Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo
do Padre Francisco Thallys Rodrigues
‘O ministério ordenado,
especialmente, o presbiterato, sofreu uma série de modificações ao longo do
tempo e do espaço. Em cada época, situação e momento assumiu diferentes
posições que se expressaram em maior ou menor fidelidade ao ministério das
primeiras comunidades cristãs. Em nosso tempo, a figura do presbítero torna-se
cada vez mais plural e complexa de modo que qualquer análise deve levar em
consideração variáveis inexistentes em outros tempos.
Nas primeiras comunidades
cristãs, a figura do presbítero nasce a partir da necessidade de condução e
coordenação dentro do espaço das comunidades. Não é o único serviço e nem o
mais importante, mas um entre outros que possibilitam a continuidade da
tradição de Jesus. Vale recordar, inclusive, que ele não tem relação com o
sacerdócio do Antigo Testamento, isto é, o presbítero não é uma nova versão do
sacerdote do AT que por sua vez anuncia a boa nova de Jesus.
No processo de expansão e
consolidação do que chamamos cristandade, o presbítero passou por uma série de
modificações a partir das necessidades daquele momento histórico. Terminou-se
por ‘incluir’ uma série de adereços ao ministério, tornando-o por vezes
mais ligado ao sacerdócio do AT do que ao próprio ministério presbiteral no NT.
Neste processo de avanços e recuos, o Concílio Vaticano II representa uma
tentativa de síntese entre as diversas compreensões do ministério em fidelidade
as primeiras comunidades e a tradição eclesial.
Mesmo assim, pouco mais de 50
anos do concílio, algumas tarefas e desafios apresentam-se no tempo. E a
história como campo aberto de possibilidades nos oferece sempre novas
alternativas. Neste cenário torna-se necessário ter clareza dos desafios que se
apresentam aos presbíteros. Apresento a seguir alguns pontos de atenção na
vivência do ministério presbiteral.
Pluralidade na
vivência do ministério do presbítero – Desde suas origens a figura do presbítero está marcada
pela diversidade assumida nos diferentes contextos. O problema surge quando a
pretensão da diversidade abre espaços para formas anacrônicas de vivência
ministerial que não condizem com as exigências do tempo presente, ressuscitando
‘práticas e posturas’ de tempos de cristandade que não mais existem.
Apela-se a tradição da Igreja, mas ignora-se a tradição das primeiras
comunidades e do próprio Concílio Vaticano II. Qual papel deve ocupar o
presbítero em nosso tempo?
Risco de um personalismo
exacerbado e fragilidade das relações – Sempre existiu presbíteros que se destacaram por seu
carisma, capacidade de vivência do evangelho em resposta aos problemas do mundo
presente. Entretanto, verifica-se cada vez uma tendência a entender o ministério
como algo ‘próprio’, pessoal e não como uma missão confiada em vista dos
irmãos e irmãs. Os laços de comunhão e fraternidade entre os presbíteros e o
bispo tornam-se cada vez mais frágeis e problemáticos. Neste sentido, vale
questionar : entende que o sacramento da ordem está a serviço do sacramento do
batismo? Qual o tipo de promoção vocacional informal realizamos em nossas
paróquias, espaços e mídias?
Risco do clericalismo
e dos gurus – Quando se exalta demasiadamente a figura do padre, relegando a
comunidade um papel de subordinação ou enfocando os ‘pretensos poderes’
da ‘unção sacerdotal’ o resultado é a clericalização do ministro
ordenado e dos demais membros da comunidade. O papa Francisco tem alertado para
os perigos que o clericalismo traz para a vida da comunidade na medida em que
mina a vivência do Evangelho. A sinodalidade é expressão da busca pela comunhão
no caminho. Quando se exalta ou se formam gurus, sejam eles cantores ou
pregadores, tende-se a esquecer o papel e a importância da comunidade e de seus
ministérios.
Desgastes próprios de
nosso tempo – O ministério
presbiteral sofre os desgastes e estresses próprios e nossos tempos. O
comprometimento dos presbíteros com as comunidades, a vivência do Evangelho no
espírito da Igreja em saída, não isenta os padres, especialmente os mais
jovens, de sofrerem os desgastes psicossomáticos que atinge a população : é um
misto de serviço-doação, expectativa versus realidade na vivência ministerial,
problemas administrativos, atendimento sacramental, conflitos em nível
relacional e constante cobrança. Os jovens tornam-se padres num mundo com uma
multiplicidade de ofertas e possibilidades, vindos, muitas vezes, de um
ambiente familiar marcado por inúmeros dramas e conflitos, necessitados de
referências que possam acompanhar e colaborar no exercício de sua missão.
Diante disso, como favorecer um equilíbrio no tempo e no espaço? Como
estabelecer relações saudáveis entre os padres jovens e aqueles mais
experientes?
O Vaticano II insistiu numa
eclesiologia de comunhão na qual o presbítero entende seu ministério como
serviço na comunidade, nem único e nem exclusivo. O padre é, na imagem usada
por Taborda, como um maestro que coordena os diferentes sons presentes na
comunidade na busca pela mais bela melodia. A diversidade não é um problema
para a vivência do ministério desde que se tenha presente a eclesiologia de
comunhão tal cara ao Novo Testamento, as primeiras comunidades cristãs,
acentuada no Concílio Vaticano II e enfocada no ministério do papa Francisco. A
tarefa que se impõe é animar todos os batizados no caminho da sinodalidade a
partir de uma eclesiologia de comunhão que valorize todos os ministérios,
inclusive o do presbítero.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://draft.blogger.com/blog/post/edit/7497682198020775264/7848639346154351876
Nenhum comentário:
Postar um comentário