sábado, 21 de agosto de 2021

A Igreja Católica no Afeganistão

 Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)

Capela onde os católicos que vivem no Afeganistão se reúnem para a missa (Embaixada da Itália no Afeganistão)
 

*Artigo de Mirticeli Medeiros,

jornalista e mestre em História da Igreja, uma das poucas brasileiras

credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé


‘Tente imaginar um país onde os cristãos não são só minoria, mas não possuem sequer uma paróquia. Estamos falando do Afeganistão, país em que a comunidade católica conta com cerca de 100 fiéis, incluindo os sacerdotes e freiras que lá atuam.

O pequeno grupo consegue se reunir graças à capela da embaixada italiana no país, a única autorizada pelo governo local. A Itália foi a primeira nação do mundo a reconhecer a independência do Afeganistão, em 1919. Por conta disso, o país europeu recebeu essa concessão especial.

Na falta de uma diocese, como nesse caso, a Igreja Católica estrutura a chamada missão sui iuris. Como o catolicismo ainda não é radicado no país, essa é a primeira etapa antes da criação de uma diocese. São os missionários a assumir a tarefa de implantar a Igreja no lugar.

Desde 1931, a pedido do papa Pio X, os barnabitas assumem essa responsabilidade. E não estão sozinhos : contam com o apoio, atualmente, de membros de várias congregações religiosas. A partir dessa união de esforços, freiras e padres de vários institutos administram a Escola da Paz, uma iniciativa que atende cerca de 2,5 mil crianças, e a Pro-bambini di Kabul, que assiste crianças com necessidades especiais.

O responsável pela pequena comunidade de Cabul é o padre barnabita italiano Giovanni Scalese, de 66 anos. Segundo as últimas informações, divulgadas por membros da sua congregação, o religioso permanece na embaixada da Itália no país, que está vazia após o retorno do corpo diplomático para Roma. Scalese disse que só deixará o local quando todos os religiosos e as crianças atendidas pelas obras assistenciais da missão deixarem o Afeganistão em segurança.

Após o Talebã ter tomado a cidade de Cabul, no último domingo (15), religiosos católicos também entraram na lista das tristes estatísticas. Jesuítas e Missionárias da Caridade - a congregação de Madre Teresa de Calcutá -, que coordenam algumas iniciativas sociais da missão, se uniram à multidão de afegãos que lotam o aeroporto da capital. Todos estão na expectativa de embarcar para a Índia, onde muitas dessas pessoas têm encontrado refúgio. Por conta disso, o país está emitindo vistos de emergência para atender a demanda.

Mas a rotina dos católicos afegãos vai além dessa dificuldade de manter uma comunidade pequena. Por se tratar de um país confessional, onde o Islã é religião de estado, a prática de proselitismo por parte de outras confissões de fé não é permitida. A primeira-dama do país até a invasão do Talebã, Rula Ghani, que nasceu no Líbano e é cristã, usa a hijab em respeito aos cidadãos do país e não manifesta sua crença em público.

Com os últimos acontecimentos, há famílias inteiras de católicos que, desde a invasão, estão trancadas dentro de casa. Estima-se que, além dos números que são divulgados, há cerca de oito mil cristãos que praticam a própria fé às escondidas.

O cristianismo chegou ao Afeganistão no século 4, mas não se manteve por causa das invasões muçulmanas da Idade Média (século 7). As comunidades de Balkh, Harat, Farat e Kandahar deixaram de existir. É por isso que católicos e evangélicos que vivem no país precisam praticamente começar do zero. Agora, ninguém sabe dizer qual será o futuro dessa missão e o que será feito pelos cristãos que não têm para onde ir.’

 

Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1534728/2021/08/a-igreja-catolica-no-afeganistao/

Nenhum comentário:

Postar um comentário