Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Fabrício Veliq,
teólogo protestante
‘A
Igreja nasce por obra do Espírito Santo. Essa característica fundacional é
muito bem enfatizada no livro dos Atos dos Apóstolos, em seus primeiros
capítulos. Em sequência, há diversas narrativas que mostram como que aqueles e
aquelas que creram e receberam o Espírito testemunhavam a respeito da
ressurreição, vivendo em comunidade, tendo tudo em comum.
De
início, tal movimento ficou conhecido como sendo a seita dos nazarenos, ou
ainda os seguidores do Caminho, visto que grande parte dos novos adeptos eram
da religião judaica. Dessa forma, em seu início, cristianismo e judaísmo não
eram duas religiões diferentes. Tal divisão se acentuará somente após a queda
de Jerusalém no ano 70, com a permanência de dois grupos, os cristãos e os
fariseus. Estes deram origem ao que veio a se tornar o judaísmo atual, enquanto
aqueles desenvolveram sua própria teologia, separando-se cada vez mais do
movimento judaico.
A
Igreja enquanto instituição já é algo mais tardio, não fazendo parte desse
primeiro movimento de Atos, que consistia nas reuniões nas casas, na partilha
do pão, no suprimento das necessidades de cada pessoa pertencente à comunidade.
A institucionalização da Igreja e, posteriormente, a transformação da religião cristã
em religião oficial do Império Romano trazem grandes mudanças na forma como ela
própria se vê no mundo.
São
conhecidas de todos e todas as grandes atrocidades cometidas pela Igreja cristã
ao longo de vários séculos, principalmente na Idade Média, época conhecida
também como cristandade no Ocidente. Ou seja, as matrizes social e cultural na
qual todas as pessoas nasciam eram cristãs, de maneira que ser cristão era
praticamente como, em nossos dias, ser pertencente à nação onde se nasce.
Diante
disso, dada sua grande hegemonia e seu grande poder, a Igreja, com o passar do
tempo, transformou-se naquilo que ela mesma combatia. Em outras palavras, de
oprimida passou a ser a opressora. Agora, porém, com um discurso de que se
estava fazendo a vontade de Deus, mesmo que para isso tivesse que torturar e
matar pessoas em nome de uma suposta obediência à divindade.
Tempos
mais tarde, ao perder sua hegemonia, parte da Igreja cristã passou, então, a
ser contra diversos avanços na pesquisa científica, querendo, assim, manter de
alguma forma o poder que havia tido nos séculos anteriores. Dessa forma, se
colocar contra uma nova forma de exegese e hermenêutica, ou se levantar contra
as novas descobertas científicas, tais como a teoria evolucionista de Darwin,
ou novas leituras da sociedade, como a de Marx, aparentam ser fruto dessa
tentativa se colocar como o baluarte e a única detentora da verdade última.
Se
focarmos no lado protestante, a história não se mostra tão diferente assim.
Desde a Reforma, as instituições perseguiram e continuam a perseguir aqueles e
aquelas que pensam de forma diferente do poderio vigente. Talvez, a maior
diferença seja uma não centralização do protestantismo mundial, o que
possibilita novas formas de organização e comunidades, promovendo, assim, maior
liberdade doutrinal, tanto para o bem quanto para o mal.
A
Igreja católica com o Vaticano II propõe uma nova forma de se pensar a Igreja
e, mesmo que isso tenha ocorrido há mais de 50 anos, tal proposta ainda não
está totalmente assimilada, existindo diversos grupos que se colocam contra o
Concílio e seus documentos.
Relembrar
a história da Igreja, seu surgimento, o motivo de sua existência e, ainda,
repensá-la em nossos dias se tornam tarefas fundamentais para que ela possa ser
um testemunho atual da mensagem de Cristo.
A
Igreja deve viver o amor de Deus, sendo reflexo da Trindade no mundo. Em outras
palavras, uma comunidade que ama, onde todos e todas são acolhidas e se alegram
por estarem ali, em comunhão uns com os outros.’
Fonte : *Artigo na íntegra
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