Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo de Mirticeli Medeiros,
jornalista e mestre em História da Igreja, uma das
poucas brasileiras
credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé
‘Tente imaginar um país onde os
cristãos não são só minoria, mas não possuem sequer uma paróquia. Estamos
falando do Afeganistão, país em que a comunidade católica conta com cerca de
100 fiéis, incluindo os sacerdotes e freiras que lá atuam.
O pequeno grupo consegue se
reunir graças à capela da embaixada italiana no país, a única autorizada pelo
governo local. A Itália foi a primeira nação do mundo a reconhecer a
independência do Afeganistão, em 1919. Por conta disso, o país europeu recebeu
essa concessão especial.
Na falta de uma diocese, como
nesse caso, a Igreja Católica estrutura a chamada missão sui iuris.
Como o catolicismo ainda não é radicado no país, essa é a primeira etapa antes
da criação de uma diocese. São os missionários a assumir a tarefa de implantar
a Igreja no lugar.
Desde 1931, a pedido do papa
Pio X, os barnabitas assumem essa responsabilidade. E não estão sozinhos :
contam com o apoio, atualmente, de membros de várias congregações religiosas. A
partir dessa união de esforços, freiras e padres de vários institutos
administram a Escola da Paz, uma iniciativa que atende cerca de 2,5 mil
crianças, e a Pro-bambini di Kabul, que assiste crianças com necessidades
especiais.
O responsável pela pequena
comunidade de Cabul é o padre barnabita italiano Giovanni Scalese, de 66 anos.
Segundo as últimas informações, divulgadas por membros da sua congregação, o
religioso permanece na embaixada da Itália no país, que está vazia após o
retorno do corpo diplomático para Roma. Scalese disse que só deixará o local
quando todos os religiosos e as crianças atendidas pelas obras assistenciais da
missão deixarem o Afeganistão em segurança.
Após o Talebã ter tomado a
cidade de Cabul, no último domingo (15), religiosos católicos também entraram
na lista das tristes estatísticas. Jesuítas e Missionárias da Caridade - a
congregação de Madre Teresa de Calcutá -, que coordenam algumas iniciativas
sociais da missão, se uniram à multidão de afegãos que lotam o aeroporto da
capital. Todos estão na expectativa de embarcar para a Índia, onde muitas
dessas pessoas têm encontrado refúgio. Por conta disso, o país está emitindo
vistos de emergência para atender a demanda.
Mas a rotina dos católicos
afegãos vai além dessa dificuldade de manter uma comunidade pequena. Por se
tratar de um país confessional, onde o Islã é religião de estado, a prática de
proselitismo por parte de outras confissões de fé não é permitida. A
primeira-dama do país até a invasão do Talebã, Rula Ghani, que nasceu no Líbano
e é cristã, usa a hijab em respeito aos cidadãos do país e não manifesta sua
crença em público.
Com os últimos acontecimentos,
há famílias inteiras de católicos que, desde a invasão, estão trancadas dentro
de casa. Estima-se que, além dos números que são divulgados, há cerca de oito
mil cristãos que praticam a própria fé às escondidas.
O cristianismo chegou ao
Afeganistão no século 4, mas não se manteve por causa das invasões muçulmanas
da Idade Média (século 7). As comunidades de Balkh, Harat, Farat e Kandahar
deixaram de existir. É por isso que católicos e evangélicos que vivem no país
precisam praticamente começar do zero. Agora, ninguém sabe dizer qual será o
futuro dessa missão e o que será feito pelos cristãos que não têm para onde ir.’
Fonte : *Artigo
na íntegra https://domtotal.com/noticia/1534728/2021/08/a-igreja-catolica-no-afeganistao/
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