Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
teólogo protestante
‘Hoje em dia ainda se fazem
muito comuns uma teologia do medo e uma teologia com medo. A primeira é muito
presente em ambientes fundamentalistas. Trata-se daquele tipo de teologia que
usa o medo para manter as pessoas reunidas sob determinada liderança. Nesse
tipo de discurso o que se faz mais presente são as famosas listas do que se
pode e do que não se pode ser feito, dando mais ênfase, logicamente, àquelas
que não se pode fazer por serem consideradas como carimbo de entrada no
inferno. Para sustentar tais considerações, tomam-se versículos bíblicos
tirados de seus contextos e fazem todo um corpo doutrinal em cima deles.
Uma vez que a partir de um
texto isolado qualquer doutrina pode ser construída, a lógica é tomada como o
grilhão que prende as pessoas a esse corpo doutrinal. Afinal, uma vez se
aceitando a premissa teológica colocada por determinada liderança, tudo que se
segue logicamente dela deixa qualquer pessoa obrigada a admitir que aquela
doutrina deve ser obedecida como vontade divina. Não é de se espantar,
portanto, que a teologia do medo seja muito útil a pastores(as) charlatães na
contemporaneidade. O medo e a lógica criada que o fomenta sempre foram
instrumentos fortes para dominação de massas e não é diferente em alguns
ambientes que se dizem cristãos.
Por outro lado, vemos também um
outro tipo de teologia que é a teologia com medo. Essa, por sua vez, é
percebida quando encontramos uma atitude teológica que se fecha sobre si mesma
por ter medo de encarar os problemas que o mundo contemporâneo traz. Esse tipo
de fazer teológico ainda se faz muito presente na vida de muitos teólogos e
teólogas da atualidade. No lugar de estarem atentos e atentas às novas demandas
que o mundo hodierno lança à teologia, preferem se esconder nas fórmulas
prontas e já consolidadas, por medo de receberem algum tipo de sanção ou, até
mesmo, serem considerados(as) hereges por parte da liderança à qual estão
subordinados(as).
Mesmo que haja teólogos e
teólogas conservadoras que fazem teologia nesse viés e buscam responder questões
contemporâneas com as velhas chaves do passado, isso não quer dizer que sejam
medrosos(as). Muitas vezes, em tais teólogos e teólogas se encontram muita
coragem e honestidade teológica para, a partir de uma leitura conservadora,
propor respostas, ainda que prontas, para as questões de nosso tempo. Que sejam
boas respostas, daí é outro problema que não é objeto deste artigo.
Neste texto, refiro-me aos
teólogos e teólogas progressistas que, mesmo tendo boas ideias e respostas
novas, têm medo de expô-las por causa das diversas sanções que podem receber
por parte de seus(as) superiores(as). Nesse caso, é a própria estrutura a
responsável por sustentar e até mesmo fomentar tais teologias, que são feitas
por pessoas com medo de serem descobertas ou de terem que prestar contas diante
de algum concílio ou algo do gênero.
Nesses cenários, é
importantíssimo que a teologia se torne cada vez mais pública e feita por
pessoas de diversos ambientes. A necessidade de um saber teológico que seja
feito de fora dos lugares já consolidados é fundamental para que um novo
frescor possa soprar nas antigas estruturas teológicas. Elas que, muitas vezes,
por serem já consolidadas, tornaram-se como muralhas que, intentando proteger
determinada cidade, na verdade, impedem que ela veja que há muito mais coisas
do lado de fora que podem ser úteis para a melhoria de sua própria condição.
No lugar de uma teologia do
medo não se deve entrar uma teologia com medo, mas, em substituição a essas
duas, deve ser possível uma teologia amorosa e pública que olhe tanto para fora
quanto para dentro do ambiente em que é feita. E, a partir das questões que são
postas por esses dois lados, proponha novas respostas que tragam refrigério
para as pessoas, tanto de dentro dessas estruturas, como para as que não
pertencem a ela.’
Fonte : *Artigo
na íntegra https://domtotal.com/noticia/1534139/2021/08/teologia-do-medo-e-teologia-com-medo/
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