*Artigo
de Vanderlei de Lima,
eremita na Diocese de Amparo
‘Há quem compreenda, sob certo ponto, que um homem ou uma mulher
seja membro de um Instituto religioso a atuar em trabalhos pastorais, mas não
entende como alguém possa levar uma vida plenamente contemplativa : a sós ou em
comunidade.
Eis, pois, a
necessidade deste artigo : demonstrar a razão de ser dos religiosos (homens e
mulheres) contemplativos à Igreja e à humanidade inteira.
Escreve um monge
cartuxo – Ordem fundada por S. Bruno, em 1084, na França, para uma vida
completamente afastada do mundo –, que : ‘A
missão dos contemplativos é ser no meio do mundo ‘o olhar atento’ da humanidade
concentrado em Deus; serem os que permanecem na presença de Deus, por aqueles
que jamais se põem na Sua presença; serem os delegados da humanidade esquecida
de Deus, para Lhe apresentar o amor, a adoração, as lágrimas e os pecados de
todo o mundo; serem, enfim, os que deixam o mundo e as suas vaidades para
procurar Deus e dedicar-se totalmente a Ele’.
E continua : ‘Portanto, não é o egoísmo, o desprezo dos
valores humanos nem a covardia o que inspira essa renúncia e procura. Se o
contemplativo deixa tudo, é com o intuito e o desejo de entrar plenamente na
esfera e na órbita de Deus, amado e procurado sobre todas as coisas’ (A
vida cartusiana. Ivorá : Mosteiro Nossa Senhora. Medianeira, s/d, p. 3).
Ora, é nessa esfera de Deus que o contemplativo eleva ao Senhor as dores e
angústias da humanidade inteira rezando por elas, seja de modo voluntário, seja
atendendo aos numerosos pedidos de orações que lhe chegam diariamente.
Isso posto,
pergunta-se : qual é a espiritualidade básica a mover um eremita (solitário) de
Charles de Foucauld (1858-1916)? – É a da vida de Nazaré, tempo no qual o
Senhor Jesus passou, dos 12 aos 30 anos, oculto ao mundo.
Todavia, também
aprende esse mesmo eremita, a exemplo do Bem-aventurado Foucauld, a não ser um
completo isolado, mas, sim, a gritar, com alegria, ao mundo a beleza do Evangelho
com o exemplo da própria vida, em primeiro lugar, e com alguns apostolados
condizentes com o seu modo de viver : catequese semanal, conversas com pessoas
necessitadas, pessoalmente ou via meios eletrônicos, entre outras coisas.
Aliás, Foucauld chegava a atender, em seu eremitério, 56 pessoas por dia e não
queria que fosse deixada de lado a caridade para com o próximo em momento
algum.
Questiona-se,
contudo, o que reza um eremita de Charles de Foucauld? – Eis a resposta : às
5h00, reza o Ofício de Leituras (também chamado de Vigílias), depois Laudes
(Louvores) e a saudação mariana do Angelus (O Anjo do Senhor anunciou a Maria
etc.). Faz, na sequência, a Lectio Divina (Leitura orante da
Bíblia) por 1 hora, seguida da Consagração do dia ao Sagrado Coração de Jesus e
ao Imaculado Coração de Maria, além da Oração do Abandono ou de entrega
incondicional nas mãos de Deus.
Logo depois,
participa (ou celebra, se for sacerdote) a Santa Missa por volta das 7 horas.
Volta a rezar, ainda, às 9h o Ofício de Terça (a vinda do Espírito Santo sobre
Nossa Senhora e os apóstolos, At 2,15); às 11h40, o Ofício de Sexta (Início da
agonia de Jesus, Mt 27,45), novamente o Angelus e o Rosário. Às 15h reza-se o
Ofício de Noa (a morte do Senhor Jesus na Cruz, Mt 27,45) e o Terço da
Misericórdia. Novamente, às 17h30, se volta para o Ofício de Vésperas (dá
graças a Deus pelo dia e recorda a Ceia do Senhor ocorrida em tempo vespertino,
bem como o Juízo Final, arremate da História, Jo 8,12). Novamente se reza o
Angelus. À noite, há o Ofício de Completas que, como o próprio nome diz,
encerra o dia com a entrega da vida a Deus (cf. Lc 2,29-32), uma Leitura
Espiritual (a vida de um santo, um livro de piedade etc.) e o grande silêncio
noturno até a manhã seguinte.
Certo é que esse
tempo dedicado à oração está entrecortado pelo trabalho manual (manutenção da
casa, preparo da alimentação), intelectual (estudos) e pastoral (atender a
pessoas que necessitam, especialmente via e-mail). Tudo
em louvor a Deus.’
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