Por Eliana Maria (Ir. Gabriela, Obl. OSB)
*Artigo d0 Padre Johan Konings, SJ
‘‘Vita mutatur, non tollitur’
diz a liturgia das exéquias : ‘A vida é transformada, não tirada’. Neste
tempo de muitas despedidas inesperadas, prematuras, às vezes chegando
multiplicadas na mesma família, essas palavras devem ser mais do que um consolo
barato. São Paulo as formulou de outra maneira : ‘Semeia-se um corpo
material, ressuscita um corpo espiritual’ ... ‘nem todos morreremos, mas
seremos todos transformados’... ‘os mortos ressuscitarão incorruptíveis,
e nós seremos transformados’ (1 Coríntios 15,44.51.52).
A mesma coisa que nossa fé
chama a ressurreição de Cristo acontece a todos os que de alguma forma, seja
pela fé professa, seja pela caridade vivida, são semelhantes a ele. Não é uma
realidade física, ainda que o credo fala em ‘ressurreição da carne’ –
carne, corpo, corpo e alma são expressões que tem o sentido bíblico de pessoa
humana individuada, identificada, mas não necessariamente física. Por isso
Paulo falou em ‘corpo espiritual’. Mas é uma realidade. O espiritual não
é menos real que o natural. Por isso, se acreditamos que o Ressuscitado está
realmente presente, podemos acreditar também que os que nos deixaram ‘em
Cristo’ (no sentido amplo que indiquei acima) estão realmente presentes.
Mas de outro modo do que estávamos acostumados. Não tirados, mas
transformados.
O primeiro sinal dessa presença
é a memória inapagável, o sentimento que cresce com o tempo se tiver como base
uma experiência de amor, de retidão, de generosidade, de justiça. Ou mesmo, de
busca talvez não bem concluída, mas que testemunha um desejo insaciável do
mistério do amor infinito. Tudo isso não escapa à nossa percepção, mas há muito
mais que não percebemos tão diretamente. É como se os amados estivessem
presentes na ‘nuvem’, não no sentido de sumidos do mundo, mas como arquivos
guardado na nuvem da internet, acessível em qualquer lugar, pelo menos, se
tivermos a senha. E essa senha é a nossa fé. Ela abre o acesso aos que desde
sua presença física entraram nessa presença duradoura. Duradoura, e mais rica
que antes. Porque não mais exposta a quedas de força...
Mas achamos que o fisicamente
ausente não está aí. Isso, porque não entendemos o que Jesus disse a Maria
Madalena : ‘Não me toques’, ou ‘não me segures, eu ainda não subi...’
(João 20,17). O modo certo para que essa nova presença se torne real para nós é
largar a presença terrena. E então se realiza o que João descreve como a
memória trazida pelo Espírito e a habitação em e entre nós graças à guarda do
mandamento do amor (João 14,23).
Uma amiga que perdeu o seu
irmão na pandemia reclamou com Deus : ‘Eu pedi tanto e você não me ouviu!’
– ‘Como? Eu lhe ouvi! O que falta?’ – ‘Quero-o em casa’ – ‘Ele
está em casa.’ – ‘Aqui na minha casa!’ – ‘Ah... você se expressou
mal’... Depois a jovem me confiou : ‘Nunca falei tanto com ele quanto
agora’. Isso é real.
Esta reflexão não é um tratado
sobre a vida pós-morte, mas uma reflexão sobre o significado dessa vida para os
que ficam. Só para dizer que essa percepção da presença é real, não ilusória. É
importante crer que o não materialmente verificável ‘é’ e ‘tem
sentido’. Sentido vital. Aliás, o que é materialmente verificável não se
crê mas se constata.’
Fonte : *Artigo na íntegra https://domtotal.com/noticia/1534636/2021/08/os-que-se-foram-ficam/
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