Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo da Irmã Isabelle Valinande,
Missionária Comboniana
‘Nasci em Kinshasa (República
Democrática do Congo) e, devido ao trabalho do meu pai, passei a infância em
diferentes regiões do meu país. Provenho de uma família cristã. O meu pai é
engenheiro florestal e a minha mãe é enfermeira, o que nos permitiu ter uma boa
educação acadêmica, moral e espiritual. Em casa éramos oito irmãos, sete
meninas e um menino, que é o mais novo. O meu pai ultrapassou as barreiras
culturais da nossa comunidade e educou-nos a todos com igualdade, com os mesmos
direitos e deveres. Por isso, eu tive a possibilidade de ser educada e crescer
profissionalmente, uma oportunidade que normalmente é reservada apenas aos
homens.
A alegria de ser
missionária
Nunca pensei em ser religiosa.
Era a minha irmã Fabiola, a terceira, que tinha esse desejo, mas o meu pai
orientou-a e ela começou a estudar e a preparar-se profissionalmente. E,
entretanto, encontrou a sua verdadeira vocação, a de ser mãe. Foi sob a
influência da minha irmã que comecei a participar no grupo vocacional da minha
paróquia. Lá conheci outro jovem, agora missionário comboniano, o padre Gervais
Mutsopi, que me convidou para participar num encontro organizado pelas
Combonianas de Butembo.
Aquele encontro vocacional
mudou-me a vida. Um missionário congolês contou-nos sobre a vida de São Daniel
Comboni. A sua experiência comoveu-me e despertou-me o desejo de querer saber
mais sobre aquele homem apaixonado pela África que, na altura, era um
continente abandonado ao seu destino. Aquele missionário disse-nos que Comboni
era o único filho sobrevivente de oito irmãos, os seus pais eram pobres,
camponeses e idosos. Apesar disso, aceitou afastar-se dos seus pais para ir
evangelizar a África. Em casa, disse a mim mesma : «Se Comboni aceitou
deixar o mais valioso que tinha por um povo, pela África, porque não posso eu
fazer o mesmo?» Foi aí que ocorreu a minha conversão, a mudança de minha
vida.
Fiquei ainda três anos em
Butembo a trabalhar e a estudar antes de começar a primeira fase de preparação
para a vida comboniana. Fiz, depois, seis anos de formação no instituto das
Missionárias Combonianas.
Missionária africana
na América
Depois da minha primeira profissão
religiosa, que fiz em Namugongo (Uganda), fui destinada ao México. Comecei em
Guadalajara, cidade onde passei um ano a trabalhar com idosos e doentes, e
também na paróquia.
Depois, em Costa Chica, no
Estado de Oaxaca, dediquei dois anos ao trabalho pastoral com a juventude
afro-mexicana. Foi uma bela experiência que deu sabor à minha vida missionária :
aprendi com os jovens, conheci a realidade desse povo e pude abrir-me ao
diferente para poder partilhar a minha vida e cultura.
A diocese de Puerto Escondido,
a que pertence a paróquia de Huaxolotitlán, não tinha agentes pastorais
suficientes e contava com poucos padres. A nossa paróquia tinha mais de 32
comunidades e um único padre que não conseguia chegar a todos os lugares
durante o ano; as comunidades tiveram de se organizar para celebrar a sua fé.
As quatro irmãs dividimos o território da paróquia para acompanhá-las. O testemunho de fé destes povos comoveu-me
profundamente.
A Irmã Isabelle
Kahambu Valinande durante a procissão de Domingo de Ramos em Costa Chica
(México) no ano de 2016
Esta foi uma realidade que me
surpreendeu porque o México é um país com mais de 500 anos de evangelização. Na
minha diocese, Butembo-Beni, há muitos padres e congregações religiosas. Apesar
de terem transcorrido poucos anos desde a chegada do Evangelho, há agentes
pastorais preparados para acompanhar as comunidades cristãs e as celebrações
são muito vivas e animadas. Neste contexto, em Costa Chica tive de fazer um
pouco de tudo. Aos domingos fui a diferentes comunidades para as celebrações da
Palavra, algo novo que não foi fácil para mim, especialmente quando alguma
pessoa falecia.
Nos povoados não podem enterrar
os seus familiares sem a bênção, por isso procuram um padre, uma freira ou um
catequista. Dizem que «estão mais perto de Deus» e que «a oração ou a
bênção aproxima os falecidos de Deus». Têm um ritual que mistura tradições
africanas e indígenas. Logo que a pessoa morre, colocam-na no chão para estar
em contato com a Mãe Terra. «Da terra vêm e a ela voltam», afirmam.
Quando o corpo arrefece, consideram que a Mãe Terra o recebeu. Depois colocam
flores de cempasúchil [calêndula asteca] com cal no lugar e põem
o falecido numa cama preparada para o velório e, posteriormente, vão para a
capela e o funeral. No fim dos rituais, a comunidade reúne-se em torno da
comida. As comunidades com as quais trabalhei também têm o hábito de organizar
uma novena de oração, para rezar pelo eterno descanso dos falecidos.
Apreciei muito esta forma de celebrar a vida e a morte.
Finalmente, vivi na Cidade do
México durante seis anos. Ali, além de estudar Ciências Religiosas, dediquei-me
à animação missionária e à pastoral com as pessoas migrantes. Na Casa Mambre
ajudei-as com os procedimentos administrativos e a aprendizagem da língua,
especialmente aquelas que vieram de África; e no centro Cafemir colaborei no
acompanhamento psicoespiritual e em terapias manuais para facilitar a integração
social.
Agora estou nos Estados Unidos,
onde abrimos uma comunidade no Texas, com a intenção de continuar a trabalhar
com os jovens.’
Fonte : *Artigo
na íntegra https://www.combonianos.pt/alem-mar/actualidade/6/563/partilhar-a-vida-e-a-fe/
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