Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
‘Investir
na consolidação do novo humanismo, proposto pelo Papa Francisco, é uma urgência
capaz de corrigir os rumos da civilização. Especialmente, trata-se de movimento
que contribui para formar líderes promotores do diálogo, comprometidos com a
construção de um tempo melhor. A busca por um novo humanismo, que tem envolvido
estudiosos e pesquisadores, frequentemente inspirando rodas de conversas, é
ainda um projeto, mas constitui um broto de esperança, ‘luz no fim do túnel’.
Permanecer distante, sem se envolver na efetivação desse projeto, por pouco
compreender o que significa um novo humanismo, significa contribuir para o
acúmulo de prejuízos na contemporaneidade. É preciso buscar uma reação para
trilhar caminhos diferentes.
Individualmente
ou em grupo torna-se importante compreender o significado de um novo humanismo,
com suas potencialidades para reverter perdas na cultura, na história e nos
patrimônios relevantes. O esvaziamento humanístico da existência revela-se na
animalização das relações, com o assombroso recrudescimento de diferentes tipos
de violência, naturalizando preconceitos e discriminações. Dentre essas muitas
violências, inscreve-se aquela que se manifesta na indiferença em relação aos
que sofrem. Ela se torna especialmente grave quando a fome de muitos passa a
ser normalizada, não gerando o necessário incômodo para atitudes cidadãs mais
assertivas. Consequentemente, prevalece certa inércia ou, no máximo, gestos
pontuais.
Outra
consequência do esvaziamento humanístico é o instinto de autofagia que se
verifica quando segmentos da sociedade destroem o próprio patrimônio, com uma
enfurecida cegueira que não os permite enxergar as consequências de suas
atitudes. São, assim, capazes de destruir em pouco tempo o que se edificou ao
longo de décadas e até de séculos, movidos por uma incompetência humana
perigosa e desleal – rifam por pouco o que vale muito, negociam o inegociável.
Também não são raras as manifestações de autoritarismo que sinalizam
esvaziamentos humanísticos. Essas manifestações nada mais são do que tentativas
para encobrir a realidade, explicitando a carência de um senso humanístico, com
impactos nas relações.
A
superficialidade humana nas impaciências de todo tipo, pelas redes digitais e
nos encontros presenciais, inviabiliza a sincera constituição dos laços de
fraternidade. Por isso mesmo, ainda que por abordagens simples, e sem a
profundidade de reflexões filosófico-antropológicas, é preciso, cotidianamente,
se dedicar à pauta do novo humanismo. É incontestavelmente urgente produzir adequada
reação a discursos destrutivos, superando negacionismos, ódios e
autoritarismos. Ao invés da destruição e do caos, a humanidade precisa
construir o caminho que leve ao desenvolvimento integral. E a pauta do novo
humanismo pode proporcionar à sociedade um discurso de união, com capacidade
para ajudar na constituição e no fortalecimento de laços fraternos. O mundo
político precisa ser fecundado por esse tom unificador, para dar conta de sua
importante e insubstituível tarefa, intuindo legislações e práticas capazes de
promover o bem comum. Nessa direção, é importante e determinante priorizar o
ser humano, reconhecendo e dedicando-se especialmente aos clamores dos pobres e
sofredores. Uma prioridade na contramão de lógicas com a aridez e a frieza da ilimitada
ganância pelo lucro.
A
consideração da pauta de um novo humanismo aponta, especificamente, para a
necessidade de se dedicar atenção à cultura que fortemente incide sobre a vida.
A dimensão cultural é fonte de sensibilização humanística. Contempla também o
adequado tratamento da política, pela qualidade das relações no respeito
incondicional a direitos. No campo econômico, efetiva-se novo humanismo quando
se vence perversidades e se busca a inclusão, em um incondicional respeito ao
meio ambiente. Este tempo grave exige, pois, criatividade para que sejam
estabelecidas novas dinâmicas capazes de levar a grandes mudanças
civilizatórias. Aqueles que se fundamentam em princípios e valores
imprescindíveis – coerentes com o Evangelho de Jesus Cristo, sem manipulações e
interpretações fundamentalistas – são promotores das mudanças almejadas. Cresça
o interesse pela pauta do novo humanismo, única saída para a crise enfrentada
pela humanidade, investimento para a edificação de um tempo novo.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://domtotal.com/noticia/1582887/2022/07/pauta-do-novo-humanismo/
Nenhum comentário:
Postar um comentário