Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
professor
‘O
mundo vive imerso na ressaca da pandemia e na dor da guerra na Ucrânia, mas
nestes meses de descanso não pudemos eliminar a possibilidade de redescobrir
quanto mais de mundo existe à nossa volta e que precisa do nosso cuidado. Um
desses mundos é o da interioridade. Muitos aproveitam as férias
para descansar, mas e se aproveitássemos para pensar?
A
nossa cabeça vive imersa em pensamentos todo o dia, todos os dias, mas a maior
parte desses orienta-se para os que são momentâneos, prementes, úteis,
necessários, e pensar em coisas profundas parece requerer um espaço que não se
consegue encontrar no quotidiano. Porém, nas férias, em que o número de
compromissos poderia diminuir para dar espaço ao lazer, quantas pessoas mantêm
uma atividade frenética de visitar tudo e mais alguma coisa? Será que escondida
está a incapacidade de nos libertarmos dos compromissos que nos dão a sensação
de realização, mas que, na verdade, continuam a impedir-nos de vasculhar pela
nossa interioridade de modo a arrumá-la um pouco?
O
mundo está em permanente mudança, mas diante dos desafios grandes como as
alterações climáticas e as divisões políticas que semeiam guerras sem sentido,
ninguém pode ficar indiferente e achar-se demasiado pequeno para que uma sua
transformação interior não produza reflexo no mundo exterior. O mundo é feito
de relações e qualquer ato de amor gera um efeito em cadeia que não podemos
alguma vez imaginar. Por isso, trabalhar a nossa interioridade para nos
tornarmos pessoas profundas que aspiram a uma vida plena é crucial para as
transformações que queremos ver realizadas no mundo.
Num
sábado à noite, fui jantar com a minha esposa. Reparei no cansaço espelhado na
cara dos empregados ao fim de um dia árduo de trabalho. Havia escrito nessa
manhã algo sobre o valor transformativo do sorriso e pensei que seria o momento
de aplicar o que havia refletido. Assim, de cada vez que interagia com os
empregados, seja no ato da escolha e pagamento do menu, como nos momentos de
recolha da comida confeccionada, usei o sorriso para acolher gestos menos
perfeitos devido ao cansaço na tentativa de que aqueles rapazes e raparigas
experimentassem um pouco de amor. Desconheço totalmente o resultado, mas quando
amamos não pensamos no resultado, mas no momento presente em que podemos amar.
Quantas vezes pensamos neste tipo de coisas?
Para
algumas pessoas, pensar pode dar muito trabalho e fazê-lo nas férias não parece
ser uma opção de todo. Para outras, pensar pode ser o que mais fazem ao longo
do ano, pelo que sugerir pensar nas férias pode levar a não descansarem de
todo. Mas, e se considerássemos a hipótese de «pensar como ato de amor»?
Quando
amei com um sorriso, incarnei um pensamento. E quando pensamos damos espaço à
nossa interioridade para encontrar, na criatividade, quais os modos de
converter um pensamento em ato de amor. Pensar como ato de amor pode ser uma atividade
transformativa de lazer. Experimente.’
Fonte : *Artigo na íntegra
https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/770/porque-descansar-com-o-pensar/
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