Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo,
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, MG
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
‘O apóstolo Paulo, grande educador e catequista nas
primeiras comunidades cristãs, partilha heranças perenes, atualizados
ensinamentos para mente e coração dos cristãos, dos homens e mulheres de boa
vontade. Paulo disse, na bela e atual carta aos Efésios : ‘De vossa boca não
saia nenhuma palavra maliciosa, mas somente palavras boas, capazes de edificar
e fazer bem a quem ouve’. Essa recomendação preciosa é remédio que cura o
exercício da cidadania em tempos de notícias falsas, emolduradas pelas
facilidades e velocidades na circulação de opiniões, juízos e outros enunciados
nas redes sociais. As lições de Paulo reforçam que o direito à liberdade de se
expressar não desobriga os cristãos de cuidar daquilo que será dito, em
qualquer circunstância.
Reconheça-se a responsabilidade sobre o que se
expressa, os possíveis impactos provocados por tudo aquilo que se diz. Todos,
particularmente os cristãos, são instados a refletir e a discernir bem - antes
de emitir juízos, pronunciar palavras, considerando a força determinante da
linguagem. A palavra expressa, dentro da liberdade cidadã, tem consequências
que não podem ser relativizadas. É capaz de edificar e de destruir, causar
confusões e animosidades. O direito de expressão é sagrado, mas as
palavras não devem estar contaminadas por sentimentos alinhados às estreitezas
humanas, nem por visões parciais, manipuladas. A sociedade é edificada
- com avanços na promoção do desenvolvimento integral, na superação de
equívocos nos campos da política e da economia, na promoção da igualdade social
- com a força de palavras que geram clarividências, indicando soluções na
priorização do bem comum.
As palavras tecem o tergiversar que é próprio da
política, compõem discursos político-partidários. São essenciais na construção
de entendimentos para discernir a respeito de escolhas. As palavras
possibilitam a vivência civilizada, o relacionamento entre pessoas e grupos. A
instrução do apóstolo Paulo precisa, pois, ser ‘regra de ouro’,
especialmente quando se considera este ano eleitoral. Essa ‘regra de ouro’
aplicada e vivenciada poderá reorientar a vida cidadã, contribuindo para a
superação de amargos atrasos sociais. Sem o adequado uso das palavras, os
atrasos se agravarão, não serão alcançadas soluções para os problemas
contemporâneos. A postura adequada, diz o apóstolo, é abandonar a mentira e
sempre dizer a verdade. E dizer a verdade não significa se achar no direito de
espalhar desaforos, de buscar vitórias ou a própria defesa a partir de
discursos que alimentam o ódio, os preconceitos. Trata-se de uma
irracionalidade a estratégia de se gerenciar a própria imagem, tentando
conquistar credibilidade, a partir da disseminação de inverdades, de difamações
sobre os outros.
Especificamente quando se considera a tergiversação
própria da política, todos os cidadãos, especialmente os cristãos - por um
compromisso de fé -, devem sempre buscar a promoção do bem, combatendo
narrativas, e até mesmo providências legislativas, que buscam simplesmente
manipular opiniões, por meio de dinâmicas destrutivas. A permanência de
mentalidades e procedimentos dentro dessas dinâmicas das manipulações leva a
atrasos civilizatórios, ao crescimento da violência, impondo prejuízos a todos,
especialmente aos pobres. A sociedade precisa reconhecer que são favoráveis as
condições para a abertura de novos ciclos, mas é imprescindível que sejam
vencidos apegos pelo poder, por situações que beneficiam apenas oligarquias e,
especialmente, sejam assumidas as responsabilidades pelas palavras expressas,
para qualificar o relacionamento humano.
Neste horizonte, os cristãos têm obrigação, por
princípios e valores ético-morais, de contribuírem determinantemente para que a
liberdade de expressão seja exercida sempre de modo adequado. Retoma o apóstolo
Paulo, aconselhando : ‘Não se ponha o sol sobre vossa ira, e não deis lugar
ao diabo’. O Apóstolo contribui para ser vivida a experiência espiritual e
humana de não fazer da própria boca ‘uma caverna’ de palavras
maliciosas, mas fonte de palavras que edificam, enraizadas na experiência de uma
vida em Deus, pela paixão, morte e ressurreição de Cristo Jesus. Cada um
priorize edificar, por gestos e palavras, a própria estatura segundo a estatura
de Cristo. Um percurso que pode começar exitosamente ao obedecer a recomendação
: ‘De vossa boca não saia nenhuma palavra maliciosa, mas somente palavras
boas, capazes de edificar e fazer bem a quem ouve.’’
Fonte : *Artigo na íntegra
Nenhum comentário:
Postar um comentário