados alinhados a um metro de distância um do outro, cada grupo do seu lado da linha de fronteira. O arriar da bandeira é precedido por uma parada militar cheia de gestos de força e valentia militar. De cada lado da fronteira os militares seguem exactamente o mesmo programa cronometrado com precisão, cada um dos grupos encorajados por uma plateia de cidadãos de cada lado da fronteira que cantam e gritam palavras de ordem patrióticas. A certa altura, levado pelo entusiasmo, um rapazito diante de mim começou a gritar insultos contra os soldados indianos; imediatamente um dos soldados do nosso lado veio ter com ele para o mandar calar e disse-lhe alto e bom som: «Deves amar a tua pátria sem odiar a pátria dos outros!» De facto, ao início da cerimónia, os altifalantes tinham avisado que se encorajava a todos a exprimir o próprio espírito patriótico, mas era proibido ofender os que estavam do outro lado da fronteira. No meio de muitos milhares de pessoas que cantavam e gritavam palavras de ordem de ambas as partes, gostei imenso de ver que o primeiro e o último gesto da cerimónia oficial foi feito pelos comandantes dos dois contingentes militares que, sozinhos, cada um do seu lado, marcharam solenemente para a linha da fronteira, deram um ao outro a saudação militar e um forte aperto de mão de amizade. Mesmo se a memória da guerra ainda é fresca, ali, na fronteira de Waga, todos os dias ao pôr do Sol, é possível celebrar a paz e cultivar a amizade.

À noite, peguei o avião e regressei a Roma. Na minha memória continuam muitas recordações de um povo onde a convivência pacífica não é fácil entre pessoas de categorias sociais muito diferentes e comunidades que vivem e professam religiões diversas. Tanto os cristãos como os muçulmanos vivem permanentemente sob a ameaça da violência do terrorismo extremista. Enquanto eu lá estava, uma mesquita foi bombardeada, e poucos dias depois uma missionária cristã foi atacada e gravemente ferida. Apesar das dificuldades que são bem visíveis, são admiráveis os esforços que se fazem para cultivar activamente uma coexistência pacífica entre todos. Em todas as dioceses, a comissão de diálogo inter-religioso é sempre activa. Em várias povoações que visitei, os jovens cristãos e muçulmanos frequentam a mesma escola. Particularmente, da parte das escolas católicas, há uma grande abertura para acolher crianças e jovens de todas as religiões e um empenho constante para cultivar o sentido de estima e respeito entre todos.

Numa sociedade plural, onde convivem pessoas de tradições, culturas e religiões diferentes, a paz e a concórdia precisam de ser activamente cultivadas. A Igreja define-se a si mesma como sacramento e sinal daquela unidade que Deus sonha para toda a família humana; é por isso que toda a comunidade cristã é chamada a ver estes esforços concretos para cultivar activamente a reconciliação e a paz como parte integrante da missão que o Senhor lhe confiou.’


Fonte :
*Artigo na íntegra http://www.alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EFVZkpAuFlUbiZUQwC



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