Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
de Giovanna Binci
‘‘As meninas estão dormindo’,
me disse ontem à noite o meu marido, aqui na Itália. Eram umas nove da noite,
depois da costumeira maratona de historinhas para dormir, pulos na cama, dentes
a escovar, pijamas a vestir e mais historinhas para dormir.
As crianças dormem e ai de quem
acordá-las. As crianças fecham os olhos e você se pergunta por quais sonhos
estarão vagando. As crianças respiram fundo e os pais entendem que, mais uma
vez, uma jornada terminou.
As crianças dormem em paz e há
uma mamãe e um papai felizes. As crianças puxam o lençol e se sentem no lugar
mais seguro do mundo, onde bicho papão nenhum consegue alcançá-las.
Dormem as crianças do
Afeganistão
Também em Cabul adormecem as
crianças, mesmo à sombra dos arames farpados do aeroporto, até que, entre o
susto e as lágrimas, sejam acordadas por rajadas de balas e por estrondos de
decolagens.
Dormem as crianças afegãs e,
nesta noite, as mães acariciarão as suas testas, perguntando-se o que vão
descobrir lá fora aqueles olhinhos quando acordarem. O mundo mudou tanto da
noite para o dia que, talvez, deste pesadelo não se acorde tão cedo.
A criança no avião americano :
a beleza em meio à dor
As crianças do Afeganistão
desabam exaustas no avião que as leva para longe, para um futuro que daqui não
se vislumbra mais. Como o pequeno da foto, evacuado num cargueiro americano em
15 de agosto, com outras mais de seiscentas pessoas. A jaqueta de camuflagem
militar no lugar de um ursinho de pelúcia. Dorme como as minhas filhas.
Dormem as crianças, elas que
são a mais maravilhosa visão do mundo – inclusive no meio da guerra; inclusive
apesar da guerra, que quer tirar o seu direito à beleza.
Esperamos que, ao menos em seu
sono, eles estejam a milhões de quilômetros do sofrimento, dos gritos, daqueles
que querem machucá-las. Mas elas estão longe da mãe e do pai, de casa. Da sua
caminha.
Não dá mais sequer para sonhar
com o amanhã : os pais tentam passar os filhos pelo arame farpado. O que fica
para trás dá mais medo que a incerteza e o afastamento. As mães e os pais
também sonham. E os seus sonhos são todos iguais : é por isso eu mesma sinto o
seu desespero e entendo a esperança e o amor que conduzem aquelas mãos.
‘Foi horrível, as mulheres
jogaram seus filhos pelo arame farpado do aeroporto pedindo aos soldados que os
levassem. Alguns pequenos ficaram enredados no arame’, contam as legendas
que traduzem as palavras de um oficial do exército afegão num dos vídeos que deram a volta ao mundo.
Diante dos muros do aeroporto
de Cabul, de onde a ponte aérea humanitária transporta pedaços de uma população
desintegrada pela ocupação dos talibãs, famílias de afegãos em fuga aguardam a
sua vez.
‘As crianças estão exaustas,
sete ficaram doentes aqui no sereno. Elas não dormem. Choram, estão com medo’,
diz o papai Sakhi à agência Adnkronos.
Os suprimentos de água e comida
diminuíram junto com as esperanças de sair do país. Os postos de controle do
Taleban ao longo das ruas da capital tentam impedir os não estrangeiros de
chegarem ao aeroporto.
Outra jornada muito difícil
está para terminar no Afeganistão. Mais um dia de protestos e ao mesmo tempo de
silêncio surreal nas ruas; de mulheres trancadas em casa; de medo, de tiros, de
incerteza.
Apesar de tudo, também nesta
noite, dormem as crianças do Afeganistão.’
Fonte : *Artigo
na íntegra https://pt.aleteia.org/2021/08/24/dormem-as-criancas-do-afeganistao/
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