terça-feira, 19 de julho de 2022

Porquê descansar com o pensar?

Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

 
*Artigo de Miguel Oliveira Panão,

professor


‘O mundo vive imerso na ressaca da pandemia e na dor da guerra na Ucrânia, mas nestes meses de descanso não pudemos eliminar a possibilidade de redescobrir quanto mais de mundo existe à nossa volta e que precisa do nosso cuidado. Um desses mundos é o da interioridade. Muitos aproveitam as férias para descansar, mas e se aproveitássemos para pensar?

A nossa cabeça vive imersa em pensamentos todo o dia, todos os dias, mas a maior parte desses orienta-se para os que são momentâneos, prementes, úteis, necessários, e pensar em coisas profundas parece requerer um espaço que não se consegue encontrar no quotidiano. Porém, nas férias, em que o número de compromissos poderia diminuir para dar espaço ao lazer, quantas pessoas mantêm uma atividade frenética de visitar tudo e mais alguma coisa? Será que escondida está a incapacidade de nos libertarmos dos compromissos que nos dão a sensação de realização, mas que, na verdade, continuam a impedir-nos de vasculhar pela nossa interioridade de modo a arrumá-la um pouco?

O mundo está em permanente mudança, mas diante dos desafios grandes como as alterações climáticas e as divisões políticas que semeiam guerras sem sentido, ninguém pode ficar indiferente e achar-se demasiado pequeno para que uma sua transformação interior não produza reflexo no mundo exterior. O mundo é feito de relações e qualquer ato de amor gera um efeito em cadeia que não podemos alguma vez imaginar. Por isso, trabalhar a nossa interioridade para nos tornarmos pessoas profundas que aspiram a uma vida plena é crucial para as transformações que queremos ver realizadas no mundo.

Num sábado à noite, fui jantar com a minha esposa. Reparei no cansaço espelhado na cara dos empregados ao fim de um dia árduo de trabalho. Havia escrito nessa manhã algo sobre o valor transformativo do sorriso e pensei que seria o momento de aplicar o que havia refletido. Assim, de cada vez que interagia com os empregados, seja no ato da escolha e pagamento do menu, como nos momentos de recolha da comida confeccionada, usei o sorriso para acolher gestos menos perfeitos devido ao cansaço na tentativa de que aqueles rapazes e raparigas experimentassem um pouco de amor. Desconheço totalmente o resultado, mas quando amamos não pensamos no resultado, mas no momento presente em que podemos amar. Quantas vezes pensamos neste tipo de coisas?

Para algumas pessoas, pensar pode dar muito trabalho e fazê-lo nas férias não parece ser uma opção de todo. Para outras, pensar pode ser o que mais fazem ao longo do ano, pelo que sugerir pensar nas férias pode levar a não descansarem de todo. Mas, e se considerássemos a hipótese de «pensar como ato de amor»?

Quando amei com um sorriso, incarnei um pensamento. E quando pensamos damos espaço à nossa interioridade para encontrar, na criatividade, quais os modos de converter um pensamento em ato de amor. Pensar como ato de amor pode ser uma atividade transformativa de lazer. Experimente.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra

https://www.combonianos.pt/alem-mar/opiniao/4/770/porque-descansar-com-o-pensar/

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